Sua visão está totalmente turva, ele sente seu corpo dolorido e formigar. Cada esforço para erguer-se, simplesmente se mexer, causava uma grande dor, como se milhares de agulhas o atingissem ao mesmo tempo.
—Ele tá morto? -uma voz infantil, de um uma garota, pergunta.
—Mortos não respiram. Ele está vivo, Alice. -respondeu a de um menino.
O homem tenta falar, mas apenas um som gutural seguido de um gemido de dor foi ouvido.
—Acho melhor chamar o vovô, Phillipe. -a menina diz. -Ou a tia ...AAAHH!
Ele ergue o corpo, reunindo todas as suas forças e mira três crianças diante de si, um garoto e duas meninas. Então percebe que está nu e sujo de lama, uma visão assustadora para os pequenos que correm de medo dele.
—E-esperem... -ele diz, se erguendo e tentando andar, mas para ao ouvir o som de uma arma sendo engatilhada.
—Não se mova! -ordenou uma mulher. -O que quer aqui? Como chegou aqui?
Ele se levanta e encara a mulher. Tez bronzeada e as faces rubras, indicando que trabalha sol a sol, cabelos escuros, presos em um rabo de cavalo, e olhos de um violeta intenso, que o miravam com desconfiança, não querendo aparentar medo, embora a mão que segurava o velho rifle apontado para ele, tremia levemente.
O homem tenta falar alguma coisa, mas novamente a dor e o torpor o dominam, fazendo com que perdesse a consciência e caísse diante dela. A mulher então analisa o corpo para ver se ele ainda respirava. Suspirou aliviada ao contestar que sim, a última coisa que queria era um cadáver em sua propriedade.
Olhou ao redor desanimada. De onde surgira? Como chegara naquele estado em sua fazenda? Será que foi assaltado e surrado, para ser jogado naquele local?
—Phillipe. -ela chama um menino, de cabelos e olhos castanhos, aparentando ter dez anos que os olhava de longe. -Melhor chamar seu avô. Vamos levá-lo para dentro.
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“—O que houve comigo?” -indaga a si mesmo ao abrir os olhos. Encontrava-se deitado em uma cama macia, tendo um lençol cobrindo sua nudez. Notou que estava limpo, e a dor diminuíra um pouco, mas não se lembrava de onde estava. –“A última coisa que consigo me lembrar é de estar na Casa de Câncer e...eu vi três mulheres estranhas e... Me sinto...tão fraco... Onde estou?”
Nesse momento a porta se abre e ele reconhece a mulher que havia apontado uma arma para ele. Ela trazia uma bandeja na mão, onde havia um prato e um delicioso aroma de sopa.
—Acordou. Que bom! -ela diz colocando a bandeja em um criado mudo ao lado da cama. -Achei que teria que chamar um médico para você, já que dormiu por horas.
—Quem...quem é você? -pergunta desconfiado.
—Sou Lydia Denílson. E você está na fazenda Redemption. -respondeu. -Minha fazenda, no distrito de Wildwood. Agora a pergunta é... quem é você?
—Eu...-ponderou, talvez não fosse uma boa ideia dizer quem era ainda. -Um viajante.
—Deduzi que sim. -ela não parecia muito convencida. -Foi assaltado? Quer fazer queixa?
—Tia. -uma menina, de uns sete anos, cabelos negros presos por uma trança, apareceu na porta. -Tem um carro chegando na porta. São aqueles homens de novo.
A mulher estreitou o olhar e praguejou baixinho, depois se virou para seu hóspede, apontando umas roupas sobre uma cadeira.
—Acho que essas roupas lhe servem. Pertenciam ao meu irmão. -depois disse a menina. -Já vou descer, Alice. Fique com Sarah, está bem?
A menina concordou com um aceno de cabeça e antes de sair olhou demoradamente para o convidado.
—Ela ainda tem medo de você.
—Não queria dar essa impressão. Posso perguntar algo? Na verdade, duas coisas?
—Diga.
—Onde fica Wildwood?
—Canadá.- ela estranhou a pergunta. Será que ele sofria de algum problema de amnésia? -E a outra pergunta?
—Foi você quem meu deu banho? -havia um brilho malicioso em seus olhos azuis que a fez corar imediatamente.
—Na verdade...foi meu pai quem lhe deu banho. -respondeu saindo do quarto. -Coma a sopa.
Sorriu novamente. Tinha que admitir que Lydia era uma linda mulher. Levantou da cama, seu corpo ainda estava dolorido mas não como horas atrás, e foi até a janela. Percebeu que se encontrava no andar superior de uma casa de fazenda. De lá teve uma boa visão dos recém chegados, e seu instinto lhe dizia que não era boa coisa.
Balançou a cabeça, não era problema seu. Vestiria aquelas roupas, comeria algo e daria um jeito de voltar ao Santuário o mais rápido possível.
—Não pode voltar agora. -a voz cortante de uma mulher parecia que iria fazer sua cabeça explodir.
Ele leva as mãos à cabeça e se ajoelha, sentindo a dor aguda e como se estivesse em um sonho, se viu em outro lugar, cercado de brumas, onde três figuras se aproximavam. Eram três mulheres...uma jovem como uma adolescente, a do meio era uma mulher madura e a terceira uma velha que aparentava uma longa vida. Todas cobertas por pesados mantos.
—Quem são vocês? -exigiu. –Foram vocês que eu vi na Casa de Câncer!
—Não pode voltar ao Santuário... -dizia a adolescente.
—...enquanto não provares... -continuou a jovem mulher.
—...que és digno de sua armadura. -completou a idosa.
—São...deusas? –ele estreitou o olhar. –Já provei que sou digna dela!
—Não nos referimos ao o que houve em Asgard. –diz a adolescente.
—Seu destino, e dessa família... -a mulher o toca.
—...estão entrelaçados agora. -finaliza a idosa, antes de desaparecerem. -Máscara da Morte de Câncer.
Continua...
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