História Protector - A Festa (Parte 1)

POV RENESMEE

Estávamos próximos à Forks, no carro de papai. Eu no banco de trás, com o rosto levemente encostado na janela do carro manchada de respingos de chuva pelo lado de fora. Charlie não pôde me trazer como bem queria, pois com a repentina notícia de um incêndio na escola da reserva ele teve de ir para lá seguido dos reforços da guarda local e florestal. O tempo continuava fechado, quanto mais perto chegávamos de Forks mais cinzento o dia parecia sem cessar da chuva. 

Mas era bom! Respirei fundo e sorri. Finalmente voltar para Forks era algo que eu desejava muito. Mal esperava até chegar na mansão, no chalé, na casa do vovô, em La Push... Papai me olhou pelo retrovisor com um sorriso torto. "Senti saudade das suas invasões de privacidade, papai", falei em pensamento sabendo que ouviria. Dito, feito! Ele riu baixinho e logo voltou a se concentrar na estrada, disfarçando para mamãe.

O carro estacionou de frente para a grande casa branca e cheia de vidraças. Do lado de fora já estavam todos, e realmente não esperava menos com um membro da família que prevê o futuro. Fui a primeira a sair do carro, o sorriso estampado em meu rosto não queria cessar de jeito nenhum. O primeiro a me abraçar em um piscar de olhos foi tio Emmett, me erguendo em um abraço de urso.

— Garotinha, garotinha! — retribui seu abraço apesar de sentir um pouco sufocada. 

Assim que me largou no chão foi a vez de tia Rose em um longo abraço e um "Querida, que saudade", seguida de Tia Alice, Tio Jasper, Vó Esme e Vô Carlisle. Demoramos um pouco na varanda matando a saudade, mas assim que me despus a entrar na casa Tia Alice me puxou pelo braço.

— Vamos matar a saudade da caça, Nessie — disse me distanciando da porta. Tio Emmett completou: — É Nessie, quero ver se o Brasil te deixou mais selvagem ou mais molenga. 

Tio Emm sabia como fazer meu lado competitivo aflorar bem rapidinho. Olhei para meus pais e eles fizeram que sim com a cabeça: — Vocês não vem? — perguntei aos dois. Mamãe respondeu: — Vai na frente, querida! Vou guardar suas coisas... — me deu um beijo na testa, puxando meu pai pelas mãos e logo ele me dando um beijo na testa também. 

Não demorou muito até chegarmos às montanhas onde eu, tio Emm e tio Jazz estávamos supondo o que íamos caçar. Tio Emm é claro, dizia que tentaria um urso. Tio Jazz um leão das montanhas e já eu, fiquei meio sem graça de dizer que caçaria um "veado". 

— Eu não gosto de desperdiçar, tio — respondi as zoações de tio Emm sobre eu caçar coelhos. 

Passamos a tarde inteira caçando. Nem percebi a falta de Alice e meus pais não terem chegado, mesmo dizendo que vinham logo atrás. Me divertia como nunca caçando e mais ainda competindo sobre qualquer coisa; quem pulava mais alto da cachoeira, quem escalava mais rápido as montanhas ou quem chegava mais rápido até a clareira. Era uma sensação libertadora. Minha blusa já estava bem suja e com as barras rasgadas, meu longo cabelo comportado estava ao vento e esvoaçante. 

Voltamos ao pôr do sol, estava completamente suja de terra com tanta rasteira proposital que tio Emm me dava e com tantas investidas que tio Jazz depositava em mim na hora da corrida. Eu parecia uma criança num parque de diversões brincando nos brinquedos de adultos, não aguentava mas me divertia tentando. Decidimos entrar pelos fundos assim que chegamos na casa, logo percebi que tio Emm havia ficado para trás. 

— Ei garota — gritou logo atrás de mim. 

Assim que me virei tomei um banho na cara de jato de mangueira à pressão. Tentei me desvencilhar e correr para longe mas ele me alcançou rapidamente e me puxou pelo braço, me fazendo tomar um banho contra a minha vontade.

— Você tá uma imundice, Ness — disse segurando o riso mirando o jato na minha orelha, me fazendo sentir meu ouvido oco. 

Me desviei dele, largando meu braço e lhe dando uma rasteira. Ele caiu com tudo no chão e eu aproveitei para pegar a mangueira e a mirar com tudo na sua cara. Não conseguia parar de rir, estava bem mais ensopada mas era uma sensação boa. Não durou muito pois ele me ergueu com uma mão só me virando de cabeça pra baixo.

— Nããão — berrava rindo ao mesmo tempo. Colocava as mãos na frente do rosto, evitando a pressão da agua no meu rosto.

— Ah sua macaquinha, você me deu uma rasteira né? — disse rindo. 

— Chega, tio — disse rindo e logo me engasgando. Ele rapidamente desligou a mangueira e me soltou no chão, me levantei numa poça de lama que havia se formado com tanta agua. Ele correu na frente assim que viu Rose na beira da porta, eu fui logo atrás andando normalmente. Minha blusa havia se rasgado pela metade, deixando minha barriga até meu umbigo a mostra.

— Emmett eu nunca mais vou te deixar levar a Nessie pra caçar — disse Rose brava assim que tio Emm a abraçava, ela lhe deu um soco nso ombros e fez cara de nojo. — Você está sujo e molhado, tenha dó. — seu tom mudou assim que eu entrei. — Meu anjo, tome — me deu uma toalha limpa. — Suba, sua mãe e sua tia Alice estão te esperando no antigo quarto. 

Sorri meigamente pra ela depois de me dar um beijinho na bochecha, subi as escadas enroscada na toalha.

POV JACOB

Eu realmente estava ansioso. Ansioso demais. Eu queria ter buscado ela no aeroporto como prometido mas não aconteceu. A escola da reserva pegou fogo e toda a matilha ajudou, inclusive a matilha do Sam. Claro que podia ter sido pior, felizmente não era dia de funcionamento, mas muita coisa se perdeu. Depois, com a chegada da guarda florestal e dos homens do Charlie tudo foi controlado e o fogo não se espalhou para a reserva. Assim que todo o fogo foi apagado, Charlie chegou na sua viatura. 

— Charlie — caminhei até ele, suando apenas de bermuda por conta do contato próximo ao fogo. 

— Olá, Jacob — respondeu Charlie arrumando o cinto e olhando a escola com as paredes escuras. — Que droga... Vamos cuidar disso.

— Essa era a nossa unica escola, não sei como as crianças vão ficar depois disso. — tentei parecer mais preocupado do que já estava. "E Nessie? Enfim, e ela? Ela perguntou de mim? Chegou mesmo?".

— Não adianta se remoer, o que aconteceu infelizmente aconteceu! Graças a Deus ninguém saiu ferido. Paredes podem ser pintadas, estragos concertados, materiais comprados... Agora vidas... 

— Você tem razão. — dei uma pausa não muito longa. — E Nessie? — cruzei os braços, no mesmo instante que perguntei ele se derreteu e logo se conteve.

— Ela está enorme, Jake... — seus olhos brilharam, e não o culpava pois os meus também. Sempre. — Parece uma mulher feita, não entendo. Em tão pouco tempo... Mas não me importa essas peculiaridades, o que me importa é que ela está linda. Linda, educada, cuidadosa como sempre. Do mesmo jeito que a deixei... Ela me lembra tanto a Bella antes... Sabe, claro que ela é muito diferente mas ela... — ele suspirou. — Minha neta. — Ele me encarou, parecendo agora mais altivo. — Você vai? Pra festa surpresa dela? 

— Vou, claro — respondi no mesmo instante. — Se dependesse de mim já estava com ela no aeroporto. 

— Ah, você vai se surpreender de ver como ela está agora — deu uma batidinha em meu ombro e caminhou até a escola. 

Suspirei comigo mesmo fechando os olhos. Sempre pensei em como seria esse momento e como reagiria ao vê-la finalmente crescida, completa, adulta. Em como ela seria linda e em como seria entre nós, se ela ainda iria me querer como amigo ou se surgiria algo a mais, como me trataria. Tudo dependia desse encontro, não via minha Ness há um tempo. Ela havia partido para o Brasil há mais ou menos um ano, dentro de um ano eu sofri com a distância mas tentei ao máximo respeitar o momento dela. Bem, no início eu dei uma escapada e fui até o Brasil vê-la em segredo. Ela me falou que havia sonhado ou imaginado ter visto um lobo como eu, eu disse que devia ter sido imaginação, claro. Não ia dizer que quebrei seu espaço e fui escondido vê-la, mesmo demonstrando que estava sufocando com a saudade, não era certo pois aquele momento era só dela. Dela descobrir suas origens, descobrir sua independencia, de se transformar na mulher que precisa ser. Fui fraco em procurá-la, mas seria fraco a minha vida toda se ela escolhesse permanecer lá pra sempre. Ainda bem que não. 

— O que tanto ri igual um bobo? — ouvi Seth se aproximando quando voltava para casa.

Dei-lhe um soco no ombro.   

— Já deu socos mais fortes — retrucou. 

— É, aproveita enquanto pode — sorri de lado abrindo a porta de casa. 

Entrei e encontrei meu pai na sala, vendo algum jogo pra variar. Ele já estava pronto para ir, eu realmente fiquei surpreso com o que Nessie podia fazer com ele. Apesar de tudo o que aconteceu e o quão abertos os quileutes se tornaram com relação à vampiros (ps: aos Cullens), ele nunca pisaria na casa dos cullen se Ness não o convidasse com tanta questão. E pra facilitar Charlie e Sue iriam, obviamente, o que facilitaria ainda mais. Todos do meu bando e do bando do Sam foram convidados também, além de uma festa de boas vindas também seria um encontro de confraternização. 

A ideia era ótima, mas eu só pensava em uma coisa.

***

Estacionava a moto ao lado da porta da garagem dos Cullen, deixando a moto de qualquer jeito e entrando na casa. A casa estava bem iluminada, colocaram uma enorme mesa central e havia uma musica baixa de fundo. Sobre a mesa havia bastante comida, que por sinal era só para o povo de La Push que compareceria e Charlie. 

— Pensei que Charlie viria com você, Sue e seu pai — disse Bella próxima de mim em um piscar de olhos.

— É, mas... Bem, achei melhor vir na frente. Eles e o pessoal vem logo, Charlie vem na viatura com o meu pai e a Sue. — dizia enquanto olhava pros cantos da sala e os fundos da cozinha, logo subindo os olhos pra escada e o andar de cima. 

— Ela ainda não desceu — sussurrou Edward, abraçando Bella. Suspirei ansioso. — Quer vê-la? 

— O que você acha? — ergui uma das mãos, trêmulas. Edward sorriu, "você tá adorando né?". 

— Ela está sozinha no quarto agora — sussurrou Edward, sério. — Já se arrumou, só está no quarto pensando. Pode trazê-la pra festa? 

A viatura havia chegado, junto à duas caminhonetes. Avistava de londo minha irmã Rachel e Jared, Leah e Seth, Quil e a pequena Claire, os novos lobos. 

— Primeira porta à esquerda — sussurrou Bella indo para a porta. 

Subi rapidamente as escadas, vamos acabar logo com isso. Cheguei até a porta, encostando a mão na maçaneta. Encostava a testa na porta, suspirando e me acalmando. Em um só giro a abri. 

POV RENESMEE

Estava com meu celular em mãos, nenhum carro da reserva havia chegado. Claro que já sabia que teria uma festa surpresa pra mim, ele ainda não havia chegado. Devia mandar uma mensagem: "Jake, vc vem?", env...

Ouvia uma moto chegar. Meu coração acelerou ainda mais. Fui para a beira da janela, mas assim que cheguei para espiar a porta principal já havia se fechado. Me encostei à janela, tomando coragem para descer. Não demorou muito e a viatura do vovô já havia chegado e duas caminhonetes com muitos garotos de La Push. Assim que desceram, Leah e Seth me viram pela janela do andar de cima. Seth acenou e Leah sorriu, retribui os dois com entusiasmo. 

No mesmo instante a maçaneta do quarto girou e a porta se abriu devagar, me virei rapidamente. Uma figura alta, de pele bronzeada e cabelos escuros entrava vagarosamente no quarto. Sua boca entreaberta, me olhava de cima a baixo. Meu coração acelerou e se esquentou no mesmo instante, me fazendo ter um súbito arrepio pelo corpo inteiro. As pernas bambeavam de leve, a garganta secando de repente. Ele não parava de me analisar, e eu o mesmo. Ele não mudou nada, absolutamente nada desde a ultima vez que nos vimos. Ele usava uma blusa xadrez verde e preta que eu amava, as mangas encurtadas até o cotovelo e sua calça jeans. Já eu, bem, podia dizer que a ideia do vestido rosinha bebê foi ideia forçada da minha tia Alice mas não, eu realmente gostava quando ela me vestia como uma mocinha, era bom pra variar dos shorts e calças. O vestido ia até um pouco acima dos joelhos e tinha manga longa, me contornava perfeitamente. Por isso ele não parava de me olhar? Era estranho, eu sabia. Eu sai como uma pré-adolescente e voltei como uma pré-adulta. 

Ele andou em passos pesados, eu o acompanhei em direção a ele. Assim que os olhos deles chegaram aos meus, senti como se um raio tivesse me cruzado. Um mar de ondas quentes me percorreu e fiquei um pouco ofegante com aquilo. Era novo pra mim, meu corpo e mente novos ainda não haviam se acostumado com as emoções. 

Finalmente decidi falar, a boca seca: — Oi, Jake — sentia as maças do meu rosto arderem como uma fogueira e minha voz saiu trêmula. 

Assim que me ouviu ele apertou o passo e me abraçou forte e calorosamente, me fazendo derreter em seus braços. Afundei meu rosto em seu peito e suspirei de saudade, abraçando sua cintura. Ele beijou o topo da minha cabeça, sentindo o perfume dos meus cabelos e passamos um bom tempo assim. Queria que durasse para sempre.

Bateram a porta. Eu estreitei minha cabeça para fora do ninho de Jake e vi que era tia Alice. 

— Nessie os convidados já chegaram, só falta vocês dois — disse com pesar em nos interromper. 

Nos endireitamos e fiz que sim para a tia Alice. 

— Você vem? — ergui inocentemente a minha mão até ele, com receio de encontrá-los sozinha. 

Ele sorriu daquele modo doce e terno para mim, entrelaçando nossos dedos, mãos juntas. Estávamos no topo da escada, descendo logo atrás de tia Alice até o salão cheio.