História Rosa - Único

Os cabelos loiros quebradiços e a pele queimada de sol denunciavam o cansaço e o descaso que tinha consigo mesma. Mas o que poderia fazer se há muito ela já não achava o aconchego que vivera tão bem em seu peito? Mesmo agora com seu vestido florido a puxando para uma dança gostosa com o vento ela não atendia. O peso do seu corpo não a deixava se mover, na ponta daquela colina os sentimentos desciam como cachoeira por seus olhos.

A garota sentia tanto que sempre doía. Doía as costas marcadas, doía quando o coração esquentava e doía quando chorava assim. O ar faltava e tentava voltar para quando sentir não doía tanto. Para as manhãs coloridas, onde a única preocupação era preparar o café para seu pai cedinho e alimentar os bichos do quintal e então sair por ai a explorar lugares com aquelas meninas sorridentes que moravam pertinho.

A loira não entendia como as coisas poderiam mudar, mas um dia as duas moças da vizinha amanheceram casadas e sem tempo para as coisas fora de suas próprias casas.  Fecharam-lhe as portas, não sorriam mais.

Seu pai começará olha-la diferente, os rapazes da missa também e sempre davam um jeito de conversar consigo, e tudo bem, eles eram gentis, gentis demais. Aquela gentileza começara a ser falsa e tão palpável que a moça com nome de flor os afastou quando os toques quiseram se fazer presente, apesar do que diziam a vizinhança, ela não era mais uma menininha, ele entendia isso e bom, aqueles meninos também insistiam em afirmar aquilo quando lhe invadiam o espaço. Correu para seu pai, mas seu porto seguro a empurrou num mar angustiante que a afogava em palavras grosseiras sobre pesos mortos, dinheiro e responsabilidade.

Então os dias vieram mais longos e sem vida, a solidão lhe fazia boa companhia apesar de tudo. Conseguia continuar acordando e respirando mesmo que o sol na sua pele doesse como fogo.

Respirou fundo. Não demorou muito e receberá a notícia de um noivado, do seu noivado. Malas estavam dispostas na porta de sua casa quando voltará da feira, ao lado vinha seu pai - finalmente com um sorriso no rosto - e um moço de barba ruiva e olhos de fogo, que corroeram seu corpo inteiro, era aquele maldito sol de todos os dias.

            Tentou correr

            Fora pega

            Aprisionada

            Abatida

Teria sido mais fácil aceitar o destino incerto do que desafiar a quem lhe mandava, mas sentia que se fizesse isso as marcas seriam mais profundas e doeriam mais.

Contudo, olhando para aquela imensidão verde tudo parecia tão pequeno e sem importância. Olhou pro céu e sorriu. E se desafiasse alguém mais poderoso dessa vez?