Os últimos raios de sol do dia tocavam os campos da clareira, mas isso não preocupava a garota que estava ali. O céu possuía uma bela coloração, misturando os mais diversos tons de azul com o branco das nuvens e o laranja do sol. Corvos grasnaram, e ela os viu voando em direção ao horizonte. Ela passou os dedos longos em uma pena que havia caído em seu colo, desejando ter asas como os pássaros.
A menina de cabelos rosados suspirou, e olhou para o crepúsculo. Era tudo tão bonito ali naquele lugar. Ela parou o que estava fazendo, e, por um momento, sentiu que o mundo parou. Foi apenas por um instante, mas foi o suficiente. Ela não sentiu a presença do chakra inimigo se aproximando dela.
Sakura Haruno estava em uma missão solo, na Howling Wolf Mountain. O lugar era conhecido devido à grande quantidade e ervas medicinais que cresciam ali. Tsunade, a Godaime Hokage e também mestra de Sakura, havia pedido à menina que coletasse algumas dessas plantas para um antídoto em que elas estavam trabalhando.
Aquela não era sua primeira missão solo. Ela estava recebendo um treinamento rigoroso para entrar na ANBU de Konoha, encaixando o treino entre os turnos no hospital – que ela praticamente comandava agora. Sendo a discípula premiada da Hokage, Sakura era agora uma médica tão boa quanto sua shissou, se não melhor, além da força e da habilidade com genjutsu que havia adquirido ao longo dos anos.
Sakura era forte agora. Quando Sasuke deixou a vila para obter o poder de Orochimaru e Naruto passou um longo período treinando com Jiraiya, ela se sentiu abandonada. Ela era fraca, sabia disso, e agora sequer tinha seus amigos por perto. Sakura mudou de atitude, se transformando na ninja que realmente queria ser.
Durante a infância, Sakura pensou ter se apaixonado por Sasuke, mas anos mais tarde ela descobriria que era apenas uma paixãozinha de criança. Essa paixão a fez brigar com sua melhor amiga, Ino, e a transformou em uma garota que vivia em função da beleza. Não era esse tipo de kunoichi que ela queria ser. Ela queria ser forte. Queria proteger sua vila e seus amigos, queria ser útil. Ela não queria mais ser salva, queria não depender mais dos outros.
E com muito esforço e dedicação, ela conseguiu. Sakura treinou incessantemente com Tsunade para adquirir uma força igual a da mais velha, ela treinou até sentir cada músculo de seu corpo gritar. Treinou os complicados ninjutsus médicos com Tsunade e Shizune. E treinou também com Kurenai para tornar-se especialista em genjutsu. Com sua inteligência, controle perfeito de chakra, força sub-humana e habilidade com genjutsus, Sakura era uma ninja de verdade agora, e uma das mais poderosas.
A kunoichi havia passado o dia trabalhando em recolher todas as ervas que precisava e tratando-as conforme necessário. A montanha onde estava situava-se perto e uma vila que já tivera ninjas, mas hoje vivia em paz. Sakura, assim como Tsunade, conhecia a médica local. Após conversar com ela a kunoichi achou melhor ser discreta, mascarando seu chakra parcialmente e mantendo suas roupas regulares – uma saia azul simples e uma blusa vermelha com mangas curtas e amarelas, o círculo branco dos Haruno em suas costas. Com a exceção das kunai em sua coxa e de sua hittai-ate, ela passava despercebida como uma cidadã comum. Além de não querer atrair inimigos para a calma e remota vila, não queria confusão para si. Essa era uma missão simples, afinal. Ou, pelo menos, deveria ter sido.
Não muito longe dali, dois akatsukis viajavam calmamente. Estavam se dirigindo a uma das diversas bases secretas a organização. Um deles notou que crepúsculo já tingia o céu, deixando-o colorido.
O homem e cabelos negros parou para admirar o horizonte, e sentiu um chakra forte e conhecido alguns metro dali. Ele olhou para seu parceiro, e a única palavra que saiu de seus lábios foi suficiente para que o outro entendesse.
— Kisame.
O homem azul assentiu, e logo não estava mais ali. Itachi pulou para o galho de uma árvore, seguindo caminho para onde a menina estava. Escondido entre as árvores, ele observou a kunoichi cuja identidade ele havia acabado de confirmar.
Quando Itachi a encontrou, ele realmente a viu – ele a enxergou. Os últimos raios do dia incidiam sobre ela, deixando-a com uma aparência etérea. Seus cabelos rosados cintilavam com o laranja do céu, e um vento suave parecia querer brincar com seus fios curtos. Seu queixo estava inclinado para o sol, e este delineava suas feições com os raios tardios do crepúsculo. E seus olhos – grandes, verdes como duas esmeraldas, tinham mais valor do que qualquer pedra preciosa e eram mais belos do que os seus próprios jamais seriam. Pela maneira que estava vestida, ela facilmente se passaria por uma cidadã. Naquela luz, com o vento soprando seus cabelos e em sua pose graciosa, entretanto, ele pensou que ela facilmente seria confundida com um anjo.
Ele deu um passo em direção a ela, as sombras o escondendo parcialmente, e uma kunai voou em sua direção. Itachi parou a arma com apenas dois dedos, os olhos cravados nela.
Sakura olhou para aqueles olhos cor de carmim, tomoe girando dentro deles. Ela estudou seu rosto, e o modo que as sombras, combinadas com alguns generosos raios de sol, o iluminavam. Ela sequer pensou na semelhança entre ele e seu irmão Sasuke, pois naquele momento Itachi ofuscava todo o mundo a sua volta. A face do homem, incólume, parecia ter sido esculpida com graça, e, apesar e sua frieza, ela captou algo que não foi capaz de explicar em seus olhos vívidos. O único sinal de seus pecados eram as duas linhas marcadas em seu rosto, já que até a postura dele era calma e elegante. Ele parecia um anjo caído, nos olhos dela. Sakura se perguntou se ela não estaria enxergando melhor que o Sharingan dele naquele momento, mais do que ela jamais havia enxergado.
Por alguns segundos, o mundo pareceu parar. Eles apenas olharam um para o outro, com aceitação. Aceitaram suas forças, fraquezas e habilidades. Sakura sabia que não podia vencê-lo, e precisava se afastar dele. Com a adrenalina correndo forte em suas veias, ela percebeu que talvez não fosse viver o suficiente para ver o sol que se punha nascer no dia seguinte.
Sakura sacou mais duas kunais e atirou-as em Itachi. Ela correu até onde estavam suas coisas, pegando a pequena bolsa onde estavam guardadas as ervas que havia coletado e mais algumas outras pela alça. Pulou no galho de uma das árvores que a levaria para a floresta. O que quer que acontecesse, aquele local não podia ser manchado de sangue.
Itachi a seguiu pela floresta. Com alguns selos rápidos, ele liberou um de seus poderosos jutsus de fogo.
— Katon: Hōsenka no Jutsu.
Bolas de fogo voaram na direção de Sakura, que foi obrigada a parar para desviar de todas. Uma das bolas e fogo de Itachi acertou-a no braço, entretanto, e ela cerrou os punhos tentando ignorar a dor da queimadura. Ao conectar seus punhos com solo, sentiu o chão tremer. Itachi desviou das crateras sem dificuldade, e ela tentou acertar um chute no Uchiha mais velho. Quando ela pensou tê-lo atingido, seu corpo se transformou em diversos corvos que voaram em sua direção.
Sakura pulou para trás, evitando os corvos, e pelo canto do olho viu algo atingir com força a lateral de seu corpo, lançando-a contra uma árvore alguns metros dali. Ao bater na árvore de costas, ela grunhiu e caiu de joelhos no chão. Em sua frente, estava o temido Kisame Hoshigaki.
— Kisame, lembre-se que precisamos dela viva.
Os olhos dela se alargaram, a risada do homem azul ecoando em seus ouvidos. Ela sentiu seu coração bater ainda mais rápido do que antes, e engoliu em seco. Ela precisava escapar. Kisame alisava com uma das mãos a grande espada que segurava.
— É uma pena. A Samehada pareceu gostar do chakra dela.
Levantando-se abruptamente, Sakura agarrou a árvore atrás de si. Tirando-a do solo, a kunoichi balançou a árvore na direção de Kisame. O homem-tubarão desviou facilmente, mas foi atingido quando Sakura a arremessou.
Enraivecido, Kisame correu até a garota cujas mãos possuíam o brilho azul de chakra. Ele tentou acertar ela com sua espada, mas a kunoichi conseguiu desviar. O missing-nin era rápido, mas Sakura também era. Ela conseguiu acertar alguns chutes nele, e quando sua mão entrou em contato com o braço do homem, ele foi obrigado a trocar a espada de mão devido ao ninjutsu médico da garota, que deixaria seu braço dormente por algumas horas. Entretanto, ela estava quase sem chakra. Além de ter gasto uma boa quantidade durante a luta, Kisame sugara bastante com sua espada, ferindo-a no processo.
Kisame acertou a menina na cabeça, que caiu de bruços no chão. Ela podia ouvir seu coração martelar em seu ouvido, e sentiu um líquido quente e pegajoso sujar seus cabelos e a lateral de seu rosto. Sakura se esforçava para manter a consciência, apesar da escuridão que ia tomando conta das laterais de sua visão. De joelhos, ela tentou se levantar. O homem azul caminhava em sua direção.
— Kisame, pare. É suficiente.
A kunoichi olhou para o dono da voz aveludada. Ela não esperava que Itachi parasse a luta deles, e ficou ainda mais surpresa quando Kisame obedeceu o Uchiha. Itachi estava parado em sua frente, os olhos fixos no dela, e a última coisa que viu antes de desmaiar foram seus olhos escarlate.
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