— Taehyung... Já faz um tempo, não?
— Sean — digo o encarando.
Ele caminhou despreocupado até a pia e mergulhou as mãos na água.
— Sabe Tae... — seu sorriso tornou-se ainda mais cínico. — Rumores andam sendo espalhados pela universidade, o Jungkook desapareceu, não foi? O que aconteceu? Ele cansou de olhar para sua cara?
Cerro os punhos com a respiração levemente alterada. Uma súbita raiva percorreu minhas veias.
— Aposto que ele deve ter fugido com uma vadia qualquer — e um riso leve escapou de seus lábios. — Mas quem o culpa? Ninguém iria querer passar a vida ao lado de um idiota que tentou se matar.
— Cale a boca — digo entredentes, impressionado com meu auto-controle. Eu estava a ponto de explodir.
Ainda com calma enxugou as mãos no papel toalha. Ergueu uma das sobrancelhas, adotando um ar irônico.
— Vou admitir que esperava mais de você Taehyung, você parecia ser alguém legal, mas depois daquela festa... Vi que você era só mais um deles.
Aquela foi a gota d'água, agarrei-o pela gola da camisa, prensando-o na parede fria.
— Não fale assim dos meus amigos — praticamente cuspo as palavras com raiva.
— E o que vai fazer Taehyung? Me bater? — Riu debochado. — Vamos lá, estou esperando, quero ver do que é capaz.
Meus olhos percorreram sua face por alguns segundos e eu o soltei, frustrado. Sua risada se fez presente no ambiente silencioso. Eu não iria bater nele, ia contra os meus princípios, e além do mais, ele era maior do que eu. Como iria explicar o olho roxo a minha mãe?
— Eu sabia, você é fraco — disse áspero e amargo. Foi em direção a porta. — Deve ser por isso que o Jungkook fugiu, quem iria querer viver com alguém a sua sombra?
A porta se fechou e eu deixei as lágrimas caírem, não queria chorar, mas foi inevitável.
{...}
Hobi: Taehyung?
Hobi: Onde você se meteu?
Hobi: Ficamos procurando você por horas!
Hobi: Você está visualizando, por que não responde?
Hobi: Porra Tae!
Hobi: Eu estou quase chegando aí! E é melhor você abrir a porta e não me deixar no frio!
Jogo o celular para longe voltando a encarar o teto branco e sem graça do meu quarto. Eu havia indo embora sem dizer nada a ninguém e ignorado as mensagens, não queria que me vissem com o rosto inchado de tanto chorar e ficassem preocupados. Eles não precisam de mais problemas para se preocuparem, suas vidas andavam cheias demais para terem que aturar meus problemas também.
Ouço a campainha tocar no andar debaixo. Estava sozinho em casa, minha mãe tinha saído com algumas amigas depois de eu a convencer de que precisava se divertir e que eu ficaria bem sozinho.
Levanto quando a porta é esmurrada com força e os gritos do J-Hope são ouvidos por quase toda a vizinhança.
— TAEHYUNG! ABRE LOGO ESSA MERDA! EU SEI QUE VOCÊ TÁ AÍ!
Abro a porta e balanço a cabeça, bagunçando os cabelos.
— Para quê tanta algazarra? Quase acordou toda a vizinhança, sabe que horas são?
J-Hope estava vermelho de raiva e esbaforido pelo esforço que tinha feito ao quase quebrar a minha porta.
— Você é um idiota — murmurou irritado e entrou na casa, deixando o casaco no cabideiro. — Por que não respondeu?
Fico calado e baixo o olhar, mordendo o lábio.
— Encontrei o Sean — digo soprado e enfio as mãos no bolso da calça.
— E o que aquele idiota disse para você? — Hoseok parecia ainda mais irritado. — Me fala, que eu vou acabar ele.
— Eu não... Deixe isso para lá.
Subo as escadas com o J-Hope em meus calcanhares resmungando. Me jogo na cama, voltando a me enfiar debaixo dos cobertores quentinhos, sentindo a pontinha do meu nariz esquentar por estar contendo algumas lágrimas. Ele se senta na cadeira da escrivaninha, defronte à mim.
— O que é isso? Onde aprendeu a desenhar? — Ergueu o desenho da borboleta.
— Foi o... — engulo em seco por instante, me recompondo. — Foi o Jungkook quem me deu da última vez que nos vimos, antes dele... Você sabe.
— Ah — analisou o desenho atento. E um sorrisinho se instalou em seus lábios. — Sabe, eu sempre gostei dos desenhos dele, todos eles tinham um significado, mesmo ele sendo o mais bobo possível. Sinto falta do Jeon.
— Eu também sinto falta dele.
— Está sendo difícil para todos nós, saiba que não está sozinho. Todos sentimos falta dele — diz e um bico fofo toma conta de seus lábios, voltando a encarar o desenho pois sabia que se continuasse a falar com certeza iria começar a chorar.
— Ele disse para eu guardar-lo. Qual deve ser o significado desse desenho? Faz uns quatro dias que estou encarando ele e não consigo pensar em nada — falo e fecho os olhos por um instante voltando nas cenas que se repetiam em minha mente nos últimos dias.
"— Guarde isso está bem? — Fechou minha mão envolta do papel agora meio amarrotado."
"— Tae... Aconteça o que acontecer — suspirou se afastando de minhas carícias —, saiba que eu te amo, muito, nunca duvide disso está bem?"
— No que está pensando?
— No Jeon, ele andava tão triste. Deveria ter interferido de algum jeito, eu sou um inútil.
J-Hope fez uma expressão sôfrega por eu estar me lamentando mais uma vez sobre a culpa ser minha, talvez parcialmente fosse. Afinal, tinha algo de errado acontecendo e eu simplesmente ignorei tudo, talvez se eu tivesse feito algo o Jeon não estaria desaparecido agora. Reviro os olhos para o sermão que iria receber do Hobi por estar pensando assim outra vez e fecho os olhos.
Volto a abri-los quando não ouço nenhuma palavra vinda dele e o flagro encarando o desenho com o cenho franzido.
— O que é isso Taehyung?
— Isso o que? — Me aproximo curioso.
— Olha.
Pôs o desenho contra a luz vinda do abajur e pude ver números quase transparentes. 67-98.
— Estranho... O que isso significa? — J-Hope olhou para mim a procura de respostas. Dei de ombros.
Procurei no fundo dos meus pensamentos algo relacionado ao Jungkook e números.
Arregalo os olhos com o coração batendo forte. Vasculho o celular até encontrar o que queria.
— 67-98 são os últimos números do número do celular do Jungkook. Como eu não pensei nisso antes? — Ligo o notebook digitando furiosamente.
— O que você está fazendo?
— Como eu não pensei em rastrear o celular dele? Sempre deixa a localização ligada, aquele idiota.
Ficamos em silêncio enquanto o monitor nos mostrava uma localização meio afastada da cidade. Anotei-a num papel que estava perto.
— Você acha que...?
— Não sei Hoseok, mas vamos descobrir isso agora.
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