Abril, de 2034
Robin
Passamos a vida inteira desejando ter mais tempo. Fora isso que eu almejei pelos últimos trinta anos bem vividos ao lado de minha esposa, desde o momento em que ela escolheu me perdoar. Entretanto, ele nunca parece ser o suficiente para realizar todas as nossas vontades.
Venho a comprovar essa fatalidade por estes 11 meses a fio que decorreram de minha vida ao lado dela. Hoje, com 70 anos de idade, e uma saúde invejável, me deparo com o desafio de ser esquecido pela minha mulher, como ocorreu com ela em outrora.
Agora eu sei como é ter sua lembrança apagada pela pessoa que você ama. Eu sou apenas uma memória recorrente. Todavia, ainda sou quem ela ama. Presencio isso em seu sorriso a cada pôr do sol, na varanda, somos regalados com o canto dos pássaros que por instantes a fazem lembrar:
Eu a amei. E fui muito bem amado. Eu segurei sua mão na formatura de Roland na academia militar, assim como em seu casamento –enquanto os olhos dela ardiam em lágrimas de comoção, meus dedos acarinhavam sua pele – Na formatura de Dafina, que seguindo os mesmos passos de Regina, tornou-se médica, por onde exerceu seus conhecimentos de medicina em seu país de origem, eu segurei a mão de minha esposa, no instante em que nossa filha partiu para longe de nós.
No outono em que Henry transformou-se em um piloto de avião, realizando seu sonho de infância, eu estava lá para segurar a mão de minha amada.
O dia em que Rose teve seu primeiro concerto como pianista, em um dos principais teatros da cidade, aplaudida de pé, eu estava lá mais uma vez para segurar sua mão e dizer que a amava.
Tivemos uma vida próspera em família, feliz. Vislumbramos os fios grisalhos se fazerem presentes em nossos cabelos, assim como o rosto enrugar, marcando nossas peles. Sentimos o amor transbordar e jamais findar. Vimos a felicidade constituída na vida de nossos filhos, presenciamos o casamento de Louisa e Benjamim, que apesar das dificuldades e um término doloroso, acabaram por ficar juntos. Testemunhamos também o crescimento de John, segundo filho de Archie e Zelena.
Assistimos muitas coisas juntos, vivemos muitas aventuras a dois, só não percebemos o tempo passando e a doença se espalhando.
Infelizmente Regina herdou Alzheimer do pai. E isso matava mais a mim do que a ela, certa vez citei a Roland, que, talvez, eu estivesse sendo castigado pelo que a fiz passar. Então, meu filho segurou a minha mão e sussurrou:
-Regina o perdoou, porque ela o amava e isso foi o suficiente para mantê-los juntos nos últimos trinta anos... agora o senhor, como eu e ela, sabe o quanto é doloroso ser esquecido, porém, todos temos uma coisa em comum: nós sabemos o quanto somos amados. Porque os cinco minutos dos quais ela lembra da vida a dois que constituíram juntos, fazem ela ter certeza que valeu a pena ter lhe perdoado, pai. Regina sabe o quanto é amada ao constatar que você está aqui para ela, em todos os segundos, minutos e horas. Isso faz tudo valer a pena. Quando há amor, não importa as circunstâncias, ele permanece, ela sabe o que sente, e mesmo esquecendo o seu rosto, ela lembra dos sentimentos que apossam seu coração. Ela lhe ama, porque sabe que sempre estará aqui para ela, como prometeu.
Meu filho estava certo, Regina podia não lembrar-se de mim, mas eu recordava de cada minuto ao lado dela, e isso era o suficiente para me fazer continuar conquistando-a todos os dias, até o restante de nossas vidas.
Primavera 2017
Regina
-Eu sabia que você voltaria para me contar histórias, Gina, só não contava que teria irmãozinhos... –murmurou Roland, sorridente e sonolento. No momento em que eu acariciava seus cachos que tanto senti falta.
Entretanto, ele não imaginava que ainda teria mais uma surpresa.
-Você está mais bonito e maior também... –constatei.
-Eu senti saudades, Gina.
-Eu também, querido. Tanto que não consegui ficar longe de você.
-E do papai...
-E do seu pai também.
Concordei sorrindo emocionada.
Após Robin adentrou o aposento com Dafina em seu colo. Fazendo com que Roland quase adormecido saltitasse da cama.
-De onde ela veio?
Inquiriu curioso, fitando-a no colo do pai.
-Ela veio de onde eu estava. A mamãe dela virou uma estrela no céu, como meu pai, seus avós paternos... –explicava emocionada.
-Como eu achei que meu papai tivesse quando ele ficou longe.
Sussurrou as palavras entristecido, fazendo eu e Robin nos encararmos surpresos. Além de dócil, Roland é uma criança muito inteligente.
-Sim... –concordei retornando a acarinhar seus cabelos. -Ela está sem mamãe, e não tinha papai –fitei Dafina nos braços de Robin e prossegui –Ela está sozinha.
-Mas ela não pode ficar com a gente?!
Ele questionou.
-Você gostaria que ela ficasse aqui? E morasse com a gente?
-Sim! Eu quero ter irmãos.
-Agora você terá três!
Exclamou meu marido, apesar do senso de humor, ele estava comovido com as palavras do filho.
-Oba!
-Você é uma criança muito especial, Roland. Continue assim e será um grande homem.
-Como o meu papai?
-Melhor que eu –dissera Robin intervindo.
-Estou tão animado que vou ter irmãozinhos!!!
Pulava sobre a cama em comemoração.
Eu e meu marido gargalhávamos em uníssono.
-Então, disse o que a Zelena?
-Falei a ela que levaria uma acompanhante misteriosa ao casamento amanhã, não pude deixá-la mais curiosa e irritada também.
-Estou com saudades de todos –revelei continuando a rir pela euforia de Roland.
-Sinto falta da sua risada, ela é incrível!
-Oh! –levei a mão a barriga.
-Você está bem?! –Perguntou meu marido, preocupado.
-Os bebês estão chutando, é a primeira vez que isso acontece.
-Talvez eles saibam que agora estão em família.
Murmurou Robin, comovido, tocando minha barriga, com a mão livre, ternamente enquanto sorria lindamente.
-Deixe eu sentir também... –pediu Roland, animado, fazendo o mesmo.
Meu marido e eu trocávamos olhares de cumplicidade, ambos marejados. Logo este, depositou um beijo casto em minha bochecha, ao pontuar:
-Obrigada por voltar e me deixar fazer parte disso.
Suas palavras me emocionavam, retribui o beijo ao sussurrar:
-Eu amo você, e nunca mais vou deixá-lo sozinho novamente.
X X X
Zelena
*Dia do casamento
Quando a porta da igreja abriu-se , eu sorria, comovida. Os meus olhos encontraram-se aos de Archie -, o amor da minha vida.
Tamanha minha comoção que demorei alguns segundos para notar como a decoração havia ficado, diante dos detalhes belíssimos que a igreja possuía, desde as figuras ilustradas no teto, os lustres dourados, até as rosas amarelas, postas em pilares, o tapete vermelho era coberto pela cauda do meu vestido branco de pedras cristalinas.
Sou guiada pelo meu irmão, Robin, o mesmo que sorria constantemente, e agora enquanto me aproximo do altar, posso vislumbrar o motivo de sua felicidade me fitando emocionada, grávida, tão iluminada quanto jamais esteve. Carregava consigo uma bebê, negra, a qual lhe abraçava com afetuosidade.
Trocamos olhares de agradecimento uma com a outra, sorrisos e lágrimas contrastavam de nossas faces.
A vida havia sido árdua com todos nós e agora sob os olhos de Deus, reconstituíamos nossas vidas, sob um novo mundo, recomeçávamos mais uma vez, com o intuito de não errarmos demasiadamente, como em outrora. Seríamos apenas seres humanos, buscando a felicidade em quem amávamos. Esperando não causar dor.
Torcendo para que os momentos ruins fossem superados com sabedoria.
Fitei Louisa de mãos enlaçadas com Benjamim, pura e linda, minha principal dádiva –me permiti chorar- encarei David e Mary com o pequeno bebê nos braços.
O caminho fora concluído; as mãos de Archie tocaram as minhas, nossos olhares encontraram-se mais uma vez, remetendo aquilo que o coração transbordava; amor.
Robin seguiu até meu lado esquerdo levando uma de suas mãos até a cintura de Regina, enquanto a outra tocou o ombro de Roland.
Após mais uma troca de amor com meu amado, o padre começou a declarar suas palavras, minutos depois o tão famoso “sim”, estava prestes a tilintar de nossos lábios.
-Senhoras e senhores, estamos aqui para testemunhar a união de Archie Hooper e Zelena Locksley. Por favor, repitam comigo.
“Eu, Archie Hooper... Aceito você, Zelena Locksley, como minha esposa.”
Meu ex-marido, atual noivo e futuro marido novamente repetiu estas mesmas palavras, conforme foi pedido. Após a pronuncia, um sorriso deslumbrante fora emitido de suas feições.
-Agora é a sua vez –disse o padre me encarando.
“Eu, Zelena Locksley , aceito você, Archie Hooper, como meu marido.”
Ditas estas palavras, em uníssono, Archie e eu proclamamos:
-Na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, para amar e respeitar. Até que a morte nos separe.
-Eu aceito –Archie bradou me fitando com esplendor.
-Eu aceito –Sibilei tomada por emoções.
Eu estava casada com o meu marido pela segunda vez. Com o coração tão apaixonado quanto da primeira.
Regina
( Happy Beginning – Once upon a time )
Louisa acariciava minha barriga encantada, traçando-a, cada detalhe sentido pela sutileza de seu toque. Eu a fitava encantada com sua sensibilidade. Nunca me cansaria de lhe apreciar.
-Tia, você está linda! Eu sinto... é magnífico! Estou tão feliz que esteja de volta, conosco.
-Eu também, senti falta de estar na companhia de vocês – sorri, ao constatar o sorriso que se formava no rosto da jovem –Vamos, me dê um abraço!
Abraçamos uma a outra, alegres, emitindo o amor que aflorava dentro de nós. Curtindo o momento que nos era ofertado.
Após o ato ser findado, Robin aproximou-se, me entregando o suco que eu havida lhe pedido. O mesmo depositou um beijo demorado em minha bochecha permanecendo ao meu lado, levando uma de suas mãos ao meu ombro.
-Louisa e Benjamim já te contaram a novidade?
Logo o jovem também se fez presente envolvendo Lou em seus braços, um sorriso enfeitava sua face.
-Não... –respondi curiosa, fitando o casal mais novo a nossa frente –O que está acontecendo?
-Os dois foram aceitos na Julliard, estudarão lá após o verão.
Abri a boca sem saber o que dizer, tamanha surpresa e euforia que a notícia trouxe consigo. A felicidade que já transbordava, inundou meu coração, meu sorriso comprovava o contentamento que sentia.
-Meus parabéns, vocês merecem alcançar todos os sonhos que desejar, o talento de vocês é incrível! Espero que um dia o mundo tenha o poder de apreciá-lo!
Afirmava abraçando aos dois ao mesmo tempo, sendo observada atentamente por meu amado. Depois, os dois, afastaram-se, dançando no gramado com os demais. Eu permanecia contente com o ocorrido, o olhar marejado insinuava o que eu carregava em meu peito.
-Que notícia maravilhosa!
Exasperei encarando Robin que me fitava tão emocionado quanto eu estava, embora eu não entendesse o porquê.
Com ternura depositou uma de suas mãos em meu rosto, deslizando-a por ele.
-Eu nunca vou cansar de me apaixonar por você –sorri –É admirável sua capacidade de amar. A felicidade que você acabou de sentir pela Lou, é comovente, Regina.
-Eu a amo, como uma filha, e a felicidade dela é parte da minha –afirmei afrontando minha sobrinha que após girar tantas vezes na dança, acompanhada pelo namorado, caíram no chão, ocasionando um ataque de risos pelo ambiente, ambos sorriam, extremamente felizes, como eu desejei que ela estivesse algum dia –Louisa passou por tantas dificuldades para chegar onde está. Sua limitação poderia tê-la feito parar, mas ela continuou, porque tinha sonhos para alcançar, e agora nossa grande menina está sendo contemplada por começar a realizá-los.
-Eu fiquei muito feliz quando descobri que eles haviam conseguido –dizia meu marido fitando meus olhos de maneira a me deleitar, me fazendo corar –Você é perfeita! E a propósito, estás linda!
Robin encarou os casais que dançavam alegremente, desfrutando do momento solene que a festa proporcionava.
-Você estaria disposta a me conceder a honra de uma dança?
-Claro.
Com os corpos colados um no outro iniciamos uma sucessão de passos lentos, seguindo o ritmo da canção romântica, a cabeça recostada no ombro de meu marido, no instante em que o mesmo inalava meu aroma, como se recordasse de memórias passadas.
É tão bom sentir a sensação de estar ao seu lado novamente, envolvida nos seus braços quentes. O silêncio fora rompido por ele, que vociferou:
-É uma honra poder ser quem voltará para casa com você, saber que serei eu quem segurarei sua mão e a levarei para jantar, estou lisonjeado em ter sido o escolhido para realizar suas vontades, sou felizardo por ser quem você ama, obrigado por estar aqui e fazer parte da minha vida pela terceira vez, obrigado por não me culpar e sim me curar, obrigado por me tornar uma pessoa melhor, obrigado por me salvar, Regina. Obrigado por amar a pior parte de mim.
Agradeceu tamanha a comoção em sua voz, o que fez suas palavras me emocionarem. Roçou sua testa na minha, beijando-a ternamente. Após me abraçou apertado.
- Não há o que agradecer, eu ouvi meu coração, e quando percebi já estava dentro de um avião voltando para a nossa casa, para esses braços.
X X X
O bolo de quatro camadas havia sido cortado pelo casal de noivos, enquanto a confraternização seguia solene, perdurando por horas, todos aproveitávamos cada momento, pois sabíamos que nem sempre a vida seria gentil, então curtíamos cada segundo de um momento que se tornaria inesquecível nas recordações de cada um.
Nos encontrávamos sentados na grande mesa em formato de U que havia sido posta no quintal, decorada por arranjos de flores amarelas, toalhas brancas e louças de porcelana.
Luzes que pendiam sobre pilares iluminavam a ambiente em festividade.
Zelena aproximou-se de mim, sentando-se ao meu lado, aproveitando a distração de certos convidados que se divertiam. Carregava Dafina consigo.
-Que bela atitude de adotar ela, Regina, é um ato de coragem. É uma criança encantadora.
-Acredito que não seja um ato de coragem, e sim, amar as diferenças, respeitar elas.
-Você está certa. As pessoas agem como se isso fosse um absurdo, mas na verdade a sociedade deveria estar acostumada a presenciar atos como esse. Eu terei orgulho em dizer que tenho uma sobrinha negra, linda!
-Obrigada –sorri apertando a mão de Zel –Se todos pensassem como nós, não presenciaríamos tanto preconceito.
Ficamos em silêncio por instantes admirando Dafina deliciar-se com o pedaço de bolo que Zelena lhe oferecia, a mesma deliciava-se.
Meu olhar percorreu cada canto do quintal, desde Robin colocando Roland de cabeça para baixo, até Lou e Bem dançando em cumplicidade por todos os lados sorrisos enfeitavam seus rostos e as gargalhadas podiam ser ouvidas, tão belas quanto melodia que ressoava no local.
-Regina... –Zelena me chamou, me despertando do meu súbito devaneio.
-Eu preciso me desculpar com você, por ter de certa forma colaborado com os planos do meu irmão. Espero que você também consiga me perdoar um dia.
Pontuou a mulher a minha frente, eu via o remorso em seu olhar.
-Eu já perdoei. Estou pronta para perdoar o que aconteceu no passado.
-Eu gostaria de possuir esse seu poder de perdoar. Obrigada.
-Eu estava sozinha. Apesar de estar feliz com a gravidez, me sentia vazia. Eu não podia abraçar quem eu me importava, então eu percebi que era melhor eu perdoar do que ficar sem quem eu amava. Penso que se eu posso conviver com meus erros, que considero graves, por que não tentar lidar com os erros das pessoas que eu amo? Talvez ficar sozinha não valesse a pena.
-Você ainda vai inspirar muitas pessoas, Regina.
-É, quem sabe...
Minutos depois, todos estávamos ao redor da mesa, testemunhando a felicidade um do outro, sem mentiras que pudessem nos atrapalhar.
“ Amanhã é incerto
Quem sabe o que trará
Mas uma coisa é segura, contigo tenho tudo
E felizes para sempre
Não há tormenta que não podemos superar
Sempre encontraremos o sol
Deixa o passado e todas as suas cicatrizes
Um começo feliz agora é nosso
Podemos celebrar juntos
Hoje nossa história começa de novo... “
X X X
O terno de meu marido está jogado na poltrona que temos no quarto, próxima a janela, alguns botões de sua camiseta estão abertos, revelando seu peito nu.
Robin carrega consigo uma Dafina adormecida em seus braços, ele a tocava com tanta ternura fazendo com que meu coração transbordasse de amor. Escorada no marco da porta, eu o observava atentamente, com as mãos postas sob a barriga, sorria.
-Ela dormiu rápido –sussurrou me fitando, abraçando nossa filha com apreço.
-Quem não dormiria amparada nos seus braços, Robin? –inquiri com riso –Meus pés estão cansados desse sapato.
Comentei me encaminhando até a cama e sentando na beirada. Logo sou surpreendida pelo meu marido que ajoelhado a minha frente, tira o par de sapatos que calçava meus pés e começa a massageá-los.
-Você está tão carinhoso, cavalheiro. -pontuei tocando seu rosto –Acho que estou me apaixonando pela terceira vez.
-É o mínimo que a mãe dos meus filhos merece. Eu me apaixonei por você 1095 vezes, todos os dias, nesses três anos.
-Eu amo você –declarei emocionada.
-Eu também amo você, não sou capaz de mensurar...
Selamos nossos lábios rapidamente.
-Será que você pode me ajudar com o meu vestido?
Questionei me virando de costas, no instante em que Robin sentou ao meu lado.
Os dedos de meu amado desabotoavam os botões pérola esverdeados, revelando minha pele, a qual meu marido percorreu as mãos másculas, descendo-as pelas minhas costas, traçando seus dedos pela minha pele com adoração, me fazendo suspirar, fechando os olhos, ao apreciar a sensação de seu toque que me deleitava.
-Eu sinto saudade disso –revelou, depositando beijos por onde as mãos haviam explorado –de tocar você.
Inspirou o aroma de minha nuca, beijando-a em seguida, colocando meu cabelo para o lado esquerdo. Em seguida passeou as mãos pelo meu braço, com esmero.
-Eu havia decorado você em meus pensamentos, mas poder senti-la assim, é como um sonho.
Proferiu ao pé de meu ouvido, o que fez eu me arrepiar. Eu sentia sua respiração pesada, as mãos por fim parando sob minha barriga de gestante, enquanto o mesmo continuava a beijar meu ombro.
-Eu sinto saudade disso –bradei provocativa descendo uma das mãos dele até meu sexo –da sua língua lambuzando minha intimidade, de você dentro de mim, eu quero ser sua novamente.
-E os bebês? Eu pensei que pudesse machucar eles, ou você...
-Não há o que se preocupar. Apenas me ame demoradamente.
Após sentei no colo de meu marido, beijando-o freneticamente, enquanto as mãos dele continuavam a percorrer minhas costas, me deleitando com suas carícias acaloradas. Eu pressionava nossos lábios, aprofundando o beijo, estimulada, almejava findar aquela saudade que me acometia há meses.
Entretanto, Robin, parecia relutante.
-Você tem certeza?
-Não há nada mais lindo do que uma mulher grávida fazendo amor com o pai dos seus filhos.
Pontuei, deslizando minha mão pelo rosto de meu amado que sorriu com as minhas palavras.
-Você e essa sua capacidade de me fazer mudar de ideia... –disse travesso.
Em seguida eu segurei sua mão, e ambos, juntos, nos levantamos. Robin percorria a mão pela alça do meu vestido, deixando-a desnudar meus ombros, depositando nesses, seu lábio, beijando-os com gentileza. Eu levei as mãos dele sob a minha barriga, me envolvendo em seus braços.
O vestido serpenteou pelo meu corpo, até chocar-se ao chão. Revelando minha lingerie branca, cujos pequenos detalhes eram enfeitados por renda da mesma cor. Logo depois fora a vez do sutiã ser retirado. Sussurros desconexos ressoavam enquanto as roupas dele eram tiradas.
Em seguida, Robin me deitou sob a cama, com cuidado, ocupando o seu lugar, logo senti uma das mãos dele posta sob meu seio, em um carinho cauteloso, devido a sensibilidade destes pela gestação, enquanto a outra mão espalmava meu sexo, evidentemente excitado. Os olhos fechados, desfrutando do prazer que me era ofertado pelo meu amado. Sentindo-o me amar apenas com seus toques que me fascinavam.
Ávida, me permiti abri-los somente quando senti a ausência de suas mãos pelo meu corpo. Antes que pudesse reclamar sinto o mesmo realizar uma trilha de beijos por entre o vão dos meus seios, logo beijando a minha barriga com desvelo, por onde ao aproximar-se do meu ponto de prazer, roçou a barba por fazer. Me despertando sensações eróticas, e causando suspiros desenfreados, dos quais só me permitia sentir em sua companhia.
As mãos de Robin passeavam pelas minhas coxas as quais ele espalmava com voracidade, me causando arrepios. Posto entre minhas pernas, retirou o único tecido que me cobria, os segundos seguintes, me proporcionaram a sensação tentadora de satisfação, acompanhada por gemidos calorosos.
O lábio extremamente quente dele adentrava minha intimidade, chupando-a, me lambuzando com a habilidade de sua língua ao explorar cada região do meu sexo molhado. Contentamento que eu nunca me cansaria de apreciar. Robin me lambia desesperadamente, com o intuito de cessar aquele desejo ardente que sentíamos um pelo outro, a saudade que nossos corpos queriam saciar, devido a nossa separação.
Sugou minha intimidade demoradamente, com sutileza.
-Ohhh...
Arfei entregue ao deleite de tê-lo me saboreando. Instigando-o a prosseguir a habilidade que sua língua possuía.
O orgasmo me abateu mais intenso que o de costume, por conta da gestação.
-AHHH...
Gemi, no instante em que meu marido sorvia o fluido quente liberto do prazer que o mesmo me causara. Segundos depois sinto o mesmo percorrer uma toalha pela minha região íntima.
Me sentia cada vez mais excitada, ajoelhados sobre a cama, trocávamos beijos ardentes, continuávamos sedentos um pelo outro de modo moderado, pela gravidez.
Robin sentou-se, sendo amparado pela cabeceira da cama e uma diversidade travesseiros. No momento em que eu, me coloquei sobre seu pênis, sentido ele adentrar duro e resoluto, preenchendo minha intimidade. Causando gemidos prazerosos em nós dois.
Comecei ditando movimentos lentos, tomados pelo desejo de termos um ao outro mais uma vez. Acostumados com a união de nossos corpos aprofundei os movimentos, rebolando o mais rápido que conseguia, vislumbrando o olhar de satisfação de meu marido a medida que meu corpo subia e descia.
-Oh...oh...oh.
Ele suspirava assim como eu. Entregues ao momento.
Por vezes minha barriga de gestante roçava sob a dele.
-Regina... você está maravilhosa!
Elogiou me incentivando a prosseguir. Empurrava meu quadril intensamente, fazendo-o gemer loucamente. Pressionando-o, desejando-o incansavelmente. Robin gozou dentro de mim, senti seu líquido quente se espalhando, encontrando-se com o meu. O orgasmo havia nos arrebatado.
Eu nunca me cansaria de adorar cada vez que nossos corpos se encontrassem, fazendo morada um no outro.
X X X
Um mês depois...
As paredes do quarto recém pinceladas em tom de azul e rosa claro, enalteciam a pureza que o aposento remetia. Cujo a presença em breve seria preenchida por nossos filhos. O ambiente recentemente mobiliado, era enfeitado por dois sofás brancos, decorados por mofadas da mesma cor das paredes. Dois berços constavam no recinto, além de uma cômoda tomada por ursos de pelúcia em várias cores. Tudo estava perfeito, assim como o momento em que vivíamos.
Robin tinha Roland sentado em seu colo, com um riso presente, diante das histórias narradas pelo pai. Dafina mantinha-se uma criança admirável, no momento brincava sob o tapete com uma de suas bonecas, sorridente.
Por vezes o olhar de meu marido encontrava-se com o meu, ele não era mais tempestuoso e sim brando, delicado. Era como se eu o visse sorrir pelos olhos azulados.
Mantinha minhas mãos postas sobre a barriga enquanto fitava na janela as pessoas ao redor. Desejando que por um instante de seu dia, elas parassem para apreciar a vida que levavam, e agradecer, como eu fazia. Afinal, nem todos nós temos uma sorte como essa. O tempo que passei na África comprovava isso.
Meu coração batia sereno a cada troca de olhar com meu amado, a cada beijo trocado, a cada abraço recebido por Dafina ou Roland, eu não era mais uma pessoa sozinha, já não tinha mais medo da solidão, eu a desconhecia. Eu era amada.
Não há sensação mais prazerosa do que acordar pela manhã e tomar café com a minha família, ansiando em descobrir quais seriam as surpresas que o dia me aguardaria. Conforme o tempo passava eu aprendia uma nova lição, seja na gestação, ou exercendo meu papel como mãe e esposa. Eu me redescobria, experimentando viver novas sensações. Eu sorria de emoção ao ser presenteada com um desenho por Roland, chorava de ao ter Dafina em meus braços, beijando meu rosto. Eu me deleitava ao ter o abraço de meu marido, o mais quente do mundo me esperando quando eu precisasse, eu amava e era muito bem, amada.
Muitas pessoas não conseguem perdoar quem muito amou. Entretanto, eu acredito que perdoar seja muito mais do que recomeçar, uma situação como a minha é impossível de esquecer, porém é mais fácil tentar lidar com ela.
Eu não queria escrever uma página em branco, ou terminar uma história, eu procurei no meio de tantas dificuldades a melhor forma de conviver com ela, mantendo-a como aprendizado. No momento em que estive dividia entre qual escolha fazer.
Eu só queria ter Robin ao meu lado, tocando minha mão, secando minhas lágrimas, me fazendo sorrir. Eu desejava sentir o sabor do seu beijo e a rouquidão de sua voz sussurrando o quanto me amava, eu almejava vê-lo sorrir ao acariciar minha barriga. Percebi que não podíamos ficar separados, eu não queria mais a solidão e sim que ele caminhasse junto comigo.
Acredito que perdoar seja uma das mais belas formas de amar. Associo ao ato de pular de um abismo sem saber se encontrara o chão ou não. É arriscar. Você não sabe se fez a escolha certa, até a vida te provar isso.
Mas eu perdoei. Porque eu queria amar, amar cada pedaço da nossa história, amar as melhores partes dela, assim como nos livros ou filmes, dos quais sempre temos nossas cenas favoritas, desde os momentos que nos fazem suspirar até aqueles que nos fazem chorar. Sofrendo pela dor, dor de amor. Afinal, quem nunca sofreu de amor? Quem nunca amou sem ser amado? Quem nunca precisou ser perdoado?
Algumas pessoas jamais encontrariam razões suficientes para compreender o motivo dessa escolha, até eu mesma me pergunto se estou seguindo o rumo certo... mas quando as mãos de Robin tocam minha pele, seu sorriso se faz visível no meu olhar, ou quando a risada de Roland tilinta em meus ouvidos, eu encontro as respostas que me fizeram voltar. Eu amava cada parte daquele lugar. Eu estava no meu lar, onde deveria estar.
Vocês podem me perguntar, como é perdoar? Então, responderei, que é uma sensação poderosa que faz você se sentir grande. Puro. Renovado. Em paz. Com a alma lavada e o coração quente, transbordando amor. Você aprende a lidar com a dor, e deixa com que o amor dite seus atos e palavras. Me sinto engrandecida. Aconselharia a todos, sempre que possível, praticar o perdão. Afinal de que vale a solidão? Se a sua felicidade pode estar em seu alcance.
A vida me mostrou que quanto mais fugimos de nossos traumas, mais eles nos perseguem e enquanto não aprendemos a lidar com eles, nunca conseguiremos seguir em frente. Não fuja, enfrente. Caia e levante. Chore e sorria. Perdoe e se liberte.
Encontre sua felicidade, assim como eu encontrei a minha. Afinal, o homem que destruiu a minha vida, é o responsável por me fazer sorrir nas manhãs de maio.
X X X
Robin
Acompanhados pelo sol que se punha no horizonte, retornávamos ao lugar que ambos considerávamos o mais especial. Sentados sob o gramado esverdeado nos encontrávamos mais uma vez no topo da cidade, onde eu pedi Regina em casamento, pela primeira vez.
-As pessoas passam tempo demais buscando pelo amor verdadeiro, só pensam em vivê-lo, mas não sabem como viver. Até que precisem aprender.
-Eu aprendi. É por isso que estamos aqui.
Constatei rompendo nosso silêncio.
-Por que?
-Foi aqui que eu percebi que te amava, foi uma sensação tão nova para mim, me causando pavor e amor. Eu notei que seu sorriso era o meu sorriso e que suas lágrimas eram as minhas lágrimas. Quando você disse sim, eu desejei que ao menos por instantes pudesse apreciar a felicidade que estava sentindo sem me culpar por estar apaixonado pela mulher que destruiu a minha vida. Eu consegui atuar tão facilmente que percebi o quanto os meus sentimentos eram verídicos. Então eu fui para a guerra. E essa foi a melhor coisa que eu já fiz por nós dois.
-Robin... –interveio minha esposa.
-Me deixa continuar, por favor –pedi, eu precisava ser sincero, além do mais tudo que seria dito explicaria a atitude que eu tomaria a seguir.
-Se eu não tivesse voltado sem as minhas memórias, nem sei o que seria de nós dois nesse momento. Perde-las foi o melhor que já me aconteceu, isso nos possibilitou viver uma nova história. E novamente foi aqui que você despertou algo em mim, e eu me apaixonei por você, pelo modo como me olhava, eu me apaixonei ao perceber a maneira que você amava, eu definitivamente me encantei. Então amamos, amamos mais que o ideal, eu diria –sorri –E depois sofremos pelos erros cometidos e pelo amor perdido. Pelas nossas incertezas. Essa dor foi fatal para que enfim eu entendesse de uma vez por todas que o amor sempre venceria, por trás de uma situação ruim, viria uma coisa boa.
Foi quando eu notei que se Victória e meu filho não tivessem morrido, eu morreria sem conhecer o amor que todos buscam, ou perdem quando encontram, e eu jurei a mim mesmo que eu não seria uma dessas pessoas.
Estamos aqui nessa tarde –me levantei erguendo a mão para que minha esposa fizesse o mesmo –Porque eu quero sentir, ouvi-la dizer sim, sentir você me amar, sem me desesperar. Quero estar inteiro dessa vez, não pela metade, é por isso que eu peço que... –me ajoelhei em frente à minha amada –Case-se comigo agora?
-Aqui?! –fitou ao redor emocionada e espantada, esboçando um sorriso tipicamente seu –Como vamos fazer isso, sem ninguém?
-Nós não precisamos de um juiz de paz, ou de um padre, nós precisamos um do outro e isso nós temos. Vamos renovar nossos votos?
-Sim!
Ela exasperou, logo o anel percorreu seus dedos.
-Regina, receba essa aliança como prova de meu amor, e tenha a certeza que você não vai precisar joga-la no mar dessa vez –nós dois rimos –Você precisa saber o quanto eu amo amar você, e o quanto me sinto vazio quando não está por perto. Necessita saber, o quanto eu amo vê-la sorrir, ou apreciar o modo delicado que penteia seus cabelos. Obrigado por perdoar meu coração machucado. Obrigado por não deixar de acreditar em mim quando eu mesmo já o tinha feito. Obrigado por nunca ter deixado de lutar por nós dois. Tenha certeza que essas mãos sempre vão segurar as suas, até quando a vida permitir.
Finalizei, deixando-a emocionada.
-Robin, receba essa aliança, como prova de meu amor, que apesar de ferido, soube encontrar a cura para suas cicatrizes nos seus braços. Embora não admitisse eu sabia que somente quem havia me machucado, seria capaz de me curar. Eu encontrei no homem que você se tornou a minha paz. No seu coração eu encontrei meu lar de amor.
Uma vez você me disse que queria me amar sem que eu fosse me machucar, e bem, você está conseguindo esse feito. Obrigada por aquecer meu coração com o seu sorriso, obrigada por me abraçar como se o mundo fosse acabar, obrigada por me fazer aprender a perdoar.
Agradeceu tão comovida quanto eu, quando as palavras não foram mais suficientes para declarar o que sentíamos, nos beijamos.
Selando nossos lábios em um beijo sôfrego e demorado. Representando tudo aquilo que o coração sentia intensamente, puramente.
Não havia mais mentiras, vinganças, feridas, ou falta de memórias para nos separar. Estávamos inteiros, verdadeiros e prontos para amar.
Testemunhados pelo fim de tarde da primavera, iniciávamos nosso começo feliz, pacíficos com nós mesmos. Vícios e traumas haviam ficado para trás. Éramos um homem e uma mulher, -que antes surrados pela vida –agora contemplavam o que de melhor havia nela. O amor.
Me curvei em direção a barriga de Regina, depositando-lhe um beijo casto. Com a certeza de que a prova que o amor vence o ódio crescia a cada dia no ventre de minha esposa.
Fim.
Capítulo dedicado as vítimas do atentado de Manchester -, que Deus conforte o coração dos familiares e amigos que ficaram nesta terra. Rezem por essas pessoas, por quem vocês amam e acima de tudo, para que o amor sempre vença a crueldade presente neste mundo. Amém.
“ Não espere que alguém mude sua vida, seja você a mudança na vida de alguém. “
- Tais Oliveira
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