História Protegido - Capítulo Único

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Desde o início soube que ele era diferente. Soube pelo modo em que andava, que agia com as pessoas, que olhava para elas, como ficava corado com coisas bobas, do seu cabelo comprido demais para um homem que era preso em um coque e de como colocava aquelas blusas grandes demais para seu corpo pequeno, o tornando tão frágil quanto a sua pele pálida demais.

Demais. Esse era Junmyeon para mim, afinal éramos quase opostos. Enquanto o ele era todo delicado e tímido, eu era indelicado e direto, tinha vários amigos, usava roupas pretas a maior parte do tempo, e mantinha uma postura ameaçadora diante de todos, me tornando praticamente inalcançável aos olhares alheios. Mas eles não me incomodavam, afinal, o único que realmente importava para estava sempre do outro lado. Do outro lado da sala, do outro lado do refeitório, do outro lado do pátio… A cada vez mais longe, até aquele dia. Ah Myeon, como você foi parar naquele lugar cheio de bebidas e pecados que não combinavam com sua pureza? Mas de alguma forma, agradeço aos céus por você ter aparecido naquela festa e que, mesmo não sendo um lugar apropriado, teve a coragem que eu não tivera até o momento e se sentou justamente ao meu lado, iniciando uma conversa que se estendeu pela noite inteira, gerando ali, o começo. O nosso começo.

No dia seguinte, já na faculdade, lá estava você novamente sozinho, acenando timidamente para mim, afinal, como confessara no dia passado, tinha medo das companhias que me rodeavam. E eu também, meu anjo. Tomando coragem, foi minha vez de dar o primeiro passo. A partir daquele dia, passei a ficar ao seu lado, revoguei aqueles que me acompanhavam apenas para ter a honra de testemunhar cada sorriso que dava por causa da minha habilidade natural de desastre. E foi apenas quando me peguei vestindo uma camisa azul clara que percebi que você estava colorindo o meu mundo antes preto e branco. Na verdade, você já havia devolvido todas as cores que eu havia perdido pelo caminho até aqui. E eu, aos poucos, entrava de cabeça no seu mundinho fechado que ninguém antes tivera permissão de entrar.

E foi ai que eu descobri. Naquele dia, você não estava me esperando não é mesmo? Apesar de sua mãe ter dito que você estava no seu quarto, você tinha esquecido de trancar a porta, afinal, sempre teve medo que eles o vissem vestido daquela forma, que o julgassem e o maltratassem. Mas eu não sou eles, Jun. Admito, levei um susto ao te ver vestido com aquele vestidinho azul de rendas, com os cabelos em corte chanel soltos e um gloss em seus lábios, com os olhos tão arregalados quanto os meus antes de começar a chorar, me deixando tão desesperado quanto você. Foi preciso que eu trancasse a porta e te abraçasse com todas as minhas forças, te dizendo que estava tudo bem, e que eu só havia ficado… Surpreso. Você me pedia desculpas por ser assim, mas eu não estava te dando ouvidos. Junmyeon, você estava tão lindo. Enquanto te esperava se acalmar, fui passando as mãos por aqueles fios que sempre desejei tocar, fazendo um leve carinho ali e vez ou outra secando uma lágrima insistente que ousava deixar seus belos olhos. Eu queria fazer tudo direito quando se tratava de você, mas naquele momento, eu simplesmente não pude resistir em selar de leve seus lábios nos meus. O modo em que ficou corado depois disso e o sorriso que me dera valeram mais que tudo naquele momento.

A partir dali, passamos ainda mais tempo juntos (se é que isso era possível). Você não tinha mais medo de ser quem era perto de mim, pois sabia que eu admirava tudo em você. Pode parecer estranho, mas ao mesmo tempo em que eu amava cada vez que você colocava aquelas saias ou aqueles shorts, eu odiava. Amava porque se encaixava tão perfeitamente em você e você ficava tão linda! E odiava porque não era o único a perceber isso. Os olhares que te mandavam… Sinceramente? Me davam uma vontade imensa de ter uma arma e sair atirando em qualquer um que ousasse te olhar daquela forma novamente. Mas a vontade passava a cada instante que você sorria para mim, me dando a certeza de que você me pertencia, e a ninguém mais. E isso me deixava tão cheio, que tenho certeza de que poderia sair voando a qualquer momento, principalmente quando me beijava.

Quatro meses após começarmos a namorar, você me disse que iria contar toda a verdade aos seus pais e eu tive medo, mas tanto medo, que eu sequer consegui ir ao bico que eu estava fazendo em uma cafeteria e nem me afastar do meu celular por cinco segundos sequer, esperando uma mínima ligação sua e pronto para correr para sua casa, mesmo que desejasse que isso não fosse necessário. Eu estava tão errado. Seis horas se passaram, e eu só havia conseguido beber três copos cheios de água e quase arrancar meus preciosos cabelos loiros que você dizia tanto amar. E então, quando estava prestes a dar mais uma volta pela sala, meu celular tocou. Minhas mãos deveriam estar tremendo tanto quanto as suas naquele momento, principalmente ao ouvir sua voz de choro me dizendo pra te tirar daquele lugar o mais rápido possível. Eu nem lembro de como consegui entrar no meu carro e em menos de cinco minutos (numa viagem que me custaria mais ou menos dez) estava na porta da sua casa, derrubando a porta com um chute, empurrando seu pai e subindo até seu quarto, onde você estava. No momento em que vi você, tive que dar tudo de mim para não chorar junto contigo, meu amor, e mesmo assim, algumas lágrimas me escaparam. Sua pele, antes branca, estava marcada em tons feios de roxo e amarelo, suas roupas rasgadas e seus cabelos antes longos haviam sido cortados irregularmente o mais curto possível. Você parecia tão frágil quando me estendeu seus braços, novamente com aquela cara de choro que eu odiava. Rapidamente e com cuidado, te peguei em  meus braços e te levei pra fora dali. Por um momento, me senti como se fosse o príncipe resgatando a princesa da torre após matar o dragão (apesar de eu preferir muito mais o título de dragão do que de príncipe). Te levei pra minha casa, te limpei, te vesti, alimentei, cuidei, abracei e dormi com você em meus braços, te protegendo das pessoas e do mundo.

Porque você Junmyeon, você precisa ser protegido, e eu o protegerei com o maior prazer.

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