Sad Boy
Ele levou o cigarro até seus lábios, dando uma longa e gostosa tragada. Ela o observava, atenta a todos os movimentos dele. Ele era um garoto triste, enquanto o olhava ela chegou a essa conclusão, e que embora ele tivesse muitos “amigos” – ou como ele preferia chamar, conhecidos – ele era um garoto solitário, sem ninguém em quem ele pudesse confiar e contar sobre sua vida, seus segredos e seus medos. Ele costumava se esconder ali, sempre quando ele notava que o fardo estava muito pesado e que ele não aguentaria mais nem um minuto sustentando aquele sorriso forçado e falso – que as olhos dos outros transmitiam alegria, uma falsa alegria. Ele era um garoto triste com uma mania de se esconder atrás de seu cigarro e seu falso sorriso. Ela sabia o que ele passava, bom, ela sabia uma parte de tudo que ele passava.
Ele não estava bem.
Nada bem.
Disso ela tinha certeza.
E ela comprovava isso toda vez que o via no mesmo local, sempre no mesmo local. Ela queria amaldiçoar aquele local, mas não poderia. Talvez por que ele lhe trazia lembranças de quando viu-o pela primeira vez, ou melhor, de quando notou pela primeira vez o quanto ele era triste. Se lembrava de cada detalhe daquele dia, ela tinha brigado com sua melhor amiga por um motivo bobo, no intervalo ela foi até os fundos da escola – onde não era permitido os alunos ficarem – e o encontrou, ela lembrava de cada detalhe, desde a jaqueta preta que ele usava por cima de uma camisa branca simples, da calça jeans clara que ele usava e estava velha e rasgada, até das sakuras¹ que tinham desabrochado a pouco tempo, já que era primavera. Se lembrava que ficou surpresa quando ele puxou da mochila – que estava atirada em um canto qualquer perto dele – um maço de cigarro, ele pegou um cigarro e ao invés de o acender e colocar na boca, ele ficou o rodando entre os dedos, brincando com ele. Sua expressão era pensativa mas ao mesmo tempo triste, então ele sorriu, mas não foi mais um de seus sorrisos vazios e forçados, não, foi um sorriso diferente, um sorriso verdadeiro, porém, triste.
Aquilo era realmente irônico, a cor favorita dele sempre fora vermelho, mas naquele momento ela só conseguia pensar em como azul² o representava.
Ele era diferente de qualquer garoto que aquela escola já recebera, um garoto com uma carga emocional tão grande e pesada, mas ele sabia equilibrar tudo o que sentia, por isso muitas vezes foi considerado frio, sem coração e sem sentimentos. O que eles não sabiam é que a cada palavra ofensiva que o dirigiam o machucava, o magoava profundamente. Ele se acostumou a esconder seus próprios sentimentos, suas próprias necessidades, seus próprios problemas. O mais engraçado era que ele sempre estava ali pra ajudar todos, ele sempre era aquele ombro amigo que as pessoas procuravam para chorar, desabafar, abraçar e revelar seus medos. Ele sempre teve os melhores conselhos e sempre estava ali para dar um puxão de orelha ou um sermão quando você tivesse feito algo errado. Ele era e sempre seria o melhor.
O sinal tocou, ele apagou o cigarro e o jogou em uma lixeira que tinha ali perto. Ela esperou ele sair e dez minutos depois ela saiu e foi até sua sala de aula.
Ela queria ter coragem. Coragem para se aproximar dele, coragem para falar com ele, coragem para tocar nele, coragem para se declarar a ele, coragem para lhe contar que ele foi seu primeiro amor, coragem para contar que ela tinha se apaixonado por todas as qualidades dele e também por todos os defeitos dele, coragem para falar que ela amava cada pedacinho do ser que ele era.
Mas ela não tinha coragem...
No outro dia ela chegou na escola e estranhou os corredores estarem menos movimentados, ela caminhou pelo corredor e uma coisa chamou sua atenção, vários alunos estavam na frente de um armário que ela conhecia muito bem, o armário dele, ela cutucou um aluno e pediu licença, seus olhos se arregalaram quando ela chegou na frente do armário e viu flores, fotos dele sorrindo, mensagens de apoio a família e aos “amigos” e colegas, faixas de meus pêsames, velas e cartas que os próprios alunos tinham feito. Se sentiu tonta por um momento, como se sua pressão baixasse, ela queria que tudo aquilo fosse um sonho, ou melhor, um pesadelo. Se beliscou e deu tapas leves em seu rosto mas não surtiu efeito. Ela começou a se desesperar mais ainda, não, aquilo não podia ter acontecido, o garoto que ela amava não poderia ter morrido, NÃO! Desesperada ela pediu a um aluno que estava ao seu lado o tinha acontecido, ele se virou para ela e falou as malditas palavras. As palavras que acabaram com a vida dela.
– Você não sabia? Natsu Dragneel, tirou sua própria vida ontem à noite.
Ela piscou atônita, deu uma pequena risada achando graça até que sua ficha caiu, ele tinha se matado, se matado. Ela deu dois passos pra trás e colocou as mãos na boca tentando conter os soluços que começavam a aumentar e antes de sua visão escurecer ela viu a fotografia dele sorrindo, um de seus únicos sorrisos verdadeiros. O último sorriso verdadeiro dele que ela viu antes de desmaiar.
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