Dezesseis horas depois... Aqui estamos: Hong Kong.
Eu não sei quem eu sou, em que dia estamos, que horas são, se estou com sono ou não... Eu não sei de nada. E parece que não sou a única.
- Hiro, não se joga assim não. Eu mal tô me aguentando em pé, não tô podendo te carregar hoje. – Mei reclamou enquanto se arrastava pelo aeroporto com meu primo jogado em cima dela, carregando as malas.
- Mãe... Só mais cinco minutinhos... – Hiro murmurou de olhos fechados. Dei uma pescada e acabei tropeçando. Shao me segurou pelo braço.
- Mas são um bando de mortos vivos! – ele riu dando um tapa na cabeça de Hiro que acordou assustado. Há alguns dias eu não ouvia uma risada tão espontânea e gostosa de Shaoran. Parece que os ares de sua terra natal estão lhe fazendo bem.
- Não é justo. Você é o único que não tá sofrendo de jet lag! – Mei exclamou enquanto parávamos do lado de fora do aeroporto, prestes a chamar um táxi.
- E bota lag nisso. – falei me espreguiçando. Shao soltou uma risadinha cínica.
- Claro que não. Eu venho aqui sempre, já tô acostumado.
- Se você não tivesse fugido, não tava com esse problema. – Hiro resmungou para Mei, ainda de olhos fechados.
- Cala a boca palhaço! – agora foi a minha vez de estapeá-lo.
- Porra, virei saco de pancada agora? – Mei deu-lhe um soquinho fraco na barriga. Ele revirou os olhos.
- Tava faltando o meu, amorzinho. – a chinesa soltou uma piscadela.
E então, no meio daquele mar de gente, do falatório alto em mandarim, das luzes e dos carros passando na nossa frente, percebi que estávamos plantados na frente do aeroporto, sem ter chamado nenhum táxi.
- Shaoran, já que parece ser a única pessoa realmente consciente, chama o táxi vai. – ele passou a encarar um ponto fixo atrás de mim.
- Não será preciso. – me virei e pude ver o que tanto ele olhava. Uma limusine preta e brilhante, enorme, com duas bandeirinhas penduradas uma de cada lado do capô vindo na nossa direção.
O carro parou na nossa frente e parece que nesse momento todos a nossa volta passaram a nos encarar. Alguns até chegaram a apontar os celulares para nós e começaram a tirar fotos.
- Mas o que diabos está acontecendo? – cochichei no ouvido do meu namorado.
- Bem-vinda à China, minha flor. – ele sorriu e beijou delicadamente a minha testa. Pude ouvir gritinhos histéricos logo após este ato. Meu Deus, ele era tão famoso assim aqui?
- Wei! – Meiling gritou de repente, largando Hiro e correndo para abraçar o motorista da limusine que tinha saído do carro. Um senhor de olhinhos apertados e um bigode pomposo.
- Quanto tempo senhorita Meiling! - ele disse retribuindo meio sem jeito o abraço espalhafatoso da minha amiga. – Você cresceu tanto! Era apenas uma menina quando se foi... – só agora percebi que ele estava falando em inglês. Provavelmente ordens de Shaoran, para que entendêssemos as conversas.
Shaoran cumprimentou também o tal do Wei que agora passou a conversar em mandarim com ele. Depois de algum tempo, os dois começaram a carregar o carro com as nossas malas e já estávamos autorizados a entrar.
- Eu sei que essa viagem tá super tensa pra você e pra Mei, mas pequena... É UMA FUCKING LIMUSINE! – Hiro gritou escandalosamente e se jogou pra dentro do carro. Não me aguentei e caí na gargalhada. Só ele mesmo pra me fazer esquecer um pouco desses problemas todos, mesmo que por um segundo.
Todos tinham entrado no carro, faltava apenas eu. Encaminhei-me pra a porta e quando estava prestes a entrar, uma mão em meu ombro me impediu.
- Até a mais forte e dura árvore cede para a suave ventania. Nesta vida não há de ser forte, há de ser flexível querida Sakura. - Wei disse sorrindo e fechou a porta do carro.
Meiling e Shaoran conversavam sobe algo qualquer, enquanto Hiro dormia todo espalhado pelo espaçoso banco. Mantive-me pensativa durante toda a viagem, encarando a paisagem pela janela. O que Wei queria dizer com aquele provérbio chinês?
“Nesta vida não há de ser forte, há de ser flexível querida Sakura.”
...
Já tínhamos passado do portão de entrada há uns bons minutos e nada de estacionarmos o carro. Pelo caminho deixávamos casinhas e pequenos edifícios para trás. Muita gente morava aqui pelo jeito. “Um grande cortiço de gente rica”, Mei brincou há uns minutos atrás.
Nosso carro chamava muita atenção, mas ao contrário do aeroporto, as pessoas não tiravam fotos ou olhavam curiosas. Todas as pessoas que avistavam o carro, rapidamente se curvavam, numa reverencia de respeito, até a limusine sair de vista.
Realmente, eu estou namorando um príncipe de verdade.
Mal sabiam os súditos o baita “respeito” que eu tratava esse príncipe!
- Chegamos. – Shao disse despertando-me dos meus pensamentos.
Um palácio, era o que parecia. Eu devia estar muito distraída mesmo pra não ver essa casa enorme de longe. Era muito alta, possuía diversas janelas com largas sacadas. Rodeada de árvores, outras pequenas construções e um jardim maravilhoso e colorido, com uma fonte bem no meio.
Eu estava maravilhada.
O carro estacionou lentamente na frente da grande e grossa porta de madeira maciça. Na frente da porta aberta, uma mulher de aparência refinada e semblante sério estava esperando, vestida naqueles trajes chineses tradicionais que vi nas fotos da casa de Shao. Era a mãe dele.
- Bem-vindo de volta meu filho. – ela disse em inglês. Seu semblante sério então se desfez e um sorriso apossou-se de seu rosto. Shao, que já estava fora do carro, pegou a minha mão e me puxou para perto de sua mãe.
- É bom estar em casa, mãe. – ele então fez uma reverência e ela assentiu.
Nenhum abraço? Que esquisito.
Os olhos negros da matriarca Li então se voltaram para mim.
- Então você deve ser Kinomoto Sakura, a mulher que conseguiu roubar o coração do meu filho. – ela disse sorrindo. Aproximou-se de mim e passou a ponta dos dedos pela minha bochecha. – É realmente uma mulher de beleza estonteante senhorita Kinomoto. – senti minhas bochechas esquentarem. – Os herdeiros do casal serão lindos. – não consegui conter minha surpresa e arregalei os olhos. Ainda temos que contar tudo a ela! Não engasga Sakura, não engasga!
- Er... Muito prazer senhora Li. – disse curvando-me. – Pode me chamar de Sakura, apenas. – dei um sorriso nervoso.
- Então me chame de Ielan. - os olhos da mãe de Shaoran foram para algo atrás de mim e pude perceber que rapidamente eles se encheram de alegria. – Meiling! – ela exclamou.
Minha amiga rapidamente de ajoelhou aos pés de Ielan e abaixou a cabeça. Ela começou a falar várias coisas em chinês, e pelo seu tom de voz, ela estava chorando. Continuava de cabeça baixa e dizia as palavras num tom agressivo. Mesmo sem entender nada, pelo gesto, dava pra ver que Meiling estava se desculpando.
Ielan então se abaixou até onde Mei estava e pegou suas mãos. Disse algo também em chinês e ajudou minha amiga a levantar.
- Uma longa viagem começa com o primeiro passo. – A matriarca Li disse agora em inglês. Será que todo mundo aqui tinha um provérbio chinês para tudo? – Você escolheu dar o primeiro passo há anos atrás, quando de distanciou do Clã. Você foi corajosa querida e eu lhe agradeço. – minha amiga então arregalou os olhos perplexa.
- A-agradece?
- Claro. Se você não tivesse partido, não teria encontrado o seu próprio destino e estaria presa à Xiaolang numa vida infeliz, para ambos. Fico feliz que com a sua partida, os dois puderam refazer suas vidas da maneira que lhes convieram, mas fico mais feliz por terem retornado, apesar de tudo. – Meiling e seu jeito espalhafatoso demais para esta família recatada, atirou-se nos braços de Ielan num abraço apertado. A mulher se assustou no início, mas depois se rendeu aos encantos da chinesinha.
- Que bom que deu tudo certo. – cochichei para Shao. Ele sorriu em resposta. – Você disse que tinha irmãs, eu vi nas fotos. Elas não estão? – foi só eu perguntar que um quarteto animado passou correndo pela porta.
- Xiaolang voltou! Xiaolang voltou! – elas gritavam sorrindo, vindo ao nosso encontro.
- Argh... – Shaoran bufou ao meu lado, revirando os olhos.
Pelo jeito a comitiva de irmãs estava chegando... Eu estava prestes a ser atropelada por todas.
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