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História Sangue se paga com sangue (Vikings) - Lar doce lar


Escrita por: Erdbeersirup

Notas do Autor


Peek a boo!
Olha eu aqui, tempão né?! Em minha defesa, eu levei um tempinho aí pra transformar os cap anteriores, ok!

Capítulo 6 - Lar doce lar


Fanfic / Fanfiction Sangue se paga com sangue (Vikings) - Lar doce lar

Kattegat


 Ubbe era tão teimoso, quanto Ivar.

Apesar de mais velho e mais sensato, quando decidia o que fazer, não havia ninguém que o convencesse do contrário. Ele teimava em caminhar para todo lado, impedindo o repouso adequado do corte no joelho. Por isso, na noite passada, Haelena adicionou algumas ervas de seu conhecimento para fazê-lo dormir profundamente.

Apenas o bastante que durasse um diazinho, nada demais.

Concentrada, ela esmagava as plantas formando um produto pastoso que o ajudaria na cicatrização da ferida. Trocou o curativo duas vezes, naquela manhã. Mantinha-se ocupada com Ubbe, evitando a realidade do lado de fora da casa.

Ela estava deslocada daquele lugar estranho, e não era para menos, ainda não tinha tido tempo de conhecer as pessoas quiçá fazer amigos, pois logo que chegara, testemunhou uma violenta invasão do lugar.

Na tarde passada, conversava com Ivar e sua mãe no quarto quando notou gritos emanando fora da casa. Mesmo quando vivia em Wessex, nunca tinha visto os vikings lutando, só escutava as histórias dos fatos, agora, porém, poderia dizer que era assustador.

O corte na sua mão, não a deixava esquecer da escrava que lutou pela vida de Aslaug. Sem Ivar para defendê-las, as três ficaram a mercê de um homem estranho e agressivo, pronto para pintar sua lâmina de sangue com quem atravessasse seu caminho. Seu objetivo era a rainha de Kattegat, mas a escrava parecia saber se defender e mesmo em desvantagem conseguiu impedir o inimigo de assassinar Aslaug. Atônita, Haelena observou a briga, fazia força para não derrubar a faca de sua mão com a própria tremedeira, tentou ajudar a mulher que sangrava sem parar, mas era tarde demais.

Algo tocou seu braço, a menina levou um baita susto que a derrubou do banco em desequilíbrio.

Notou que era apenas Ivar, que a encarava com uma expressão de surpresa.

– Olha o que fizeste!

Juntou do chão, todo o trabalho que teve nos últimos minutos, não adiantava mais, a pasta havia entrado em contato com o chão sujo, não poderia colocar o produto na ferida de Ubbe, pois, corria o risco de infeccionar.

Seu coração calmamente voltava a bater no ritmo regular.

– Está assustada? – ele perguntou.

– Não, só não vi você chegando...

Ivar não comprou a desculpa que recebeu, Haelena andava muito esquisita desde que chegaram à Kattegat. Enfurnada nos quartos, cuidando de seu irmão ou fingindo que estava dormindo.

Noite passada, recusou-se a dormir longe dele mais uma vez. Quando estavam em Hedeby, ele também achou melhor dormir no mesmo quarto com ela porque não confiava muito em Lagertha, não que ela fosse defendê-lo de algo, mas dormir sozinho significa morrer mais fácil.

Contudo, agora que estavam em sua casa, não tinha motivo para tal desconfiança. Mesmo assim, Ivar aceitou dormir no chão novamente, cedendo sua cama para ela, pois entendia que todo o ataque a deixara com medo. Mas hoje, eles deveriam dormir separados antes que as fofocas começassem.

– Arrumei um lugar para você ficar. – ele despejou a notícia. – Pode levar essas suas coisas de bruxa, ninguém irá mexer.

Haelena olhou incrédula, na sua mente, pensou que ele já tinha se acostumado com a ideia de dividir quarto com ela, era só conseguir uma cama separada. Passar a noite sem alguém de confiança, estava fora de cogitação.

– Quero ficar com o seu quarto. – indagou.

– Nem pensar.

– Ivar, não quero dormir sozinha, – pediu. – Sabes disso!

– Não precisa dormir sozinha se não quiser! – ele já estava começando a perder a paciência. – Chame uma escrava, não sei... Ah não ser que tenha segundas intenções?

O recipiente de madeira, nas mãos da menina, foi parar acima de sua cabeça. Para a sorte de Ivar, ela tinha uma péssima pontaria, pois caso o objeto tivesse atingido sua testa, provavelmente um galo enorme se formaria ali.

– Mas o que...? – ele disparou surpreso.

Segundas intenções?

Não podia acreditar que Ivar pensava isso.

– Eu estava brincando!

Irritado, exasperou contra Haelena. Mas a menina sentia seu sangue ferver na sua face, sem saber se era por causa de sua fúria ou se estava envergonhada com a suposição do viking.

– Lembra dos soldados que apareceram naquela casa? E da perseguição de Aethelwulf? E, pelo amor de Deus, Ivar! Ontem mesmo, ninguém estava esperando aquele ataque!

– Haelena, não vai ser a última vez que pessoas vão querer lhe matar! Aprenda a se defender, se quiser viver!

Os dois se encararam em silêncio por um tempo.

Esse era o mundo de Ivar. Estava difícil de se adaptar, a menina que sempre viveu rodeada de guardas no castelo, como uma princesa de verdade, apesar de ser bastarda, porém agora, aos poucos ia começando a perceber que a vida de viking não era tão simples como imaginava.

Ele tinha razão, estava mais que na hora dela aprender a defender-se sozinha.

Como Aethelwulf costumava dizer: veneno era arma de mulher. Segurar uma espada, sendo do sexo feminino, era impensável na sua vida antiga. Por isso, Haelena pensava ser autossuficiente, entretanto, ter plenos conhecimentos com ervas e misturas, não garantia segurança nesse novo mundo.

– Rhaela... – disse cabisbaixa.

– O quê?

– Meu nome.

– Ah! Sim, é! – corrigiu-se, não poderia mais chamá-la de Haelena. Arregalou seus olhos para seu irmão que estava bem ali, aparentemente dormindo.

– Não se preocupe! – ela falou quando percebeu o que se passava em sua cabeça. – Ubbe está dormindo como uma pedra.

Haelena bateu levemente na mão do rapaz adormecido, que caiu ao seu lado dormente. Convencido de que seu irmão não havia escutado nenhuma palavra da conversa, Ivar sentiu-se aliviado, porém, logo percebeu que aquilo não estava dentro da normalidade.

Haele... Rhaela? – perguntou em tom acusatório. – Porque estamos gritando como dois loucos e Ubbe nem sequer se mexeu?

Era realmente estranho esse sono, tão profundo.

– Er... Ele tem sono pesado! – gaguejou.

Ivar entendeu tudo. Haelena e suas misturas de bruxa que causavam efeitos nas pessoas.

– Você não pode ficar fazendo essas coisas!

Ele falou entre os dentes, segurava-se para não berrar como sempre fazia, mas não podia chamar a atenção. Olhou em volta, certificando-se que ninguém vira aquela situação, como iria explicar isso?

– Eu sei! Eu sei! – ela se defendeu sem saída. – Foi só porque ele não parava quieto, precisa deixar cicatrizar antes de usar o joelho por aí!

– Se alguém pega você e suas misturas, vão achar que é veneno.

Ele avisou o óbvio. Ninguém parecia conhecer os efeitos da Valeriana, e a ignorância poderia ser perigosa.

– Ninguém viu, ora!

– Não interessa! Está proibida de fazer isso de novo...

Como é que é? Seu viking prepotente!

Quem era Ivar para mandá-la ou desmandá-la fazer alguma coisa? Proibida? Haelena não tinha traçado todo o mar numa viajem sem fim, para receber ordens.

Pensou em responder milhares de insultos, mas percebeu que alguém se aproximava pelo canto do olho.

– Proibida de que, Ivar?

Era Aslaug falando, mãe dos Ragnarsons. Ontem, Haelena pode conhecê-la, deitada na cama e pálida como a neve, mais parecia uma doente a beira da morte do que a bela rainha de quem tanto ouvira falar.

Não era doente de doença, mas estava doente de tristeza.

Haelena tinha visto esse mesmo aspecto em sua mãe Judith, que costumava sentar em uma cadeira qualquer, encarando a janela na maioria do tempo. Aslaug, porém, abriu um grande sorriso quando avistou seu filho, foi um bonito reencontro que pareceu dar-lhe as energias que faltava para viver.

– De continuar aqui com Ubbe. – ela respondeu rapidamente.

A mulher olhou com dúvidas para seu filho que entortava a boca em busca de uma desculpa.

– Rhaela precisa comer, mãe! Passou a manhã aqui dentro sem ver o sol.

O estômago da menina, roncou em resposta, estava mesmo com fome.

– Ivar tem razão, precisas comer algo para mantê-la em pé. – enrolada em um manto, sentou-se ao lado de seu filho desacordado. – Cuidarei dele o resto do dia, obrigada por ser tão gentil.

– Não é incômodo algum cuidar do futuro rei de Kattegat!

Mãe e filho se encararam confusos com a frase da garota.

Futuro rei? De onde ela tinha tirado essa ideia maluca?

– Do que você está falando? – Ivar resolveu perguntar.

Haelena percebeu que tinha dito algo fora de contexto, na sua cabeça enraizada nos costumes cristãos, sempre soubera que as terras e riquezas eram herdadas pelo filho mais velho.

– Er... Ubbe não é o filho mais velho? Pensei que ele herdaria tudo isso.

– Não vivemos dessa maneira. – Aslaug explicou com calma. – Para ser rei precisa merecer o título, não simplesmente herdar.

Isso era novo.

– Então, caso Ragnar não sobreviva... Quem reinará em seu lugar?

– Minha mãe, é claro! – Ivar soava irritado com a suposição.

Ragnar não estava morto, não poderia estar.

– Oh! Não sabia que isso era possível!

Uma rainha governando sozinha? Que coisa mais esquisita.

Depois de mais algumas meia dúzias de palavras trocadas, os dois jovens saíram finalmente do quarto.

Haelena notou as mãos de Ivar machucadas de rastejar, não entendia o porquê dele ter parado de andar com as muletas. Estavam indo tão bem no processo, suas pernas tinham criado uma pequena massa muscular, não que pudesse dizer a diferença, mas a menina percebia a mudança.

– Preciso que conheça alguém. – ele indagou.

– Quem?

– Helga. – a garota ainda o encarava sem saber de quem ele se referia. – Mulher de Floki.

Uma onda de ansiedade invadiu o peito de Haelena que subitamente parou de caminhar, absorvendo a informação.

– Falou com ela?

– Mas é claro que falei! – ele respondeu obviamente. – Imagine se ela aparece por aqui e a reconhece? Seria um caos.

Sim, seria. Ainda mais se resolvesse a chamar pelo seu verdadeiro nome.

Precisavam encontrá-la e lhe contar toda a verdade. Um risco que Haelena estava disposta a correr, seriam no total quatro pessoas, contando com Ivar e ela mesma, que saberiam seu real nome.


*


– Precisa ir mesmo? – Siggy perguntou aflita.

Recebeu um olhar cansado de Lagertha que estava prestes à partir de volta à Hedeby.

A garota beliscava a cutícula da unha, em um ato de nervosismo. Sentia-se completamente desamparada sem sua avó como guia.

– Não posso ir junto?

Sabia que não poderia voltar. Estava repetindo perguntas que já conhecia a resposta.

– Precisa estar aqui quando Björn e Hvitserk chegarem. – ela segurou seus ombros com carinho.

Despediu-se de sua neta com seu coração apertado de preocupação. Apesar de confiar nos deuses, conhecia muito bem o temperamento de Siggy, sempre agindo com emoção ao invés da razão.

– Vou sentir sua falta! – a garota abraçou Lagertha.

– Voltarei para vê-la partir, – retribuiu o abraço. – Cuide bem da minha menina, Sigurd!

Ele concordou com a cabeça, único dos Ragnarsons que estava ali para desejar boa sorte à Earl, nem mesmo Ivar fez questão, agradeceu mais cedo em poucas palavras, nada demais.

– Mais fácil eu tomar conta dele. – Siggy riu.

– Ei! Não foi eu quem você carregou pelo campo de batalha, – ele protestou com um ar brincalhão. – Ainda não tive a oportunidade de provocar Ubbe com isso.

Acompanhada de seus escudeiros, Lagertha partiu deixando Siggy para trás que acenou uma última vez antes de perder a imagem no horizonte.

Ao virar-se, percebeu Aslaug caminhando na sua direção, provavelmente com intenção de falar com seu filho, porém, o rapaz deu meia volta e seguiu para o lado oposto friamente. Estranhando aquela situação constrangedora, a rainha apenas cumprimentou-a com um sorriso fraco e voltou a se esconder dentro de casa.

Siggy apertou o passo até alcançar seu antigo amigo que caminhava mais rápido que o normal.

– Brigou com sua mãe?

– O que? Ah nem a vi. – respondeu falsamente.

– Certo, certo...

Siggy usava um tom acusatório e irônico.

– Não estamos brigados. – negou.

– Então por que a trata dessa forma?

– Da mesma forma que você age quando o nome Björn é mencionado?

Touché.

Ela encarou-o com uma vontade imensa de revirar os olhos.

– É diferente! Meu pai me mandou para longe.

– Melhor isso, do que ser ignorado durante toda sua vida.

Ele soou nem triste, nem raivoso.

Apenas normal.

Siggy não julgava Aslaug, pelo contrário, até a admirava por não ter enlouquecido com suas visões. Ela tinha previsto Ragnar e esperou-o, sem saber no que estava se metendo e que o coração dele já pertencia à outra pessoa, ela abraçou seu destino sem pensar duas vezes.

Gostaria de possuir a mesma confiança nos deuses que Aslaug tinha.

Não muito longe dali, Ivar e Haelena passaram de cavalo acenando para eles.

– Acredita nessa história toda? – Sigurd perguntou.

Siggy não acreditava muito. Ela mesma sabia parte da mentira que os dois chegaram contando.

– Talvez. – limitou-se à encurtar o assunto.

– Está vendo? É exatamente isso que eu não aceito! – ele desabafava baixo para ninguém os escutar. – Ivar volta com nada mais do que uma menina estrangeira, inventa qualquer história e ninguém questiona.

Era verdade, toda aquele conto de fuga e sacrifício não parecia muito verídico. Mas a palavra de Ivar valia muito, e depois que Ubbe aceitou essa versão da história, ninguém ousou discutir.

– Eu mesma os encontrei, – Siggy confirmou. – não vejo porque mentiriam.

– Se não fosse por Aslaug, eu mesmo já teria descoberto a verdade.

A rainha tinha uma saúde fraca demais para lidar com a realidade. Quando Ivar partiu, balbuciava que ele não voltaria mais, por causa dessas visões que ela costumava ter. Sigurd, sabia que esse tipo de coisa era difícil de se decifrar, mas quando avistou Ivar voltando, confirmou aquilo que sempre pensara: sua mãe exagerava nos sonhos que recebia.

Não confiava nela nem em suas premonições.

– Ela estava mesmo doente? – Siggy perguntou curiosa.

– Depois que seu filho preferido viajou, ela passou a comer menos, falar menos, viver menos... Até que adoeceu de vez quando me casei.

Chocada com a notícia, a menina parou de supetão encarando-o surpresa.

– Quem aceitou se casar com você? – ela segurava seu braço brincalhona.

Ele riu balançando a cabeça em negação. Havia se esquecido de como se dava bem com sua antiga amiga.

– Margrethe. – ele respondeu. – Ela era uma escrava.

– Agora está explicado! – Siggy brincou.

– É claro que a libertei antes! – empurrou a menina de leve. – Aslaug não aceitou muito bem, o fato de ter um filho casado com uma ex-escrava. Nem foi à cerimônia!

Não era de se estranhar o comportamento de Aslaug em relação à escrava, pois, a rainha era conhecida pela sua superioridade elevada, entretanto, nada além do que o esperado ao crescer e viver em uma sociedade como essa. Mas o descaso com Sigurd, apesar de desde pequeno não receber a devida atenção de sua própria mãe, impressionava a menina.

– Como que eu não soube dessa notícia antes?

– Bem, não tivemos tempo de conversar propriamente, – ele hesitou. – e esse é um assunto um pouco delicado...

Siggy sorriu com essa observação, de fato estava ansiosa para reencontrar Sigurd, sentiu sua falta muitas vezes quando viva longe dali.

– Imagino, Aslaug deve ter ficado bem doente!

– Er... Digamos que mais pessoas eram contra o casamento. – com os braços cruzados ele parecia desconfortável com o assunto, contrasteando com a falsa calma na sua voz. – Meus irmãos, quero dizer.

Ubbe e Hvitserk não eram exatamente contra o casamento deles, mas a notícia não os agradou nem um pouco, principalmente Ubbe quem, também, pediu-a em casamento. A verdade é que com a exceção de Björn, todos amavam Margrethe, inclusive Ivar, porém ele era o único não correspondido.

– Ela me escolheu. – ele apenas respondeu.

Não precisa de mais palavras para entender a situação, o pequeno orgulho que sentiu nas suas palavras esclareceram todo o “problema”. A menina ergueu suas sobrancelhas com a descoberta, ficou pensando em quem era essa mulher que encantou todos eles assim, mesmo na condição de escrava.

Os dois se depararam com uma casa, um pouco mais afastada, mas aparentemente, mais luxuosa do que as demais.

– Siggy, bem vinda à minha casa!

Sigurd abriu a porta com uma exagerada reverência. A garota percebeu a felicidade em seu rosto, mesmo encarando todo aquele cenário com certo preconceito, ela entendia que seu amigo sentia-se satisfeito com o rumo da sua vida, ainda que parecesse estranho na sua visão.

Quando entrou, encarou a tal da Margrethe.

Parecia ter por volta da mesma idade que Siggy, mas isso não era a única semelhança, pois, o mesmo penteado simples enfeitava os cabelos loiros das duas.

A esposa de Sigurd, sorria abertamente demonstrando toda a beleza que ganhara dos deuses, ela definitivamente era belíssima, entretanto, essa qualidade era apenas um ponto positivo a mais. Conforme Siggy aceitou compartilhar uma refeição com eles, foi descobrindo o modo delicado que a garota andava e se portava.

– Está gostando da comida, Siggy? – ela perguntou com certa humildade que, provavelmente, derivava dos seus anos servindo como escrava.

– Sim. – respondeu apenas, não porque estava de mau humor, só não tinha a mesma habilidade do carisma. – Muito.

O casal trocou um olhar despercebido pela visita.

– Sigurd falou algumas vezes de você! – ela continuou a puxar assunto.

– Ah é?! – perguntou surpresa.

O rapaz fazia gestos negativos em resposta, roubando uma risada charmosa de sua mulher.

– Falou, sim! – ela estava se divertindo em expô-lo. – Veja, bem ali, é seu não é?

Siggy encarou o lugar apontado e percebeu que suas espadas de madeira pendiam na parede, como parte da decoração. Uma risada escapou de sua garganta com a lembrança das brincadeiras que faziam na infância.

Não pensou duas vezes em levantar-se e examinar o objeto antigo que, depois de todo aquele tempo, ainda carregava os símbolos secretos grafados com um prego.

– Não acredito que guardou isso!

Os dois haviam ganhados aquelas espadas feitas por Floki, e gravavam runas no cabo de ambas, imitando as escritas sagradas para fingir que tinha sido um presente dos deuses.

– Você tinha a melhor espada! – ele falou. – Brinquei muito, depois que foi embora.

Uma pontada de indignação passou pela barriga da menina, ela não partiu por conta própria, fora obrigada à abandonar sua casa e seus amigos.

– Depois que Björn me levou, você quer dizer.

– De qualquer forma, eu guardei porque se tornou meu brinquedo. – brincou. – Não porque senti sua falta!

Uma gargalhada irônica respondeu a provocação. Estava óbvio que ele havia sentido saudades, Siggy sabia disso agora, até porque era um sentimento recíproco.

Aquele gesto, além de inesperado, era legítimo de promover uma intimidade perdida com o tempo, e foi o suficiente para fazer a garota baixar a guarda da sua personalidade difícil e deixar que o casal desfrutasse de sua presença durante o resto da reunião.


*


Depois do interminável caminho silencioso que fizeram, Ivar e Haelena, finalmente, se aproximaram da casa de Helga.

O cheiro doce do rio invadia o ar, tornando o vento mais quente por causa da umidade. Ainda sim, porém, o frio congelava as orelhas e a ponta do nariz da menina desacostumada com o clima.

– Tem certeza que ela sabe de mim?

– Pela última vez, sim! – Ivar bufou.

A garota vinha repetindo, por pura ansiedade, a mesma pergunta.

Ainda não acreditava que iria reencontrar a mulher que conhecera há muito tempo, era quase como um sonho, daqueles que bate uma tristeza quando acorda.

Talvez pelo barulho do cavalo ou quem sabe por intuição, Helga escapuliu para fora do alojamento afim de encontrar quem estava esperando.

Antes de abraçá-la, a mulher fez questão de visualizar o rosto de Haelena, tentando comparar a versão distorcida que restava em sua memória de anos atrás. Com os olhos cheios de lágrimas e um sorriso enorme, não sabia se chorava ou se ria como uma criança, sentia um misto de emoções ao ter em seus braços aquela menininha de Wessex.

Ivar que observava as duas, constatou que, mesmo sem nunca ter posto os pés em Kattegat, Haelena já havia conquistado seu lugar muito antes. Agora que a menina encontrava-se segura, ele poderia se concertar em vingar seu pai.

– É você mesmo?! – a mulher alisou os cabelos da menina.

Sem falar nada, ela apenas afirmou com a cabeça.

Pelas lembranças de Haelena, reconhecia as feições de Helga, porém notava as novas linhas de expressão no seu rosto. Sua maquiagem escura e suas mãos calejadas, indicavam a mulher guerreira que sempre fora, e apesar e aparentar um resquício de sanidade, seu sorriso tinha uma pitada de loucura.

Ivar lembrava da mulher de Floki na sua época sã. Foi um pouco triste testemunhar sua personalidade feliz se definhar em hábitos solitários, após a morte da sua única filha Angrboda.

Com calma e sem esconder nenhum detalhe, os dois contaram toda a real história de como fugiram de Wessex. Foi como um fardo tivesse sido retirado das costas deles, finalmente compartilhavam o que realmente aconteceu durante as últimas semanas.

Um alívio percorreu o corpo de Haelena que, pelo menos para uma pessoa, pode contar quem salvou quem afinal. Estava ficando cada vez mais difícil continuar mentindo para todos à sua volta, além de que devia se lembrar o tempo todo de que Siggy, apesar de conhecer o nome Haelena, não sabia quem ela era no final das contas, pois a escudeira acreditava na história da viking perdida.

Helga não conseguia parar de comparar Floki com a menina, os dois possuíam o mesmo espírito curioso e aventureiro. Com saudades de seu amado que partiu na excursão de Björn, pode acalmar sua alma um pouquinho com a presença da garota.

Posteriormente de uma longa conversa acompanhado de uma bela refeição, Ivar decidiu voltar para casa deixando Haelena em sua definitiva moradia. Quem sabe aqui na oficina de Floki, ela poderia construir o barco que tanto desejava.

– Eu preciso voltar. – ele disse enquanto observava a menina organizar seus pertences. – Confio em Helga, com exceção de... Você sabe...

Fez um gesto circular com o indicador no ouvido, insinuando a possível insanidade da mulher, no entanto, recebeu um olhar desaprovador.

– Não faça isso! – ela advertiu baixinho certificando-se de que Helga não tinha percebido.

A princesa tinha notado alguns trejeitos um tanto quanto, estranhos. O sorriso que nunca abandonava sua face, certa tremedeira... Contudo não acreditava que fosse nada muito grave, tinha esperanças de que a mulher voltasse à um possível estado de normalidade quando encontrasse um propósito na vida.

– Eu vou indo, então... – disse sem se mover.

Haelena parou e o encarou com certo divertimento. Ivar conhecia esse olhar, ela estava feliz as custas dele.

– O quê? – perguntou já contrariado, não lidava bem com deboches.

– Nada. – ela riu. – Anunciou duas vezes a sua partida, e no entanto, ainda continua aí parado.

– Só estou sendo empático, ora! – levantou a voz. – Não está mais com medo do escuro?

Mesmo com a tentativa de provocação, ela gargalhou mais alto, achava hilário quando Ivar ficava na defensiva.

– Não sirvo para ser sua piada, Haelena!

Ele se retirou irritado, fazendo seu caminho pela areia do lugar.

– Ei! Obrigada. – Ivar parou para escutá-la. – Você poderia ter me mandado embora ou qualquer coisa parecida, mas manteve sua palavra e me ajudou encontrar Helga.

Sentiu a sinceridade da garota pelas palavras de gratidão. Mesmo após ela ter o ajudado, ele não precisava retribuir o gesto se não quisesse, era filho de Ragnar Lothbrok em terras nórdicas, e Haelena não era ninguém. Apesar disso, Ivar se dispôs a protegê-la em razão da pequena amizade que criaram juntos, mesmo correndo risco de passar por mentiroso, caso fossem descobertos, e também, é claro, pelo fato de não dever nada à ela por tê-lo salvado.

– Como posso me livrar de você? Se és uma bruxa que pode me amaldiçoar?

– Tem razão, tenha cuidado comigo. – ela piscou.

– Ameaças de meros cristãos não me afetam.

Ela prendeu uma risada na garganta enquanto observava ele se distanciar dela.

Continuou seus afazeres tentando deixar seu novo cantinho o mais aconchegante possível. Também se familiarizou com a oficina de Floki, havia algumas ferramentas esquisitas e alguns projetos inacabados. Pensava em como seria a reação do homem, dono daquele lugar, quando voltasse para casa e a encontrasse morando ali.

Se preocupava, inclusive, com a situação do pobre Ubbe, quando acordasse ia sentir-se terrivelmente cansado além do normal, tudo por causa da sua poção.

Após se banhar em água quente, escutou um barulho vindo do lado de fora da casa e decidiu checar o que acontecia.

– Olha, arrumei para você!

Helga havia limpado parte da oficina de Floki, liberando espaço para a menina trabalhar em seus próprios projetos.

– Não acha que é um pouco demais? – perguntou, mas logo percebeu o sorriso morrer no rosto da mulher. – Quero dizer, será que Floki não vai ficar chateado em dividir esse lugar comigo?

– Não, claro que não! – ela riu. – Eu garanto que ele vai ficar muito entusiasmado em lhe conhecer.

– Eu posso ficar só no meu quarto mesmo, não tem problema...

– Não eu faço questão.

Percebeu o tom mandão na voz de Helga e decidiu não contrariá-la, afinal estava na sua casa.

Inspecionou a sua nova mesa, a vida inteira desenhou em sua de sua cama escondida. Agora, tinha sua própria mesa de trabalho, tudo estava se ajeitando positivamente, estava até com medo de que algo acontecesse para estragar aquele momento de sua vida tão agradável.

– Eu nunca tive uma dessas. – confessou.

– Pois, essa é sua! E não só a mesa, pode usar qualquer coisa daqui de dentro. – ela a abraçou divertida, fazendo a menina sentir-se feliz pela nova cumplicidade. – Sinto muito por tudo o que tenha passado!

Haelena lembrou dos diversos planos que montou para escapar do castelo, e de como ela e Ivar fugiram daquele lugar.

– Não poderia sem a ajuda de Ivar. – disse agradecida por tê-lo encontrado.

– Sorte a sua que ele precisava de ajuda também...

A garota estranhou aquele comentário, percebendo a confusão estampado no rosto, Helga explicou seu pensamento.

– Ivar é imprevisível, para não dizer louco. Teria sido muito mais fácil se você tivesse encontrado algum dos irmãos dele naquela cela.

– Por que diz isso?

– Ele nunca a machucou?

Instantaneamente, Haelena lembrou da vez que sentiu as mãos de Ivar ao redor do seu pescoço. Ele era imprevisível, mas existia muita gente de atitudes mais cruéis.

– Não. – mentiu, por que diabos estava o defendendo?

– Bom, como eu disse, sorte sua. – ela repetiu. – Não faz bem ter tanta intimidade com ele dessa forma, quem sabe o que pode fazer se zangar-se contigo?!

Absorveu aquelas palavras tentando encaixar na figura de Ivar que conhecia. Sim, tinha que admitir que essa fora a sua primeira impressão dele, entretanto, agora que havia o conhecido melhor, não encontrava motivos para temê-lo.

Independente disso, também percebeu certo receio das pessoas alheias em relação a Ivar, principalmente os criados.

Talvez fosse verdade esse perigo que ela não conseguia enxergar.

Ainda, Ivar era a pessoa em que mais confiava naquele lugar. Porventura, seus sentimentos mudassem conforme o tempo ao seu lado aumentasse.

Deixando essas dúvidas de lado, permitiu-se passar um tempo maior conhecendo Helga e se acostumando com seu novo lar.

Ali parecia ser mais fácil a sua lenta adaptação naquele novo mundo.


Notas Finais


Gente ta corrida minha vida viu, e pensar que eu nem faço nada e mesmo assim não dou conta! Só queria explicar mesmo que se eu demorar a postar não é pq desisti, mas só pq a faculdade me devora por inteira!! 😥

Ahhhh eu também fui no show do Green day semana passada aqui em Porto Alegre e minhanossasinhora! Melhor show da minha vida, que energia eles passam sabe?! E eu nem sabia cantar todas as músicas, fui pelos meus amigos mesmo que são fãs (eu era no passado, porém não sei pq parei de ouvir) mas não impediu q me divertisse muito! Ba recomendo pra caramba 💓💓💓 vou voltar a escutar eles ahahsjaajahshaja

Até mais! Avisem se acharem um erro, to escrevendo no word agora pq tenho preguiça de revisar rsrs


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