“Você tem certeza disso?”
“Cem por cento. Os exames já comprovaram.”
“Mas como isso é possível? Ela está bebendo igual louca há um mês!”
“Isso meu amor, é um dos poucos milagres que a medicina presencia.”
“Ela vai surtar quando souber Eriol... Oh meu Deus! E Shaoran?”
- Shaoran...? É você? – disse abrindo os olhos devagar. Minha garganta estava seca e senti meu estômago roncar, estava morrendo de fome. Olhei lentamente para o meu lado esquerdo e vi as figuras de Eriol e Tomoyo.
- Sakura! Por Deus, que susto nos deu! – minha amiga disse se abaixando ao lado da cama cheia de equipamentos. Espera um minuto. Cama cheia de equipamentos? Ah, droga, estou num hospital... De novo. Me remexi na cama.
- Ei, ei, fique quietinha. Tem que repousar. – Eriol advertiu. As lembranças começaram a invadir minha mente e não me lembrava de tê-lo visto hoje.
- Como eu vim parar aqui? E você? – apontei para meu amigo. – O que faz aqui?
- Perguntar o que um médico está fazendo em um hospital. Que esperta. – ele debochou. Revirei os olhos. – Fizemos uma força tarefa para te encontrar, afinal, hoje ainda é seu aniversário. – meu aniversário... Sem Shaoran. – Hiro, Mei, Tomy e eu nos separamos e bem, a japonesa aqui te encontrou primeiro. – Tomy sorriu compassiva para mim. – Só que você passou mal e ficou desacordada. Ela rapidamente me ligou e eu te trouxe aqui pro hospital. – bufei.
- Melhor aniversário de todos. – Tomy e Eriol então se entreolharam, cúmplices.
- Querida... Tem algo que precisa saber. – minha amiga disse calma. Revirei os olhos novamente.
- Saber? Tipo o que? Que a minha vida é uma merda? Olha Tomoyo, muito obrigada por ter me resgatado, mas se você me der licença, eu preciso voltar a minha medíocre vida, AI! – disse sentindo uma dor aguda no ventre quando me remexi nos lençóis. – Mas o que é isso? O que eu tenho Eriol? – o médico suspirou.
- Primeiramente, preciso que fique calma.
- Sabia que quando estamos alterados, pedir calma só piora? Desembucha! – ele então olhou para Tomoyo que assentiu com a cabeça para que ele prosseguisse.
- Sakura... Você está grávida.
A partir deste momento, o mundo pareceu girar mais devagar.
Aquilo... Não poderia ser possível, poderia? Nós tentamos, sim, tentamos incansavelmente, por três meses nós tentamos e nada aconteceu! Fomos a médicos, fizemos exames, que resultavam em “dois corpos perfeitamente saudáveis e férteis”. Por que agora? Por que assim?
- E-riol. – disse numa voz fininha e fraca. – Isso não é possível. Eu não estive com ninguém desde... Shao. – meu amigo suspirou, tinha o semblante preocupado. Acho que estava precavido pela minha reação.
- Exatamente. Ele é o pai querida. – arregalei os olhos. – Você está de cinco semanas.
O ar naquele quarto pareceu ficar rarefeito e eu comecei a hiperventilar.
Aquilo só poderia ser uma brincadeira de muito mal gosto. Uma peça que o destino estava teimando em me pregar. O que iria fazer agora? Shaoran me odiava. Não permitiria que ele descontasse seu ódio nessa criança que foi gerada por um amor tão puro. E se ele fizesse o contrário? E se amasse tanto o bebê e quisesse separá-lo de mim? Jamais permitiria.
Institivamente passei as mãos pela minha barriga.
- Como isso foi possível? Digo, não senti nenhum sintoma e vivi em bares no último mês.
- Como falei para Tomoyo há pouco, é um milagre querida. A falta de sintomas é normal, eles podem deixar de aparecer até o terceiro mês, mas Tomy me disse que você andou vomitando. Se enganou ao achar que era algo relacionado às ressacas. – suspirei. – Mas quanto à bebida... – ele hesitou.
- Diga Eriol, não me esconda nada, por favor.
- Saki, você não teve culpa, não sabia da gravidez, mas o álcool prejudicou muito este início de gestação. Você chegou aqui no hospital com um princípio de aborto. – senti cada músculo do meu corpo congelar.
- Meu Deus... E-eu quase matei... Eu quase matei o meu bebê. – meus olhos estavam começando a arder.
- Mas nada aconteceu. Fique calma querida. – Tomoyo disse apertando minhas mãos, ao se abaixar para perto de mim na cama. Apertei mais suas mãos com as minhas, era bom tê-la por perto, principalmente num momento como este.
- E agora Eriol? O que eu tenho que fazer daqui pra frente?
- Primeiramente: chega de bebidas. – assenti positivamente com a cabeça. – Como a ingestão de álcool foi muito prejudicial, você está no quadro de gravidez de risco, então, pelos próximos meses deve acompanhar de perto a gestação, com exames rotineiros e alguns extras que regulem a saúde o bem estar do bebê. – ele então abriu um leve sorriso. – Posso acompanhar de perto o seu caso querida, mas como não sou especialista na área, posso indicar um colega ginecologista/obstetra que tomará a frente do caso. Manter-se calma também é muito importante. Suas emoções podem afetar o bebê e... – fomos interrompidos por um toque de celular.
- Droga, esqueci de por pra vibrar. É a Meiling. – Tomoyo disse se encaminhando para a saída do quarto, na intenção de atender o celular.
- Tomoyo, espera! – disse um pouco alto. Ela virou-se para mim. – Não diga nada sobre a gravidez. – a japonesa estreitou os olhos confusa.
- Mas Saki-
- Shaoran não pode saber. – respondi rápido, cortando-a. – E se Mei souber, vai correndo contar a ele. – o casal de morenos se entreolhou preocupado e voltou a me encarar.
- Sakura, ele é o pai. Ele tem esse direito. – Eriol afirmou. Balancei a cabeça em negação.
- Tudo o que consigo pensar agora é nesta vida, nesse verdadeiro milagre que finalmente está crescendo dentro de mim. – consegui abrir um pequeno sorriso, enquanto alisava minha barriga. – Por atitudes, apesar de não intencionais, prejudiciais, eu deixei a saúde do bebê frágil. Não posso me alterar emocionalmente lembra? Brigar com Shaoran agora, só vai piorar tudo.
- Mas querida, não acho que Shao irá querer brigar. Muito pelo contrário, ele vai amar! Isso é tudo o que vocês sempre quiseram, e-
- Exatamente Tomoyo, o que queríamos, no passado. Shaoran deixou claro que foi um grande alívio a minha gravidez não acontecer, assim o poupei de mais problemas. – disse amarguradamente enquanto lembrava das duras palavras proferidas pelo chinês há um mês. – De duas uma: ou ele vai odiar a criança, como me odeia, ou vai amá-la e querer tirá-la de mim, cria-la na família louca dele, e isso eu jamais permitirei. – concluí enfática.
- E Hiro? – Eriol questionou. – Não pensa em contar pra ele? – neguei com a cabeça.
- Ele contará pra Meiling, e não posso culpa-lo, é realmente complicado esconder segredos do seu parceiro, eu sei bem disso... – suspirei. - Posso contar com vocês dois para guardar esse segredo? – os dois se entreolharam.
- Querendo ou não, você é minha paciente e eu sou abrigado a ter confidencialidade médica. – abri um sorriso. – Mesmo achando errado, eu mantenho seu segredo. – olhei então para minha amiga japonesa.
- Ah Sakura... Por tantos anos fomos só eu e você contra o mundo. Desde o Japão, juntas, para enfrentar qualquer situação que aparecesse... Eu vou te apoiar, como sempre, e respeitar sua decisão. Não contarei nada. Mas não acha que algum dia ele deveria saber? O bebê merece um pai.
- Tomy, eu prometo contar. Assim que tudo ficar mais estável e a vida do bebê a salvo, eu contarei. Quando eu puder confiar na minha saúde e que ela será necessária para proteger o bebê, seja provendo uma gestação saudável, ou dando forças para o meu corpo fugir pelo mundo, caso Shao queira tirá-lo de mim... Só preciso de tempo para me colocar em ordem. – o celular de Tomoyo tocou novamente. Ela abriu a porta e saiu do quarto conversando.
“Ela está bem querida. Foi só mais uma ressaca forte. Já tomou glicose e está de repouso.”
...
Acordei com o barulho do despertador e rapidamente me livrei daquele barulho irritante, jogando-o para longe. Abri os olhos vagarosamente e sentei-me na cama. Não estava sentindo dores, como há horas atrás, então podia trabalhar, certo?
Eriol disse para eu tirar o dia de folga, mas depois de tanto insistir, consegui que ele me liberasse para o trabalho SE acordasse bem disposta. E não é que eu estava bem? Mesmo tendo só dormido três horas de sono.
Minha vida agora tinha tomado uma nova perspectiva. Tudo o que parecia perdido e quebrado há um mês, finalmente parecia estar sendo colocado no lugar. Toda aquela dor ainda existia, mas agora eu tinha um aliado muito mais eficaz que a bebida para me ajudar a atravessar este momento horrível... Eu tinha o meu filho.
Arrumei-me rapidamente e logo já estava saindo de casa. Por que eu precisava tanto ir trabalhar hoje? Após uma noite terrível, muita bebedeira e uma parada no hospital? Após ter dormido apenas três horas.
Eu queria curtir meu aniversário.
Sim! A madrugada foi difícil, mas o dia do meu aniversário tinha tudo para ser maravilhoso! O dia mal começou e eu já tinha ganho o maior presente de todos, pena que só poderia desembalá-lo daqui a oito meses.
Não demorou muito para eu alcançar o andar térreo do meu prédio, atravessar as grossas portas do condomínio e alcançar as ruas de New York. Estava abolindo o uso do carro, pois com minha distração das últimas semanas, quase me envolvi em vários acidentes. E até agora, não tinha sido atropelada, então, andar estava se tornando uma ótima opção. Ou quase. Eu sempre esbarrava em alguém.
- Ah, me desculpe. – disse à pessoa ao meu lado.
Não pode ser! Ela ele?
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