História Revenge Girl - O sapo que virou príncipe

Seu cabelo estava castanho, da cor que me lembrava, mas não era desarrumado, era curto e jogado de lado, caindo perfeitamente em seus olhos. Seu sorriso era brilhante, seu rosto, liso como um bebê.

Tinha músculos por todo o corpo, exaltados pela sua regata preta colada. E seus olhos... Azuis e profundos, livres de óculos e quase tão perfeitos quanto os de Shaoran. Apesar da grande transformação, da mudança no corpo e na voz, os olhos dele não me impediram de reconhecê-lo.

- Peter! - disse correndo ao seu encontro e o abraçando forte. Mais uma vez percebi o quanto ele tinha mudado, além de estar sentindo seus músculos e seu cheiro delicioso no abraço, ele não hesitou. O Peter tímido da escola hesitaria, ele simplesmente me apertou forte em um abraço carinhoso. Alí eu realmente estava parecendo a Sakura doce de antes. - Como está diferente! – falei saindo do abraço e olhando suas piscinas de olhos.

- Olha quem fala. – ele disse e me girou, como se estivéssemos dançando. Eu ri. - Está linda! Quer dizer, mais, linda. - respondeu numa voz mais baixa e aveludada. Ruborizei.

- Que bom. Então, oi Castle. Sakura, podemos ir agora? - Shaoran dizia nervoso, se dirigindo á porta. Fui até ele.

- Então, obrigada pela noite, pelo lugar pra dormir, por me trazer aqui. Mas, pode curtir seu dia de folga. - disse dando tapinhas em seus ombros. - Vou ficar por aqui. - sorri e me virei na direção de Peter, mas Shaoran me segurou pelo pulso.

- Você não vem?

- Como disse, quero ficar. - repeti calmamente.

- Bem... Então... Fico também. - ele disse passando a mão pelo cabelo demonstrando seu nervosismo.

-Como? - perguntei como se não tivesse entendido.

- A, qual é. Alguém tem que garantir sua segurança. Castle pode te atacar a qualquer momento. - respondeu irônico.

- Está com ciúmes, é? - provoquei.

- Não sou homem de ciúmes. - ele retrucou.

- Pois eu acho que está. - afirmei provocando mais uma vez. Seu aperto em meu pulso me puxou pra mais perto dele. - Quem diria, o bonitão popular da escola, com ciúmes do “nerd” Peter Castle? - eu brincava e ria baixo para não chamar atenção. - O mundo dá voltas, não é Shaoran Li? - disse com os olhos faiscando de cinismo.

- Eu não preciso ter ciúmes do Castle. Aposto que nem ele, ou qualquer outro vai ter uma noite igual a nossa ontem. - respondeu confiante.

- Qual noite? Aquela em que meu carro foi guinchado, a rua de meu apartamento alagada, e eu totalmente encharcada, a ponto de pegar pneumonia, descubro que meus melhores amigos não podem me dar abrigo, já que estão muito ocupados tirando as roupas um do outro? - disse sarcástica. – É, a noite foi inesquecível.

- Não estou falando desta parte. - ele me encarava. - Falava da parte que nos beijamos no restaurante, na chuva, quando você me beijou após admitir mentalmente que eu estava certo e que não mudou nada. Sem contar o “boa noite” - ele ria. O olhei zangada.

- Quer saber? Se quiser ficar, tudo bem, aproveite. Só não fique me seguindo por todos os lados. Não preciso de uma sombra. - disse, soltei meu pulso de sua mão, e voltei para onde Peter estava. Mas o lugar estava vazio. Olhei para o palco do estúdio e ele e Tomy estavam fazendo as fotos da propaganda de um perfume.

...

Shaoran deve ser surdo, ou ter perda de memória recente. Sabe aquela parte do “não me siga o dia inteiro?”, foi exatamente isso que fez. A todos os lugares que eu estava ele estava atrás. Ás vezes se atrevia a tocar em mim, segurando minha cintura, ou algo parecido, na frente de todos. Como se namorássemos. Tudo bem, a primeira parte do meu plano era que nos beijássemos e eu fosse pro apartamento dele. Tudo bem que não estava planejando nada pra acontecer na noite de ontem, mas... Não está sendo como esperava. Ele estava caindo rápido demais, não ia nem ter graça.

A única hora em que ele me deixou em paz, foi quando os litros de água que bebeu, no calor do estúdio, pediram pra sair. Finalmente ele foi pro banheiro.

- Uau. Um namorado bem ciumento você tem. - Peter dizia espantado. Minha cara não deve ter sido muito boa com essa afirmação.

- O que? Namorado? Não, não... Ele não é meu namorado. É meu funcionário. - dizia em tom casual.

- Bem, se ele não é, não lhe faltam desejos.- ele me olhava.- Por favor, o cara não desgruda de você desde que chegou. Vocês estão juntos desde a escola?

-Ele deve estar, sei lá se sentindo deslocado.- tentei explicar... Sem sucesso, claro. – E não. Nos encontramos dias atrás aqui em New York.

- Entendi.- ele tentou mudar de assunto. - Mas então, o que te traz a New York? – sorriu com os dentes perfeitamente brancos e alinhados. Meu Deus, Peter estava lindo.

- Bem, há três anos me mudei pra cá, com Tomy, a gente divide um apartamento no Central Park, e...-

- Espera. Você mora no Central Park?

- Sim, por quê?- disse confusa.

- Eu moro no Central Park. Mudei-me pra lá nesse fim de semana. - ele gesticulava,  balançando sua franja perfeita sobre os olhos. - Conhece o edifício Sweet Grass? - comentou rindo.

- Não acredito! Parece que mais alguém tem coragem de morar num prédio com esse nome! Sweet Grass é o meu prédio! – ri da situação e Peter ria de mim.

- Por favor, “Grama Doce”, qual é o sentido disso? – já estávamos a gargalhar.

- Qual o seu apartamento?

- 77.- eu arregalei os olhos de espanto mais uma vez.

- O meu é o 76! Então você é o vizinho novo!

- Parece que todos os anos “separados” na escola, vão ser recompensados de algum jeito. – respondeu parando o riso, de um jeito galanteador. Eu sorri boba. Caramba, eu realmente estava caindo pelo Peter. Como sou falsa. Na escola não queria nem chegar perto, de um jeito gentil claro, já que ele tinha todas aquelas espinhas, e suava. Mas agora, o sapo virou príncipe, e a princesa aqui, virou bruxa. Mas acho que perto de Peter, a bruxa vira princesa, já que não estou sendo fria ou grossa com ele...

Viram só? Shaoran estava errado. Disse que não tinha mudado. Se não tivesse mudado, seria a mesma com todos. A mesma boazinha e gentil. Mas não. Com Peter sou boazinha e gentil afinal, Peter é legal, honesto, e completamente atraente. Tudo bem, Shaoran também é completamente atraente, mas é um traste, me fez de idiota no passado, e vai pagar caro por isso.

- E então, perdi alguma coisa? – Shaoran apareceu ao meu lado interrompendo minha troca de olhares bobos com Peter.

- Er.. Oi? Perdeu? Perdeu nada. - disse me recompondo da minha maré de pensamentos.

- Saki! - Tomoyo interrompeu, com a bênção dos céus, esse momento constrangedor. - Me traz meu roupão? - eu trago comida e agora levo as coisas pra ela? Vou começar a cobrar, sério.

- Tomy, você é uma supermodelo, por favor, não tem mais ninguém nesse estúdio que pode fazer essas coisas pra você? - disse entregando o roupão a minha amiga de biquíni. O porquê de ela estar usando biquíni numa propaganda de perfume? Nem me pergunte.

- Sim, existem muitas pessoas. - ela dizia vestindo o roupão. – Mas fiz isso pra te salvar de uma mesmo. Ou acha que estava mandando mensagens pro Eriol sem prestar atenção no seu dilema Peter gato, Shaoran pé no saco? - ela respondeu rindo. Eu ri junto claro.

- Tomoyo, dois minutos. - um homem gordo, mas estiloso, chegou na conversa para apressar minha amiga para mais uma sessão de fotos.

- Tudo bem Todd, já vou. - ele então ergueu os olhos pra mim.

- Você é Sakura, certo? A melhor amiga, que Tomoyo sempre comenta. - acenei a cabeça, envergonhada. - Ela não brincou quando disse que era bonita. - achei que era uma cantada, mas o seu comentário seguinte desfez a cara de nojo que tinha acabado de formar em meu rosto. - Você trabalha no Times, certo? Já pensou em sair de trás do papel, e aparecer impressa nele? Como modelo, digo. - arregalei os olhos de surpresa, claro.

Quer dizer, não sou neurótica como a Tomy, em relação à comida. Não tenho o menor senso de moda, digo não me visto como uma mendiga, mas não me importo muito com as tendências do momento. E muito menos tenho paciência de ficar tirando fotos o dia inteiro. Imaginei-me como modelo e soltei uma leve gargalhada.

- Olhe, obrigada pela oferta, mas acho que me dou melhor com letras do que com imagens. - disse tentando cortar o assunto e voltar pros dois Deuses gregos da sala.

- Bem, você que sabe. Se mudar de idéia, entre em contato. - ele disse e se virou para Tomy mais uma vez. - Um minuto Tomoyo. - e saiu. Tomy se virou pra mim.

- Kinomoto, conversamos depois. Alguém tem que trabalhar nesse estúdio. - ela dizia cheia de si. - Volte para o seus super parecidos gostosões que estão caindo de desejo por você. Vou trabalhar, fazer o que. - ela revirou os olhos e saiu. Eu ri óbvio.

Depois de um dia longo no estúdio, finalmente chegou a hora de ir embora. Bem eu considerei um dia longo, a partir do momento em que Shaoran e Peter ficavam se “alfinetando” a cada comentário. E isso era meio chato.

Neste momento eu estava sozinha com Tomy, em seu camarim, os meninos estavam conosco até alguns momentos atrás. Mas Peter foi tirar as últimas fotos do dia e Shaoran, bem, não prestei atenção pra onde disse que ia. De repente, um toque de celular, interrompeu minha conversa animada com a morena.

- O que é isso? - ela perguntou olhando em volta. Percebi que o som vinha da jaqueta de Shaoran.

- É o celular de Shaoran, ele recebeu uma mensagem. - disse, me aproximando de onde sua jaqueta estava, retirando o celular do bolso.

- Sakura! Vai ler as coisas dele? - bem, Shaoran tinha me avisado, duas vezes, sobre mensagens de meu celular, e não tinha lido. Mas eu, bem, eu era eu.

- Olha quem fala, a garota dos mexericos de banheiro no ensino médio. - dizia debochando e abrindo a mensagem.

- Nós éramos crianças! É a privacidade dele! - apontei para meu rosto.

- Olha minha cara de quem liga. - sorri ironicamente e olhei o visor.

"Chefinho!

Tem alguma coisa pra fazer hoje? Ainda estou sozinha, no meu dia de “folga”...

Me liga para combinarmos algo.

Beijinhos,

Hall”