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História Sentimental - Capítulo Único


Escrita por: yetnotyet

Notas do Autor


Demorei demais pra escrever isso, e no final, nem vai importar muito. (e fiz uma playlist pra ela, está nas notas finais :>)
Boa leitura.
- Lara.

Capítulo 1 - Capítulo Único


O trio elétrico japonês sempre ficava junto durante os intervalos. Três garotas, alunas de intercâmbio, vindas respectivamente de Kyoto, Osaka e Kobe, Momo, Sana e Mina eram normais, na medida do possível. A atenção por serem diferentes e estrangeiras era chata, mas aceitável. A adaptação, inevitável.

“Sei lá, é drama demais pra mim.” Momo balançou a cabeça, suspirando. “Vocês não acham?”

“O que você sabe sobre romance, Momorin? Por mim, eles podem se comer no banheiro e eu não ligaria.” Sana deu de ombros, tentando ser otimista.

“Do que vocês tão falando mesmo? Não lembro de como chegamos no assunto.” Mina remexeu em sua comida intocada. Nunca ia se acostumar com comida de refeitório, nunca.

“Você não lembra de nada, Minari. Por que anda tão distraída? Por acaso é por causa de uma certa… garota?” Momo provocou, movendo as sobrancelhas de maneira sugestiva.

“Estávamos só falando daquele caso entre o professor Park e o diretor Byun. Parece que eles foram pegos aos beijos no banheiro, coisa de louco.” Sana suspirou, imaginando como aquilo havia acontecido. “E Momo, deixa a Mina ser feliz com a crush dela, não é como se nós fôssemos cegas de não ver o jeito que você olha aquela garota de cabelo curto. Jeongyeon, né?”

Só a menção do nome já fez Momo diminuir em seu lugar, as orelhas esquentando e os ombros encolhendo de vergonha.

“Não é uma crush. Eu só queria saber o porquê dela ficar sozinha na hora do intervalo, ela e aquela caixinha de Nesquik de morango.” Mina respirou fundo, tentando disfarçar seu interesse pela garota.

“Já ouviu falar de goticismo? Então, ela é uma praticante.” Sana riu consigo mesma, mas o clima não mudou. “Minari, se quer mesmo saber o porquê da solidão emo gótica estilo Lana Del Rey dela, por quê não pergunta?”

Mina preferiu não comentar, apenas suspirando e continuando sua observação diária de Son Chaeyoung.

--

“Certo, classe, gostei muito dos desenhos de hoje. Lembrem-se, o programa para jovens artistas é limitado, então por favor encaminhem seus trabalhos o mais rápido possível se quiserem um espaço na Galeria Nacional. Estão dispensados.”

Son Chaeyoung guardou seus materiais de trabalho em sua mochila, suspirando pesadamente. Não conseguia ter muita inspiração para desenhar ultimamente, e isso lhe irritava muito.

“Chaeyoung, podemos conversar?” A professora de arte chamou a garota após ela ser a única aluna a restar dentro da sala.

Ela apenas assentiu, os passos lentos em direção à professora.

“Você costumava ter mais energia nas aulas de arte. O que aconteceu?”

Chaeyoung apenas deu de ombros, o olhar caindo para o chão. “Não sei, prof.”

“Suas ideias têm andado muito baixas, e isso me preocupa. Você era a minha maior expectativa para o projeto, é uma aluna brilhante. Sabe disso, não é?”

Ela assentiu novamente.

“Bom, então te aconselho a fazer o seguinte: saia um pouco da sua zona de conforto. Eu sei que as garotas podem ser difíceis, talvez até más, mas tente conversar com alguém. Eu tenho certeza que alguém vai gostar de você.”

“Tudo bem, prof. Obrigada.” Chaeyoung apenas ajustou a alça de sua mochila no ombro, forçando um meio sorriso para a professora.

Saiu andando, os lápis balançando dentro de sua mochila.

“Chaeyoung!” A professora tornou a chamá-la, e quando ela se virou, uma caixinha de leite de morango foi colocada em sua mão. “Esqueceu isso.”

Dessa vez o seu sorriso não precisou ser forçado.

--

Sempre que Mina chegava em casa, a primeira coisa que fazia era ligar seu notebook e procurar Son Chaeyoung no Twitter, a rede social na qual ela postava seus desenhos.

Não se importava se isso parecia ser obsessivo e perturbador, no fundo, bem no fundo, ela não dava a mínima. Gostava de apreciar a arte de Chaeyoung, mesmo que esta andasse escassa nos últimos dias.

Será que a garota andava sem inspiração? Mina não gostava de pensar que era isso, embora essa fosse a opção mais provável. Se preocupava mesmo que não a conhecesse e isso era estranho para ela. Será que gostava de Chaeyoung?

Não, isso era impossível. Como gostaria dela se nunca havia conversado com a garota?

Mas a possibilidade também aumentava em sua cabeça à medida em que ela vasculhava o Twitter dela. Seus comentários nos diversos desenhos variavam de dizer que era um de seus favoritos a falar de detalhes que apenas alguém que tivesse realmente observado o desenho veria.

“É, eu estou sendo obsessiva,” Mina sussurrou, mas não conseguia fechar a aba. “Droga.” Mordeu o lábio, comprimindo suas sobrancelhas e tentando entender o que diabos estava fazendo ali.

Seus pensamentos foram interrompidos pelo seu celular, que tocava incessantemente “Cheer up baby, cheer up baby…

“Minari!”

“Momorin! Por que tá me ligando?” Mina permitiu-se relaxar ao ouvir a voz de Momo.

“Eu tive uma ideia que vai ajudar nós duas.”

“Eu tenho é medo das suas ideias, sua louca psicopata.”

“Ai! Me ofende não, querida. Tá, a Chaeyoung é artista, né?”

“Uma das melhores.” Mina voltou o seu olhar para os desenhos em seu notebook.

“Então, isso me fez lembrar que a apresentação do projeto de dança é logo, logo. Então eu falei com a unnie que é coreógrafa e ela concordou em te deixar participar da minha apresentação.”

“Tá, mas não tô entendendo como isso vai me ajudar.” Mina deu um sorriso nervoso, torcendo para que Momo não houvesse secretamente tomado drogas pesadas.

“Então. Nós fazemos a apresentação… a Jeongyeon finalmente me nota porque eu ouvi falar que ela adora garotas que dançam… e você vira a nova musa da Chaeyoung ou sei lá o quê.”

“Nossa… você pensou em tudo não é mesmo.” Mina falou num tom sarcástico.

“Eu sei, eu sei, sou um gênio-”

“Você pensa que só uma apresentação vai fazer a Chaeyoung ter interesse em mim?!”

“Desculpa Minari. Mas… não quer tentar mesmo assim? Eu sei que ela vai estar lá, ela sempre está.”

Mina suspirou, pensando bem se queria ou não fazer aquilo. Mal não faria, não é mesmo?

“Tá. Eu danço na sua apresentação.”

“Ótimo! Te amo, sabe disso, né?”

“Sei, sei. Espero que a Jeongyeon te foda de preto e branco depois desse favor.”

“É tudo que eu mais quero nesse mundo. Até mais, Minari~” Momo desligou a ligação, seu tom feliz retinindo nas orelhas de Mina.

“Mereço, hein.” E a garota voltou a observar os desenhos.

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Minatozaki Sana gostava de pensar que estava livre de todo o drama romântico que cercava aquela escola a cada dia, mas como todo ser humano, ela era uma mentirosa. Mas estava tudo bem, porque só uma pessoa sabia de sua mentira, e essa pessoa era Tzuyu.

“Ninguém viu você?” A japonesa sussurrou, envolvendo a garota com braços finos e se perdendo em seus olhos.

“Não, Sana, ninguém.” Tzuyu deu um meio sorriso para ela, afastando as mechas de seu rosto angelical.

Sana pôde apenas sorrir de volta antes de beijar a garota, que fechava a porta da pequena cabine com a mão que não estava profundamente entrelaçada nos cabelos dela. Tzuyu tentou não gemer quando seu lábio inferior foi mordido e ela foi forçada a sentar no colo de Sana, como a boa menina que ela era.

“Como você é linda,” Sana murmurou contra a pele do pescoço da garota mais nova, preenchendo-a com beijos e pequenas sucções que eram o suficiente para deixá-la com o estômago dando voltas.

“S-seu romanticismo… me e-enoja…” Tzuyu falou num tom que era mais ar do que voz em si, puxando a garota de volta para a sua boca e dominando o beijo.

A porta do banheiro das meninas foi aberta e nele entraram Nayeon, Dahyun e Jihyo, as líderes de torcida fora do padrão.

“Ah, cara, a Jeongyeon não cala a boca sobre a Momo. Fica meia hora falando o quanto ela é linda e que quer chamá-la pra sair, mas nunca faz isso.” Dahyun rolou os olhos, arrumando os cabelos no espelho do banheiro.

“Mas não é a mesma coisa com você? Dahyun, você mesma disse que morria de medo de me chamar pra sair, mas olha onde estamos.” Nayeon sorriu, estendendo a mão com o anel de compromisso para o alto.

“Eu sei amor, mas foi você que disse que planejava deixar a sua paixão por mim crescer mais um pouco antes de se confessar.” A garota dos cabelos coloridos jogou um beijo para ela, que deu um sorriso ainda maior antes de jogar o beijo de volta.

“Nossa, vocês duas, por favor parem. Daqui a pouco minha glicose sobe mais um pouco e me mata.” Jihyo suspirou, balançando a cabeça. Odiava ficar de vela, mas era o que tinha pra hoje, não é mesmo?

Enquanto isso, no pequeno cubículo, Sana e Tzuyu tentavam silenciar suas respirações para não serem descobertas pelas líderes de torcida. A nova informação dizia a Sana que Momo finalmente desencalharia, o que era legal, e ela estava feliz pela amiga, mas definitivamente não estava pronta para enfrentar questionamentos sobre o seu envolvimento com uma garota mais nova, principalmente das líderes de torcida mais anormais do colégio.

“Gente, vocês ouviram isso?” Dahyun virou a cabeça, olhando para as cabines do banheiro.

Os corações das duas garotas extremamente quietas começaram a disparar quase no mesmo ritmo, com um som de ambulância tocando forte dentro da mente de Sana.

“É o som da inveeeeeeejaaaaaaa~” Deu a língua para Jihyo, que respondeu com um resmungo baixo e uma careta.

Tzuyu quase suspirou em alívio, mas a mão da japonesa foi mais rápida e a impediu de pronunciar qualquer som.

Dahyun, Nayeon e Jihyo saíram do banheiro, os passos firmes deixando claro para Sana e Tzuyu que a barra delas estava limpa, por enquanto.

Sana se permitiu respirar fundo, pegando a mão da garota e colocando-a em seu peito. “Tá ouvindo isso? É o som do medo, medo do caralho.”

Tzuyu apenas riu da garota, que não aguentou e riu junto.

Sana não havia mentido, ela era realmente linda. Acariciou o rosto de Tzuyu e selou seus lábios num beijo um pouco mais lento do que o usual, apenas parando para respirar. Seus olhares se cruzaram e elas trocaram um único pensamento.

Estamos bem, por enquanto.

Por enquanto.

--

O quarto ecoava o som de uma das bandas favoritas de Chaeyoung (The Strokes, é claro) enquanto ela girava o lápis entre os dedos, tentando pensar em como começaria. Mas sua cabeça simplesmente não conseguia reunir pensamentos criativos o suficiente para aplicar no papel, não importava o quão alto Reptilia tocava, não importava o quão necessário era.

Ficava pensando nas palavras de sua professora. Saia da sua zona de conforto. Mas só o pensamento de fazer isso já lhe deixava tremendo de medo. A ansiedade com a perspectiva de falar com alguém só aumentava, e quando percebeu, tinha partido o lápis no meio.

Suspirou, frustrada, e jogou os restos de o que era um lápis muito bom no lixo. Abriu seu pequeno frigobar e pegou uma caixinha de Nesquik, se apressando em praticamente esfaquear a caixa com o canudo e beber avidamente o leite de morango.

“Minha única esperança é a apresentação. Minha única esperança…” Murmurou para si mesma, pensando no dia da semana seguinte em que o Comitê de Artes Musicais se reunia com as garotas da dança para fazer uma coleção de apresentações.

Geralmente sua inspiração vinha de coisas estranhas. Uma vez, ela foi a uma lanchonete e por algum motivo, morder o X-Tudo de lá fez ela querer desenhar qualquer coisa. Quando foi realmente prestar atenção no rascunho em seu pequeno caderno, havia desenhado todos os ingredientes do sanduíche com pernas e braços, dançando.

Esse rascunho ganhou elogios da garçonete e logo, tornou-se o novo design da lanchonete.

Chaeyoung não gostava daquele sentimento de insegurança e terror, mas não via mais jeito de voltar a seu domínio. Tinha que arriscar, mesmo que isso a aterrorizasse profundamente.

A garota terminou seu leite de morango e começou a escrever em seu Twitter. 

@sonchaeng: pessoal, qual a melhor maneira de socializar com alguém? 

@squirtleyeri: @sonchaeng o melhor jeito é ter alguém que te force a fazer isso, tipo uma empresa que aplica escravidão… 

“Eu não tenho alguém que me force. Não.” Balançou a cabeça em negativo.

@notjessica: @sonchaeng é só você tentar socializar com pessoas loucas. Elas vão fazer todo o trabalho (Yuju pegou a indireta?)

“Pessoas loucas me deixam nervosa. Não, também não.” Suspirou, perdendo a esperança aos poucos.

@blackswan: @sonchaeng que tal você… encontrar alguém que talvez te entenda e deixar o resto acontecer?

“Hm… como assim?”

@sonchaeng: @blackswan o que você quer dizer?

Ela esperou a resposta ansiosamente.

@blackswan: @sonchaeng a gentileza é um começo para encontrar essa pessoa. Observe as pessoas ao seu redor. Quais delas se importam?

“Gentileza...? Tudo bem, quem quer que você seja, obrigada.”

Chaeyoung sorriu e fechou seu notebook, pensando no futuro.

--

Mina não esperava ter trocado mensagens com Chaeyoung nem em um milhão de anos. Mas simplesmente, algo em sua intuição te disse que essa era uma chance de uma em um milhão de abrir a cabeça de Son Chaeyoung e explorar lá dentro para ver o que encontraria. 

Apenas a perspectiva já deixava Mina na ponta dos pés, mesmo que isso não fosse uma rotina de balé. O nervosismo foi tanto que não conseguia dormir e quando foi fechar os olhos, já estava tão cedo que não havia mais espaço nem para tirar uma soneca. 

Foi para o colégio num estado meio zumbi, mas sua intuição ajudou-a de novo a não esquecer a caixinha de Nesquik que havia comprado no dia anterior.

“Percebeu, Momorin? Que a Mina tá estranha hoje?” Sana pensou na garota que fechava os olhos a cada minuto, realizando cada ação num estado de semiconsciência. 

“É, percebi. E a apresentação é no final de semana. Só praticamos um pouco, mas eu tenho medo de que ela não consiga até lá. Sei lá, a Mina parece tão pilhada.”

E Momo estava certa, Myoui Mina estava realmente pilhada.

A dita cuja finalmente sentou à mesa com as outras duas e deitou-se lá mesmo, utilizando os braços como apoio.

“Olha só quem tá destruída. Myoui Mina, senhoras e senhores.” Momo provocou a garota, como sempre, mas ao invés dela responder de volta como sempre fazia, apenas resmungou com os olhos fechados.

“Cala a boca Momo, pode ser algo sério.” Sana bateu no ombro da loira, que agarrou-o fazendo uma expressão de dor.

“Mina, o que houve?” Sana acariciou os cabelos da amiga, que apenas resmungou mais uma vez, levemente. “Eu não posso tentar ajudar se você não falar.”

“... Eu não dormi nada…” A garota murmurou.

“O quê? Por que?” 

“Olha, não importa. Só… façam um favor pra mim, tá bem?”

Mina fisgou do bolso de seu casaco a caixinha de Nesquik, e colada nela, uma nota.

Dica: eu me importo. -blackswan

“Deixa eu adivinhar, você quer que a gente entregue isso pra ela.”

“Entregar não, só esconder dentro da mochila dela.” Mina murmurou, os olhos ainda fechados.

“Isso é uma missão impossível, Minari.” Sana pegou a caixinha e sorriu com a mensagem. “Deixa eu adivinhar dessa vez, você quer permanecer anônima.”

“Por enquanto.” 

“Ela vai fazer a gente de capacho, é isso? Preferia estar morta, preferia o 7x1, preferia qualquer coisa. Não vou arriscar o meu lindo pescoço pela crush artística da Mina.”

“Vai sim se você quiser que eu dance na sua apresentação.” Mina sorriu.

“Isso é sério? Sana, ela pode fazer isso?”

“Não me envolve, Momo. Não tive papel de trouxa nisso não.”

A loira suspirou em frustração. “Tá bom, Bela, pode acrescentar o adjetivo Adormecida, a gente entrega pra ela.” Finalmente cedeu, agarrando a caixinha das mãos de Sana e puxando-a pelo braço enquanto se levantava. “A gente volta, se a gente não morrer na empreitada.” Momo rolou os olhos e lá foram as duas, em direção à sala de Chaeyoung.

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Son Chaeyoung ainda não tinha se decidido se iria ou não ao menos tentar se comunicar com algum ser humano dentro daquela instituição, mesmo que rondasse pelos corredores com seu caderno de desenho e lapiseira 0.6. Ainda estava se culpando por ter esquecido sua bebida favorita; realmente não estava em um bom estado de sanidade por conta da falta de inspiração.

Se sentia pequena naquele momento. Suas mãos suavam e seu caderno caía frequentemente por causa disso, o calor do verão a irritava profundamente. Decidiu ir ao refeitório para pegar alguma bebida qualquer já que o colégio não vendia o Nesquik que tanto amava.

O refeitório não estava cheio como na hora do almoço, já que a maioria dos alunos estavam em suas atividades extracurriculares ou estudando os conteúdos do dia. Apenas algumas pessoas estavam espalhadas pelas diversas mesas.

Chaeyoung pagou por um suco de uva e se sentou em uma das mesas, descansando o caderno e a lapiseira e tirando mechas de cabelo do rosto. Passou a observar o cenário, a suavidade e a clareza do ambiente que era tão diferente do clima tenso e concentrado da maioria das aulas.

Não era por nada que passava os olhos pelo refeitório, mas uma garota que dormia encostada em uma das mesas lhe chamou a atenção.

A desenhista podia ver apenas um de seus olhos por causa da posição da garota e os cabelos caídos em seu rosto, mas ainda era fácil perceber que ela era bonita. A cor castanha combinava com seu rosto. A boca rosada e o nariz simples porém fofo se destacavam em sua face pacífica. E quando Chaeyoung foi prestar atenção no que estava fazendo, já havia desenhado a garota, tão detalhadamente quanto sua habilidade permitia.

Alisou os dedos pelos traços do desenho, voltando a olhar para ela enquanto o fazia. Apenas vê-la fez sua inspiração voltar? Não tinha certeza, já que era só um desenho, mas era alguma coisa, diferente do quando ela não conseguia desenhar nada por mais insignificante que fosse.

Colocou sua assinatura no desenho e saiu correndo dali, sem se incomodar de terminar o suco de uva. Queria ir para sua sala, pegar suas coisas e ir pra casa o mais rápido possível. 

Quando conseguiu chegar, respirou fundo, os pulmões queimando por causa da corrida, e andou até a sua mochila.

“Ah não.” Estava aberta. “Que nada tenha sido roubado, que nada tenha…” Escancarou a mochila, mas aparentemente, estava tudo lá. Inclusive algo que ela não havia colocado lá ela mesma.

Pegou a caixinha de leite de morango, confusa. Tinha certeza de que não havia colocado uma lá. Será que havia se enganado? Mas, quando olhou a parte de trás, percebeu que não, porque havia uma nota presa à caixinha. 

Arrancou a nota para lê-la.

“Dica: eu me importo. -blackswan.” Falou em voz alta, parando para pensar em que lugar já havia escutado aquele nome. 

Twitter.

Guardou tudo com pressa na mochila e saiu correndo para casa.

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Mina não sabia mais em que mundo estava quando acordou no colégio, acompanhada das duas amigas que estavam apenas esperando que ela acordasse pra vida.

“Que horas são?” Foi a primeira coisa que perguntou enquanto esfregava os olhos. 

“Tarde. Todo mundo já foi embora, só esperamos você porque somos boas amigas.” Sana sorriu, e Momo concordou com a cabeça.

“Até pegamos sua mochila.” Momo gesticulou na direção da bolsa da garota em cima da mesa.

“Vamos embora então. E… e o que eu pedi, vocês fizeram?”

“O que pensa que nós somos?” Momo perguntou.

“O que pensa que eu sou, se não sou o que pensou…” Sana cantarolou, empolgada.

“Isso foi um sim?” Mina se levantou, meio tonta, mas conseguiu recobrar o equilíbrio.

“Sim, foi.” A loira suspirou, puxando Sana consigo. 

As três garotas foram embora, mas apenas Mina estava tão ansiosa para chegar em casa. Tão ansiosa que nem jogou a mochila na cama direito, apenas pulou na cadeira de seu computador e ligou-o tão rápido quanto podia.

A mesma rede social estava ali, aberta. A timeline estava descontrolada por causa do comeback de um boygroup qualquer, mas Mina só queria saber do porquê de suas notificações não estarem vazias como de costume.

Clicou no sino, esperando por spam ou alguém lhe marcando naquelas tags de Twitter, mas o que viu fez Mina cair de sua cadeira.

@sonchaeng: @blackswan quem é você?

“Droga. Droga, droga, droga. Eu estou ferrada.” Mina murmurou de joelhos enquanto tentava fazer suas mãos pararem de tremer. “Responder ou não responder?”

@moguri: @sonchaeng você vai descobrir logo logo, e por logo logo quero dizer no final de semana, na apresentação da escola.

“Momo! Caramba, nem pra avisar essa vadia serve. Vou te explanar também, cê vai ver…”

@sonchaeng: @moguri não me deixe curiosa. Não gosto de ficar curiosa.

“Chaeyoung… eu queria poder te contar, mas não posso. Talvez, daqui a alguns dias…”

Mina deixou-se cair ao chão, alcançando o celular em seu bolso e ligando para Sana. 

“Alô alô marciano… aqui quem fala é a Terra!” Sana, como sempre, atendeu o telefone de uma forma inusitada.

“Sana…”

“Oi, Minari~ tudo bem com você?” Só de ouvir a voz da garota, dava pra perceber que ela estava sorrindo.

 “Não, acho que não está tudo bem.” Mina se espalhou no chão, querendo soltar um longo suspiro. 

“Me diz o que aconte- ô linda, não derruba isso não!” A garota no chão ouviu um barulho de algo caindo, como se quase quebrasse mas não. 

“Sana… o que foi isso?” Perguntou mesmo que estivesse com medo da resposta.

“Ah, nada, não foi nada.” O tom de voz de Sana era um recheado de nervosismo.

“Sana… pode me contar. Não vou te julgar… muito.”

“Meu nome é Tzuyu e eu não sou nada!” Uma outra voz falou e Mina arregalou os olhos.

“Sana… por favor, me explica.” Mina pediu com a voz baixa, esfregando as têmporas. 

“Tá. Ela… a Tzuyu… ela é minha-”

“Quase namorada.” A garota interrompeu. “Ela ainda não teve a vergonha na cara de pedir.”

“Gente, tô chocada aqui em Paris.” Mina cobriu a boca com a mão livre, segurando a risada.

“Tá, agora você sabe do meu segredo. Mas por favor, não conta pra Momo, ela vai me ridicularizar.”

“Eu nunca faria isso. Ah, prazer te conhecer Tzuyu, eu sou a Mina.”

“O prazer é meu.”

“Eu só liguei pra te pedir pra bater na Momo por mim, ela fez uma daquelas trouxices dignas dela e quero muito pousar meu punho naquela cara.”

“Trouxices de Hirai Momo. Bato sim, aliás, a Tzuyu vai me ajudar.”

“Quando é porrada, é comigo mesmo.” Tzuyu afirmou, e Mina só imaginava a garota em pé com uma expressão de que ia distribuir umas lapadas.

“Ótimo. Então, tá resolvido. Até mais garotas.”

“Tchau Minari~” E Sana desligou o telefone.

Mina finalmente suspirou, mentalmente exausta, e fechou os olhos.

--

As apresentações de dança aconteceriam dali a uma hora e Chaeyoung não poderia estar mais nervosa. Tudo bem que não seria ela a subir ali naquele palco enorme e dançar até seus músculos implorarem por perdão, mas desde aquela resposta de uma garota de sua escola, ela temia aquele fatídico dia de hoje.

Tinha certeza de que não gostaria de estar na pele da misteriosa “blackswan”. Mas certamente, queria conhecê-la. Desde que ela havia lhe dado conselhos e sutilmente colocado uma caixinha de Nesquik em sua mochila, Chaeyoung estava louca para tentar iniciar uma conversa com ela mesmo que tivesse certeza de que seria estranha e muito vergonhosa considerando suas habilidades de socialização, ou melhor, a falta delas.

Além do mais, também havia outra coisa em sua mente. Aquela garota cuja face sonolenta havia lhe inspirado tão subitamente, que não saia da sua cabeça. Os olhos fechados, o nariz perfeitamente imperfeito com um sinal bonitinho, a boca rosada e carnuda… a desenhista não conseguia tirar aquela visão de sua cabeça.

Estava sentada na terceira fileira, o caderno de desenho e um fiel lápis em seu colo, apenas batucando os dedos nas coxas para tentar acalmar o persistente nervosismo que se instalara no fundo de seu estômago.

Enquanto isso, no outro lado do palco, estavam Mina e Momo. Sim, Momo havia tomado a surra; ela tinha que entrar na linha (palavras de Myoui Mina) e no resto do tempo que havia, elas ensaiaram, ensaiaram, e ensaiaram.

“Porra.” Foi apenas isso que Mina conseguiu murmurar enquanto esperava a vez delas chegar, suspirando constantemente.

“Minari… vai ficar tudo bem, nós vamos fazer um bom trabalho. A coreografia não é difícil e eu sei que nós praticamos bem. Vamos lá, respira fundo.” Momo tomou as mãos da garota nervosa enquanto ela tentava fazer os exercícios respiratórios e congelar aquele nervosismo constante que fazia as pontas de seus dedos tremerem.

“Tomara, Moguri, tomara.” Mina assentiu a cabeça quando os técnicos de palco deram a deixa para que elas entrassem no palco já arrumado e pronto para a apresentação.

A música começou a tocar. Era lenta, horripilante de certa forma, e Chaeyoung sentiu calafrios quando uma das garotas no topo do palco começou a dançar. Seus passos eram precisos, firmes e de certa forma, psicóticos, mas quando a segunda garota começou a dançar, Chaeyoung não conseguiu mais prestar atenção nela.

Lembrava da garota com clareza; era a menina dorminhoca do refeitório, mas sua personalidade abaixo das luzes de estúdio não parecia bater com aquela de antes, a pacífica, calma e até mesmo fofa. Não, agora ela esboçava no rosto um misto de amor com desespero, medo e atração, tudo ao mesmo tempo, e Chaeyoung conseguia apenas olhar. Sua boca não formava palavra alguma e nem suas mãos eram capazes de representar dentro de seu caderno todo aquele espetáculo que estava ocorrendo bem na frente de seus olhos.

Elas seguiam os passos uma da outra, como se fossem sombras reproduzindo ações.

Quando a performance acabou, Chaeyoung não tinha certeza de que sua alma ainda estava presente no corpo. Sua respiração estava tão descompassada que ela não sabia se não havia mesmo sido aquela a apresentar ali em cima.

As duas garotas agora estavam lado a lado no palco, e Chaeyoung só fazia observar aquela que havia desenhado, sua mão trabalhando involuntariamente e fazendo-o novamente, ilustrando o cenário onde ela brilhava bem abaixo das luzes profissionais de estúdio.

Por algum motivo, a garota loira ficava olhando para ela e depois apontando para a sua companheira de palco, que só fingia não existir. Seria a garota loira, “moguri”? E se era, então aquela que não saía de sua cabeça era “blackswan”? Não, não podia ser, podia? Era muita coincidência, não era?

As duas sumiram pelas cortinas antes que Chaeyoung pudesse discorrer mais. A desenhista levantou-se, fechando o caderno com o desenho e saiu andando, tentando compreender o que exatamente estava acontecendo.

Um toque em seu ombro lhe fez virar as costas, encontrando a garota loira, e atrás dela, a misteriosa dorminhoca do refeitório.

“Olá. Chaeyoung, não é?” A loira perguntou, o rosto sujo de tinta e um sorrisinho no rosto.

“Sim…” A desenhista assentiu com a cabeça.

“Meu nome é Momo. Eu falei com você no Twitter. Ela aqui atrás de mim é Mina.”

Chaeyoung não conseguia ver Mina muito bem pela diferença de altura entre ela e Momo, mas tinha quase certeza de que ela parecia estar muito envergonhada.

“Ah… você é “moguri? Então, ela…” O cérebro da baixinha entrou em pane por um curto período de tempo, processando os fatos que estavam em sua cabeça.

Não fazia ideia de que encontraria a garota nessas circunstâncias. Na verdade, parando para pensar, “blackswan” e Mina pareciam ser pessoas completamente diferentes. O mundo era mesmo pequeno, pelo menos naquele momento. 

“Isso mesmo. Acho que vocês deveriam conversar, não é? Então, vou ali ver se a crush gostou da minha apresentação, já volto.” E Momo acenou, indo embora e deixando as duas sozinhas.

“É, né. Estranho…” Mina coçou a nuca, tentando quebrar o gelo, mas ainda não conseguia olhar diretamente no rosto de Chaeyoung. Desejava que ela não estivesse desapontada ou algo do tipo.

“Como sabia que eu gosto de Nesquik?” Chaeyoung perguntou, escondendo o caderno atrás das costas. Provavelmente nunca mostraria aquilo para ninguém, principalmente para Mina.

“Eu via você tomando, todo dia. Quer dizer, não que eu estivesse te observando, nem nada, eu só… ah, droga.” Ela parecia frustrada com sua inabilidade de se explicar, e por algum motivo isso fez a garota baixa rir. “Que foi?”

“Nada. Você é fofa.” As palavras saíram da boca de Chaeyoung antes que ela pudesse processar o que exatamente havia dito.

O rosto de Mina avermelhou-se e ela olhou para baixo, não conseguindo dizer nada em resposta.

“A apresentação. Você gostou?”

“Claro, foi incrível. A temática, a interpretação… você é uma boa dançarina.”

Mina sorriu com os elogios. “Obrigada. Só por causa da Momo. Tudo pelos amigos, não é mesmo?”

“Acho que sim. Embora eu não tenha muitos pra ter certeza.” Chaeyoung deu de ombros

“Não tem problema ter poucos amigos. Você aprende a valorizá-los mais.”

“Mesmo que eles sejam da internet?” Chaeyoung perguntou, hesitando um pouco.

“Mesmo que eles sejam da internet.” Mina sorriu, reprimindo a vontade de apertar aquelas bochechas da garota em sua frente.

“Eu devia ir, eu acho… pra casa.” A garota baixinha balançou a cabeça, incerta.

“Espera. Que tal você, me dar seu telefone? Eu posso te ligar, ou mandar mensagem…” 

“Ah... claro, claro! Desculpa, sou meio lenta pra essas coisas.”

“Não tem problema.”

Mina sacou o celular do bolso o mais rápido que conseguiu, o entregando à garota para que ela colocasse seu número. Só conseguia sorrir com a visão de Chaeyoung, atentamente anotando o número de forma lenta, os dedos deslizando pela tela do seu celular.

“Acho que é isso.” Chaeyoung devolveu o celular à Mina, o contato já salvo na memória como “Son Chaeyoung”.

“Espera! Vamos tirar uma foto. Pra colocar no contato.”

A mais alta abriu a câmera rápida do celular, estendendo o aparelho e sorrindo. A desenhista foi rápida a sorrir também. Mesmo que não estivesse acostumada a tirar fotos e gostar delas, tinha a sensação de que essa seria uma foto boa a recordar.

Mais tarde, Mina mudaria o contato para “Chaeyoung <3”, sem nem mentir para si mesma que era só uma forma de afeição amigável, mas sim, uma afirmação dentro de si mesma de que estava gostando da desenhista tanto quanto se permitia admitir.

A baixinha acenou para Mina timidamente antes de ir embora pulando, ação que ela achou completamente fofa. Suspirou, sorrindo e balançando a cabeça, sentindo como se pudesse flutuar.

--

O coração de Hirai Momo batia fortemente em seu peito enquanto ela andava pela audiência, procurando uma certa garota de cabelos curtos. Quando finalmente a encontrou, seus batimentos só fizeram acelerar ainda mais. Jeongyeon estava sorrindo enquanto conversava com uma de suas amigas, e Momo teve a impressão de que não estava respirando por um breve momento.

Se aproximou lentamente, escondendo as mãos que tremiam atrás das costas. Sim, ela parecia louca, com tinta espalhada na cara e os cabelos loiros amarrados de forma bagunçada, mas isso não pareceu importar quando Jeongyeon finalmente a percebeu e virou o corpo em sua direção. Seu sorriso pareceu tremer por um instante (nervosismo?), mas ela se recompôs rápido o suficiente para que Momo não percebesse.

“Oi.” A loira levantou uma das mãos apenas para levemente acenar para ela, escondendo-a de novo rapidamente ao perceber que ainda tremia.

“Momo! Cara, sua apresentação. Foi incrível, parabéns mesmo.”

Momo não tentou parar o sorriso que surgiu em seu rosto.

“Verdade. Você tem muito talento, Momo. Jeongyeon vive falando sobre isso, ela sempre encontra um jeito de te encaixar na conversa.” Nayeon expôs a garota de cabelos curtos, sorrindo mesmo que soubesse que levaria uma surra, provavelmente.

“Aaah… obrigada, heh.” Momo sorriu de novo, boba, pensando em quão boas soavam essas palavras e quão melhores seriam se saíssem diretamente da boca de Jeongyeon.

“Jeongyeon, vou esperar que você faça o certo dessa vez. Daqui a pouco você me conta o que aconteceu.” Nayeon deu uma piscadela discreta para a garota, que apenas rolou os olhos antes de voltar a parecer tímida, longe de sua personalidade normal.

Momo ficou curiosa sobre o que Nayeon estava falando, uma expressão de leve confusão aparecendo em seu rosto. Jeongyeon pareceu notar.

“É… não liga pra ela, tem probleminhas.” A garota de cabelos curtos apenas balançou a cabeça. “Enfim, Momo.”

“Hmm?”

“Eu queria saber se você… se você quer, sei lá, sair comigo algum dia desses. Pra qualquer lugar que você quiser, eu pago.” Ela sorriu timidamente, os olhos desviando para o chão e evitando o olhar da loira.

“Eu quero! Quer dizer… eu quero, quero sim.” Os olhos de Momo não negavam a doçura que queria passar.

Jeongyeon se aproximou mais da garota, tomando suas mãos de trás das costas e as segurando, um largo sorriso ainda em seu rosto. Momo podia sentir o coração disparando enquanto ela entrelaçava suas mãos antes de soltá-las, ainda sorrindo.

“Eu… te mando mensagem com os detalhes, ok?” A garota de cabelos curtos afirmou, indo embora. Momo acenou para ela antes de respirar fundo, tentando acalmar seu coração que batia forte dentro de seu peito.

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Myoui Mina não era muito de perder a noção do tempo pensando em alguma coisa, ou alguém. Mas aparentemente, sempre aparece uma exceção, mais cedo ou mais tarde, para mudar a percepção do nunca ou raramente.

E quem mais para ser a exceção à regra do que Son Chaeyoung? Não é como se Mina houvesse parado de pensar na desenhista em algum momento. O sentimento só foi se intensificando, ao invés de abrandar.

Estava novamente deitada no chão, seu passatempo preferido quando precisava pensar. Lembrava do gato de Momo quando fazia isso, o doce felino branco chamado Jokbal deitado no chão, a barriga pra cima. Momo sempre dizia que esse era seu feng shui secreto, e Mina concordava com o gato. Era estranhamente relaxante.

A luz de seu celular brilhou em seu rosto quando ela o desbloqueou e abriu a página de contatos do telefone. Não conseguia parar de pensar em Chaeyoung, por mais que tentasse. Por alguns segundos, seu dedo tremia sobre o botão verde, sempre hesitando em realmente clicá-lo, o medo dominando seus pensamentos. 

“Se controle, Myoui Mina. Tenha um pouco de paciência.”

Ela levantou-se do chão, cansada de discutir internamente suas dúvidas de vida.

“Ai, caralho!” Gritou, sendo surpreendida pelo seu celular, que começou a tocar “Cheer up baby, cheer up baby…”

Olhou para o visor e quase derrubou o celular.

Era Chaeyoung.

A discussão interna voltou, dessa vez sendo se ela atenderia o telefone ou não. Respirou fundo, apertou o botão e colocou o aparelho à orelha.

“Alô?”

“Mina? É a Chae…”

“Ah, oi Chaeyoung. Tudo bem?” A garota não conseguiu conter o sorriso em seu rosto ao ouvir a voz de Chaeyoung. Ela possuía uma certa calma na voz que era impossível não amar.

“Tudo. Ah, você disse que ia ligar, mas… sei lá, eu só queria seguir o conselho da minha professora.”

“Conselho?”

“É. Ela disse para eu tentar sair da minha zona de conforto. A primeira coisa que me veio à cabeça foram ligações de telefone, o que eu absolutamente odeio. Mas, não parece tão ruim agora.”

“Não parece tão ruim?” Mina gargalhou, jogando-se em sua cama.

“Não foi isso que eu quis dizer! Eu só… me sinto mais confortável do que imaginei.”

“Tudo bem, eu estava só brincando. Então você se sente confortável conversando comigo? Isso me deixa feliz.” Mina sorriu, esperando uma resposta da garota do outro lado da linha. Mas Chaeyoung estava muito ocupada tentando voltar a cor das suas bochechas extremamente avermelhadas ao normal. “Chaeyoung?”

“O-oi! Desculpa, eu estava… estava desenhando! Isso. Desenhando.” A garota se reafirmou, e Mina balançou a cabeça, ainda sorrindo.

“Desenhando o quê, exatamente? Se não se incomoda de eu perguntar.”

“Não, é claro que não. Bem, é uma nova ideia que eu tive ontem… são flores dentro de uma caixa de mudança. Vai fazer mais sentido quando você ver… você quer ver, né?”

“Claro que quero! Você já terminou?”

“Estou terminando agora. Na verdade, você meio que me ajudou a terminar.”

“Ajudei?”

“Ahã. Eu estava indecisa sobre as cores, mas ouvir sua voz me ajudou a decidir em três cores.”

“E quais são?” Mina sorriu. Até então, Chaeyoung parecia estar sem inspiração, mas aparentemente o jogo havia mudado.

Talvez, seria por causa dela? 

“Primeiro, por causa do Nesquik, rosa.” A garota fez uma pausa e se Mina focasse no som, poderia ouvir um gentil arrastar de pincel. “Segundo, por causa da sua apresentação, cinza escuro. Eu colocaria preto, mas acho que cinza combina mais.” E novamente, Chaeyoung pintava.

“Qual é a terceira?” Mina adiantou, curiosa.

“A terceira… vermelho. Como meu coração batendo agora, num ritmo que eu honestamente não consigo compreender.”

Mina soltou o suspiro que estava segurando longe do telefone, depois voltou a ouvir a respiração inquieta de Chaeyoung, alheia a tudo que saía da ligação.

“Mina?”

“S-sim? Ah, desculpa, eu fiquei quieta por tempo demais né… bom, acho melhor eu ir. Tenho umas coisas pra fazer e minha mãe me chamou pra jantar. Tchau, Chae. Até mais.”

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Após ouvir o bipe de uma ligação desligada, Chaeyoung pôs de lado o inútil celular, colocando a mão nos cabelos e suspirando. Não conseguia entender o que fora aquilo, nem o porquê de Mina ter agido daquele jeito.

Terminou o desenho mesmo assim, pensando que, talvez Mina gostasse dele se Chaeyoung o desse a ela. Talvez ela se animasse, deixasse de lado o que quer que estivesse a puxando para baixo.

“Será que eu disse algo errado? Não… quer dizer, eu fui sincera, certo? Mas e se ela não gostou da minha sinceridade? Droga…”

Descansou a cabeça na mesa, se sentindo uma derrotada. O pior de tudo é que sentia que estava caindo num buraco sem fim chamado crush, e não havia nada que podia fazer.

Seu aparelho em cima da mesa vibrou, tirando-lhe dos devaneios de sua cabeça. Desbloqueou o celular, vendo uma notificação de sua rede social preferida.

Mina havia postado a foto que elas tiraram juntas. Seus cabelos castanhos caíam por cima dos ombros, o braço esticado para tirar a foto. Um pequeno sorriso estava espalhado por sua boca fechada. 

Chaeyoung possuía os braços esticados para baixo, um sorriso que imitava o de Mina, mesmo sendo bem mais envergonhado em natureza por não estar acostumada a tirar fotos com outras pessoas.

Ela estava marcada na foto, e várias pessoas já haviam curtido o tweet e respondido, envergonhando a pequena desenhista ainda mais. Não imaginava que Mina fosse postar a foto, embora encarasse aquilo de modo positivo, como se ela estivesse afirmando uma nova amizade. 

Sorriu, e se juntou às pessoas que haviam curtido a foto, se limitando a clicar o botão e salvar a foto em seu computador. Em seguida, tirou uma caixinha de Nesquik de seu frigobar, deixando o sabor doce e gelado acalmar seus nervos.

Checou as horas. Acabara de dar oito horas, e uma brisa violenta começou a entrar pela janela de seu quarto. Correu para fechá-la, mas não sem antes deixar o vento atingir seu rosto, esfriando suas bochechas quentes. Apanhou dentro de seu armário a pasta preta, um pouco gasta pelo tempo, e cheia de desenhos. 

Folheou até uma das últimas páginas, o lugar onde se encontrava o seu desenho de Mina, dormindo na mesa do refeitório. Seus dedos fizeram o mesmo caminho de dias atrás, deslizando pelo retrato sonolento dela, fazendo-a reviver a cena em sua mente.

Lembrava-a do sonho. Aquele em que a visão dos olhos fechados de Mina não estava tão longe assim. Na verdade, estava bem em sua frente, tão real quanto sua própria vida. Chaeyoung estava sentada bem em sua frente ao invés de algumas mesas atrás, sua mão não hesitando em deslizar pelos cabelos dela mesmo que na vida real ela não considerasse a ação. 

Seu subconsciente se assustou quando as suas pálpebras abriram lentamente, mas o sonho continuou. Os olhos dela se comprimiram numa tentativa de desfazer a sonolência, um baixo grunhido escapando de seus lábios.

A Chaeyoung do sonho soltou uma pequena risada, sorrindo. Traçou as sobrancelhas de Mina, ganhando outro grunhido e uma mão em seu pulso, que puxou seu braço de modo a usá-lo como travesseiro. A garota se aconchegou, fechando os olhos novamente, os cantos de sua boca subindo discretamente, mas Chaeyoung ainda notou.

Balançou a cabeça para fazer aquela memória desaparecer. Geralmente diziam que os sonhos eram facilmente esquecidos, mas ela possuía a impressão de que este seria uma exceção, porque não importava o quanto tentasse tirá-lo de sua cabeça, ele não ia embora.

A desenhista também ainda não entendia o que significava, se é que significava alguma coisa. A única coisa que sabia de fato era que não iria sobreviver se guardasse tudo aquilo que estava sentindo dentro de si.

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Tzuyu, apesar de ser nova e estranha à escola coreana, felizmente havia se adaptado bem. Talvez fosse por causa de sua beleza, mas ela não se importava, os coreanos haviam a acolhido como uma deles, e isso lhe fazia feliz. Coincidentemente, não era um coreano que realmente a fizera se sentir em casa, e sim, uma japonesa em especial.

Lembrava vividamente do momento em que havia conhecido Sana. Acabara de chegar na escola, sem saber muito bem o que tinha que fazer, tentando achar a secretaria para se localizar naquele prédio gigantesco e realmente assustador para uma garota nova que falava muito pouco coreano.

Esbarrou nela acidentalmente, metralhando desculpas e imediatamente ficando encantada pelo sorriso da garota, que não se importava nem um pouco de ser esbarrada.

“Desculpa, desculpa, desculpa, desculpa…” Ela implorou, recolhendo seus pertences que haviam sido espalhados no chão pela colisão.

“Tudo bem, tudo bem!” A garota riu enquanto ajudava, e não demorou muito para Tzuyu perceber que ela também era estrangeira. “Você está bem?”

“Ah, estou… desculpa de novo.”

“Como eu disse, tudo bem. Não precisa se desculpar. Você quer ajuda? É nova aqui?”

“Ah… sim. Não precisa me ajudar, tudo bem-”

“Mas eu quero. Não vou deixar uma garota bonita como você vagar por aí sozinha, vai que você esbarra em alguém que não sou eu? Seria terrível. Vamos, dá a mão. Eu te ajudo.”

Apesar de não conhecer a estranha, Tzuyu não conseguiu evitar de ficar cativada pelo seu sorriso e sua caridade natural. Pegou sua mão sem medo e deixou que ela a guiasse pela escola. 

Desde então, ficavam nessa estranha relação de toque físico, escapadas românticas, mas nenhuma real discussão de relacionamento. Tzuyu queria sim, um relacionamento público. Uma maneira de gritar para todos que aquela japonesa boba e sorridente era só sua, mas infelizmente, por enquanto teria que aguentar todas as cantadas em cima de sua quase namorada, quando ela estava bem ao seu lado.

Felizmente, seu aniversário estava chegando, e Tzuyu tinha um plano para deixar bem claro para Minatozaki Sana que não estava de brincadeira quando se tratava de seu pseudo-relacionamento. 

Havia alugado um espaço não tão longe dali para montar sua festa. Em seguida, criou um evento no Facebook, chamado simplesmente Niver (era bem óbvio do que se tratava) e começou a convidar todos que conhecia naquela escola.

A garota era bem popular, então bastou alguns minutos para que mais de vinte pessoas já estivessem confirmadas, contando de mais ou menos setenta pessoas. Ela sorriu, finalmente sentindo que seu plano daria certo.

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O trio estava reunido no refeitório como de costume.

“E aí gente, vocês vão na festa da Tzuyu? Ouvi dizer que vai ter bebida.” Sana perguntou como quem não queria nada.

“Provavelmente. É no mesmo dia que o meu encontro com a Jeongyeon, então depois disso vamos direto para lá. Vai ser divertido~” Momo batucou os dedos na mesa, um sorriso ansioso em seu rosto. “Mina, você poderia ir com a Chaeyoung. Seria uma boa oportunidade de se aproximar dela.”

“O quê? Num ambiente cheio de adolescentes bêbados? Nossa, soa fantástico.” A garota exclamou sarcasticamente, balançando a cabeça.

“É sério, Mina! Ela não te falou que quer sair da zona de sei lá o quê? É uma ótima forma de sair!” Sana se juntou à Momo, tentando convencer a garota.

“Zona de conforto. E eu não sei sobre isso… soa um pouco complicado demais.” Mina estava realmente com medo do que aconteceria nessa festa. Um local sem pais, cheio de adolescentes com garrafas de vodka e soju. Soava bem assustador. “Além do mais, você não tem o direito de falar isso, considerando a sua situação.” Mina sorriu, erguendo uma sobrancelha, causando Sana a fechar a boca tão rápido quanto havia aberto.

“Do que vocês tão falando?” A loira perguntou, curiosa por não estar por dentro do papo das duas garotas.

“Ah, você vai saber logo, Momo. Não se preocupe.” Mina gargalhou, imitando um vilão de desenho, enquanto Momo possuía um ponto de interrogação estampado em suas feições.

Sana apenas conseguia fazer caretas por não ter lembrado que a bailarina sabia do seu segredo. Aliás, não conseguia parar de pensar nisso.

Desde de que Sana se conhecia por gente, era a pessoa que mais gostava de ajudar o próximo sempre que possível. Isso incluía todos os grupos de idades: crianças e seus deveres de casa, velhinhas querendo atravessar a rua, garotos que não sabiam se confessar para a garota de quem gostavam. Sana sempre foi desse jeito, desde pequena.

Seu jeito não havia mudado quando conheceu Tzuyu, mas ela não podia negar que existia algo diferente nela, algo que fazia Sana querer protegê-la de todo o mal do universo, algo que a fazia segurá-la e nunca mais soltá-la, nem por um mísero segundo.

Esses sentimentos assustavam Sana, que antes de conhecer Tzuyu, se considerava alguém que não praticava o ato de se relacionar por muito tempo com apenas uma pessoa.

Nem lembrava de quanto tempo já estavam juntas. Três meses? Quatro? Só sabia que naquele momento, estava com saudades.

Quando o intervalo acabou e as aulas voltaram, a primeira coisa que fez foi pedir licença ao professor Park. Saiu pelos corredores a passos rápidos, determinada a ver a garota de quem tanto gostava.

Bateu na porta de sua sala, e a professora Kim Seolhyun abriu-a, seus óculos deslizando de seu nariz.

“Senhorita Sana! O que faz aqui em horário de aula?”

“Oi, prof, tudo bem? Como vai a senhorita Hyejeong?”

“Vai bem, obrigada. Mas, o que deseja?”

“É… o diretor tá chamando a Tzuyu na sala dele. Posso levá-la?”

“Sana…” A professora levantou as sobrancelhas, duvidando da veracidade daquele pedido, mas cedeu mesmo assim. “Chou Tzuyu, por favor, venha.” Chamou a garota, que se levantou confusa, derrubando a lapiseira na mesa.

“O que é?” Ela perguntou, olhando para a professora no pé da porta. Quando percebeu Sana ali, não impediu que um sorriso se espalhasse por seu rosto.

“Aparentemente, o diretor está te chamando na sala dele.” Só faltava as aspas de dedo para que a professora soasse mais sarcástica.

“Ah, tudo bem…” E as duas saíram pelo corredor, mas não sem antes receberem um olhar de “estou observando vocês” da professora Kim. 

Sana tomou a mão da garota na sua, acelerando o passo, se sentindo muito feliz.

“O que o diretor quer comigo?” Tzuyu perguntou, ainda confusa.

“Nada.” A japonesa riu baixo, praticamente puxando a garota pelas escadas que davam no segundo andar.

“Sana! Me tirou da aula só pra satisfação própria?” Mesmo que estivesse dando uma bronca nela, a garota não impedia de sentir seu coração batendo mais rápido.

“Shh.” E Sana arrastou-a para dentro do banheiro privado do segundo andar, sendo cautelosa considerando a última vez em que elas se encontraram num banheiro.

Tzuyu riu quando ela a puxou para seu colo, a mão automaticamente alcançando seu rosto e acariciando-o. Não negava adorar esses momentos em que não havia mais ninguém além delas, juntas. Momentos em que ela poderia se perder nos olhos de Sana tão facilmente quanto poderia se perder num labirinto.

Iniciaram um beijo lento, a boca da japonesa encaixando perfeitamente na sua, mão deslizando em sua nuca e lhe dando arrepios. Havia algo na maneira em que Sana a beijava que parecia ser diferente. Como se ela não quisesse desgrudar dela por um segundo sequer. Tzuyu adorava isso.

“Eu devia ter te falado antes.” Sana sussurrou, encostando sua testa contra a da garota.

“O quê, Sana?” Ela perguntou, curiosa pela fala repentina de Sana.

“Eu… eu te amo.” A garota encarou profundamente seus olhos, demonstrando a verdade que seu coração estava sentindo, e percebeu que Tzuyu sentia o mesmo quando ela sorriu, os olhos brilhando e a mão deslizando para segurar seu queixo e manter seu olhar nela.

“Você não sabe o quanto eu esperei pra ouvir isso.” Ela entrelaçou suas mãos juntas e a beijou de novo, uma, duas, três vezes, sorrindo contra seus lábios.

“Na verdade eu sei. Só fui covarde, Tzuyu. Desculpe por isso.” Sana abaixou a cabeça, envergonhada.

“Ei! Olha pra mim. Você não foi covarde. Tá tudo bem, Sana.” A garota sorriu, sentindo vontade de apertar as bochechas dela.

“Tudo bem. Acho que eu deveria te levar de volta.” E Sana levantou-se depois de Tzuyu, entrelaçando sua mão com a dela, guiando-a pelo caminho como havia feito a meses atrás, porém agora com muito mais certeza de seus sentimentos.

--

Depois de um certo período de tempo, Mina começou a considerar convidar Chaeyoung para a festa de Tzuyu. Não sabia o porquê desse pressentimento, mas sentia que coisas aconteceriam nessa festa, coisas sobre o qual ela não possuía controle. 

Mesmo assim, também sentia que era pra ser desse jeito, e se não convidasse Chaeyoung, talvez tudo desse errado.

Apanhou seu celular, indo direto ao contato da garota e ligando para ela, sentindo saudade da sua voz. Elas ainda não haviam conversado muito, mas Mina sentia que poderia conversar com ela sobre qualquer coisa.

“Alô?”

“Oi, Chae.”

“Mina? Ah, oi. Tudo bem?”

“Tudo, claro. Bem, eu tava pensando…”

“Sim?”

“Se você queria ir pra festa da Tzuyu comigo. Um monte de gente vai, você não vai ficar necessariamente sozinha. Se sentir-se sozinha, eu fico perto de você, sabe.”

Ela não sabia por que o pensamento de ficar perto de Chaeyoung fazia suas orelhas aquecerem. 

“Soa muito legal, mas… eu não sei. Não lido muito bem com multidões…”

“Claro. Entendo. Bom, era só isso. Boa noite, Chae-”

“Espera. Você disse que vai ficar perto de mim. Se prometer isso, eu posso considerar ir com você.”

Mina riu com o jeito que Chaeyoung procurara convencê-la. Pra uma garota que não falava com muitas pessoas, ela sabia mesmo entrar em sua cabeça.

“Considerar, é? Tudo bem, Chaeyoung. Eu prometo. Mas você também não pode sumir de vista, principalmente com a sua altura.”

“Haha, muito engraçada. Tudo bem então, combinado. Nos encontramos na porta?”

“Sim, pode ser.” Mina riu de novo. Era certamente muito divertido provocar a baixinha.

“Certo. Te vejo lá, Mina.” A garota parecia estar sorrindo, pelo tom de sua voz. 

E desligou o telefone, suspirando. Por um lado, estava aliviada que havia conseguido convidá-la. Por outro, estava com medo do que poderia possivelmente acontecer. Não queria que Chaeyoung se sentisse pressionada de qualquer forma.

Quando Mina era “blackswan”, ela se tornava aquela que alguém poderia chamar de stalker. Não de um jeito ruim, já que não chegava ao ponto de descobrir onde alguém morava, mas sim, apenas vasculhar as redes sociais de alguém até o último post. 

A única pessoa com quem havia feito isso era a garota baixinha chamada Son Chaeyoung. Pelo que havia visto desde que começara a olhar seu perfil, a garota se sentia muito sozinha. Ansiosa, algumas vezes perdida (muitas vezes, mas Mina não gostava de pensar nisso porque sofria do mesmo problema, embora de maneiras diferentes).

De algum modo que não compreendia bem, queria proteger Chaeyoung desses momentos ruins. Queria fazê-la saber que não estava sozinha quando aqueles sentimentos tomavam conta dela. Mina poderia sentir as mesmas coisas, mas ela possuía Sana e Momo para lhe consolar quando precisava. Não tinha certeza se Chaeyoung possuía a mesma coisa.

Pela vigésima vez, seu celular tocou, interrompendo seus pensamentos. Estava querendo mudar o toque, mas aquela música era tão viciante…

“Alô?”

“Miguriiiii~ Você conseguiu convidar ela, né?” Momo perguntou, mas era mais uma pergunta retórica. 

“Sim, como sabe?”

“Ela tá perguntando no Twitter o que se faz em festas. Te aconselho a não responder, vai que ela fica sem graça.”

“Cara, ela não consegue não ser fofa não?”

“Pergunta pra ela, não sei de nada. Bem, agora me conta. Como você convenceu ela?”

“Eu prometi que não iria sair do lado dela.”

“Nossa, Miguri, você é dedicada. Admiro isso.”

“Cala a boca, loira oxigenada. Nem sei o que vai acontecer, meio que estou com medo.” Mina suspirou, a ansiedade voltando aos poucos.

“Ai! Que agressiva! Não se preocupe, tudo vai dar certo, se tiver que dar.”

“Tomara, Momo, tomara.”

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O dia da festa chegara num piscar de olhos. Cada pequena preocupação que poderia surgir dentro da escola era facilmente dissipada pelo pensamento da festa que estava por vir…. A não ser que fosse relacionada à festa em si.

Garotos e garotas comentavam sobre suas expectativas, e as pessoas mais próximas de Tzuyu lhe desejavam feliz aniversário e prometiam presentes bons no momento da festa. Depois da aula, Momo sairia com Jeongyeon num encontro, que para ela mais soava como uma montanha russa. Por que? Porque ela tinha certeza de que seu coração aceleraria como se estivesse em uma.

Dahyun e Nayeon já haviam preparado seus visuais combinando. Não era surpresa fazerem isso, era algo anual que planejavam em toda festa de aniversário. A pobre Jihyo havia de aguentar aquela discussão sobre quem ficaria com qual peça todo ano.

Pobre Jihyo.

Tzuyu e Sana não se desgrudaram desde aquele dia, o que gerava certa curiosidade de todos que as cercavam. Mina perguntou o que havia acontecido, mas sua frase de antes voltou contra si.

“Ah, você vai saber logo logo, Mina. Não se preocupe.”

Ela devia saber que não devia brincar com uma japonesa apaixonada. Afinal, era amiga de duas dessas.

Ainda não fazia ideia de como aguentaria a festa. Nem sabia o que iria usar, provavelmente pegaria qualquer coisa do guarda-roupa e combinaria com sua calça de couro.

As horas passavam sem que Mina se desse conta, e o fim das aulas já chegara.

“Tchau pra vocês duas, tô indo encontrar a Jeongyeon!” Momo saiu correndo da sala tão rapidamente, você poderia pensar que ela estava atrasada, não adiantada.

“Eu hein,” Sana balançou a cabeça, observando o chão como se Momo houvesse deixado marcas de corrida no mármore do piso. “Tô indo também, Minari. Se cuida, nos vemos na festa hoje!” A garota levantou-se, sorrindo ao ver Tzuyu no batente da porta da sala, a esperando.

“Até.” Mina acenou, recolhendo seus pertences.

A caminhada até em casa foi relativamente normal, apesar de ser uma feita sozinha, ela e seus pensamentos. Não podia evitar de pensar na garota, e o quantidade de coisas que desejava fazer com ela. 

Mina havia se conformado, finalmente. Seus sentimentos não eram por apenas pena, se é que houve pena. Eram todos por amor, todos por gostar da desenhista, apesar de antes secretamente.

Ela fechou os olhos, cercada por suas coisas, deitada no chão como sempre, mas dessa vez, não sabia como havia parado ali. Fora tudo no automático? Provavelmente seu corpo se acostumara com o tipo de relaxamento que Mina utilizava.

Checou as horas, se impressionando com o quanto o tempo havia passado rápido. Já eram seis e meia, sendo que a festa de Tzuyu começaria às sete. Levantou-se do chão, estralando as costas e correndo para o chuveiro.

--

Chaeyoung havia se acostumado com não ser boa em se localizar pela cidade, mas agora que estava ali, na frente do aterrorizante destino de uma das primeiras festas adolescentes que ela frequentaria, desejava continuar não conseguindo se encontrar no meio de tudo.

Já havia começado, ela podia ouvir a música. Mas, onde estava Mina? Será que havia desistido? Será que estava com tanto medo quanto Chaeyoung, mas não demonstrava? 

(Estava.)

O alívio de Chaeyoung foi ver a silhueta correndo em sua direção, segurando a bolsa em mãos com força para não deixá-la cair.

Mina parou em sua frente, sugando ar com avidez, mas Chaeyoung não prestou muita atenção nisso. Além do fato de que parecia ter corrido uma maratona, Mina estava… 

Mina estava linda. Ela sempre fora o tipo de garota que ficava bonita em qualquer coisa, mas ali, usando apenas uma blusa branca pareada com uma calça de couro, e aquela maldita gargantilha, Chaeyoung estava sentindo um pouco de falta de ar.

“Não demorei muito, né? Desculpa.” Mina respirou fundo, se apoiando nos joelhos por um momento. 

E os olhos dela. Com a ajuda de lentes, não havia jeito de Chaeyoung não se afundar naqueles olhos, penetrantes e que não paravam de olhar para ela.

“Chae? Tá tudo bem?”

“Hã? Ah, tudo, tudo.” Conseguiu sorrir para disfarçar a atração que estava sentindo.

“Vamos entrar então?” Mina sorriu de volta, andando até a entrada. Olhou para trás, não vendo Chaeyoung se mover, então tomou a liberdade de pegar em sua mão, a guiando para entrarem na festa.

Sim, era estranho e até clichê, mas Chaeyoung havia sentido algo forte, algo poderoso, quando Mina tomou sua mão. Não havia tempo de processar o que havia sido, porque elas já estavam ali dentro, e ai meu coração, o lugar estava lotado. 

A desenhista podia claramente sentir a ansiedade vindo, mas algo a estava bloqueando de agir completamente. Talvez era o lado de Mina pressionado contra o seu? Talvez era a mão delicada dela segurando a sua? Ela não sabia, mas estava aliviada de tê-la consigo. Se não estivesse ali, quem sabe o que aconteceria.

Alcançaram um canto do lugar onde o aparente grupo de Mina estava conversando e rindo, praticamente todas com copos na mão.

“Minari! Eu estava preocupada, pensei até que você não ia vir.” Sana afirmou, sorrindo para amiga. Ela estava com o braço ao redor da cintura de Tzuyu, e parecia muito feliz.

“Perdi a noção do tempo, mas não ia deixar a Chae na mão.” Mina sorriu, apertando levemente a mão da garota, que corou. Felizmente, ninguém pareceu perceber, e se perceberam, não comentaram. “Feliz aniversário, Tzuyu. De nós duas.”

“O que é isso, obrigada por virem. Aproveitem a festa.” Ela sorriu, os olhos se fechando e a cabeça automaticamente inclinando na direção de Sana.

Jeongyeon e Momo estavam se beijando em um canto, as líderes de torcida conversavam entre si. Nayeon estava sentada no colo de Dahyun, o rosto enterrado em seu pescoço. Chaeyoung não pôde evitar rir de tudo o que estava acontecendo ao mesmo tempo. Na verdade, era rir pra não chorar.

“Tudo bem?” Mina sussurrou em seu ouvido, causando infinitos arrepios na área.

“T-tudo.” Ela respondeu, sem olhar para ela.

“Se alguma coisa te incomodar, por favor me fale.”

Chaeyoung tomou a coragem de apertar sua mão como resposta, respirando lentamente para acalmar os nervos.

Mina era tão gentil com ela, e a garota sentia-se sortuda por causa disso. Não sabia o que faria se não fosse por ela a tirá-la de casa, sem hesitar. Assim como o restante das pessoas, ela não parecia se importar com o comportamento de Chaeyoung. A garota ainda não sabia se era por pena ou porque realmente não ligavam, mas a desenhista não desejaria o primeiro em um milhão de anos.

Sua garganta havia secado com o pensamento.

“Mina?”

“Hm?”

“Não tem algo pra beber não?” Chaeyoung só conseguia pensar em um Nesquik, mas sabia que ser seletiva apenas a prejudicaria.

“Deve ter nas mesas. Quer que eu vá pegar?” Mina perguntou e ela assentiu, mesmo que não quisesse soltar sua mão. “Ok, eu já volto. Fica aqui, tá bom?”

Sentiu algo se esvair de si quando ela soltou sua mão, mas se controlou enquanto observava seus passos que apenas se distanciavam. A sede aumentou quase que exponencialmente por causa disso, e Chaeyoung sentia sua garganta coçar e arranhar.

Decidiu ir atrás de Mina. Não gostava de ficar parada em um só lugar sem ela nem um pouco.

Seus passos eram vacilantes com a quantidade de pessoas espalhadas pelo salão. Nem compreendia como havia conseguido chegar até as mesas, e também não possuía sinal de Mina. Mas com todo aquele líquido em sua frente, ela era a sua segunda prioridade.

Decidiu tomar o ponche, que era a bebida que parecia mais atraente no momento, vermelha e girando. Colocou um pouco em um copo, se apressando em tomar goles rápidos.

O que Chaeyoung não sabia era que o ponche fora batizado.

--

Depois de voltar e não encontrar nem sinal de Chaeyoung, Mina havia começado a se desesperar. Onde possivelmente ela havia se enfiado? 

Se arrependera de deixá-la lá no mesmo momento em que voltou, e nem uma sombra da garota.

“Alguém viu a Chae?”

Ninguém a viu.

Tzuyu a assegurou de que se alguém saísse da festa, os guardas a avisariam. Não deixava Mina muito confortável, dado o tamanho daquele lugar, mas já era alguma coisa.

Não se importava de procurar a garota sozinha; realmente não queria estragar a diversão dos outros por causa de Chaeyoung. Mas estava preocupada de qualquer forma, torcendo para que ela aparecesse logo.

Andava pelos corredores quando uma mão lhe puxou para dentro de uma sala.

“Mas o que- Chaeyoung?”

“Minaaaa…”

“Chaeyoung, você bebeu?”

Mina até poderia ficar com raiva ou desapontada, mas sabia que não faria sentido. Na verdade, sua adoração por ela parecia apenas aumentar. 

“Tch, acho que s-sim. O ponche, tinha um gosto es-estranho..”

“É, acho que você não sabe que o ponche sempre é batizado… parece que a festa acabou para nós mais cedo.”

“Minaaa…”

“Hm?”

Mina esperou que Chaeyoung dissesse qualquer coisa. Ela aceitaria até uma frase aleatória, mas a única coisa que ela fez foi apagar. Suspirou, não impedindo um sorriso mesmo que estivesse preocupada. Laçou a garota com os braços e a carregou para fora da sala.

--

A garota abriu os olhos, confusa sobre o que havia acontecido, e onde estava. Sentou-se na cama, esfregando a visão e sentindo diretamente uma dor estupidamente forte em sua têmpora esquerda.

“Ai! Droga…”

A luz machucava seus olhos. Não queria abri-los, de jeito nenhum, mas ouviu passos e então, se esforçou para ao menos ver um pouco do ambiente. Não era nem um pouco familiar.

“Chaeyoung!”

A voz soou distante em seus ouvidos, mas ela a reconheceria em qualquer lugar. É claro que era Mina.

“Mina?” Chaeyoung estendeu seus braços para frente, tentando alcançá-la, desejando tocá-la.

“Eu estou aqui, aqui.”

Ela estava. Estava bem ao seu alcance, as mãos tocando nas suas, fazendo-a se sentir bem mais segura. A dor de cabeça ainda era horrível, mas senti-la ali, perto de si, era indescritivelmente calmante e curativo.

“O que aconteceu? Dói…”

“Erros. Por parte de nós duas. Mas está tudo bem agora.”

Chaeyoung abriu os olhos e encontrou a visão mais maravilhosa que poderia desejar. Mina segurava suas mãos, a cabeça inclinada em sua direção. Não havia mais lentes ou maquiagem, mas ainda sim seu rosto transbordava brilho e um charme que ela não conseguia compreender totalmente, ao menos não ainda.

“Não está tudo bem, não ainda.” Sussurrou.

“Hã?”

“Mina. Eu gosto de você. Mas eu não sabia o que isso era realmente, não até agora. Eu não entendo muita coisa, tenho muitos problemas quanto ao meu estado emocional, não sei me expressar direito…” Mina riu baixinho e Chaeyoung se permitiu sorrir. “Mas eu quero tentar, porque sinceramente cansei de ficar na linha confortável da vida em que nada muda.”

“E eu achava que seria a primeira a confessar…” Ela olhou para baixo, e Chae teve uma vontade imensa de abraçá-la.

“Achava?” Chaeyoung gargalhou (nem sentia mais um pingo de dor de cabeça). “Bem, parece que o jogo virou, não é mesmo?”

“É, virou.”

Balançou a cabeça. Era incrível o quão mais leve ela se sentia depois de falar tudo aquilo, deixar seus sentimentos ao vento depois de guardá-los por tanto tempo. E o melhor, era saber que não estava sozinha.

“Mina?”

“Hm?” Ela inclinou a cabeça em sua direção novamente, quase como se soubesse.

“Posso te beijar?”

“Acho que você já sabe qual é a minha resposta.” Mina sorriu antes de acariciar seu rosto, aproximando-se lentamente.

Chaeyoung apreciava seu desejo de não acelerar as coisas. Quando sentiu seus lábios, era como se algo dentro de si houvesse finalmente explodido, dando lugar a infinitas borboletas que pareciam ter nascido imediatamente, voando por todo lugar.

Mina deitou-a novamente, os joelhos se encaixando em seus lados, mas o ritmo do beijo ainda lento e viciante, inesperado e novo. Sua cabeça se moveu com curiosidade, o selar trocando de lado, seus braços envolvendo o pescoço dela para que não fugisse.

(Como se Mina fosse fugir.)

Sorriu contra sua boca, traçando as linhas do rosto de Mina após se afastar minimamente dela, o olhar fixo no seu.
 
 


Notas Finais


Não é meu melhor trabalho, nem o pior, nem... whatever, não importa. Arrumo o que estiver errado depois, porque agora estou cansada e com sono e quero apenas acabar com isso.

EDIT1: Arrumando os erros, pode ser que algo escape, talvez... mas não vamos falar disso.

Eu não lembro de onde veio a ideia de Sentimental. É uma fanfic que começou como brincadeira, um hobby, um surto de criatividade, e virou esse monstro de quatro cabeças cheio de memes BR e referências e etc, etc etc. Mas como toda fanfic postada, é o meu bebê e merece carinho e cuidado. Não peço muita coisa, apenas um comentário, um favorito, uma menção nas redes sociais... é simples!
Posso não estar aqui amanhã, mas gostaria de que minhas fanfics fossem uma representação de mim. Principalmente essa, que tem minhas características, gostos e hábitos espalhada por toda ela. Como a ansiedade de Chaeyoung, o Nesquik, Mina tendo como relaxamento o ato de deitar no chão (é gente, eu faço isso) e etc.
Fiz uma playlist pra essa fanfic também, mas esqueci de colocá-la na primeira vez em que postei. aqui está, el link: https://open.spotify.com/user/larahai/playlist/6tqE3snumnmYXr1kbHShxN
Fora isso, obrigada por tudo. Até mais, quem sabe, talvez.


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