— Tem certeza que está pronto para vê-lo Tae? — Tia Jess me olhou ansiosa.
— Sim, estou, mas como é que ele está? — Deixo meu casaco pendurado atrás da porta. — Alguma melhora?
— Ah, sim, ele passou a se lembrar de algumas coisas, Kelsey ligou para ele ontem à noite, ela vai passar o fim de semana com o pai — disse sorrindo e me abraçando rapidamente. — E você, como está querido?
— Bom, estou indo do jeito que dá — crispo os lábios, tornando-os uma linha fina.
Ela me encarou por uns instantes e sorriu outra vez, bagunçando meu cabelo.
— Leve isto para ele, sim?
Se virou para pegar algo, que descobri ser um copinho com pílulas e outro maior com água. Subi as escadas devagar, finalmente depois de todo esse tempo iríamos conversar em paz. Bati de leve e ouvi um "entre" fraco, abri a porta dando de cara com Jungkook de costas para mim enquanto encarava a janela.
— Jungkook — o chamei sentindo minhas mãos tremerem levemente e o coração acelerar.
Ele se virou sorrindo, como era bom ver aquele sorriso outra vez.
— Você! — Se aproximou e tomou de minhas mãos os remédios. — Obrigado.
— Como você está Jeon? — Fecho a porta atrás de mim.
Ele se sentou na cama e trouxe os joelhos para perto do peito, inclinando a cabeça para o lado levemente.
— Eu me lembro de você, Taehyung, não é? Somos primos, de consideração digo, você é adotado — bateu a mão ao seu lado para que eu me senta-se. — Sonhei com isso esta noite.
E com isso eu ganhei o meu dia, ele estava se lembrando.
— É... Sim, você está certo — me sento ao seu lado, pegando o seu caderno de desenho que estava ali próximo aberto no desenho da borboleta que estava recriando no outro dia. — Ficou lindo.
— Aquele dia... Você me perguntou por que eu estava desenhando isso de novo, eu já tinha desenhado isso antes? — Apontou para o desenho curioso. Bom, se eu tivesse perdido a memória também iria querer saber.
— É, você desenhou isso para mim, disse para que eu guardasse com segurança.
— E você guardou?
— Guardei.
Jungkook ficou me encarando por um tempo até que se lembrou de tomar os remédios.
— Um tal de Yoongi veio aqui mais cedo — murmurou voltando a se sentar.
— Sério?
— Sim, nós conversamos, ele é bem legal. E um tal de Jimin veio ontem, ele é muito animado, não é? — Passou as mãos pelo cabelo. — Não conseguia ficar sem se mexer um segundo sequer — e riu alto.
— Você quer sair um pouco? Quero te levar a um lugar — deixei seu caderno encima do criado-mudo.
— Bom, se a minha mãe deixar, ela anda bem grudenta nesses últimos dias — balançou os pés feito uma criança, tão fofo.
Depois de muita lábia e algumas expressões desconfiadas ela cedeu, o que me rendeu muitas recomendações e cuidados que deveria tomar. Humpf, como se alguma das vezes em que saímos juntos eu não cuidasse dele. Mandei uma mensagem para os meninos e saímos de casa.
Andamos por alguns quarteirões até chegar onde ele costumava se encontrar com os outros para pichar paredes. Quando chegamos todos já estavam lá, Hoseok e Yoongi disputavam uma partida de basquete enquanto Jimin gritava palavras de encorajamento para o namorado, causando uma careta em Hoseok, que achava que Jimin o estava o azarando. Jin e Namjoon conversavam sentados no sofá velho.
— Tae! — Ouvi Jimin gritar e toda a atenção foi voltada para nós. — E Jungkook?
— Oi — Jungkook falou assim que nos aproximamos deles.
— Como você está Jeon? — Jin se levantou para examina-lo de perto. — Sente algo? Alguma dor? Taehyung encheu o seu saco? Às vezes ele pode ser bem chato, sabe?
Fiz uma careta para o Jin.
— Ya! Não queime o meu filme! — O cutuquei levemente no peito.
— Eu estou bem — Jungkook riu achando graça nas palavras de Jin. — Eu me lembro de você, Seokjin, nos conhecemos quando nos esbarramos em um corredor da universidade e você quase me matou por ter derrubado seus papéis. Já você... — se virou para o Hoseok. — Não me lembro de você.
Percebi que o Hoseok se esforçou para não deixar o sorriso morrer ali mesmo, na cara dura. Jungkook olhou em volta, parando seu olhar no grafite que havia feito de mim.
— Se lembra daqui Jungkook? — Jimin perguntou.
— É... Me lembro de algumas coisas.
Seus olhos brilharam e ele se aproximou parecendo curioso, então levou a mão a cabeça e arfou, fechando os olhos com força.
— Jungkook? — Perguntei preocupado.
— Taehyung... — murmurou devagar, passando a mão pelo desenho. — Eu era malvado com você quando éramos menores. Você veio morar conosco pois seu pais iriam viajar... Mas então o seu pai faleceu e você voltou para casa, e nós brigamos, mas não me lembro o por quê.
Todos nós o olhávamos boquiabertos e confusos. Pisco devagar, tentando digerir o que havia acontecido.
— É, você está certo, sobre tudo — digo quando ele volta a me encarar.
— Isso doeu um pouco — ele riu esfregando a cabeça. — Mas então, o que vocês fazem para se divertir? Aqui está ficando tedioso — um bico se formou em seus lábios.
— Nós podemos ir no Coffe Club comer alguma coisa — Namjoon se manifestou quando percebeu que ninguém iria dizer nada.
— Me parece uma boa ideia — Jeon sorriu.
[...]
— Você se divertiu? — Perguntei enquanto voltávamos para a sua casa.
— Sim — ele chutou uma pedrinha que estava no caminho. — Eles são legais, não me espanta saber que éramos amigos.
— É, eles são legais, mas também são muito mais que isso, eles são a nossa segunda família — digo o olhando nos olhos. — Nós contamos tudo uns aos outros, tudo, nós confiamos uns nos outros de olhos fechados. Sempre.
Ele ficou calado por uns instantes encarando o chão e parecendo pensativo.
— Eu tento, sabe? — Diz baixinho, como se me confessasse um segredo. — Tento me lembrar, mas não consigo, me deixa um pouco chateado. Sonho com lembranças aleatórias todas as noites e isso me frustra às vezes.
Passo o braço por seu ombro, o abraçando.
— Eu sei que está sendo difícil para você, mas saiba que estamos aqui, principalmente eu. Pode contar comigo para tudo. Não se cobre tanto Jungkook, tudo tem a sua hora, até para se lembrar das coisas.
— Você tem razão — me apertou contra seu corpo por conta do frio. — Vou tentar não me cobrar muito.
— É assim que se fala — rio bagunçando seus cabelos. — Vamos andar mais rápido, antes que a tia Jess tenha um ataque do coração por você não estar em casa a essa hora, já escureceu faz tempo.
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