Judit havia conseguido o emprego dos sonhos, por pouco pensou que não iria seria contratada, mas foi, ela era a governanta de um apartamento que ficava no topo de um condomínio, onde só morava gente da alta sociedade.
Logo na primeira semana ela recebeu as orientações de Heleonora, a pessoa que havia feito sua entrevista, de como cuidar da casa, de o que poderia ou não ser mudado de lugar, como funcionava os mecanismos elétricos da casa e de como usar o aquecedor a gás. Pela explicação ela percebeu que não teria muito mistério na parte de cuidados com a casa, ela não precisaria limpar mas seria a encarregada de contratar diaríastas e manter o lugar limpo, recebeu a orientação de que sua senhoria, Coraline, passava a noite fora trabalhando e que só retornava de manhã.
Com o passar do tempo havia se habituado a rotina do apartamento, as vezes se sentia um tanto solitária, já que o trabalho lhe obrigava a morar no apartamento durante os dias da semana, Judit dormia em um quarto de funcionários atrás da cozinha, de noite via sua pequena televisão em seus aposentos e de dia inspecionava e mantinha a limpeza do lugar, era estritamente proibido ela adentrar ao quarto de Coraline, regras da própria.
Coraline era calma, saia sempre por volta das oito da noite e chegava pouco antes do amanhecer, dormia o dia todo, não gostava de ser incomodada enquanto dormia e comia muito pouco, Judit raramente lhe via, eram como estranhas vivendo sob o mesmo teto. Por isso foi tremendo o choque que Judit levou ao perguntar, casualmente, se poderia mandar a diarista limpar seu quarto na próxima vez que viesse o que fez Coraline ficar brava e levantar a voz no mesmo instante, o que foi uma surpresa enorme já que pela primeira vez a voz rouca de Coraline saiu límpida e em bom som, em um feroz e sonoro "Não" que parecera mais um rugido de leão. Então depois desse ocorrido, Judit se limitava as tarefas que Helonora havia lhe outorgado, seus encontros quase que inexistentes com Coraline se limitaram cada vez mais até elas não se vissem.
As sextas-feiras chegavam como uma luva para Judit, como ela amava as sextas, saia do apartamento as oito da noite, para voltar somente as oito da manhã da segunda feira. Passava o final de semana com os irmãos mais novos, seus pais haviam morrido num acidente havia quase cinco anos e era ela quem cuidava do irmão de dezenove anos e da irmã caçula de treze, as vezes se dava ao luxo de ser a jovem de vinte e cinco anos que era e saia nas noites de sábados com as amigas mas normalmente ficava em casa dando atenção a irmã caçula, brincando e colocando o papo em dia.
E foi exatamente em uma sexta feira que o mundo de Judit virou de ponta cabeça, ela havia ido para casa, mas depois de aguardar o ônibus no ponto durante meia hora só quando ia atravessar a catraca percebeu que havia esquecido a carteira na comoda de seu quarto, no luxuoso apartamento do condomínio em que sua patroa morava, então não teria como ir embora sem voltar ao apartamento e buscar seu dinheiro e assim o vez.
Mas foi depois de ter pego sua carteira que percebeu que não estava sozinha em casa, a tal hora era para Coraline ter ido para seu trabalho, mas não era o caso, o corredor que levava ao seu quarto estava com a luz acesa e a porta aberta, cada vez que se aproximava mais escutava vozes de dentro, que reconheceu como sendo de Coraline e Heleonora.
—NÃO! — Escutou Coraline gritar.
—É para o seu bem, fica quieta! — Escutou um barulho, suspeitou que fosse um tapa, uma possivel briga e adentrou no quarto sem pensar muito.
A imagem que Judit viu foi de chocar.
Heleonora estava em cima de Coraline, que tentava se desvencilhar a todo custo da amiga, com as roupas rasgadas, alguma mobília destruída, parecera que um furacão atravessara aquele quarto. Ao observar melhor percebeu que também havia sangue e que ele saia do pulso de Heleonora, essa que, por sua vez, parecia tentar enfia-lo goela a baixo em Coraline, que mesmo com relutância acabara cedendo. Os caninos amostra, a cede e fome infernal, a falta de auto-controle, Coraline parecia um bicho com os dentes no braço de Heleonora, a cena toda havia acontecido tão rápido que Judit não pode esboçar nenhuma reação.
Só fora o tempo de tempo de Coraline e Heleonora perceberem a presença da moça e em poucos segundos Heleonora havia sido jogada para o outro lado do quarto, enquanto Coraline lutava entre o instinto e a ração, um enorme berro foi ouvido:
—SAI DAQUI, AGORA! — E Judit despertou do choque, Coraline havia gritado pra ela, e no mesmo tempo Heleonora a agarrou pelo pescoço.
—VAI LOGO!
Heleonora gritou e a ultima coisa que Judit viu antes de sair do quarto foi Coraline ser jogada contra a cama, com os olhos em lágrimas, o rosto manchado de sangue e dentes que aparentavam ter a força de torcer o mais duro do metal.
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