História Regressão ao amor - Você era meu herói.

Draco tomou a poção e logo começou a fazer mais um monte de perguntas a Snape, fiquei feliz em não ser o foco de suas perguntas nesse momento, não sei se prestaria atenção a alguma delas, enquanto isso, eu ficava pensando na dor em meu peito, nesse sentimento de perda. Amanhã Draco amanheceria com oito anos, mais alguns dias e ele se lembraria, eu pedia a Merlin todos os dias para que Snape estivesse certo e, Draco não fosse realmente nenhum ingrato. Eu não quero que ele fique ao meu lado somente por gratidão, eu quero que ele permaneça comigo, pelo menos até ele voltar a sua idade real, porque ele gosta de mim, tanto quanto eu gosto dele. Mas eu sei que isso não vai acontecer, eu sei que ele não vai mais me ver da mesma maneira como ele me vê agora, que eu não serei mais sua pessoa favorita no mundo, e se sua gratidão for tudo o que eu tiver para que ele permaneça comigo, então eu vou aproveitar cada momento, para fazê-lo mudar de ideia ao meu respeito, vou aproveitar cada segundo com ele, para ganhar sua amizade que um dia eu recusei. Se eu soubesse naquele momento... seu eu tivesse visto ao menos um vislumbre desse Draco Malfoy que eu conheço agora, eu nunca teria feito isso, mas agora já passou, não adianta mais ficar remoendo o passado, agora é hora de eu usar o presente para conquistar sua amizade, e é isso que vou fazer.

Ficamos mais alguns minutos na sala, até que Snape foi embora, ele já não me lembrava mais o que aconteceria se eu tratasse Draco mal ou se algo de ruim acontecesse a ele, o que era um alivio para mim. Acho que ele percebeu que eu nunca faria isso, não a esse Draco, não ao meu Anjinho. Draco estava com os olhinhos quase fechando de sono enquanto eu o ajudava a vestir um pijama muito fofo com estampa de pequenos dragões. Quando terminei de o ajudar ele foi cambaleando meio grogue de tanto sono para a cama, sorri ao ver essa cena e troquei minha roupa, vestindo apenas minha calça de pijama. Quando me deitei na cama, Draco já parecia estar dormindo, mas assim que terminei de me acomodar ele se moveu para mais perto e deitou sua cabeça em meu peito como sempre fazia.

_Boa noite, Ary. _Ouvi seu sussurro quase inaudível.

_Boa noite, Anjinho. _ Sorri ao sentimento de ternura que tomou conta mim, ao menos por um momento esquecendo de tudo o que me afligia.

♥♥♥

Quando acordei no outro dia o sol já estava alto, e uma luz cegante batia em meu rosto, me fazendo fechar os olhos novamente imediatamente. Ainda sonolento, notei que já não tinha mais o peso da cabeça de Draco em meu peito, abri os olhos imediatamente, não mais me importando com a luz que feria meus olhos, peguei meus óculos na cômoda ao lado da cama, o coloquei e olhei ao meu redor, Draco não estava mais dormindo, senti um arrepio subir por minha espinha.

_Draco? _ Chamei por ele, e não obtive resposta alguma.

Levantei-me da cama e fui ao banheiro para ver se ele estava lá, não estava. Caminhei até a sala o procurando e também não o encontrei, meu coração acelerou um pouco, ele não poderia ter se lembrado, não é? Ele só tem oito anos, não nos conhecíamos nessa época. Calma Harry, ele deve estar em algum lugar daqui. Fui para o quarto que era para ser dele, mas que ele nunca dormia nele, e também não havia nenhum sinal dele. Voltei para a sala, pensando no que poderia ter acontecido já que eu já havia descartado a ideia de que ele poderia ter se lembrado e me deixado no meio da noite.

_Harry, estava dormindo até agora? _Olhei para a porta da sala, para onde o dono da voz que eu reconheceria em qualquer lugar, mesmo com a sutil mudança no som.

_Draco. _Falei, me sentando no sofá e soltando um suspiro de alivio.

_É ué, quem mais seria, Harry? _Ele respondeu revirando os olhos e depois sorrindo, não aquele sorriso sarcástico que o Malfoy que eu conhecia sempre fazia questão de dar a todos, esse sorriso alcançava seus olhos e fazia seu rosto se iluminar.

Fiquei o olhando por um minuto, ele não tinha mudado muito, apenas possuía alguns centímetros a mais, e seu cabelo agora estava com o comprimento pouco abaixo dos ombros, seu rosto ainda possuía os traços angelicais de bebê, mas agora também possuíam traços mais sérios, ele continuava lindo, estava vestido com uma camisa branca de manga longa, com um colete preto por cima e uma calça preta, juntamente com um sapado igualmente preto.

_Onde você estava, Draco?

_Eu estava com fome, e parecia que você não iria acordar nem tão cedo, então eu fui comer. _Ele se sentou ao meu lado. _Está com fome, Harry? Eu trouxe um pouco de comida para você.

Eu ainda estava meio atordoado, em aparência Draco quase não mudou, mas agora ele se comportava como um pequeno adulto, senti algo ser colocado sobre minhas pernas, Draco havia colocado uma pequena cesta com um pouco de comida sobre minhas coxas. Olhei para ele, ele me olhava com um ar estranho, como se tivesse preocupado.

_Harry, está chateado porque saí sem lhe avisar? Não fica não Ary, eu prometo que não faço mais isso. _Ele me abraçou, escondendo o rosto em meu pescoço como ele sempre fazia quando era menor, só então eu percebi que eu estava agindo como um completo idiota, Draco é só uma criança que estava com fome e resolveu não me acordar por isso. Não me surpreende ele ser tão independente, mesmo a essa idade, Draco nunca me pareceu depender de ninguém para nada.

_Tudo bem, Anjinho, não estou chateado com você, só estou meio sonolento ainda. _O abracei de volta, dando um beijo no topo de sua cabeça, isso pareceu o satisfazer, ele se afastou um pouco e me olhou sorrindo.

_Você deveria tomar um banho, Harry, para despertar. Funciona, mamãe sempre me fazia tomar banho, quando eu estava com muito sono e não era hora de dormir.

Sorri para ele, e me levantei indo para o banheiro, tomei banho e vesti uma roupa, passei as mãos por meus cabelos, não iria perder tempo os penteando, não importa o que eu fizesse eles nunca seriam controlados mesmo. Voltei para a sala e Draco ainda estava sentado no sofá, brincando com as pontas de seus cabelos. Sentei-me ao seu lado e comecei a comer o que ele havia me trazido, começando pelo suco de abobora e bolo de chocolate que eu amava. Draco parou de mexer em seus cabelos e me olhou, pensativo.

_Harry, eu me lembrei de algo sobre você hoje.

Engasguei um pouco com a comida e comecei a tossir.

_Bebe um pouco de suco, Ary. _Draco me entregou o copo de suco que eu havia colocado sobre a mesinha de centro, em frente ao sofá. Tomei um pouco do suco, e me acalmei um pouco. Lembrou de algo sobre mim? Mas nem nos conhecíamos. Olhei para ele, que agora me olhava sorrindo, não poderia ser ruim, já que ele estava sorrindo, não é? Além disso, ele me chamou de Harry e Ary...

_O que você lembrou Anjinho?

Draco deitou-se no sofá, com a cabeça em meu colo, sorri e passei meus dedos por seus cabelos brancos platinados e macios como seda. Não seria algo ruim.

_Meu padrinho sempre me contou histórias sobre você, sabia Ary?

Olhei para seu rosto, surpreso, Snape lhe contava histórias sobre mim? Porque ele faria isso, eu pensei que ele me odiasse desde sempre.

_Ele contava a história de um menino que ainda bebê, sobreviveu a uma maldição da morte, e eu sempre pensava, nossa como eu queria conhecer esse menino, Harry Potter... _Draco riu um pouco e me olhou. _ Nós somos amigos, não é Harry? Eu lembro que eu sempre quis te conhecer e ser seu amigo, você era como um herói para mim e eu queria ser tão forte quanto você. _Draco se levantou e me olhou, seus olhos brilhavam de empolgação. _Eu não via a hora de vir estudar em Hogwarts, meu padrinho me dizia que você iria estudar aqui também e eu queria vir logo, para te conhecer logo e ser seu amigo. Meus pais nunca gostaram disso, mas eu não ligava.

Draco voltou a se sentar ao meu lado, e eu o olhei, meu coração apertado com o que eu acabara de descobrir, cada palavra que ele falava se repetia em minha cabeça, e eu me sentia a pior pessoa do mundo. Você era meu herói e eu queria ser tão forte quanto você... Eu sempre quis ser seu amigo. Nós somos amigos, não é Harry? Como eu responderia isso a ele? Como eu poderia dizer que nós nunca fomos amigos, porque eu fui um idiota e recuei sua amizade quando me foi oferecida.... Eu não posso fazer isso, se eu lhe disser a verdade, ele vai me odiar, claro que ele vai me odiar de qualquer jeito, mas eu ainda tenho alguns dias, ele não pode me odiar agora.

Draco ainda me olhava, sorrindo, esperando uma resposta. Dei o meu melhor sorriso possível, torcendo para que ele não percebesse que era falso. Merlin, por favor me ajude!

_Claro que somos amigos, Anjinho. _Não era exatamente uma mentira, já que agora nós realmente somos amigos, não é? _O sorriso que Draco me deu, fez meu coração se apertar ainda mais.

_Eu sabia, Ary. _Ele pulou sobre mim, me abraçando apertado e sorrindo. Não era tão ruim, eu poderia resolver isso. Vai ficar tudo bem.

♥♥♥

Os dias foram passando e nada havia mudado, Draco continuava aquela criança feliz e carinhosa que eu tanto amava. Eu não poderia deixar de pensar no que Draco me contou, e no que eu tinha lhe falado, as vezes eu me sentia mal por isso, eu sabia o que ele queria dizer com sua pergunta, se éramos amigos, ele queria saber se éramos amigos desde o primeiro ano, como ele sempre quis, e saber que só lhe contei meia verdade, me deixava muito mal.

Hoje era mais um dia de visita do Snape, e estávamos sentados no sofá, Draco contava tudo o que lhe havia lhe acontecido desde a última visita de seu padrinho, e eu lhe olhava sorrindo, feliz ao ver sua felicidade.

_Há, padrinho, e eu contei ao Harry que o senhor me contava histórias sobre ele. _Draco riu um pouco e Snape me olhou sério. Não pude deixar de sentir o gelo percorrendo minha espinha. _Não é legal padrinho? Eu sabia que seriamos amigos desde o início e Ary me confirmou, não é Ary?

Snape semicerrou os olhos enquanto ainda me olhava fixamente. Eu me senti ainda pior ao ver a felicidade com a qual ele contava isso para Snape e me olhava com seus olhos brilhando.

_Draco, será que você poderia nos dar um minuto a sós? Eu gostaria de falar com o Potter.

Draco olhou para Snape confuso.

_Pode falar, padrinho, Harry não se importa que eu escute, não é Ary?

Eu não me importaria se o assunto fosse qualquer outro, mas sobre o que ele queria falar, e não queria que Draco ouvisse, eu ainda tinha alguns dias.

_É um assunto meio pessoal, Anjinho, que tal você ir procurar a Mione e ficar um pouco com ela, eu aposto que ela gostaria muito da sua ajuda, para as pesquisas que ela está fazendo na biblioteca.

_Mas...

_Sem mas, Draco, vai logo que eu estou mandando. _Snape falou o olhando sério, ele não aumentou o tom de voz, mas Draco pareceu entender por seu olhar que o assunto era sério.

Ele me deu um abraço e um beijo na bochecha.

_Tchau, Ary. Depois eu volto. _Ele deu um beijo na bochecha do Snape também e saiu para encontrar Hermione.

Snape esperou alguns segundos eternos depois que ele saiu, antes de começar a falar.

_O que você pensa que está fazendo, Potter?

Ele me olhava mais sério que o normal, como ele me olhava antes de tudo isso acontecer. Não pude deixar de me sentir um garotinho que tinha aprontado e estava recebendo uma bronca do pai.

_Eu não sabia o que dizer quando ele me perguntou se éramos amigos, professor. Eu sei que ele vai voltar a me odiar, mas eu ainda tenho alguns dias, e eu não queria perde-lo agora.

Snape agora me olhava com um misto de pena e como se eu fosse a pessoa mais burra do mundo.

_E você pensou que mentindo para ele agora, iria resolver alguma coisa?

_Claro que não, mas eu só queria ganhar mais alguns dias.

_Você não tem nem ideia, do que você fez, não é Potter? _Olhei para ele confuso. _Isso só vai piorar a sua situação, se você lhe tivesse contado a verdade, ele ficaria sim chateado, mas se você lhe explicasse e lhe dissesse que estava arrependido, que queria sua amizade agora, eu conheço meu afilhado, ele lhe daria uma nova chance, porque isso é tudo o que ele sempre quis, ser amigo do grande Harry Potter.

_Eu fiquei com medo, ok.

_Medo de uma criança de oito anos Potter? Esquece, _Snape ergueu uma mão, me impedindo de responder. _Não importa agora, Draco odeia mentiras, Potter. Sempre odiou, você deveria imaginar que mentir para ele, sobre algo que ele sempre quis, não vai contar a seu favor quando ele se lembrar da verdade. Aliás, amanhã mesmo eu venho dar outra dose da poção para ele, ele vai ter onze anos... acho que isso já lhe explica tudo não é Potter?

Ele se levantou indo para a porta.

_Amanhã?! Não dá para esperar mais um pouco?

_Não adianta mais esperar, Potter. Quanto antes isso acabar, melhor.

E então ele foi embora, me deixando sentado no sofá. Fiquei um bom tempo sentado no mesmo lugar, até que Draco entrou correndo pela porta e veio direto até mim, me abrando forte.

_Harry, eu não quero que você fale nunca mais com aquela W-weasley, ela inventou um monte de mentira sobre você, Ary, eu queria jogar um Avada k-kedrava nela. Ela disse que você sempre me o-odiou e, que nunca foi meu amigo e que nunca seria, ela disse que você só estava cuidando de mim, porque você foi obrigado a isso. Eu odeio ela, Ary, eu o-odeio.

Draco estava chorando, e me abraçava tão forte. Eu sentia minhas esperanças desmoronarem, e a dor de cada pedaço de meu coração ao ser despedaçado.

Eu já sentia o fim...