- Isso não interessa agora Eriol. – interrompi qualquer possível resposta da morena. Ela suspirou de alívio – O que precisamos saber é como tratá-la. – ele me olhou intensamente depois se virou para Tomy novamente.
- Não é uma doença séria, na verdade é bem comum, uma dose de antibióticos resolve. – ele disse escrevendo algo em um bloquinho de papel e colocando no colo da minha amiga. – Tenho que ir agora. – e saiu sem se despedir de ninguém. Eu o segui claro.
-Eriol! Eriol! Espere! - falei correndo atrás dele pelo estúdio.
- Não dá Sakura, eu realmente tenho que ir. - respondeu sem olhar para trás. Só o alcancei porque ele teve que parar para chamar o elevador.
- Ei, calma, não precisa sair correndo, tenho certeza que isso que a Tomy tem...-
- Não foi transmitido por mim. – completou a minha frase. – Não estou doente Sakura, ela pegou isso de outro cara. - ele me olhou triste. – Se ela não queria mais nada comigo, era só conversar e...-
- Pode ir parando aí. Ela quer sim continuar com você. – eu afirmava.
- Sério? E a mononucleose? Eu vim dirigindo descontroladamente, por um trânsito infernal, preocupado com ela. Quando chego para examiná-la percebo que ela está com uma doença que pegou se relacionando com outro cara. – ele exclamou nervoso. Suas bochechas começaram a ganhar um tom de vermelho.
- Acalme-se. Você não disse que a mononucleose pode ser transmitida pelo beijo também? Então...
- Que seja Sakura, então ela beijou outro cara, enquanto estava comigo. Ainda não é certo. - ele aumentou seu tom de voz. - Quer saber? Ainda bem que isso aconteceu agora. Se não eu ia ser chifrado enquanto estivéssemos namorando depois. – epa, epa, epa. Mexeu comigo agora. Eu ia tirar essa história a limpo com a Tomy, mas o Eriol só pode estar louco se acha que ela é de trair.
- Ei, ei, pode ir parando por aí. Não sei como isso foi acontecer, ou como aconteceu, mas a Tomy não ia fazer isso Eriol. – disse séria. – E depois, vocês estão num relacionamento de pouquíssimo tempo, não acha que está fazendo tempestade em copo d’água? – ele piscou os olhos várias vezes como se quisesse entender o que eu tinha acabado de dizer.
- Tempestade? Sakura eu sou completamente apaixonado pela Tomoyo desde o colegial. Quando eu a reencontrei me senti completo, achei o que estava faltando. Aí a gente começou a ficar e agora ela me vem com essa de mononucleose? – ele gesticulava. – E o pior, eu mesmo que a examinei. – o moreno abaixou a cabeça inconformado. Me senti mal por ele, realmente mal.
- Olha pra mim. – eu disse subindo seu rosto com a ponta de meus dedos, levando seus olhos de encontro aos meus. – Nossa “relação” também é de pouquíssimo tempo, mas eu já sinto você como meu melhor amigo. Tenho certeza que a Tomy tem uma explicação pra o que está acontecendo e que tudo vai voltar ao normal. Por favor, não a julgue sem a ter escutado... Vai por mim, esse é o pior erro que você vai fazer. – eu disse com a voz mais doce e gentil que pude. Disse como a antiga Sakura diria. Ele me olhou intensamente nos olhos e me tomou nos braços num abraço forte, um abraço que queria me esmagar, como um travesseiro que dá conforto.
- Sabia que a Sakura antiga ainda estava aí. – ele sussurrou aos meus ouvidos. Eu esbocei um pequeno sorriso. O elevador então chegou e ele se separou de mim, entrou e com um meio sorriso permitiu que as portas se fechassem.
Fiquei parada por alguns segundos encarando a porta do elevador, como que tentando entender o que acabara de acontecer. Eu tinha decido do salto, tinha sido amável novamente, de verdade, tinha me importado.
- Faço minhas as palavras dele, sabia que a Sakura antiga ainda estava aí. – me virei e vi Shaoran, a poucos centímetros de mim.
Eu não consegui respondê-lo de imediato, até porque não tinha uma resposta concreta para dar. Tudo o que sabia era que estava confusa, muito confusa.
- Parece que você tem mais jeito com ele do que eu. – ele continuou num meio sorriso. – E olha que o conheço há muitos anos. – finalmente consegui pronunciar algo.
- Só estava ajudando um amigo. É isso que fazemos, certo? – tentei recompor minha armadura de “não me importo”.
- Não. É isso que pessoas que se importam fazem. Você não é uma pessoa dessas. – ele disse me olhando fundo nos olhos. Foi aí, que percebi uma deixa. Sei que era um momento horrível, meus dois melhores amigos poderiam se separar, mas a deixa apareceu, e eu não pude deixá-la escapar. Com esse acontecimento do Eriol, algo, que eu ainda não sei o que é, aconteceu, e eu estou me sentindo nostálgica, como se estivesse voltando a ser a Sakura tonta. E se eu conseguir controlar isso posso usar ao meu favor. Não era perfeito? Era isso que eu queria, ganhar a confiança de Shaoran, mostrar que eu não mudei, que ainda sou uma tonta ingênua que morre de amores por ele. Aí quando ele menos esperar, vai cair do cavalo.
- Pode se surpreender comigo Shaoran. Eu realmente estou me sentindo diferente desde... – hesitei teatralmente, óbvio. – Desde que te encontrei novamente. – e sorri angelicalmente, para dar um impacto na frase. Ele abriu um de seus maiores sorrisos convencidos, aqueles que eu odeio.
- Uma hora você tinha que ceder. – ele se aproximou e selou meus lábios com os seus. Eu permiti. Infelizmente sentindo os malditos choques elétricos pelo corpo.
- Talvez uma hora. – disse com os olhos entreabertos. – Agora... Temos uma garotinha para entrevistar. – disse me lembrando do real motivo da minha vinda a TGZ Models. Não era pela Tomy doente, pelo plano, pelo Eriol ou pelas fotos. Era pela Rebecca Howard.
...
- Chega de enrolar Tomoyo Daidouji. – disse nervosa, para minha amiga esparramada no sofá da sala.
- Sakura, me passa o chá e fala baixo. Minha cabeça dói. A morena respondeu de olhos fechados, estendendo a mão para que lhe passasse o chá.
- Sua cabeça dói? Que pena. - disse elevando meu tom de voz, vendo seus olhos espremerem de dor.- Tem outra coisa que está doendo também, o coraçãozinho de Eriol, por sua causa Daidouji, e eu quero saber o por que. – dizia me sentando no sofá, observando a morena se sentar lentamente.
- O que está acontecendo? Desde quando você se importa? – ela dizia massageando as têmporas.
- Desde que percebi que ele se tornou um dos meus melhores amigos e que pelo jeito você tem pulado a cerca. - ela abriu os olhos de uma vez, me encarando melancolicamente.
- Você não acha mesmo que eu...-
-Só assim pra você acordar. - me expliquei – Não duvido de você, sei que não faria nada desse tipo, mas pelo ar é que você não pegou essa mononucleose, certo? - ela apenas concordou com a cabeça. – Então. Pode me contar tudo?
FlashbackOn
(Tomoyo Narrando)
Mais um dia entediante naquele estúdio. Fotos, fotos e mais fotos. Tá, claro, eu amo meu trabalho, mas ás vezes ele simplesmente é um saco.
É nessas horas que me lembro da minha mãe: “Que faculdade vai fazer Tomoyo?”, e eu respondia “Fotografia mamãe, meu sonho!”. Fotografia. Fotografia! Uma faculdade “super” em alta. Tão em alta que nem estou exercendo meu diploma, quer dizer, não diretamente, já que meu trabalho seria tirar as fotos, e não aparecer nelas, por revistas de moda mundo a fora.
Mas tudo bem, não posso reclamar muito da vida, certo? Já que sou uma modelo famosa, ganho bem, moro com minha melhor amiga e estou quase namorando o amor da minha vida desde o colegial. Não poderia reclamar se meu dia hoje não estivesse repleto de problemas consecutivos.
Acordei atrasada e não cheguei a comer já que teria fotos logo de manhã, e como não sou alguém chamada Sakura Kinomoto, sim, eu estufo logo após de comer, e perigo não entrar nas roupas. Tive um ensaio de 170 fotos só pra começar o dia, antes das 8 da manhã. Quando finalmente consegui espaço para respirar e sair pra comer alguma coisa, acabei por ser perseguida pelas pragas chamadas repórteres (nada contra a Saki, mas eles são muito inconvenientes). Corri para a Starbucks mais próxima, como se não houvesse amanhã e acabei esbarrando em um homem moreno, alto, forte e de olhos negros enigmáticos. Esbarrei em Phillip.
Eu e Phillip conversamos muito, enquanto desfrutávamos de um capuccino de chocolate extra forte. Ele me pareceu um cara bem legal, centrado, extrovertido, engraçado, e que dividia as mesmas frustrações que eu, já que também era modelo, por um acaso do destino, o modelo com quem eu faria o anúncio da 212, a famosa empresa de perfumes. Bem, ele só parecia legal. Nas parecia muito bem.
- Vejo que já conheceu o Phillip. –Todd disse com o rosto sem expressões, olhando Phill de maneira fria. Estranhei.
- Sim, ele me salvou hoje lá fora. A portaria estava lotada de repórteres. – sorri largamente, e Phill me acompanhou. Todd continuou inexpressivo.
- Sim, claro que salvou. –Todd acrescentou casualmente. – Tomoyo, querida, posso falar com você um momento? – ele perguntou não olhando pra mim, mas para Phill. Eles trocavam olhares amedrontadores.
- Acho que pode esperar, certo Todd? Eu e Tomy temos que fotografar. – o modelo respondeu me puxando pelo braço em direção ao estúdio, deixando para trás um Todd nervoso e que realmente parecia necessitar me contar algo.
Depois do ensaio fotográfico, muito produtivo por sinal, fui me trocar no camarim.
Procurei Todd por todos os cantos, mas não achei... Bem se o que ele tinha pra me falar era tão importante assim, por que não esperou meu ensaio acabar? Parece que no final das contas, não era anda de importante.
Saí do meu camarim ajeitando as alças de minha blusa, estava apressada para almoçar logo, meu estômago dava sinais que o café de mais cedo já não se encontrava mais lá. Virei a esquina de corredores estreitos e compridos e de repente senti mãos quentes e grandes me segurarem pelo braço. Elas me puxaram para dentro de uma sala escura e úmida, que cheirava a pó.
- Já se trocou? Mas que pena... Ia ter bem menos trabalho de tirar as roupas cenográficas do que estas reais...- ele disse prensando meu corpo contra o seu e mordendo o lóbulo de minha orelha. A sala estava absolutamente escura, apenas com uma festa de luz que entrava pela pequena janela do alto da parede oposta ao lugar que estava sendo prensada. O cheiro de pó estava insuportável.
Apesar das circunstâncias e desta única fala deste imbecil que estava me agarrando, sua identidade nunca foi um mistério pra mim. Aquele timbre macio de voz e o cheiro de 212 recém passados em seu pescoço me denunciaram sua identidade.
- Phillip? O que pensa que está fazendo? - disse quase sussurrando devido a forte pressão que seu corpo estava fazendo sobre o meu. Ele começou a baixar a alça esquerda de minha blusa e a beijar meu ombro.
- O que faço sempre depois de ensaios com modelos tão lindas como você. - ele riu debochado e pôs sua mão dentro de minha blusa, brincando com a borda de meu sutiã. Entrei em pânico, totalmente em pânico. Então era isso que o Todd queria me dizer? Queria me alertar que eu iria ser estuprada pelo Phill? Por que se for isso vou matá-lo! Por que não me impediu de ficar sozinha com ele ou chamou a polícia? Se ele sabia, é por que eu não fui a primeira... Então, POR QUE ESTE CANALHA AINDA ESTÁ SOLTO?
Tentei me contorcer e sair de seu abraço de ferro, mas obviamente sou muito mais fraca que ele, então comecei a berrar na esperança que alguém ouvisse e tirasse aquele maníaco de cima de mim.
- SOCORRO! ME AJUDEM! SOCORRO! - eu gritava e tentava tirá-lo de perto de mim me contorcendo.
- Tomoyo, Tomoyo... – ele começou a dizer calmo em meio a meus berros. – Não pensei que teria que te calar tão cedo, você parecia diferente das outras... – riu enquanto se aproximava de meu rosto cada vez mais. Eu balançava minha cabeça de um lado para o outro, berrando de olhos fechados, sentindo as primeiras lágrimas quentes a escorrerem pela minha bochecha. Até que ele parou o movimento de minha cabeça, agarrando meus cabelos com força, e encerrando meus berros encostando seus lábios nos meus violentamente. Ele aprofundou o beijo me dando ânsia de vômito. Na tentativa de pará-lo mordi sua língua com toda a minha força. Mordi tão forte que pude sentir o gosto de seu sangue em minha boca.
- AI! – ele se afastou de mim abruptamente levando as duas mãos na boca. – Sua vadia! Quem pensa que é? Vai pagar por isso! – vi naquela hora minha oportunidade. Abri a porta correndo e corri na direção de meu camarim, com a blusa caindo, cabelos emaranhados, lágrimas nos olhos e sangue na boca.
Cheguei ao meu camarim com a respiração acelerada. Tranquei a porta e fui direto pro banheiro pra lavar minha boca. Apesar de enxaguá-la várias vezes, o gosto de sangue estava penetrado em minha garganta. Desisti e me olhei no espelho. Estava pálida, com olhos inchados, o cabelo desarrumado. Comecei a chorar de novo ao me ver naquele estado e ao lembrar do que tinha acabado de passar. Lágrimas quentes rolavam pelas minhas bochechas até que uma forte batida na porta destruiu o silêncio que pairava em meu camarim. Gelei. Não ia abrir, de jeito nenhum, era ele, só podia ser ele.
- Saia daqui! Eu não vou abrir esta porta! Posso morrer aqui dentro, mas jamais vou abrir! Se continuar eu chamo a polícia! – eu berrava desesperada.
- Acalme-se querida! Sou eu! Todd! – ele respondeu e eu tratei de correr e escancarar a porta.
- Todd! – eu disse chorosa e me joguei nos braços de meu produtor baixinho, ele me recebeu em seus braços trancando a porta atrás de si.
- Ah Tomoyo! Me perdoe! Vejo que cheguei tarde demais ... - ele dizia triste. Tranquei o choro em minha garganta e o encarei nervosa.
- ENTÃO VOCÊ SABIA! SABIA DE TUDO O QUE ELE FAZ! ERA ISSO QUE QUERIA ME DIZER ANTES DAS FOTOGRAFIAS COM AQUELE SER NÃO ERA? - eu esbravejava.
- Sim, querida, mas...-
- MAS NADA! DEVIA TER ME CARREGADO DE LADO E ME IMPEDIDO DE FICAR A SÓS COM ELE! TODD! NÃO SABE O QUE PASSEI! ELE, ELE...-
- Me perdoe Tomoyo! Seu ensaio acabou antes do esperado do horário marcado, e quando cheguei lá, você já tinha sumido! Te procurei por todos os cantos mas não te encontrei, então cheguei aqui e , bem, você abriu. – ele se explicava nervoso.
- Mas Todd, como permite que um ser sem escrúpulos como aquele ainda trabalhe aqui? Só você sabe do que ele faz? Ele deixou bem claro que eu não fui a primeira! – eu dizia baixando me tom de voz.
- Querida, Phillip não é um homem de boa influências, já foi preso algumas vezes por porte de arma ilegal, dirigir embriagado, e até tráfico de drogas. Mas sempre se safa de seus problemas por conhecer uma “galera da pesada”. E é nos ameaçando com essa “galera” que ele compra nosso silêncio. – ele me explicava e eu ficava cada vez mais horrorizada e enojada por ter sido um dia tocada por Phillip.
- Mas, as meninas nunca me avisaram de nada, nunca disseram que foram assediadas por aquele animal.
- Você foi a única daqui a sofrer com isso querida, sinto dizer. – ele me encarava fundo nos olhos. – Phill não é daqui, é agenciado da TGZ Califórnia, então ele sempre passa um dia aqui, para fazer um anúncio de vez em quando, e embarca de volta no mesmo dia.
- Mas se ele nunca fez isso com ninguém daqui, por que fez justo comigo? – perguntei incrédula.
- Você é linda Tomoyo. – ele disse simplesmente.
De repente, estrondos foram ouvidos vindos da porta do camarim.
- Tomoyo! Abra esta porta já! – a voz do modelo esbravejava furiosa do lado de fora. Fiquei sem ação. Ele continuou a berrar e esmurrar minha porta e a única coisa que fiz foi me encolher mais em meu puff completamente sem voz.
- Vá embora Phillip! Ou chamo os seguranças! – Todd falou por mim.
- Ah! Então o veadinho está aí com você? Ele já deve ter feito minha fama não é Tomoyo? – ele parou de bater na porta, agora só berrava. – Então já sabe que o que aconteceu não sai daquela sala, certo? A não ser que queira sofrer as conseqüências... – ameaçou.
- Chega Phillip! Vá embora! Já não está na hora de seu vôo não? – Todd se interferia por mim, mais uma vez.
- Por que só ele fala Tomoyo? Perdeu a língua? – ele dizia nervoso. – Que eu saiba quem quase perdeu a língua fui eu! – ele dizia com a voz mais sombria. – Infelizmente o viadinho tem razão, já estou atrasado para meu vôo. Mas não pese que esqueci do que me fez sua vadia, vai pagar. – e depois disso a única coisa que ouvi foram os passos distantes de Phillip pelo corredor, até desaparecerem por completo.
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