1. Spirit Fanfics >
  2. Revenge Girl >
  3. O Baile: Beautiful Disaster

História Revenge Girl - O Baile: Beautiful Disaster


Escrita por: MandsChan

Notas do Autor


Espero que estejam gostando! Seria bom saber a opinião de vocês =)

Capítulo 3 - O Baile: Beautiful Disaster


Os dias se passaram e o baile era o único assunto por todo o colégio. Por todos os lugares podiam-se ver fotos e cartazes convidando os alunos a participarem do evento. Peter ficou um tempo sem falar comigo quando soube que eu ia ao baile com Shaoran. Mas depois voltou ao normal, com a desculpa de que “não consegue ficar bravo com sua Sarakura”. Eu ri, lógico. Muitos podem achar estranho, mas gosto desse apelido, é bonitinho e engraçado.

Awly nunca mais entrou em contato. Tomy sempre tenta levantar meu astral quando eu abro meu armário e nada cai dele. Shaoran está achando estranho meu comportamento com meu armário. Ele percebe que sempre que vou fazer algo nele, volto sem um sorriso no rosto. Falando em Shaoran... Nem acredito que estamos tão próximos. A gente conversa no almoço, nos corredores, até nas aulas. Ele é uma pessoa maravilhosa. Nem preciso dizer que todas as meninas da escola me encaram com um olhar de raiva às vezes. Acho que queriam estar no meu lugar. Mas mesmo assim, todos continuam a me convidar para sair e para comparecer a festas. Todos me chamam pelo nome ou por um apelido inventado. Depois desse convite de Shaoran, digamos que minha “audiência subiu” na escola.

O dia do baile finalmente chegou. Era o último dia de aula.

- Dá licença? Licença? - eu e Tomy pedíamos para ver a lista dos aprovados. Não teríamos baile se não passássemos na escola, certo? Coisa que duvido.

Alguns segundos se passaram, até que pude ouvir o grito de Tomoyo.

- AAAAAAAAAAHHH!

- O que foi?

- Passei, passei, passei!! - ela saltitava do meu lado.

- Até parece que não ia passar, a média é 50. Só não passa quem não quer. Passou com quanto?

- Sessenta e três. Nunca tive média tão alta! - ela gritava. - Minha mãe vai ficar orgulhosa! - seus olhos brilhavam. - E você? Ah, é... passou com 100, lógico... - sugeriu irônica, revirando os olhos.

- Errou, foi 98. - abri um sorriso. - Pelo menos passei, certo? - Tomy me encarou perplexa.

- Pelo menos passou? Para de humilhar, Kinomoto! Eu estou explodindo de felicidade porque passei com 13 pontos acima da média e você que ficou com 2 pontos abaixo da nota máxima está indiferente? - eu continuei a olhá-la. - Poupe-me. - Tomoyo virou o corpo e encontrou Eriol e Shaoran.

- E ae, passou? - Eriol questionou Tomy.

- Sim, com 63 e você?

- Setenta e nove! - respondeu com o maior sorriso do mundo.

- Meu garoto! - e ela o beijou.

- Vou sentir vergonha em perguntar qual foi sua nota? - Shaoran se dirigiu a mim, deixando seu amigo aos beijos com a minha amiga.

- Não sei... Me fala a sua primeiro que eu te conto. - disse me aproximando.

- Que tal falarmos juntos? - ele sugeriu fazendo meu sorriso torto favorito.

- Ok. No três...

- Um...

- Dois...

- Três...

- Noventa e oito! - dissemos em uníssono. O quê? Quase caí pra trás. Ficamos nos encarando por uns segundos, surpresos com nossas notas. Shaoran pode ser gentil, lindo, honesto... Mas não sabia que era um nerd como eu. Tirar 98 no boletim final é coisa pra poucos. Quer dizer, eu estava acostumada a tirar essa nota, mas não estava acostumada a ver outros alcançando o mesmo nível.

- Nossa... - eu disse espantada.

- É, nossa. – ele respondeu um tanto seco.

- Bom, tá tudo muito bom, tá tudo muito bem, mas a gente tem que ir, certo Saki? - Tomoyo interrompeu me puxando pelo braço. – Agora que passamos de ano, vamos aproveitar o baile! - eu realmente mal podia esperar.

Passamos o dia inteiro na casa de Tomoyo. Ela disse que fazia questão de me arrumar e eu não sou daquelas que gosta muito de discutir, principalmente com ela. Algum tempo se passou e eu já não estava mais aguentando todos aqueles perfumes, a maquiagem excessiva e os puxões no meu cabelo.

- Vai demorar? – eu perguntei impaciente.

- Já estou acabando. A gente ainda tem 15 minutos antes dos meninos chegarem. - ela dizia despreocupada. Apenas bufei. Tinha que admitir que Tomy merecia um crédito. Estava “trabalhando” em mim a tarde inteira. - E... pronto! - Ela falou me virando para o espelho. Juro que senti meu maxilar deslocar com a imagem que este refletia.

Era a imagem de uma jovem menina, de cabelos castanhos, enrolados num coque desfiado com cachos sobressalentes. Sua maquiagem destacava seus olhos verdes com um contorno forte de lápis, um leve rubor nas bochechas e gloss nos lábios, para não tirar seu jeito de menina. A bela jovem usava um vestido azul royal tomara que caia até os joelhos, acinturado e bem rodado. Tinha uma echarpe caindo pelos ombros e calçava uma sandália prata, Channel, salto agulha. Esta jovem me olhava assustada pelo reflexo do espelho, mas mesmo assim não deixava de ser linda. Era difícil de acreditar, mas essa jovem, era eu.

- E aí, gostou? - a morena de cabelos alongados até  o início da cintura,  me despertava de minha breve hipnose em seu vestido de alcinhas vermelho e suas sandálias gêmeas às minhas.

- Er... Nem estou me reconhecendo... - disse com um leve sorriso no rosto.

- Que bom, então quer dizer que fiz meu trabalho direito. - respondeu sorridente. A campainha tocou. - São eles! - ela me encarou. - Está pronta?

- Como nunca. – disse confiante. Pegamos nossas bolsas e descemos as escadas para encontrar nossos respectivos pares.

Senti os joelhos desfalecerem e as bochechas ruborizarem ao ver Shaoran em seu traje social. O mundo a minha volta sumiu. Eu só enxergava ele e seus lindos olhos âmbar me encarando de modo encantador. Seu cabelo levemente bagunçado com a brisa e seu sorriso torto me hipnotizaram.

- Dá pra irmos logo, ou vocês vão ficar se encarando a noite toda? - Eriol e seu jeito “doce” de ser nos despertou. Eu e Shaoran ficamos sem jeito.

- Er, vamos, claro.- eu disse e o casal entrou no banco de trás do carro esporte de Shaoran. Estava me dirigindo para a porta do banco do passageiro, quando Shaoran se apressou e abriu-a pra mim. Que cavalheiro.

- Entre, senhorita. - ele falou se curvando de brincadeira.

- Obrigada, senhor. - eu disse pegando o vestido pela ponta dos dedos e me curvando em agradecimento, entrando na brincadeira. Sorri de lado para Shaoran e quando ia me abaixar para entrar no carro, ele segurou meu braço, me impedindo.

- A propósito – sussurrou  em meu ouvido. - Você está encantadora. – senti o sangue de minhas bochechas borbulhar, demonstrando minha vergonha.

- Obrigada. – disse quase sem voz. - Você também... Está ótimo. - ele sorriu, piscou pra mim e deu a volta no carro para entrar no lado do motorista.

Chegamos na escola. Estacionamos o carro e caminhamos até o pátio coberto, onde aconteceria o baile. Tomy e Eriol estavam tão apressados e estressados, que além de terem reclamado o caminho inteiro para Shaoran acelerar o carro, estavam agora andando bem a frente de mãos dadas. Ao contrário de Shaoran e eu, que andávamos a passos lentos a uns 50 cm de distância um do outro.

Compramos os ingressos e nos dirigimos para a entrada. Na porta tinha um fotógrafo, que tirava as fotos dos casais que entravam, para o álbum de formatura. Tomy e Eriol tiraram a foto de mãos dadas e um sorriso no rosto.

- Agora vocês! - o fotógrafo falava conosco. Fui até o palquinho improvisado e Shaoran se posicionou ao meu lado. Até que, para a minha surpresa, senti sua mão acariciar minha cintura e seu braço envolvê-la. Ele me segurou pela cintura com um braço e com o outro segurou minha mão. Sorri envergonhada para a câmera. Parecíamos um casal de verdade.

- Mas que casal de pombinhos! - o fotógrafo brincou, me deixando mais vermelha que um tomate.

- Relaxa, e sorria. - Shaoran sussurrou. Tremi um pouco, mas encarei as lentes da câmera com o melhor sorriso que já dei.

- Pronto, pombinhos. - ele sorriu para nós. - Agora vocês dois! - ele se dirigia ao próximo casal.

Entramos nas grandes portas de madeira grossa com enfeites dourados que abafavam uma música alta. E até agora Shaoran ainda não tinha soltado minha cintura.

Ternos, vestidos, sapatos de salto, e claro, o famoso ponche vermelhinho que ninguém bebe. Um baile tradicional americano.

Estávamos lá há algumas horas, e eu estava me sentindo a Cinderela. Sabe quando tudo dá certo, mas tão certo, que dá até medo de alguma coisa estragar? Bem, era assim que estava me sentindo. Dancei com Shaoran a noite toda. Dançamos músicas agitadas, músicas lentas, ele não saiu do meu lado nem por um segundo. Percebi os olhares de alguns meninos do time de basquete para mim. Juro que me surpreendi, já que antes eles nem sabiam meu nome. Mas me surpreendi mais ainda com a atitude de Shaoran. Ele me abraçou pelas costas, entrelaçando seus dedos na minha cintura e me colando ao seu corpo, como se quisesse me esconder, me proteger dos meninos. Ruborizei com essa cena típica de ciúme de namorado. Só que aí é que está o ponto: Shaoran não é meu namorado.

Estávamos os quatro sentados na mesa, pela primeira vez parei no baile pra conversar com Tomy, quando alguém mais aparece.

- Sakura... Gostaria de dançar? - ele perguntou sem graça tentando esboçar um sorriso galanteador. Sorri. Olhei para Shaoran e percebi que ele estava encarando Peter fulminantemente.

Todos da mesa se calaram por um segundo. Acho que Eriol estava esperando alguma reação de Shaoran, e Tomy esperando ansiosamente minha resposta. Sabe de uma coisa? Posso ter recusado, educadamente, todos os convites de Peter. Mas quando vou vê-lo novamente? Daqui uns dois anos? Nunca? Estávamos no baile de formatura, a despedida verídica, e Peter gosta de mim, desde sempre. Mesmo quando ninguém me enxergava e eu valorizo muito isso.

- Claro, Peter .- disse sorrindo alegremente, me levantando e dando a mão para o garoto de terno, cabelos repartidos ao meio lambuzados de gel, e seus inseparáveis óculos grossos. Ele não foi a única pessoa que se surpreendeu. Na verdade, todos da mesa se surpreenderam, inclusive Shaoran. Olhei para ele rapidamente como: “Eu tenho que ir, entenda.” E ele me olhou de volta: “Não gostei, mas fazer o que.” E voltou a encarar a mesa.

Sentia Peter elétrico ao meu lado. Achei que a qualquer momento ele explodiria. Percebi que todos os olhares se voltaram a nós quando chegamos  na pista de dança. Comentários do tipo: “Como deixaram esse nerd entrar?”, “Ela é louca de deixar o Shaoran pra dançar com esse aí!”, “Quem é esse de óculos? "Aluno Novo?”, foram ouvidos. Peter pegou minha mão todo trêmulo e começamos a dançar.

Passo a passo eu guiei a dança, por segurança, e correu tudo bem. A música não era agitada, nem lenta. Era um meio termo, perfeito pra Peter não se estabanar.

- Aposto que não serei o primeiro a dizer que está linda hoje, certo? - ele disse com os olhos brilhando, atrás de seus óculos grossos.

- Obrigada, você é muito gentil. - percebi que ele ficou um pouco nervoso, enquanto eu rodava em seus braços.

- Então... Você e o Li... Você estão... Você sabe...

- Ele é apenas meu par, Peter. - infelizmente, completei em pensamento. Seu semblante aliviou.

- Pra você. Sinto os olhos dele em mim desde o momento em que saímos da mesa. - ele disse sério. - Na verdade... Por que aceitou dançar? – girei novamente em seus braços.

- Sinceramente? Nenhum motivo fora do comum, só o fato de que essa possa ser a última vez que nos vemos na vida. - disse pensativa. - E não ia perder essa chance. - seu sorriso iluminou. Na minha frente eu não via mais o Peter insistente, que tinha os óculos grossos e muitas espinhas. Ele era agora, o menino especial que ainda não tinha pisado no meu pé.

 A música acabou e Peter gemeu, como se estivesse com dor.

- Não quero te devolver. - ele fez careta.

- Me senti um filme de locadora agora. - eu brinquei. Rimos e caminhamos para minha mesa. Apenas Shaoran estava lá. Que legal! Tomy nem pra fazer companhia para o garoto!

- Bom... Obrigado Sakura. - Peter disse e beijou minha mão. Ele tinha tudo pra ser meu príncipe, menos o meu coração. Peter virou as costas, caminhou para longe e me virei para Shaoran, que estava sério.

- Me desculpe, é que... Eu realmente precisava fazer isso. - disse olhando seu olhos profundos.

- Realmente me irritaria se não fosse tão doce. - ele disse suspirando. - Mas continuo não gostando de Peter. - ele disse fechando a cara. Meu Deus, eu podia jurar que ele estava com ciúmes. De novo.

Conversei com Shaoran um pouco, e logo seu sorriso estava de volta ao seu lindo rosto. Dançamos um pouco mais, até que a música foi interrompida por uma voz grossa e máscula, o nosso diretor.

- Queridos alunos, tenho um anúncio a fazer. - o diretor George falou com sua voz de tenor. - Este é o último baile da escola para os alunos do Senior Year. E como de praxe, temos o casal mais votado para rei e rainha do baile. As votações aconteceram durante o baile, e só puderam ser feitas por alunos formandos. - ele explicava. Meu Deus, tinha esquecido completamente dessa eleiçãozinha fútil, que toda garota do mundo quer ganhar. - Sem mais delongas, vou anunciar. - ele então abriu um envelope dourado.- Como rei, não é surpresa, que temos Shaoran Li! - ele anunciou e a multidão de adolescentes foi ao delírio. Juro que Shaoran parecia um astro do rock que tinha acabado de ganhar o Grammy e estava sendo prestigiado pelos fãs. Encarei-o e um olhar sem expressão estava estampado em seu rosto.

- Não quero dançar com mais ninguém hoje. - ele cochichou triste aos meus ouvidos.

- Venha Shaoran! - o grande e gordo diretor George chamava  Shaoran acenando os grandes braços.

Dançar com outra... Dançar com outra. Eu ia ter que aguentar Shaoran e uma loira qualquer dançando juntinhos como a realeza de formatura. Tudo bem que Shaoran não era nada meu, mas tudo que estávamos passando naquele baile estava mexendo ainda mais com os sentimentos que nutria por ele. Não sou de ferro.

O diretor pôs uma coroa de metal dourado, cheia de brilhantes, que envolvia toda a cabeça Shaoran, e pediu a atenção de todos novamente.

- Silêncio, silêncio por favor. - e aos poucos, o silêncio se espalhou. - Bem... Quem vai acompanhar Shaoran na dança real e fechar o ano como a rainha do baile é... - percebi todas as meninas mordendo os lábios, roendo unhas e cruzando os dedos - ... Sakura Kinomoto!? - ele disse exclamando e questionando o resultado ao mesmo tempo.

Tudo ficou sem som e em câmera lenta. Olhei para Tomoyo do meu lado e percebi que estava pulando e gritando feito uma louca. Eriol apenas acenou pra mim, e o resto do pessoal estava ensandecido. Olhei para o canto do palco e vi o diretor George questionando o resultado com um dos professores... Olhei para o centro do palco e vi Shaoran me encarando com os olhos mais brilhantes que já vi. Ele sorria abertamente, e acenou com as mãos, me chamando para encontrá-lo. Eu estava totalmente fora de órbita e impossibilitada de me mover um centímetro.

- Sakura Kinomoto! Venha ao palco! - George chamou novamente, voltando de sua breve conferência com os professores sobre minha “eleição”. Continuei a olhar Shaoran atônita. Ele continuava a me chamar por meio de acenos. - Sakura Kinomoto? - o diretor dizia um pouco sem jeito. Tão sem jeito como qualquer um fica ao chamar alguém no microfone, que não comparece ao palco.

- Vai logo, Sakura! - senti uma mão me empurrando pela cintura. Na minha frente, um corredor tinha se aberto, e os alunos estavam em duas grossas filas, uma a cada lado de mim, me encarando. Andei o mais rápido e normal possível, até chegar às escadinhas do palco. Subi e me posicionei ao lado de Shaoran, onde recebi uma coroa de metal dourado - no entanto, a minha parecia uma tiara e era cravejada de pedrinhas brilhantes. Fiquei olhando a platéia completamente dura e congelada. 

- Não acredito que é você... - Shao disse beijando minha bochecha.

- Muito menos eu. - consegui finalmente proferir alguma palavra que fosse.

- Agora, a dança real! - George anunciou e imediatamente os alunos abriram um espaço oval na pista de dança. Shaoran pegou minha mão e descemos as escadas do palco. Shaoran então me tomou nos braços para começarmos a dançar.

- Está pronta, minha rainha? - ele disse com sua voz rouca e aveludada ao meu ouvido, enquanto dançávamos uma valsa lenta e romântica.

- Pronta para que? - indaguei curiosa. Ele riu baixinho, ainda em meus ouvidos. Ao sentir sua respiração em meu pescoço, senti meu batimento cardíaco ser interrompido.

- Para isso. - ele sorriu. Então me girou e depois pousou as mãos na minha cintura. Estávamos muito próximos, com os rostos a poucos milímetros de distância. Foi aí que, sorrindo mais uma vez, ele tomou meus lábios com os seus, exterminando a distância que um dia existiu. Eu ouvia gritos e palmas frenéticas. Era muito “perfeito” pra ser verdade. O “rei e a rainha” do baile se beijam enquanto valsam na formatura... Que piegas.

No início tomei um choque. Era como se ele estivesse beijando sozinho. Mas depois fui me dando conta do que estava acontecendo e enlacei meus braços em seu pescoço, enroscando meus dedos em seu cabelo. Beijamos-nos até a música acabar. Quando o último acorde foi dado, nos separamos e nos olhamos. Ele ainda segurava minha cintura, e eu ainda tinha meus braços enlaçados eu seu pescoço. Ruborizei ao olhar em volta e perceber que todos olhavam para nós, ainda aplaudindo e gritando. A Tomy mais parecia uma fã histérica num show dos Jonas Brothers. A música agitada voltou, e todos dispersaram. 

- Ai, meu Deus! O que diria Josh Mason agora, hein Sakura? - ela disse rindo alto feito louca. Eu e Shaoran nos separamos e estávamos agora unidos apenas pelas mãos.

- Quem é Josh Mason? - Shaoran perguntou arqueando uma sobrancelha.

- O ex-namorado dela. - Tomy disse. Shaoran tentou uma expressão de indiferença.

- Ex-único-namorado. - esclareci. - E eu estava na oitava série.

- Mas nunca beijou ele como acabou de beijar Shaoran. – Tomoyo insistia em seu assunto infame, provocando sorrisos convencidos de Shaoran.

- Repetindo, estava na oitava série! - disse nervosa. - Mudando de assunto...  Vamos sentar um pouco? Estou cansada. - peguei Shaoran pela mão e o arrastei até a mesa.

Não deram cinco minutos e Tomy já estava na pista de dança com Eriol de novo. O tempo que fiquei com minha melhor amiga nessa festa poderia ser contado nos dedos.

- Preciso ir ao banheiro. - disse a Shaoran, me levantando.

- Tudo bem. - ele afirmou. - Não vai chamar a Tomy? Você sabe... Meninas nunca vão ao banheiro sozinhas. - o que é verdade.

- Mas acho que o Eriol não me perdoaria de interrompê-lo em seu beijo de cinema logo alí. - disse e percebi que Shaoran estava encarando o casal aos beijos.

- Tem razão. - ele riu.

- Bem, já volto.  – sorri e atravessei o salão. O banheiro era exatamente do lado oposto à nossa mesa. Aproximando-me do local dos banheiros, me assustei com duas sombras na parede de trás. Escondi-me, e me pus a ouvir após perceber que meu nome estava na conversa dessas duas sombras.

Não costumo ouvir conversas alheias. Na verdade, odeio fazer isso. Não gostava quando Tomy me arrastava para os banheiros da escola só para descobrir segredos. Não há lugar na terra melhor para contar ou descobrir segredos do que um banheiro feminino. Por que acham que sempre vamos juntas?

A questão é: nunca concordei com Tomoyo quando queria escutar a conversa alheia, mas a partir do momento em que ouvi meu nome como assunto da conversa, decidi que tinha direito. Principalmente porque ele era proferido por vozes masculinas, e não femininas.

Me escondi atrás da parede do banheiro, onde não era vista pelo salão, e muito menos pelos “meninos sombras”. Pus-me a escutar.

- Não é possível, Jake. - a sombra n°1 resmungava com a segunda sombra que parecia se chamar Jake.

- Eu sei, é irritante. - Jake retrucava.

- Muito irritante. Não é possível que ele consiga tudo o que quer, qualquer coisa, qualquer garota. Até aquela nerd da...

- Sakura, Brad, Sakura Kinomoto. - Jake completou. Eu conhecia aqueles nomes... Jake Simons e Brad Ackerman, dois colegas do time de basquete de Shaoran.

- Tá, que seja, Sakura. A questão é, a gente se ferrou, ele vai ganhar a aposta Jake! -  aposta? Do que eles estavam falando?

- A gente tem que impedir.- Jake contestou. - Não quero perder quinhentas pratas! A gente apostou alto assim porque achou que ia ganhar!

- Muito menos eu. Mas já era. Por que acha que ele beijou ela? Tudo bem que ela tá muito gostosa, o que é estranho, mas foi tudo pra seduzi-la, óbvio. Ele quer muito essa grana e mais do isso, provar que ele estava certo e nós errados. A Sakura é o meio dele conseguir tudo. Ela vai pra cama com ele e pronto, aposta ganha. - o rapaz lamentou. - Por que fizemos essa aposta estúpida mesmo?- comecei a sentir meu corpo mole e meus olhos marejados. Aquilo não podia ser verdade. Mas eles continuavam falando. Tinha mais?

- Sabe Brad, o único jeito é tentar seduzir a Sakura antes que ele consiga.

- Ah, claro. - Brad respondeu irônico.  - Aquela tonta já está no papo para o Li, Jake! Não viu a cara dela? Se ele estalar os dedos ela abre as pernas. - ele bufou. Um minuto de silêncio se passou e ele continuou a falar. - Quer saber? Pelo menos vai fazer um favor a ela. Aposto que ainda é virgem. – os dois começaram a rir. Lágrimas quentes e doloridas rolavam de meus olhos e eu segurava os soluços de choro para não ser descoberta.

- Tenho certeza que ela ainda é. Mas sabe de uma coisa? Nem com todo o charme do mundo conseguiríamos conquistá-la. Depois de tudo que Shaoran fez. Impossível fazer melhor.

- Olha lá ele lá. Todo tristinho, sozinho na mesa. - Brad apontou. Arrastei-me à quina da parede e vi Shaoran. Estava sério, encarando a toalha de mesa escura. - Nem parece que seria capaz de um ato ilícito, como o de mudar a nota radicalmente para impressionar a nerd.

- E essa eleição de “rainha do baile”? Tá na cara que os votos foram comprados.

- E os aplausos? Será que eram falsos também?- eles gargalhavam. Não estava acreditando, aquilo não podia ser verdade.

- Ah! E aquele “conserto” no dia seguinte que a convidou pro baile? Teve florzinha e tudo!

- Teve que ter conserto, óbvio. Com a cara de enterro que ele foi convidá-la, até a maior idiota perceberia que era armação.

- Não o culpo pela cara de enterro. - Brad dizia. - Saber que teria que levá-la pra cama depois acho que o desanimou um pouco. - ele completou e os dois gargalharam mais uma vez.

Chega. Não aguentei mais. Espremi os olhos com toda a força pra tentar amenizar a dor que se espalhava em meu peito, como uma facada. Era como se estivesse morrendo por dentro. Entrei no banheiro, rastejando e me levantei, me encarando no espelho. Lá vi uma castanha descabelada, com a maquiagem borrada, um olhar frio e uma coroa na cabeça. Peguei papel, limpei o rosto e soltei os cabelos curtos. Saí do banheiro em direção á porta dos fundos do salão. Queria sair, mas não queria ser vista. Tirei os sapatos de salto barulhentos e desconfortáveis e me pus a caminhar.

Como pude ser tão tola? Tola a ponto de imaginar que um menino como Shaoran Li iria, algum dia, se interessar por mim? Como pude acreditar que aquele mentiroso dos olhos âmbar enigmáticos fosse tão vil e cruel, a ponto de trocar meus sentimentos e minha castidade por dinheiro? Eu estava com nojo dele, de todas as vezes que toquei sua pele em que meus lábios tocaram os seus.

Limpei minha boca com o braço.

Não quero ser mais a tola ingênua que acredita que o príncipe encantado vai aparecer à janela com um cavalo branco e um sapatinho de cristal na mão. Quero que o príncipe se exploda e que esse sapato se estilhasse em migalhas. Pois é isso que estou me sentindo agora: uma migalha enganada por alguém que só queria sexo e grana.

 Olhei para os muros de trás da escola quando já estava no gramado. Arranquei a coroa da cabeça e a joguei no chão. Pisei firme e continuei a caminhar.

Se pessoas boas não são aceitas pelo mundo, tudo bem. Não sou mais boazinha.

A Sakura boazinha já era. Agora, o jogo começou.

Flashback off



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...