História Restituição - O confronto

Nós treinamos mais três vezes, até que no sábado Alice teve uma visão durante o entardecer. Ela conseguiu captar a intensão da Victória de nos atacar na manha do dia seguinte. Tenho quase certeza de que não houve nenhum olhar que não se mostrasse assustado com aquela informação.

Devo dizer que durante essa convivência com os Cullens, meu posicionamento sobre aquela batalha mudou completamente. Eu percebi que eles são boas pessoas e que fazem, realmente, um grande esforço para serem bons apesar do que são. E têm conseguido. Pude entender o amor de Edward pela Bella, e até mesmo o amor que ela sente pelo Jake, que não deve ser ignorado e que depois de compreendido não me causou nenhum mal. Senti afeição por eles, todos eles. E isso me deixou muito mais solidária.

Mas ainda sentia um péssimo pressentimento a respeito do dia que estava por vir. O medo constante de que algo acontecesse a algum de nós não saia de mim, e não consigo nem descrever quando meus pensamentos cogitavam perder o Jake.

Alguma coisa mudou nele também. Mesmo tentando não transparecer ele estava muito mais preocupado do que antes.

Na noite antes do temido dia, Jake foi me levar em casa. Acabamos entrando para comer uma Pizza. Quando acabamos de comer ele ficou me olhando seriamente por um bom tempo, quando eu já estava começando a me assustar ele desabou.

-Amy, você tinha razão, nós não devíamos ter nos metido nisso. Não era da nossa conta. Eu não devia ter colocado todos vocês nessa história. – Ele falava desesperado levando as mãos ao rosto. – Vou dar um jeito de falar com o Edward e dizer que não vamos mais participar.

-Ei Jake, ei, ei, calma. – Segurei suas mãos sobre a mesa. Seus olhos estavam apavorados. – Isso foi antes Jake, eu estava sendo egoísta. Eu não acho que isso seja um erro agora, realmente acredito que é nossa obrigação ajudar. Se fosse o contrário eles nos ajudariam sem pensar duas vezes.

-Você é muito generosa Amy, para de dificultar as coisas... – falou soltando minhas mãos e levando as mãos à cabeça; sem levantá-la continuou com uma voz tremula.

 – Eu não sei o que vai ser de mim, se alguma coisa acontecer a você amanha.

Fiquei sem reação por um bom tempo. Apenas ouvindo sua frase ecoar em minha mente. Depois de respirar fundo duas vezes, me concentrei em acalmá-lo.

-Jake, não vai acontecer nada. Nós treinamos bastante, estamos preparados. E eu sei me cuidar, sou muito rápida, se algo der errado eu corro.

Ele levantou a cabeça e me olhou nos olhos, eu nunca o vi tão vulnerável. Ele segurou minha mão com força.

-Me promete que você não vai ficar preocupada comigo, e vai só se concentrar em sair viva?

-Prometo. – menti.

-Eu sei que você está mentindo... Só promete que vai tentar.

-Eu prometo que vou fazer de tudo para que nós dois estejamos seguros.

Ele respirou fundo e levantou me puxando junto. Então me deu um abraço que me fez perder o folego. Apertado, demorado e quente. Seus braços ao meu redor me desligaram do mundo real, seu cheiro tão envolvente, me apresentou a uma nova sensação: a reciprocidade.

Depois de respirar profundamente em meu pescoço, sua voz rouca me fez estremecer.

-Eu poderia te beijar agora, mas vou guardar para depois da batalha.

Então ele me soltou e foi embora. Tive que abaixar a cabeça entre as pernas para conseguir respirar. Fiquei sentada na cozinha por uns 20 minutos sem conseguir levantar. Depois tomei 3 copos de água e um banho gelado. Essa tal de reciprocidade não brinca em serviço.

Não foi fácil dormir, quase não fui capaz. Por todas as coisas que eu tinha na cabeça. Às 5 da manhã nos encontramos no local combinado, todos como lobos, com as mentes alvoroçadas e com fome de guerra. Os Cullens ficariam mais a frente e quando os recém-criados chegassem nós apareceríamos de surpresa.

Minha respiração estava acelerada, o coração audível. Era chegada a hora que eu tanto temia. A incerteza da vitória assombrava minha mente, procurei canalizá-la como motivação. Precisávamos vencer. Precisávamos viver.

Quando ouvimos o barulho do exercito se aproximar começamos a correr. Jacob me olhou fixamente por alguns segundo.

“Fique viva.” Pensou.

Saltamos das pedras sobre os vampiros que já estavam em luta com os Cullens. A quantidade era mais ou menos como esperávamos. Mas a força deles nos surpreendeu. Cada um de nós começou a correr e a lutar, tentando não ser preso por nenhum deles, como dizia o Jasper: “ Se eles passarem os braços ao seu redor, já era.” Ninguém queria isso.  Acho que estávamos indo bem, apesar de eu não conseguir acompanhar a rapidez dos acontecimentos. Era tudo muito veloz e turbulento. Eu procurava me concentrar nos meus movimentos e ainda saber como o Jake estava. Minha atenção estava dividida.

Quando as coisas começaram a se aclamar, percebemos que estávamos dominando a situação, fiquei bem mais tranquila. Mesmo assim procurava manter meus olhos no Jake a todo instante. Enquanto eu arrancava a cabeça de um vampiro percebi uma situação de perigo eminente.

A batalha acontecia no alto de um penhasco, Jacob estava lutando com um vampiro bem grande perto da borda. Até aí tudo bem, o problema é que vi outro vampiro correndo em sua direção. Jake provavelmente não conseguiria com os dois, provavelmente os três cairiam no desfiladeiro.

Sem pensar muito, agindo por impulso, acelerei minhas patas, o máximo que pude, em direção ao vampiro que não percebeu minha aproximação. Ele estava muito perto de Jacob e os jogaria na ribanceira sem hesitar, e ao cair o outro vampiro com certeza mataria o Jacob. Não pude ver outra saída a não ser jogá-lo primeiro. Mas a execução do meu plano não foi perfeita. Deu merda.

O vampiro se virou antes de eu empurrá-lo, e me puxou junto. Tentei me segurar com as patas traseiras, mas ele me puxou com muita força. Puder ver a raiva em seus olhos vermelhos como sangue, ele apertava os dentes tão fortemente que pareciam estar prestes a se despedaçar. Era um homem branco, com os cabelos ruivos e uma cicatriz pequena na sobrancelha. Tentei nos segurar, mas minha força durou alguns segundos apenas. Então começamos a cair, nós dois colidimos com algumas pedras. Ele conseguiu se segurar em mim, eu tentei me virar para mordê-lo e impedir que ele me esmagasse com sua força antes de atingirmos o chão. Foi tudo muito rápido. Consegui arrancar um dos seus braços com uma mordida, mas então senti uma dor insuportável na lateral direita da minha barriga. Caímos no chão. A queda era muito alta, me deixou desnorteada, demorei um tempo para levantar. Minha sorte foi que ele ficou aterrorizado por ter perdido o braço, acho que não entendia bem as coisas de vampiro. No seu momento de distração arranquei sua cabeça.

Em seguida já caí no chão como humana, como se não tivesse mais força para continuar transformada. O desgraçado arrancou um pedaço da minha barriga com sua mordida. Desesperei-me com a quantidade de sangue que vasava de lá. Vesti meu shorts e meu top, tentei amarrar a camiseta na cintura. Mas eu já não tinha forças. O veneno penetrava em meu corpo causando uma dor indescritível. Acho que tudo isso aconteceu dentro de alguns segundo. Escorei-me em meus joelhos, minha visão começava a escurecer. Eu tinha certeza de que estava morrendo.

A ultima coisa que vi, foi Jake saltando do penhasco, e então meus olhos se fecharam e eu senti o chão acolher minha queda.

Eu sei que parece estúpido, mas a ultima coisa que me lembro de ter pensado era que o penhasco era alto de mais e que o Jake provavelmente se machucaria com a queda.

Na verdade não é estúpido.

Esse historia se resume a isso. É como o Edward disse, eu não espero nada em troca.

Ele sempre vem primeiro em meus pensamentos, é minha maior prioridade. Sempre ele à mim. Mesmo que eu morra, e que nunca mais o veja, saltar desse penhasco com aquele vampiro, foi a melhor escolha que já fiz em vida.

Que ele viva por mim.