- Eu não acredito que você me trouxe aqui. – Eriol disse me olhando triste, mantive a pose de durona e pedi que Shaoran entrasse com o carro na garagem de meu prédio.
- Onde achou que estávamos indo? No Shopping? – disse irônica, péssima hora para ironia.
- Eu sou um idiota mesmo, mas nem cogitei que me traria na casa de Tomoyo. – ele disse rolando os olhos de raiva. Shaoran estacionou o carro na vaga que deveria ter o meu estacionado, eu ainda tenho que ver este problema.
- Mas quem disse que estou te levando á casa de Tomoyo? – respondi olhando para um Eriol emburrado no banco de trás.
- Ah, claro. Por que não visitamos Peter Castle? Por que além dele, não há mais ninguém que conheço que mora neste prédio. – o moreno respondeu perdendo a paciência.
- Espere. Castle mora neste prédio? – Shaoran entrou na conversa dirigindo esta pergunta á mim.
- Sim, há algumas semanas, no apartamento em frente ao de Sakura, mais alguma pergunta? Acho que já podemos ir embora. Shaoran, ligue o carro. – Eriol abusava de sua ironia raramente utilizada. Shaoran o ignorou completamente.
- Por que ele sabe disso e eu não? – Li se dirigiu a mim novamente indignado.
- Sei lá, talvez por que ele é meu amigo e você... – não seja grossa Sakura, não seja grossa... – Bem, sei lá, você nunca perguntou. – foi o máximo que consegui de delicadeza naquele momento.
- Os dois pombinhos já terminaram? Já posso ir para casa? – Eriol usava mais uma vez sua ironia. Caramba, não sabia que ele podia ser assim tão irritante.
- Bem, tem coisas que têm que ser ditas mesmo sem eu perguntar! – ele se indignava mais uma vez. Eriol revirou os olhos, assim como eu.
- Shaoran, faça-me o favor. Acha que eu tenho bola de cristal para saber o que você quer ou não saber? – virei meu corpo para ele. É, minha tentativa de delicadeza foi por água a baixo.
- Você sabe que não é isso que-
- Agora quer que eu te fale quando a senhora Perkins vai comprar pão? Ou quando os filhos do Senhor Hastings voltarem do acampamento? Qual a relevância da vida dos outros pra você? – comecei a tagarelar sem parar e a gesticular com as mãos.
- Sakura você quer me- Shaoran tentava me interromper mas não conseguia.
- Não, porque eu acho que agora vou ter que te dar um relatório completo de minha vida, e-
- Querem calar a BOCA?! – Eriol interrompia nossa discussão inútil com um grito. Isso mesmo ele gritou. Olhei para trás e vi suas bochechas queimando, mas de raiva. – Que coisa, vão discutir a relação de vocês em outro lugar! De preferência sozinhos! – ele esbravejava. Meu Deus, o Eriol e a Tomy precisavam urgentemente reatar, ele estava fora de controle. – Shaoran, a Sakura não é obrigada a contar tudo que acontece na vida dela pra você, vocês não são tão próximos assim, então RELAXA! – ele dizia tagarelando para Shaoran que apenas o olhava espantado. Então se virou para mim. – E você senhorita “delicadeza em pessoa”, pega leve, o cara só deu esse chilique por que se importa com você, então agradeça por ter pessoas assim por perto. – ele me dizia zangado, eu apenas pisquei os olhos várias vezes tentando entender o que estava acontecendo. – Agora Shaoran, você pode parar de enrolação e acelerar essa porra desse carro para voltarmos para casa?
Ele realmente está ficando louco. Acabou com aquela doçura angelical em questão de segundos, deve estar sofrendo demais, está voltando a se parecer com aquele Eriol sádico do colegial. Resolvi tomar uma atitude. Shaoran já estava colocando as chaves no contato para obedecer a Eriol.
- Me entregue as chaves Shaoran. – estendi a mão para ele. – E você Eriol, saia do carro. – disse autoritária. Shaoran me obedeceu e Eriol por incrível que pareça, também.
- Quero só ver pra onde estamos indo. Você disse que não é na casa de Tomoyo, ou na de Peter. – o médico disse caminhando em direção aos elevadores. – Se estiver mentindo...
- Não estou. Vamos logo Shaoran. – chamei-o. Ele então trancou o carro e correu em nossa direção e nos pusemos a esperar o elevador. Trazia em seu rosto um semblante de confusão. Mas é um idiota, depois o Eriol era o “ingênuo demais” para conviver comigo.
- Você mentiu! – Eriol gritou incrédulo parado na frente da porta de meu apartamento.
- Não menti! – disse firme. Ele piscou os olhos devagar.
- Como assim? Estamos parados na frente da casa dela! – o moreno gesticulava andando de um lado para o outro. Shaoran só nos assistia como sempre. – E ela é a última pessoa que eu quero ver no momento. – completou triste. Eu tentei arriscar a minha voz mais doce para aquele momento.
- Olhe aqui, não te enganei tudo bem? – ele revirou os olhos, incrédulo. – Eu não te trouxe á casa de Peter, ou a casa de Tomy. Te trouxe a minha casa. – disse dando um meio sorriso. – Que por um acaso eu divido com a Tomy, mas... Isso já é outra história. – ele ainda me olhava, serio.
- Cara eu realmente acho que você devia falar com ela. – Shaoran se pronunciava pela primeira vez na conversa chamando a atenção de nós dois. – Ela deve ter algo a dizer sobre tudo afinal. – completou. Até que enfim esse inútil abriu a boca pra alguma coisa que preste. Eriol apenas revirou os olhos.
- Bela a tentativa de vocês, mas não há forças suficientes na Terra que me façam entrar nesse apartamento e conversar com aquela mulher. – ele disse convicto. Eu suspirei em derrota, nada tinha adiantado. Eriol já se virava para o elevador quando uma voz baixa e rouca entrou em nossa conversa, assim como o barulho da porta se abrindo.
- Por favor, fique. – ela disse encostando a cabeça no batente da porta olhando Eriol de forma triste. O moreno se virou, a olhou e negou com a cabeça se dirigindo para o elevador mais uma vez. – Por favor, Eriol, só cinco minutos. – Tomoyo disse mais uma vez, agora com a voz embargada, eu e Shaoran apenas assistíamos a tudo estáticos. Eriol ficou parado de frente para o elevador mais um tempo, mas finalmente se virou e entrou no meu apartamento, sem olhar para nenhum de nós. Tomoyo apenas suspirou aliviada e me encarou agradecida.
- Não esqueça nenhum detalhe, por mais constrangedor que seja. – eu afirmei. Ela apenas acenou com a cabeça e fechou a porta. Eu não tinha a mínima idéia do que estava prestes a acontecer na minha casa, naquele momento, com aquele par de morenos em desavenças, mas a sensação de dever cumprido invadiu o meu corpo, e respirei aliviada, fechando os olhos.
- E agora? – Shaoran me despertou de meu delírio de paz interior com a voz aveludada e sexy, e o rosto bem próximo do meu, bem mais próximo de quando eu tinha fechado os olhos.
- E agora você vai embora. – eu falei tentando ignorar o fato de estarmos tão próximos.
- E você, vai pra onde? Sentar aqui no tapete da porta e esperar a DR terminar? - ele riu sarcástico. – Acho melhor esperarmos lá em casa... – ele insinuou pervertido. Ah, claro. Esse comentário realmente não podia faltar, não se tratando de Shaoran Li. Eu não estava com a menor cabeça para brigar com ele naquele momento, Eriol tinha me desgastado muito e eu estava sem paciência nenhuma para ter os joguinhos de sempre com Shaoran. Mas então me lembrei que eu estava numa missão, e as missões não tiram férias, nem quando você não está com a menor vontade de executá-las, elas continuam lá, esperando uma deixa para se desenrolarem.
- Está bem senhor Li. – disse por fim olhando em seus olhos. – Acho que posso dar uma folga para Peter afinal. – disse me dirigindo ao elevador chamando-o.
- O que quer dizer com isso?
- Quero dizer que eu ia dormir na casa do Peter se não me convidasse. – disse com a naturalidade mais falsa do mundo.
- Por que você sempre põe esse cara na minha frente? – ele já estava ficando nervoso. E eu estava amando.
- Como assim na sua frente? – me fiz de desentendida. O elevador chegou, entramos.
- Você sabe do que estou falando. – ele me encarou sério. – Ele surgiu do nada e desde então virou seu “melhor amigo”. – ele revirava os olhos.
- Meu “melhor amigo” é o Eriol.
- Que seja, você entendeu. – saímos na garagem e fomos em direção ao seu carro. – Eu sempre estou aqui, querendo te ajudar, e você só me dá fora, e o carinho fica todo pro Peterzinho... – ele satirizava minha voz entrando no carro. – Que saco isso. –e bateu as mãos no volante.
- Shaoran, será que a gente pode sair logo, ou a sua crise de ciúmes vai se estender mais um pouquinho? Eu tenho coisa melhor pra fazer – disse sapeca. Ele me olhou sem graça.
- Eu não estou com ciúmes. – afirmou. Revirei os olhos.
- Tudo bem, então dá pra você parar de não ter ciúmes que eu tenho coisa melhor pra fazer? – disse mais uma vez, irônica. Ele se virou para mim curioso.
- O que tem de melhor pra fazer?
- Como se não soubesse, menino mauzinho. – então em um lapso de segundo agarrei sua nuca e grudei meus lábios nos seus.
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