Pouco mais de 230 km separam a cidade de Seattle e Portland, o que significa mais de duas horas dentro do carro.
Eu realmente não me importaria em ficar esse tempo tão próxima de Camila, se ela ainda fosse a minha Camz. É notável seu desconforto, bem como sua batalha interna, o que me rende pensamentos frenéticos e inúteis sobre como distraí-la, o que, naturalmente, é impossível.
Nunca entendi exatamente o que aconteceu, mesmo depois de minha própria esposa ter me contado “sua estória". Óbvio que eu sei a ordem dos fatos, mas a razão para Camila agir assim, isso eu nunca fui capaz de compreender. Ela não tinha como evitar, afinal, não passava de uma...
--- Lauren, eu quero que você fique no carro.
Hã?
--- Eu vou entrar com você. Eu disse que...
--- Você disse que viria comigo e você veio. Mas isso eu preciso fazer sozinha.
Conflito interno é o que se passa dentro de mim.
Eu sei que ela precisa de espaço, sei que será um momento duro, mas é exatamente por isso que eu quero estar ao seu lado.
--- Não acho que seja uma ideia muito boa, Camz...
E pela primeira vez em horas, Camila me permite encontrar seus olhos e tudo o que posso ver é dor, o que me causa uma agonia tão grande que sinto vontade de toma-la em meus braços e leva-la para bem longe daqui.
--- Por favor...
Sua voz tão fraquinha tem o poder de me fazer afundar no lugar.
O que eu não daria para tomar essa angústia toda para mim?
--- Tá... Eu vou fazer o que você quer...
Recebo somente um aceno e logo seu rosto volta-se para a janela, descansando a cabeça no vidro gelado.
Mais um pouco e estaciono frente a uma casa com muros enormes e um portão que permite enxergar um gramado verdinho e espaçoso, além de flores e árvores espalhadas. Um lugar bonito.
--- Tem certeza de que quer ir sozinha?
--- Humhum...
Desço e dou a volta para abrir sua porta e com um beijo em seu rosto posso sentir como sua pele está fria.
--- A gente pode voltar mais tarde, bebê. Ou outro, quem sabe...
--- Não - afirma--- Melhor fazer isso de uma vez.
Concordo e com um aperto familiar em meu peito observo minha menina caminhar a passos rápidos até a entrada guardada por um segurança de rosto cansado.
Sim, agora ela já não é a mulher da noite anterior. Essa Camila é a minha menina. Quanto aquela que sairá dessa casa... Bom, nessa parte eu espero estar enganada...
...................................................
Camila
Os corredores largos e bem iluminados me são tão familiares que eu poderia encontrar facilmente o caminho de olhos fechados. E, se não fosse algo que chamasse atenção, era exatamente o que eu faria. Isso talvez ajudasse a aliviar as pontadas dolorosas em meu peito a cada passo que dou e a cada detalhe que meus olhos reconhecem.
--- Camila! É bom te ver aqui- cumprimenta um enfermeiro que está aqui desde que me lembro--- Você não veio nos últimos meses. Ela sente sua falta.
Um forte tremor percorre meu corpo antes que eu possa conter, ou ao menos tentar, o que lhe chama a atenção.
--- Você está bem? Sua esposa não veio com você?
Anos e anos de “ convivência “ costumam dar às pessoas a falsa impressão de intimidade.
--- Onde ela está?
Entendendo que não desejava me prolongar apenas me indica a direção e buscando acabar de uma vez com toda essa aflição apresso ainda mais meus passos até estar no gramado que fica parte de trás da construção.
Mal piso na grama quando a vejo pouco adiante, sentada em companhia de uma enfermeira, bem mais jovem que as outras funcionárias, e que falava encarando seus olhos inexpressivos e distantes.
Engolindo o nó que se formara em minha garganta retomo meu caminho até que a mulher me vê, e deixando um último carinho no braço de sua paciente se levanta e sem dizer palavra nos deixa sozinhas.
Depois do que me pareceu um minuto inteiro, tomo seu lugar e estendo minha mão segurando a sua, e só assim, ela parece se dar conta de que alguém está ao seu lado.
Seu perfume tão familiar invade minhas narinas levando-me de volta no tempo, o que me faz trincar os dentes em busca de algum controle inspirando profundamente.
--- Oi mãe...
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.