— Olha, eu só te ajudei, tu quase pegou na bunda dele que eu vi! — JongDae exclamou.
A discussão era baixinha mas estava bem intensa na sala de espera da enfermaria do colégio, o– milhares de anos– mais velho estava sentado com as pernas cruzadas e seus braços também. Ele estava muito irritado com a sua missão, já que atitudes foram feitas e o Baekhyun ao menos lhe disse "obrigado". Sem falar que agora o menino estava assustado com a saúde de Chanyeol e também não para de reclamar do que o JongDae fez.
— Aonde você me ajudou? — Baekhyun estava em pé, andando pela sala de espera e surtando. — Como você conseguiu fazer o Chanyeol cair?
— Eu consigo entrar no cérebro das pessoas e deixá-las distraídas, ué. Dá para mexer com todos os neurônios nesse meio tempo.— Deu de ombros.
O Byun nem queria escutar mais das baboseiras daquele espírito, ele só gostaria de saber se Chanyeol estava bem, e quando aquela missão terminaria para que JongDae fosse embora. Claro, se a missão não terminasse com o Chanyeol morto, porque era isso que aconteceria colocando nas mãos do outro.
— Pelo amor de Deus. — O mais novo arrumava seus cabelos e andava de um lado para o outro.
Depois de uns dois minutos, os dois escutaram:
— Baekhyun? — Aquela voz grave era reconhecível até demais para o menor.
Seus olhos arregalaram, e os de seu anjo também. Mas logo o segundo abriu um sorriso malicioso, foi até a porta que separava a sala de espera da enfermaria e fez um gesto cavalheiro, dando passagem para o Baekhyun como se fosse um lacaio dando espaço para sua princesa descer da carruagem.
— De nada. — Sussurrou enquanto o garoto bufava e ia em direção à porta.
— Não enche meu saco. — Retrucou enquanto abria a mesma e via seu anjo desaparecer.
— Eu?!— Chanyeol se assustou com o comentário do outro.
O menor ficou envergonhado assim que entrou no espaço. O Park ficava tão fofinho naquela cama e com cara de perdido, seu nariz tinha um curativo bem reforçado e o apaixonado pôde ver seus olhinhos meio tristes por causa do comentário anterior.
Pera, Chanyeol acabou de interpretar que "não enche meu saco" era para si? Aish, além de todo aquele batuque no coração do garoto bobo, as coisas se aceleraram mais devido ao pequeno desentendimento entre Chanyeol e JongDae, até porque o mais novo poderia encher o saco o quanto pudesse do Byun, que o mesmo nunca cansaria.
— Ah, não... Eu estava falando com o Minseok. — Mentiu.
— Minseok? — Park ainda estava meio confuso, o que deixava Baekhyun com cada vez mais vontade de beijá-lo.
— É, meu amigo, o que senta do meu lado na aula. — Explicou.
Chanyeol logo fez uma expressão surpresa, como se entendesse o papo do outro. O Byun nem se importou mesmo, era difícil alguém popular como o Chanyeol saber dos alunos estranhos e bizarros que sentam no fundão. E, acreditem, existem muitos deles.
— Ah, sei. — E abriu um sorriso sem mostrar os dentes, mas Baekhyun já conseguiria ficar feliz para o resto da semana.
O JongDae apareceu no quarto, ao lado da cama do maior e ficou o analisando. O menino apaixonado se assustou, mas conseguiu disfarçar bem, teria que se acostumar com essas aparições agora.
— Caralho, te vendo aqui de perto, tu é feio, ein? — O anjo quase gritou, mas só sua missão conseguia escutar. — Essas orelhas aqui foram feitas para voar? O John dá esse tipo de poder para vocês jovens? — Perguntou enquanto olhava para o Baekhyun com uma cara horrorizada.
— E então, Chanyeol, você está melhor? — O menino trocou de assunto sem ao menos ter uma conversa real.
Ele se aproximou da cama também, JongDae do outro lado, os dois encarando Chanyeol.
— Sim, eu só não sei como eu caí tão feio. — Deu um risinho e seu colega o acompanhou. — A enfermeira vai ligar para os meus pais, eles virão me buscar.
O garoto se assustou.
— Mas não tem nada demais, né? — Se preocupou e rapidamente olhou para JongDae, o causador de tudo aquilo, mas foi questão de menos que um segundo.
— Não, Baekhyun, não precisa se preocupar. Provavelmente eu farei um Raio X e pronto. — Chanyeol consolou, colocando sua mão sobre a de Baek, que estava apoiada numa grade na lateral da cama.
O toque foi muito rápido e a intenção fora apenas confortar o menino aflito, mas aquilo só deixou o pobre Byun mais nervoso e estranho em relação ao Chanyeol.
Aliás, o JongDae ficaria lá até quando?
— Bom, se você quiser que eu fique aqui até que seus pais cheguem... — Saiu sem querer do mais velho entre os humanos, não sabia de onde vinha a coragem, talvez do toque de mãos, mas também não poderia perder a oportunidade.
O maior pareceu pensar um pouco mas não demorou muito para sorrir e dizer que não havia problema algum em ter companhia.
*Santa Ajuda*
— É o Minseok, mano. Como você conseguiu gostar daquele orelhudo? — O anjo estava simplesmente indignado com os gostos da sua missão.
Os dois voltavam para a casa do pequeno, como os bairros residenciais da Coréia não eram tão movimentado, estava tudo bem eles conversarem abertamente, com o JongDae em forma de espírito.
— Cara, existem coisas que não possuem explicação. Sem falar que o Minnie quase nunca me deixa o tocar, ele tem um monte de problemas com socialização e tudo mais, não enche. — Baekhyun estava bem irritado com aquele cara, se é que podia chamá-lo assim.
— Nossa, e aquela conversa entre vocês dois na enfermaria? Que horror, pensei que seria fácil. — JongDae continuava reclamando.
— A conversa foi muito boa! — Byun protestou e até parou de andar para cruzar os braços e olhar para o outro.
O mais velho teve que rir daquilo.
— Cara, a gente está em épocas muito diferentes da vida, porque 'pra você achar conversa sobre biologia boa... — Fez sinal de negação enquanto ria.
Ué, mas conversar sobre a matéria era importante! Chanyeol mesmo disse que tinha muita dificuldade em biologia, enquanto Baekhyun amava e estudava, tirava notas altíssimas. Bom, na verdade Baekhyun era assim com quase todas as matérias, já que o seu tempo sozinho era bem grande, mas biologia tinha um espacinho um poquinho maior no coração. Tanto que seu curso dos sonhos era Biomedicina.
— Se eu fosse você, só falava de biologia da parte de reprodução. — JongDae aconselhou e saiu andando, deixando um humano vermelho de vergonha e de irritação.
— Vem cá, esse tal John não poderia trocar o meu anjo? Como eu pude receber alguém tão nojento assim que nem você? — O garoto foi atrás do espírito, pisando forte e com cara emburrada. — E aonde estão suas roupas normais de ontem? Poderia ter usado esse figurinho de hoje quando tentou me convencer.
No dia em que se conheceram (ontem), JongDae parecia um adolescente normal, com jeans, uma camiseta meio aleatória, uma jaqueta estilosa. Hoje o mesmo estava todo de branco, o tecido da roupa parecendo leve e fino, e usando uma sandália bem típica de anjos na mídia. Resumindo: ele só começou a se vestir de anjo quando o menino realmente acreditou que era um anjo.
Fazia sentido? Na cabeça de Byun não, mas o que fazia sentido naquela situação?
— Cara, eu não to de roupa. Você 'tá vendo roupa, mas a verdade é que eu 'to pelado.— Disse indiferente, quando Baekhyun já tinha o alcançado. — Pena que o John não deixa que eu mostre meu corpinho para você.
O garoto não sabia se acreditava ou não naquela baboseira, mas deu de ombros.
— Eu já não sei mais o que estou fazendo da minha vida. — Sussurrou o adolescente para si mesmo.
JongDae tinha se cansado de irritar o menor então ficou quieto e o Baekhyun estava muito irritado para responder qualquer coisa do anjo. Mesmo o primeiro não precisando, ele andava com sua missão e às vezes observava os trejeitos do garoto.
O menino caminhava um tanto quanto estranho e usava uns óculos meio bregas, em casa ele não os usa mas isso não fazia sentido na cabeça do anjo: por que ele fica bonito só dentro de casa e usa óculos brega fora dela?
Quando entraram na rua do Byun, o mesmo avistou uma figura meio cansada, levando o lixo para fora, mas isso não impediu do garoto sair correndo para abraçar o garoto.
— Luhan! — Baekhyun não calculou direito a velocidade e seu peso ao se jogar no velho amigo, então os dois caíram no gramado do jardim do outro.
Baekhyun e Luhan eram amigos de muito tempo, desde que o primeiro se conhecia por gente, conhecia o Luhan. Seus pai eram amigos, e a mãe do principal ajudou muito o casal chinês que havia se mudado antes mesmo de terem um filho. Acabou que eles sempre dormiam um na casa do outro, viajavam e faziam tudo juntos. Luhan conhecia Minseok, conhecia o Chanyeol, e só não soube do JongDae por ser muito recente.
Infelizmente, o amigo era um pouco mais velho e agora, estudava na faculdade, então o tempo dos dois foi reduzido num nível extremo. Baekhyun, por um lado, sabia que não era só isso, alguma coisa estava acontecendo porque até sua mãe não conversava mais com os Xiao, mas ele fingia acreditar na desculpa da faculdade.
— Baekhyun, está carente, dongsaeng? — Luhan ria enquanto o menino enfiava a cara no pescoço do outro e o abraçava forte. — A gente está no meio da rua e você me esmaga assim, sai de cima. — Mandou mas não tinha um tom de maldade em suas palavras.
O mais novo se jogou para o lado, sentindo a grama pinicar mas isso não atrapalhava, ele estava muito feliz por reencontrar seu amigo, nem percebeu que JongDae tinha sumido do seu campo de visão.
— Desculpa, hyung. — O garoto acabou rindo da situação, se levantou e ajudou o pseudochinhês a se erguer também.
— E como você está, Bakkie? — Luhan perguntou, recebendo uma careta estranha do outro.
Bom, a vida do Byun podia ser resumida em: coisas muito estranhas acontecendo, como um maldito anjo lhe ajudando a conquistar o Chanyeol.
— Está tudo certo, Lu, conversei com o Chanyeol hoje, tudo maravilhoso. — Sorriu amarelo.
O amigo entendia que talvez o assunto mais sério fosse delicado demais para falar naquela hora (e era, como contaria sobre um anjo?), então apenas assentiu e sorriu.
— Que bom, espero que você consiga conquistá-lo... Minseok está bem? Continua quietinho? Sinto falta dele.
— Ah, você sabe que ele tem aquele problema e tudo mais, esses meses suas crises andam maiores, enfim, vai ser difícil dele sair de casa. — Comentou meio triste.
Os dois vizinhos não estudavam na mesma escola mas, pelos trabalhos em dupla e lições em geral, Luhan acabou conhecendo Minseok e os dois se deram muito bem de primeira. Claro que um era completamente o oposto do outro, já que o Xiao tinha uma personalidade extrovertida e engraçada, enquanto o Kim era muito mais reservado, mas os dois conseguiam se entender. Baekhyun também os entendia, os três se entendiam.
— Entendo. Espero que ele melhore, e traga-o aqui qualquer dia. — Sorriu educado.
Parecia uma conversa normal– e era–, mas o problema era exatamente essa normalidade bizarra pairando entre os dois. Melhores amigos de infância não deveriam ter uma conversa tão normal e suave, segundo o Byun. Ele se martirizava por ter sido reduzido a um mero vizinho que morava a sua frente para o Luhan, e não entendia o porquê, mas colocar a culpa em si era o mais fácil de resolver. Ou culpar Luhan, culpar a faculdade.
— Bom, já estou indo, então. — Baekhyun se curvou para o hyung. — Tchau, Lu.
— Tchau, Baek, mande um beijo para a tia. — Luhan não se incomodou com a formalidade e deixou o garoto ir embora.
Era frustrante. Por isso que quando o adolescente chegou em casa, se jogou no sofá e ficou com a cara emburrada.
— Quem é aquele homem? — Escutou a voz de JongDae e levantou a cabeça para vê-lo encarando com cara séria a janela que tinha para a sala, se direcionando a casa do Luhan.
— É meu amigo de infância.— Disse desanimado, voltando a se afundar por completo no sofá.
— Nome?
— Luhan.
— Nome completo, queridão.
— Xiao LuHan, por quê? — Já se irritava de novo com o anjo curioso demais.
— Estranho... — Escutou o JongDae saindo daquela posição e andando para algum lugar.
Baekhyun não estava ligando muito para aquele papo estranho, mas quando o mesmo parou na sua frente e ele conseguiu olhar no rosto do anjo, sentiu alguma coisa. A ligação entre anjo e missão era bem forte, até porque o JongDae conseguia entrar em partes muito delicadas da mente do menor. Então, a tarefa poderia durar um dia ou um ano, os dois estariam numa relação forte e sensível.
O humano estava irritado, o dia não tinha sido bom mesmo considerando a conversa legal com Chanyeol, a última coisa com que queria se preocupar era com aquele espírito ridículo que só o enchia de balela. Mas, por causa da conexão bizarra e involuntária que criara com o JongDae, aquele rosto sério encarando a janela e a casa de Luhan o causou estranhamento. Pelo pouco que conhecia e viveu com o anjo, ele só fazia piadas e debochava de tudo; agora seu semblante era muito diferente e o humano sentia que o enviado do John estava perdido.
Era isso, um sentimento muito confuso e perdido apossava do espírito. E o pior de tudo: aquilo o preocupava. Não porque queria, longe disso, mas sem querer o garoto ficou muito triste ao olhar para JongDae, como se os dois estivessem muito mal juntos, talvez depois de uma maratona de filmes bem tristes falando sobre guerras.
— Qual o problema com o Luhan? — Saiu da boca do mais novo, enquanto ele se levantava e ficava na frente do JongDae, que ainda olhava para a janela.
— Você sente falta dele? Ele anda sumido? — Respondeu com outras perguntas, agora olhando para o menino.
— Sim, muita. Não sei o que aconteceu na família dele, mas eles andam muito estranhos. — Baekhyun não se importou em não receber respostas, só respondeu.
Estava muito aflito com o anjo daquela forma.
— Eu não te contei, mas nossos nomes lá no céu são meio diferentes. — Começou a contar.— O meu, por exemplo, é Chen Dajil. Não sei o porquê, só é.
— E vocês escolhem nomes diferentes quando chegam aqui?— Mesmo preocupado, Baekhyun seguiu o ritmo do anjo, que assentiu à pergunta.
— É. Meu marido tinha um problema bem grande com memória, eu nunca soube o nome dele aqui na Terra, nenhum deles, mas tenho certeza que pareciam com o seu nome no céu. — Ao se lembrar, acabou rindo, já que seu amor era muito ruim com nomes e datas.
O Byun não estava entendendo onde seu espírito queria chegar, mas, instintivamente, perguntou:
— Qual o nome do seu marido?
— Xáo LuRá.— Respondeu sério e com uma cara bem feia.
Não precisou de muito tempo naquele silêncio pesado, pela troca de energia dos dois, para que o pequeno entendesse as coisas. JongDae o escolheu porque estava atrás da sua alma gêmea perdida, que não dava as caras há muito tempo, de repente o Baekhyun encontra seu amigo que sumiu quase que o ano inteiro e ele, por acaso, tem um nome muito parecido com a pronunciação do nome que o marido do anjo tem. Aquilo tudo poderia ser uma coincidência, mas fazia bastante sentido, era coerente e entendível a raiva de JongDae por ter achado um provável marido.
— Ele não cuida de você. Pensei que tivesse ficado na Terra porque gostou da forma humana de viver e queria ser seu amigo, era a cara dele se apaixonar por você, mas não. Ele nem cuida de você... — JongDae exclamou, indignado com a casa da frente, onde habitava o suposto anjo.
Aquilo era muito delicado, o jeito que o JongDae falava do marido, como se o conhecesse , mas também se decepcionava por talvez não o conhecê-lo de verdade, machucou o Byun. Ele conseguia sentir a raiva do outro, sem ao menos tocar nele, ele sabia todas as palavras que o mais velho queria proferir para o Luhan. Basicamente, o humano se sentiu muito intimidado, mas também queria ajudar na situação.
— Olha, Dae, não precisa ser necessariamente o Luhan, ok? — Entrou num estado de quase pânico, queria tocar no outro mas não sabia se podia. — Talvez seu marido nem esteja em forma de humano, você não sabe, e não pode se irritar assim com o Lu. Ele é muito importante para mim e, mesmo que indiretamente, cuida de mim.
O anjo continuava meio emburrado só de pensar na possibilidade de amar alguém tão idiota quanto o Luhan. Ele não aceitaria o cara com quem se "casou" o abandonando descaradamente, até abandonando sua própria missão de vida: observar o Baekhyun.
Tudo bem que em algumas vezes JongDae podia ser idiota? Tudo bem, era super normal. Ele dava em cima das pessoas? Também. Fazia besteiras e falava besteiras no geral? Muito. Mas aquilo não justificava um abandono e um abandono do céu por completo que seu marido fez.
Poxa, era só pedir para sair. Ninguém ia segurar ninguém.
E por toda essa irritação e confusão que lhe rondava, JongDae simplesmente sumiu da visão de Baekhyun, não dando as caras pelo resto da noite.
Quando amanheceu, o garoto ainda estava meio confuso pelo surto de seu anjo. Claro que ele entendia que o outro estava desesperado atrás de seu marido, e a primeira suspeita de tê-lo encontrado era um grande mal exemplo de anjo da guarda, mas o que aquilo significaria agora?
Será que o JongDae o deixaria? O intuito dele ter escolhido o Byun era esse: achar seu amor perdido. Agora que se decepcionou, tinha acabado? Ele não voltaria a falar com o adolescente? E quase outra noite mal dormida afetou os olhos de Baekhyun, ele realmente ficou muito preocupado com aquela última feição vista.
Chegara na escola, Minseok– sortudo, na sua concepção– não escutara uma reclamação do amigo por estar longe de Chanyeol, e esse último nem teve tanta moral de Baekhyun como normalmente. O garoto ainda perdeu a chamada, dessa vez por sono, mas ele estava claramente abatido.
Mas que raiva! Já não bastava sentir tudo aquilo por Chanyeol; estar frustrado com Luhan; ter o Minseok todo traumatizado; ele ainda teria de aguentar os sentimentos do seu anjo? Sério mesmo que ficaria triste o dia inteiro só por causa de JongDae?
— Você quer vir comigo hoje? — Minseok se levantou e chamou o amigo para passar o intervalo com ele.
O mais novo estava quase dormindo na aula de história que mal percebeu o professor saindo, e o sinal tocando– anunciando o intervalo, então acabou acordando com o convite do Kim.
— Acho que sim. — Respondeu com um sorrisinho meio forçado e triste.
— Ô esquizofrênico, vai sair ou não? Tenho que trancar a sala, vai ter que sair à força?! — O representante de sala, Oh Sehun, gritou.
Era só isso que faltava na vida do adolescente: zoações e ameaças pela parte dos populares elitistas da sua sala.
Qual foi, o seu amigo não gostava de ficar entre as pessoas, era óbvio que ele falaria sozinho algumas vezes no dia e, já que passava muito tempo ma escola, alguns idiotas o zoavam por ter essa peculiaridade. Quase todos do colégio o conheciam como o esquizofrênico, ele poderia conversar normalmente com o JongDae pelo pátio durante o intervalo, que aquilo seria considerado normal, mesmo não acontecendo com normalidade.
— Por que você não vai chupar uma rola, Sehun? — De repente alguém falou, atraindo o olhar dos três na sala.
Yixing saiu do chão onde, aparentemente, estava deitada. A chinesa era uma garota toda alternativa e sentava na frente do Baekhyun, o que causou estranhamento no mesmo pela garota estar do outro lado da sala, com uma personalidade bem forte. Ela só conversava com os valentões que praticavam bullying com os mais novos, o que causou mais estranhamento no menino que sempre foi zoado por outros grupos e esperava o mesmo da chinesa, e era engraçado vê-la defendendo alguém.
Seu uniforme estava todo amassado por ter dormido e a saia cortada mostrava um pouco mais do que devia, os cabelos tinham um corte masculino estiloso, todo para cima, e os piercings pelas orelhas eram bem brilhantes. Mesmo tendo um estilo diferente, a garota podia ser bem encantadora e Byun jurava que seu amigo tinha um crush nela, só que nunca comentou com o Minnie sobre isso.
— Qual foi, bonitona? — Sehun deu uma risadinha. — Está do lado do maluco?
— Se eu estiver, isso não é da sua conta. — A menina falou grossa e curta, indo até seu colega de classe. — Me dê essa merda de chave que eu fecho a porta... — Ordenou mas o representante tinha um sorriso malicioso na cara. — Anda, idiota! — Socou o ombro do mesmo com muita força, o que o fez largar a chave. — Chispa.
O Oh seguiu as ordens da valentona e repetente, enquanto os dois nerds ficavam boquiabertos com a cena alguém acabou de nos defender, é uma grande mulher, e também linda. Era inédito algo desse tipo acontecendo, tanto que quando se entreolharam, um pequeno sorriso lhes apossou, parecia que no último ano as coisas mudavam. Não que Byun se importasse, ele só queria sair daquele inferno– de preferência, casado com Chanyeol– e passar numa faculdade, sem ter apelidos idiotas o atormentando, então aguentava; mas sempre era bom receber uma ajuda.
— Anda, seus idiotas! — Yixing acordou os dois do transe vitorioso que entraram, causando um grande susto nos dois.
— Desculpa, noona. — Os dois se atrapalharam para falar, se curvando várias vezes para a garota.
— Sim, noona, desculpe, nós já vamos. — E saíram andando.
Quando os dois estavam no corredor e a porta foi fechada e trancada pela menina, com ela dentro, os dois puderam comemorar a salvação de talvez, não terem dinheiro para o almoço. Minseok olhou assustado para o amigo, mas com um sorriso bizarro na cara, e abriu os braços, esperando Baekhyun aparecer por lá, algo que ele fez sem hesitar.
— Você viu isso, Minnie? — O mais novo falou todo animado. — A gente não entrou encrenca, por causa de outra encrenca! — Isso era como uma festa de ano novo para o aluno.
— Finalmente! — Se separaram. — Só falta algum de nós termos um caso romântico com ela para sermos um clichê colegial. Na verdade, acho melhor você largar do Chanyeol para ficar com ela. — O mais velho ponderou.
— Para de besteiras, Minnie.— Ficou sem graça com o comentário. — Você sabe que eu só consigo gostar do Chanyeol, e ela provavelmente nem gosta de garotos.
— Como não gosta de garotos?!— Minseok franziu o cenho. — Você já perguntou? — Viu o amigo negar. — Não quer dizer que ela não tem um estilo feminino, que ela não gosta de homens, espero que não pense dessa forma. — Repreendeu o mais novo.
— Desculpe, hyung. É que, sem querer, essas coisas ficam na mente. — Falou tristonho por ter pensado em coisas preconceituosas.
— Sem proble... — O mais velho ia continuar quando avistou um corpo grande e orelhudo entrando no corredor, procurando por alguém.
Chanyeol, quando viu Baekhyun no mesmo corredor em que caiu, se sentiu sortudo por ter lembrado onde o garoto estava na hora e acabou o ajudando.
— Seu crush está vindo com um sorriso muito estranho para cá, eu vou embora. — Minseok falou sério e com cara irritada, já se virando, mas foi impedido por Baekhyun que o segurou pelo braço, não dando tempo de fugir.
— Olá, Baekkie! — Chanyeol disse assim que chegou na dupla.
O mais novo estava tão nervoso em ver o seu crush, que nem conseguiu pensar muito bem ao deixar seu amigo lá entre os dois. Ele sentia que, agora que o JongDae havia sumido, pelo menos Minseok poderia ajudá-lo com sua presença muito calma e leve.
E que diabos era aquele apelido saindo da boca do Park? Tinha como aquele ogrão ser mais fofo?
— Oi, Chanyeol... — Falou envergonhado, mas logo mudou de expressão. — Esse é meu amigo, Minseok, aquele que eu te disse ontem.
Park olhou sem muito interesse para o lado, e Minseok também sem muita vontade se curvou, se apresentando.
— Oi, Minseok! — Cumprimentou educado.
Mas o mais velho dali se sentia muito desconfortável na presença de outras pessoas que não fosse Baekhyun, então se decidiu:
— Eu estou indo, Baekkie. — Olhou sério para o alvo.
— Ah, não, Minnie! Fica aqui só um pouco! — Pediu manhoso, mas sem tocar de volta no amigo, que se sentiria mais desconfortável com uma pessoa assistindo.
O principal entendia que o amigo tinha dificuldades e tomava variados remédios para ansiedade, consultava psicólogos para lhe ajudar, mas também precisava de um apoio moral naquela situação. Aparentemente, seu crush estava procurando por si, e mal sabia qual era o assunto, só sabia que falharia estupidamente por não ter a coragem de JongDae para lhe dar.
— Por favor... — Dessa vez foi o Kim que disse, finalmente recebendo o olhar de aceitação do Byun.
Seguiu o amigo com o olhar, deixando aquele corredor, mas sua visão periférica denunciava que Chanyeol estava o encarando muito intensamente. E se Chanyeol lhe encarava dessa forma enquanto ele tinha uma cara triste para um amigo fujão, provavelmente suas chances já acabaram aqui.
— Enfim, o que quer? — Baekhyun voltou a olhar para o maior, sorrindo meio sem graça pela força que o outro o observava.
— Ah, — Chanyeol pareceu acordar.— você me disse ontem que curtia biologia, certo? Está chegando as provas e o KyungSoo vai estar muito ocupada ajudando seu pai no trabalho dele, queria saber se poderia me ajudar a estudar. Se não for atrapalhar, claro.
Se não fosse atrapalhar? Chanyeol nunca atrapalharia nada na vida do menor. Isso poderia ser considerado quase que um crime, na verdade: se alguém pensasse nessa possibilidade poderia pegar uma prisão perpétua das boas. Sem falar no porte de drogas, que é a única forma de pensarem nisso.
Então Chanyeol estava encrencado, mesmo o Byun não se importando em prender Chanyeol para sempre. Na verdade, nem ele sendo preso atrapalhava.
E tudo bem que o motivo foi basicamente "não tenho opções, vai você mesmo" para Park tê-lo escolhido, mas isso era uma chance das boas do Baek conseguir conquistá-lo, nem que seja uma amizade de estudos. Ele só precisava do toque do JongDae para conseguir algo a mais, o único problema seria achar esse anjo maldito e sumido. Aish, até quando as coisa parecem se desenrolar, na verdade elas só formam mais rolos e rolos de problemas.
Baekhyun formulou a resposta em sua mente: algo educado, mas íntimo. Ele tinha que ser claro, demonstrar que estava bem com toda aquela situação e que, puff, quais seriam os motivos para o garoto estar nervoso, suando e talvez– bem talvez mesmo– tremendo um pouco? Não havia qualquer motivo de quase dois metros, musculoso, cabelos tingidos de castanho clarinho e um sorriso apaixonante.
— Eu vou ao banheiro. — Baekhyun disse rápido e saiu andando.
Droga, John! Como ele faria tudo aquilo sem o JongDae?
*Santa Ajuda!*
O intevalo era de apenas vinte minutos, e Baekhyun estava tendo um ataque de idiotice há cinco.
Trancado, na cabine do banheiro, o menino se martirizava por ter sido, realmente, bem claro e íntimo na sua resposta para Chanyeol. Nossa, se teve uma coisa que fez sentido, foi clara, direta e íntima, foi a resposta que deu sobre os estudos de biologia.
"Vou ao banheiro"
Era muito bom para ser verdade, nunca que o crush chegaria em um apagado da sala, e tudo daria certo.
— Bom dia. — Escutou alguém saindo de outra cabine e falando com outra pessoa que estava no lugar, mesmo o Byun não se recordando de ninguém ter entrado desde que se remoía.
Aquela pessoa, quem quer que fosse, acordou o Baekhyun para a vida, tinha que falar com seu crush, dar uma resposta melhor e, se tudo der certo, dar um beijão nele também.
Sua feição mudou, seu peito encheu, ele estava conviccto que daria certo... Até sair do banheiro e encontrar seu anjo com o uniforme da escola se olhando no espelho, o assustando como se fosse um monsto.
— Meu Deus, JongDae! — Colocou a mão no peito e se apoiou na estrutura que separava duas cabines.— Você não pode aparecer do nada!
— É, John, moleque.— Continuou cutucando a cara, sem nem se importar com o outro. — Meu John, não meu Deus.
O mais velho, enfim, se virou e o mesmo tinha um semblante meio confuso.
— Você escutou alguém falando bom dia?— JongDae mudou de assunto.
O menino assentiu.
— Então, essa pessoa deu bom dia para mim...— Fez uma careta confusa. — Mesmo eu só aparecendo para você.
Baekhyun arregalou os olhos com a notícia.
— Então você encontrou um anjo aqui? Tipo, é assim que funciona, né? — Chegou perto do mesmo.
— É, mesmo eu só aparecendo para você, os anjos ainda sim me enxergam, só falta saber o próprio espírito distinguir... — Deu de ombros.
O garoto ficou feliz pela história, mesmo não confiando muito no seu parceiro, seria bom ter anjos pela escola, e quem sabe o marido do JongDae estivesse por lá.
Será que tocar nesse assunto cairia bem naquela hora? Baekhyun prefirou não falar nada, tanto que as expressões do anjo ainda não era das melhores.
— Enfim, como foi seu dia? — JongDae perguntou.
Os dois saíram juntos do banheiro, Baekhyun falando da situação constrangedora que passara, o mais velho gargalhando de sua cara e enchendo seu saco. Claro que tudo aquilo já tinha irritado o Byun, mas pela primeira vez ele recebeu um tipo de energia do outro muito diferente de todas as outras: segurança.
E ele sentiu que, talvez, conseguiria Chanyeol com uma ajudinha do John.
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