E o tempo passou.
Faltava apenas uma semana para o Natal e estamos neste momento no voo mais longo que eu provavelmente vou pegar na vida: estamos indo para a China.
Meiling está super nervosa, talvez até mais do que eu. Realmente, voltar para lá acho que vai ser um grande desafio para ela. O bom é que meu priminho desmiolado tem se mostrado um namorando e tanto, sempre a apoiando e dando força quando ela surta e quer se esconder dentro de um buraco. Nunca esperei ver uma atitude dessas de Hiro, não posso negar que estou muito orgulhosa de ver que o meu pequeno cafajeste amadureceu.
Tomoyo e Eriol são os únicos que não viajam conosco agora, pegarão um voo lá pro dia 22 de dezembro. Infelizmente nosso doutor super ocupado só conseguiu tirar poucos dias do hospital, ainda mais nesta época do ano... Foi quase um milagre.
Depois de todo esse tempo que passou Peter tem se mostrado tão presente, mesmo estando tão longe, que parece que ainda mora aqui, impressionante. Todo dia nos manda mil fotos e dia sim, dia não, fazemos uma transmissão em vídeo. Ele está um pouco tristinho porque assim como nós, não teve mais nenhuma notícia de Amanda, aquela lá evaporou.
Nenhuma mensagem, email, foto, sinal de fumaça, nada. Ela não manda e nem responde a gente, super bizarro. Pelo jeito a “saudade” dela não foi tão forte como disse que ia ser... Apesar de estar um pouco chateada com esse esquecimento repentino, queria muito estar compartilhando toda a loucura que estou passando com a Mandy!
Sim, compartilhar. Porque eu sou dessas agora.
Peter quase entrou no primeiro voo rumo a New York para me acudir quando eu contei tudo para ele. Todo o lance da China, filhos, proposta, enfim. Todo o problema.
Nunca vou me esquecer do olhar de Shaoran quando eu disse que não aceitava sua proposta... Acho que de todas as vezes que o meu coração foi partido, de todas as vezes que eu sofri ou senti dor, nada se compara com o olhar que Shao me direcionou naquela noite, quando eu finalmente fui sincera com ele e principalmente comigo mesma.
Flashback On
Estávamos a caminho da minha casa. Shaoran dirigia tenso, com os olhos vidrados nas ruas, seus pensamentos pareciam estar longe dali. Desde a nossa conversa na noite anterior, ele estava tentando se manter em pé, me tratar normal, como se nada tivesse acontecido, mas nós dois sabíamos que algo muito importante tinha SIM acontecido, e nós não estávamos conseguindo esconder a nossa angústia quanto ao assunto.
Combinei com Meiling que contaria para ele o mais rápido possível, então assim que chegarmos na minha casa, vou falar.
De repente senti o carro virar bruscamente e percebi que Shaoran tinha virado o volante rapidamente para a direita, saindo da pista e encostando o carro de qualquer jeito no meio fio.
- Mas o que...
- Chega, pra mim não dá mais. – ele disse desligando o carro, tirando o cinto de segurança e virando-se para mim. Seus olhos estavam vidrados e sua boca entreaberta, ele respirava rápido. – Eu sei que disse que ia deixar você decidir no seu tempo, porque é uma coisa importante, você tem que pensar bem... Mas Sakura, eu não consigo! Eu não estava preparado para um “vou pensar”, eu jurava que você ia aceitar. Tô dando uma de compreensivo, mas essa espera tá me matando. – suas mãos então seguraram as minhas fortemente. Meu deus, era agora. – Me dê alguma resposta. Sim, não, qualquer coisa, só saia desse silêncio dos infernos, por favor. – respirei fundo.
- Não sei se você já sabe, mas hoje na hora do almoço eu fui comer na casa da Meiling. – sua expressão pareceu levemente surpresa. – Achei que ela deveria ser a primeira pessoa a saber bem, de tudo. – engoli seco. Respira Sakura, respira e não perde a coragem. – Depois que eu contei tudo, ela me disse para deixar de ser covarde e te dizer logo a minha decisão. Ela disse que eu só quis ganhar tempo com toda essa história de “vou pensar”, mas que assim que você me perguntou eu já sabia o que te responder. – apertei mais suas mãos nas minhas e cravei meus olhos nos seus. Merda. Senti as primeiras lágrimas querendo sair. – Shao, eu sempre soube a resposta, só não queria te dizer. – ele então soltou o ar que estava prendendo nos pulmões e junto com ele uma lágrima escorreu pela sua bochecha.
A escuridão da rua em que estávamos tornava o momento ainda mais sombrio. Apenas a luz do semáforo iluminava os nossos rostos e agora, ironicamente, essa luz era vermelha.
- Você não quer... – ele soltou baixinho e deixou outra lágrima escapar. Eu não acredito que estava fazendo aquilo. Por quê? Por que estava fazendo o homem que eu amo chorar? Que merda, por que eu não conseguia fazer o que ele me pedia?
- Me desculpa. – sussurrei. Não consegui mais me conter e diversas lágrimas rolaram pelo meu rosto. Tudo o que senti mais cedo com Meiling, voltou, só que um milhão de vezes pior. – Eu-eu... Me perdoa, por favor. – sua mão direita largou a minha e rapidamente foi para o meu rosto. Seu polegar massageando minha bochecha.
- Eu não vou conseguir, você não entende? Eu não vou conseguir viver sem você. – fechei meus olhos rapidamente, não conseguia mais encarar aquele olhar desesperado de Shaoran.
Tudo culpa minha. Tudo culpa minha.
Covarde.
- Eu vou largar tudo. Foda-se. Não vamos mais para a China, esquece tudo! – ele falava rapidamente, desesperado enquanto massageava minha bochecha. Seu rosto também estava inundado por lágrimas. – Eu não vou fazer o que eles querem, está bem? Eu não vou fazer e vai ficar tudo bem, vai ficar... – e então ele parou dando um longo suspiro. Que logo foi substituído por soluços de choro.
Ele estava desabando bem na minha frente. Meu coração tinha virado pó.
Abracei-o rapidamente, com o máximo de força que eu pude. Ele retribuiu instantaneamente e eu também desabei no choro.
- Vo-você não pode desistir. É a sua família.
- Eu não ligo. – então seus braços apertaram-me mais. – Eu não posso ficar sem você. – e aquela frase que Meiling me disse mais cedo pipocou na minha mente: “ele te daria cinco filhos, mesmo você tendo pedido só um. Ele te doaria um rim, ou até o próprio coração se precisasse. Ele faria qualquer coisa por você e bem, claramente, você não faria o mesmo.”
- Ei. – disse tentando me acalmar. Afastei-me do abraço e deixei meu rosto bem próximo ao seu. Encarar aqueles olhinhos inchados era o pior de tudo. – Eu vou estar ao seu lado, pra tudo. – beijei seus lábios rapidamente.
- Mas...
- Você não pode deixar sua família na mão. Sei que o que eles estão pedindo não é pouco, mas Shao, é o seu destino, você foi treinado a vida toda pra isso. O seu pai... Você disse que se orgulha de tê-lo feito feliz nos últimos momentos de vida... Honre seu papel na família, como ele sempre quis. – ele abriu os lábios para falar algo, mas eu rapidamente coloquei o indicador sobre eles, calando-o. – Eu vou com você.
- Sakura...
- Eu te amo e não vou te abandonar, entendeu? Eu não posso te dar o que você me pediu, mas não vou te deixar sozinho nessa. A gente vai pra China, vou conhecer sua família e... A futura mãe do seu filho. – Shaoran entreabriu os lábios mais uma vez, mas nenhuma palavra saiu de sua boca. – Eu também não posso viver sem você.
Flashback Off
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