R . I . P
ALLIE / ALGUNS DIAS DEPOIS
Eu não sei o que está acontecendo , mas nos últimos tempos vivemos aos sobressaltos.
Quando acho que vamos ter um pouco de sossego , acontece alguma coisa para nós desestruturar ...
A última havia sido o acidente com a Carol. Todos nós ficamos apavorados , mas graças a Deus , não havia sido grave . E desde então , ela é Fábio estavam mais unidos do que nunca.
Lucca e eu , também estávamos bem e comemorando o fim da reforma da nossa casa. A próxima etapa era a decoração , mas isso ficaria à cargo dele e da Carol.
Eu fiquei responsável pela organização da cerimônia e da festa do nosso casamento , que ocorreria em seis meses , no dia 31 de Julho. Eu havia sugerido essa data por ser o dia do aniversário da minha mãe e uma data muito especial para mim , Lucca concordou de imediato. Apesar de achar que seis meses era um tempo longo demais para esperar.
Mas além de ser uma data especial , eu ainda tinha a esperança que ao ver que era inevitável a minha união com Lucca , meu avô acabasse cedendo e se aproximasse de nós.
Ele já havia melhorado . Se não era a favor , também não demonstrava mais contrariedade.
Havia voltado a me tratar normalmente e à época da compra da casa , não permitiu que eu mexesse no dinheiro deixado por meus pais e, ele e vovó Cellie me presentearam com o dinheiro necessário para a compra.
Apesar de certa contrariedade e depois de muita persuasão da minha parte, Lucca acabou aceitando o presente dado por meus avós .
Aparentemente ,havia chegado o tempo da bonança após tantas tempestades ...
Saí do trabalho e passei em um supermercado para comprar os ingredientes que faltavam para os garotos Landucci prepararem o jantar no apartamento da Carol e do Fábio . Liguei para Lucca em busca da confirmação de um ingrediente.
- Oi bebê , tudo bem ?
- Tudo princesa . Só estou morrendo de saudades ...
- Eu também. Muita . Agora preciso confirmar , você pediu manjericão ou manjerona ? Não é tudo igual ?!
- Não , Allie !!! E eu pedi manjericão fresco. Faz toda diferença no sabor ...
- Ok , chef !!! – disse rindo da indignação dele . - Vou terminar as compras e daqui a pouco passo aí para te pegar. E vou te encher de beijos !!!
- Ótimo !!! Vou cobrar .
Voltei as compras sorrindo, prestando bastante atenção para não trocar nenhum ingrediente da lista.
Cheguei para buscar meu príncipe , que já me esperava na varanda. Como íamos apenas ao apartamento de Carol e Fábio , ele estava de muletas e era mais fácil se locomover.
Fábio já nos esperava , Carolina havia tido uma reunião que se estendeu além do horário mas já estava a caminho .
- E aí cunhado do meu coração , pronto para nós deliciar com seus dotes culinários ?! - perguntei irônica , era sabido por todos que Fábio era uma negação na cozinha.
- Minha cunhada preferida , você irá se surpreender ... – respondeu enigmático .
- Ai meu Deus !!! Agora estou com medo . Bebê você ainda lembra onde guardei as apólices de seguro ?! Seja o que for que aconteça comigo , não esqueça que eu te amo !!! – disse no meu melhor tom dramático.
Lucca ria e nem conseguia responder .
- Engraçadinha !!! Espere para ver !!!
- Bom vocês dois , vamos parar com o duelo !!! Se nós quisermos comer , melhor irmos para a cozinha.
- Ok !!! Eu quero muito comer !!!
- Eu também !!! - disse Fábio rindo , enquanto o seguiamos para a cozinha.
E para nossa surpresa ele já havia deixado os ingredientes separados na bancada, utensílios e panelas organizadas. Coloquei a sacola com o restante dos ingredientes em cima da mesa e fui convidada a me retirar .
- Princesa , agora esse território é estritamente masculino. Aproveite para descansar um pouco .
Enquanto Lucca falava , Fábio colocou em minhas mãos uma taça e uma garrafa de vinho , dando uma piscadela.
- Certo . Vou me retirar para que a mágica possa acontecer !!! Mas antes ... – me debrucei sobre a bancada e roubei um beijo do meu príncipe .
Fui para sala rindo dos resmungos de Fábio.
Pouco depois Carol chegou e fomos para o quarto conversando , enquanto ela tomava banho e se trocava.
- Então Allie , ansiosa ? Seis meses passam voando ...
- Carol , você acredita que até agora estou calma. Acho que ainda não caiu minha ficha ... Minha avó e d. Marina , estão em pânico com essa história de enxoval . Dizendo que temos pouco tempo e ficam me pressionando. Ah , e tem o vestido ...
- Mas elas tem razão , Allie . Você não pode deixar para a última hora ...
- Ah Carol , você também !!! Ok , vou pegar um fim de semana e todas nós iremos fazer compras e montar esse bendito enxoval . Não entendo porque tanta frescura para comprar meia dúzia de toalhas e lençóis ...
- Allie , frescura ?! Você é uma ogra !!! – ela estava indignada – São as coisas da casa de vocês ...
- Tudo bem !!! Vou me dedicar com afinco a fazer esse bendito enxoval . Não precisa me crucificar !!! - disse rindo , enquanto erguia as mãos em sinal de rendição , fazendo – a rir.
- Muito bem !!!
- Agora mudando de assunto , mas sem sair do tema ... e vocês , já tem uma data em mente ?
- Não . Estamos em um impasse ... ele quer uma grande cerimônia , evento . E eu uma só para a família e amigos íntimos . Não vou me sentir confortável com a ausência dos meus pais ... – sua expressão entristeceu . – Eu já cedi em fazer uma cerimônia católica .
- Ah , Carol ... eu acho que tem muita influência dos pais, nessa questão da grandiosidade do evento. Nossos sogros gostam de grandes comemorações ...
- Eu sei , mas não me vejo mais em algo tão grandioso .
Fábio bateu na porta , abrindo – a e colocando metade do corpo no vão da porta :
- As senhoritas nos dariam a honra de se juntar aos pobres mortais ?! O banquete está servido .
Rimos do drama desnecessário e o seguimos para a sala de jantar.
A mesa estava disposta com capricho e o aroma que vinha da cozinha era tentador.
Ajudamos a colocar as travessas na mesa , enquanto Fábio pegava o vinho.
Fui encontrar Lucca na cozinha e o vi tirando o avental. Caraca , ele ficaste sexy até de avental !!!
Era até falta de educação, alguém ser assim tão bonito e gostoso !!!
O agarrei , segurando em suas nadegas e ficando na ponta dos pés para beija – l-
- Meu dorito !!! Gostoso !!!
- Ei vocês dois !!! Deixem a sobremesa para depois do jantar !!! – Fábio ria .
- Hum ... esse pode ser nosso último beijo . Não sei se vou sobreviver ao jantar ...
- Cara , essa sua mulher é abusada !!! Mas vai pagar a língua ...
Rindo fomos para a sala de jantar e ajudei Lucca a se acomodar .
Começamos a nós servir e Fábio fez a apresentação do cardápio :
- A entrada consiste em uma salada verde com camarões , o prato principal rolê de mignon recheado com cogumelos selvagens e molho ao pesto , risoto com brócolis e parmesao. Espero que gostem ...
Não me contive e bati palmas.
- Bela imitação de maitre !!! Mas vemos ver se podemos parabenizar o chef ... – falou Carol , olhando diretamente para Lucca .
- Ei anjo , nem você me apoia ...
- Amor , suas torradas são ótimas !!!
Caímos na gargalhada e ele depois de mostrar a língua , também riu.
O jantar estava delicioso e transcorreu alegremente.
O celular de Fábio tocou e ele pediu licença indo atender no corredor. Eu me lembrei que precisava colocar o meu para carregar . Havia acabado a bateria no caminho para cá.
Fábio voltou para a sala com uma palidez cadavérica e em choque .
- O que aconteceu Anjo ?! – perguntou Carol alarmada.
- Fábio , senta aqui ... – falei , enquanto puxava uma cadeira para ele.
- Cara o que foi, você parece que viu um fantasma !!!
Aguardamos em silêncio , até que ele nos olhou , detendo - se em mim e seus olhos estavam marejados .
- Allie , eu sinto muito ... meus pais ligaram avisando ... Hum ... seus avós faleceram . Parece que foi um acidente de carro .
Eu sentia que todos estavam me olhando , Lucca me abraçou e Carol ficou próxima como se eu pudesse cair a qualquer momento.
Respirei fundo . Me sentia anestesiada.
- Onde eles estão ? Eu preciso tomar as providências necessárias ...
- Princesa ... calma . Nós ...
- Eu estou calma. Só quero aonde em que hospital eles estão.
Fábio se levantou e segurou em minhas mãos , as dele geladas.
- Eles estão no Mercy. Meus pais já estão lá.
- Ok. Então eu vou passar em casa para pegar os documentos necessários e vou para o hospital. Estou sem bateria no celular , mas eu dou um jeito de ligar para vocês. Fábio , vocês leva o Lucca para casa ? - a Allie prática estava em ação.
- Alicia ...
- Allie você ...
- Nem pensar ...
Falaram os três ao mesmo tempo e ergui as mãos , impedindo que continuassem.
- Eu estou bem e preciso fazer isso sozinha. Assim que tiver alguma informação , ligo para vocês .
Não dei tempo para que tentassem argumentar. Peguei minha bolsa e saí apressada , ainda ouvi Lucca me chamando , mas não me detive.
Ao entrar em casa , senti que poderia desmoronar ... porém , eu precisava ser forte.
Peguei a pasta com os documentos no escritório e fui para o hospital. Meus sogros estavam a minha espera e me abraçaram chorando.
- Nós sentimos muito , Allie !!! – disse meu sogro , enquanto d. Marina acariciava meu cabelo.
- Obrigada . Eu quero vê - los . Com licença .
Saí em busca de alguém que pudesse me dar alguma informação.
O médico que havia prestado o à eles , veio falar comigo.
- Alicia Halle ? Eu sou o Dr. Jones e cuidei dos seus pais ...
- Avós .
- Desculpe . Avós ... eles já chegaram aqui sem vida . O impacto causou a morte instantânea deles. Eu sinto muito pela sua perda .
- Obrigada . Hum ... o senhor acha que eles sofreram ? – perguntei hesitante.
- Acredito que não . Eles morreram no momento do impacto.
- Certo . Obrigada doutor.
Quando voltei à sala de espera , Lucca , Fábio e Carol já estavam lá . Me senti reconfortada , mas não podia ceder a vontade de chorar e gritar contra aquilo que considerava uma injustiça. Se eu cedesse , acho que nunca mais iria parar de chorar.
Fui ao setor pertinente para resolver as questões burocráticas e me demorei na escolha dos caixões e adornos para o velório.
Não consegui evitar que fossem todos para casa comigo .
Lucca veio no carro comigo . Eu queria me jogar em seus braços e pedir a ele que me dissesse que tudo não passava de um pesadelo. Mas não fiz nada disso , me mantive em silêncio .
Eu sabia que se deixasse a dor vir à tona , ela me dominaria.
- Princesa , eu sinto muito . Queria poder fazer algo ...
- Você já está fazendo . Está ao meu lado e eu te agradeço.
- Allie nós estamos preocupados com você .
- Eu estou bem . Está tudo bem. – Eu repetia isso . Precisava acreditar.
- Tudo bem . Apenas não esqueça que nós te amamos e que estamos ao seu lado para o que der e vier .
- Eu sei . – toquei brevemente sua mão .
Tive que lidar com a parte sacrificante de avisar os pouco parentes ,muitos amigos ,colegas e conhecidos . Lucca ,Carol e Fábio , me ajudaram nessa tarefa.
D. Marina começou a cozinhar para o pós funeral . E sr. Gian Carlo foi ate a igreja conversar com o padre , para que ele fizesse uma benção.
E eu ainda tinha que escrever o elogio fúnebre.
Quando esse pesadelo ia acabar ...
O resto da madrugada e do dia seguinte passou de forma nebulosa . Eu estava fazendo tudo de maneira automatizada. Tentando me manter firme.
Chegada a hora do elogio fúnebre , subi ao púlpito :
“ Aqueles que conheceram Ben e Cellie , sabem que tiveram a dádiva de conviver com dois seres humanos incríveis , generosos e que se doavam a todos. Amigos fiéis. Pais amorosos. Profissionais dignos e competentes. E avós maravilhosos !!! Nós não os perdemos ... Cada sorriso , abraço , palavra e gesto recebido vão nos manter ligados. E o amor que sentimos , conectados por todo o sempre. E tenho certeza que esse não é um adeus , mas um até breve. “
O sepultamento ocorreu após a benção do padre e da oração realizada pelo dirigente do Centro que ambos frequentavam. Aliás , os colaboradores , colegas de trabalho compareceram em peso.
No pós funeral , via as pessoas comendo e relembrando diversas situações que viveram com meus avós e consegui sorrir e me manter firme.
Depois que todos foram embora , meus sogros acabaram por me convencer a não ficar sozinha. Fui para a casa deles , que já era minha também.
Fábio e Carol também decidiram ficar por lá. Estavam todos me cercando de cuidados.
Ao chegar disse que ia tomar um banho e fui para o quarto. Lucca veio atrás de mim logo depois. Embaixo do jato forte de agua , não me contive mais deixei a dor me tomar e chorei toda a minha dor .
Minhas pernas não me sustentavam mais , meu corpo doía. Eu só queria que aquela dor acabasse.
Eu não tinha mais ninguém no mundo. Raízes.
Era uma folha vagando ao vento ,sem destino ou direção.
Não percebi a porta do banheiro e tão pouco a do boxe se abrindo , tão imersa estava na minha dor .
Só senti quando Lucca sentou ainda de roupa no chão do boxe , me puxando para o seu colo , me ninando como uma criança.
- Amor , vai ficar tudo bem. Você não está sozinha . Pode chorar , você não precisa ser forte o tempo todo. Eu te amo .
Eu não estou sozinha ?!
Eu sou sozinha ...
E apesar de todos ao meu redor , era assim que me sentia. Como se um buraco negro, estivesse sugando minha alma e eu não conseguia pedir socorro .
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