Dois Meses Depois
Estamos em meados de março, mais precisamente, há alguns dias do aniversário de Shaoran. Todos os dias Tomy chega com uma nova ideia para a festa, ou para os presentes, ou seja, está enlouquecendo a todos com o seu jeitinho ligado no 220.
O quarto da minha morena desmiolada, cada dia fica mais vazio. Há um mês ela e Eriol resolveram morar juntos, no apartamento dele. Então, a cada dia que passa, seus objetos vão sumindo, assim como sua presença nessa casa. Nunca pensei que pudesse sentir isso, mas eu não estou preparada pra ficar sem a morena. Não estou preparada para ficar sozinha.
Óbvio que logo, logo vou me casar, e mesmo assim, Shao já está praticamente morando aqui... O problema é que sempre fomos eu e ela, ela e eu. E eu não estava preparada para seguirmos nossas vidas deste jeito.
Mesmo com o passar dos meses, Peter continua presente, como pode. Sempre manda e-mails e fotos, e às vezes nos falamos no Skype. Ele está tendo muito sucesso na Irlanda, e pretende ficar lá por um bom tempo.
Enquanto ainda temos um bom relacionamento com Peter, bem... Amanda simplesmente evaporou. Mandou um ou dois e-mails nas primeiras semanas e depois desapareceu. Não recebe nossas ligações, que de tão repetitivas, cessaram mês passado. Não responde aos e-mails, mas mesmo assim continuo mandando textos semanais sobre tudo o que acontece conosco. Mesmo que não obtenho resposta, não consigo deixa-la de fora de tudo, principalmente sobre tudo o que aconteceu na China, ela tinha que saber.
Até arriscamos mandar uma carta de verdade, para ver se assim ela respondia, mas esta foi extraviada e devolvida para nós. Se algum dia aquela desmiolada voltar a dar as caras, vai ouvir poucas e boas.
E quanto a minha gravidez... Está indo devagar, quase parando. Eu e Shaoran somos um casal jovem e perfeitamente saudável, mas que por algum motivo divino, não consegue gerar um filho! Não é por falta de tentativas ou posições. Já perdi a conta de quantos testes de gravidez cheguei a fazer nas últimas semanas... O resultado positivo nunca vem.
Semana passada fomos ao médico por insistência minha. Sinto que há algo de errado comigo. Talvez eu seja a culpada de nada estar acontecendo. Shao diz pra eu parar de pensar assim, que quanto mais nervosa eu ficar, mais difícil será para alcançarmos nosso objetivo... Mas é inevitável.
Eu sou uma control freak.
- E então, Clark ou Josh? – Shaoran disse enquanto apontava duas fotos em cima de minha mesa, despertando-me dos meus devaneios.
- Er... Que? – ele revirou os olhos. O que quer que ele tenha falado nos últimos minutos, eu não vou saber responder.
- Os fotógrafos Sakura. Eu pego a foto do Clark ou do Josh pra matéria? – olhei para a mesa e vi duas fotos praticamente iguais da princesa de Mônaco.
- Tanto faz, as duas estão boas, escolha você. - disse displicente, voltando minha atenção para o bolo de papéis que tinha que terminar de ler. Mesmo de cabeça baixa percebi que ele continuava a me encarar. Levantei os olhos e vi um sorriso safado em seus lábios.
- Sabia que com esses óculos novos você fica muito sexy? – ele disse numa voz rouca, encarando meus lábios.
- Sexy? Estou há um mês com essas coisas nos olhos e já estou me sentindo uma completa nerd. – ele se inclinou então ao meu encontro, por cima da mesa.
- Não sei se você sabe, mas na escola eu era apaixonado por uma certa nerd... – e a distância entre nós ia ficando cada vez menor.
- Shaoran, sai fora. Não vai me tirar desses papeis que nem ontem. – disse tentando convencer a nós dois que eu não queria me jogar em seus braços agora mesmo.
- A gente tem um objetivo, você não lembra? – ele estava tão próximo que pude sentir seu hálito em minha boca.
- É sério, se afasta, eu realmente preciso dar atenção a esses papéis aqui.
- Esses papéis são gostosos que nem eu? – ele provocava falando ao meu ouvido.
- Não...
- Eles têm o meu cheiro? – beijou meu pescoço.
- Não, mas...
- Mas o que, hum? – seus beijos trilhavam um caminho pelo meu pescoço, passando pelo meu queixo, com destino aos meus lábios.
- Mas... Eles pagam as minhas contas. – disse colocando minhas mãos em seus ombros e separando-o de mim.
- Para de ser chata. – ele revirou os olhos.
- E você pare de ser tarado. – retruquei. – Agora pegue as fotos e dê o fora. Sou sua chefe ainda. – disse com ar superior. Ele me encarou carrancudo e aproximou seu rosto do meu rapidamente, colando nossos lábios em um beijo feroz. Separou-se de mim abruptamente e foi em direção à saída da sala.
- Insuportável. – o ouvi dizer antes de fechar a porta atrás de si. Sorri e suspirei. Adoro ser insuportável.
O dia passou rápido e mais uma vez me vi sozinha na redação. Às nove horas diárias que eu passava lá pareciam não ser suficientes nesses últimos dias.
Mais uma vez dispensei a todos e fiquei depois do horário para terminar um texto. O meu volume de produção tinha dobrado, mas a diretoria ainda não parecia estar satisfeita. Quando eu sangrar de tanto escrever, bem, talvez eles digam “bom trabalho”.
Já eram quase dez da noite quando desisti de persistir a abrir meus olhos diante da tela do computador. Fechei a sala e logo estava no térreo, dispensando o porteiro. Quando saí na rua pude observar uma pessoa, vindo à minha direção a passos lentos. Ela parecia estar confusa, pois encarava uma folha de papel e checava os números nos edifícios. Apertei os olhos para enxerga-la melhor, na noite nebulosa que fazia. Aquela silhueta não me era estranha.
- Posso ajudar? – perguntei um pouco alto. A moça de cabelos compridos levantou os olhos da folha e então os arregalou. Aproximou-se rapidamente ao meu encontro e parou na minha frente, causando-me grande susto.
- Olá, Sakura. – ela disse esboçando um sorriso nos lábios. Congelei. E a culpa não foi da garoa fria que começou a cair.
- Você? Mas o que... O que faz aqui? – eu estava prestes a gaguejar.
- Sentiu minha falta? – ela alargou o sorriso estendendo os braços, convidando-me a abraça-la. Continuei parada.
- Você não sentiu a minha, posso garantir.
- Sakura...
- Sakura nada, Amanda! Você sumiu por meses e agora aparece aqui, do nada? Sem avisar? O que está acontecendo? – observei minha antiga amiga então mais atentamente. Sua pele estava mais bronzeada e as pontas dos cabelos castanhos e longos estavam loiras. Uma franja, nunca vista, saltava pra fora de sua touca felpuda, caindo sob seus olhos azuis faiscantes.
- Eu posso explicar, por favor não fique chateada. – franzi o cenho confusa.
- A não ser que a desculpa seja que você foi sequestrada e saiu do cativeiro ontem, bem, não tem explicação. – ela se aproximou de mim e pegou minhas mãos.
- Eu vou falar o que aconteceu. Mas me leve até os outros, assim explico tudo de uma vez.
- Hoje não dá. Se não percebeu já passa das dez da noite e ao contrário do que você pensa, não estamos a sua disposição. – retruquei recolhendo minhas mãos. Ela suspirou.
- Tudo bem, eu entendo... – ela disse cabisbaixa, encarando o chão. Talvez eu estivesse pegando um pouco pesado com ela.
- Mas amanhã... – ela levantou a cabeça e me olhou esperançosa. – A gente pode marcar de almoçar. Todos nós, no restaurante da Kate.
- Erm... Kate...?
- Kate, da sua agência de modelos, dona do Le Gateau...? – Amanda parecia perdida e confusa, como se não se lembrasse.
- Ah, claro, Kate! Sim, Le Gateau amanhã as 13:00, pode ser?
- Pode. Eu chamo os outros. – ela sorriu e me abraçou forte.
- Ah, obrigada! Eu estou morrendo de saudades de todos! – não retribui o abraço com a mesma intensidade, não tinha tanta vontade ainda.
- Então... Até amanhã. - disse me desvencilhando do abraço e seguindo na direção do meu carro. Dei a partida e a vi acenar da calçada, com um sorriso iluminado no rosto.
Tomoyo Narrando
- COMO ASSIM ELA VOLTOU? – eu gritei exasperada no telefone. Eriol olhou pra mim assustado jogando minha caixa recheada de Louis Vuitton no chão. – PRESTA ATENÇÃO, ESSES SAPATOS SÃO OS OLHOS DA CARA!
- Você quer parar de gritar e me deixar terminar de contar?
- Não, não dá pra eu parar de gritar. Porra Sakura, como assim ela volta do nada, sem avisar ninguém. E ainda por cima ela foi só ver você.
- Tomoyo, ciúmes agora? – revirei os olhos.
- Não é ciúmes, apenas estou me sentindo excluída. – ela bufou, do outro lado da linha.
- Enfim. Eu liguei também pra avisar que combinei um almoço com ela amanhã, no restaurante da Kate. Os outros também vão.
- Pera aí... Se os outros vão... Você ligou pra eles primeiro?
- Argh, tchau morena. – ela disse e desligou o telefone. Na minha cara!
- Grossa! – berrei para o aparelho. Em seguida joguei-o no sofá.
- O que aconteceu? – Eriol perguntou aproximando-se de mim. Suspirei.
- Não marque nada para o almoço amanhã. Nós vamos sair.
- Sair...?
- Como diz aquele ditado, quem é vivo, sempre aparece.
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