Um mês se passou, e a dor não me deixou nem por um minuto.
Shaoran deixou a empresa dias depois do ocorrido e saiu da cidade. Sem avisar a ninguém ele sumiu no mapa.
Tudo a partir deste acontecimento foi desanimado e triste. A festa de mudança de Tomy e Eriol foi horrível, ninguém conseguia sorrir ou fingir algum contentamento com tudo que estava acontecendo em nossas vidas.
Duas semanas depois da festa desastrosa de Shaoran, após percebermos alguns sumiços de Amanda, a pressionamos e descobrimos que ela estava se encontrando com ele. Segundo ela, ele tinha voltado para o apartamento que morou na adolescência em Washington, por uma temporada. Como Amanda não sabia da existência do caderno, Shaoran ainda confiava nela, e pelo jeito, só nela.
Toda esta confusão me bloqueou completamente. Eu não me concentro no trabalho, perco o foco nos ensaios fotográficos, todo o tempo livre que tenho, dedico a me enfurnar no quarto, tentando esquecer a dor no meio dos lençóis e claro, a bebida tem me ajudado muito nesta empreitada. Vivo bêbada ou de ressaca, os bares e pubs próximos de casa tem sido meus melhores amigos... Não consigo me lembrar da última vez que não senti dor de cabeça pelo excesso de álcool em meu corpo.
Agradeço todos os dias por não estar grávida. Ficar sem beber neste período da minha vida seria insuportavelmente doloroso.
Logo o mês de abril chegou. Véspera do meu aniversário.
Meus olhos se enchem de lágrimas ao lembrar que há um mês Shao, romântico como sempre, disse que queria estar casado comigo a esta altura do ano... Como eu pude botar tudo a perder? Como pude ser tão burra em perder o amor da minha vida, meu futuro bebê, tudo, em questão de segundos? Eu sei que não tenho culpa de todas as acusações, sei que alguém armou algo muito bem armado inventando mentiras para iludir Shaoran. Mas se eu tivesse destruído aquela merda de caderno, isso nunca teria acontecido!
Todos tentam me tirar de casa, para que eu reaja de alguma maneira a toda esta dor que me consome, mas eu não estou conseguindo corresponder a tais expectativas.
Era do trabalho pro bar, do bar para casa.
E a minha aliança de noivado... Parecia pesar uma tonelada. Não tive coragem de tirá-la do dedo, pois sabia que no momento em que a tirasse, a realidade cairia ainda mais forte sobre a minha cabeça e acho que sucumbiria diante de tanta dor.
Como se eu já não tivesse problemas o suficiente, as visitas de Amanda para Shaoran eram cada vez mais frequentes. Muitas vezes ela não dormia em casa por dias, e voltava com o semblante culpado, por ter que me encontrar chorando pelo cara que ela acabara de visitar. Eu não perguntava nenhuma novidade para Amanda, não queria me afundar mais num mundo em que eu tentava me salvar.
Mas parece que hoje, véspera do meu aniversário, tudo mudou.
- Sakura, preciso te contar uma coisa. – ela disse com o rosto inexpressivo. Observei ao redor de seu quarto e percebi que ele estava limpo, suas malas estavam fechadas, em cima da cama.
- Você vai onde?
- Embora. – ela disse fraco.
- Pra onde? – Amanda engoliu seco e respirou fundo.
- Pra casa de Shaoran. Ele volta hoje. – senti os joelhos fraquejarem. Ele estava de volta.
- Mandy, você não precisa ir embora, não tem que escolher entre um de nós dois. – disse tentando convencê-la a ficar. Ela apenas negou com a cabeça.
- Eu não posso ficar.
- O que está acontecendo? – Amanda suspirou.
- Eu vou embora, por que bem...
- Diga. – insisti.
- Eu e Shaoran, nós... Estamos juntos.
Num primeiro momento eu fiquei sem reação. Então depois, as emoções caíram como um rojão em cima de mim. Comecei a imaginar as carícias, os abraços, os sorrisos, os olhares, os beijos... Tudo aquilo que um dia era meu, Shaoran estava dando para Amanda.
- Como é? – eu disse num fio de voz. Ela apenas abaixou a cabeça e saiu do quarto, carregando as malas. – Volta aqui! – disse correndo atrás dela.
- Eu não quero conversar sobre isso. – ela disse seca. Eu ri de escárnio.
- Você não quer conversar sobre isso? NÃO QUER? Que cômodo não? Eu te dei casa, emprego, carinho... E o que você me dá em troca? Você fica com o homem que eu amo!
- Mas ele não te ama mais! Aceite isso de uma vez! – ela começou a se exaltar.
- Nem que não me amasse, o que é mentira. Amigos não fazem isso.
- Então eu não sou sua amiga. – ela ironizou.
- Eu não tenho amigas vadias. – cuspi as palavras, dando um tapa na cara dela. Amanda virou o rosto com tamanha força, que deixou as malas caírem. – SAI DA MINHA CASA! – berrei pegando as suas malas do chão e jogando-as no corredor do prédio. Ela engatinhou até a porta e se levantou, saindo cambaleando. Bati a porta de casa com tanta força que senti as paredes tremerem. Encostei minhas costas nela, e deslizei até o chão, derretendo-me em lágrimas. Eu não sabia se um dia pararia de chorar.
...
- Já estou pronta pra outra! De-desce mais uma Fred. – disse embolando minhas palavras, denunciando minha embriaguez. O barman franziu o cenho em negação. Tinha acabado de voltar do banheiro e vomitado tudo o que tinha ingerido na noite, e olha que não foram poucas bebidas. Esses vômitos estavam muito recorrentes, parece que até meu corpo queria me trair e me privar de ingerir aquilo que estava me anestesiando da dor.
- Pra você chega Sakura. Vai pra casa, já passam das três. – ele disse colocando um copo de café na minha frente. Levantei com dificuldade os olhos para o relógio atrás de sua cabeça e confirmei o horário.
- É meu aniversário! – gritei levantando os braços para cima, chamando a atenção dos dois outros bêbados que ainda estavam no local. – Mereço um presente Fred, po-por flavor. – pedi fazendo um biquinho teatral e me enroscando novamente nas palavras.
- Tomoyo! Achei que nunca fosse chegar. – Fred disse olhando para trás de mim. Virei minha cabeça devagar e encontrei minha amiga de olhos azuis com o semblante preocupado.
- Sakura! – ela disse exasperada. – Desculpe Fred, bem hoje eu resolvi começar a busca pelos outros bares.
- Amiga! É meu anifersáriooo. – abri um grande sorriso.
- Só leve ela pra casa. Ninguém merece passar o aniversário desse jeito. – ouvi Fred dizer.
- Ei! Fred, olha aqui, quem você pensa que é par- então uma tontura absurda tomou conta de meu corpo. Meus olhos que já estavam pesados, ficaram insustentáveis e a última coisa que lembro antes de apagar, foi sentir uma dor aguda atrás da cabeça que bateu no chão com a minha queda.
Eu estava desmaiada.
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