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História Sentimental - Extra 3 de 3 - Everything Has Changed


Escrita por: yetnotyet

Notas do Autor


Finalmente terminada. Eu definitivamente não vou sentir falta dos bloqueios, mas vou sentir falta dos comentários e do amor que essa fanfic recebeu. Muito obrigada por tudo, definitivamente vocês são os melhores leitores que eu poderia ter, e eu realmente não mereço vocês.

Novamente, muito obrigada. Sem mais delongas, aproveitem o último capítulo de Sentimental.

Boa leitura.
- Lara.

Capítulo 4 - Extra 3 de 3 - Everything Has Changed


Fanfic / Fanfiction Sentimental - Extra 3 de 3 - Everything Has Changed

Não fazia ideia do que estava fazendo, mesmo enquanto encaixava peças de roupa dentro daquela mala. Tudo parecia muito estranho, como se nada fizesse real sentido. Seus nervos estavam à flor da pele, o coração batendo sem pausa, como o ritmo de um relógio acelerado, que também não fazia sentido. E mesmo enquanto guardava uma pequena tela e seus materiais de pintura dentro da mala, Chaeyoung estava quase se arrependendo de ter dito sim.

"Mas não precisa se arrepender." Mina sussurrou em seu ouvido, descansando a cabeça ao lado da sua e rindo quando Chaeyoung suspirou em alto e bom som. "Só porque eu não vou estar lá não significa que não vai ser fantástico."

Chaeyoung não tinha tanta certeza disso. Afinal, nem inglês ela falava, quem dirá francês…

Pegou a caixa de Nesquik já aberta e bebeu, se sentando na cama e deixando sua visão desfocar, a cabeça cheia de ideias diferentes. Estava quase na metade quando Mina a tomou de si, sugando o resto do líquido sem se importar.

"Ei! Meu Nesquik-" A desenhista tentou alcançar seu precioso de volta, mas sua namorada não tornou a tarefa fácil, afastando sua mão para o alto junto com a caixa.

"Todo esse tempo você estava escondendo esse néctar dos deuses?" Mina exclamou, impedindo Chaeyoung de tomar de volta o Nesquik enquanto atuava o seu drama. "Céus, como é doce!"

"Mina...”

No entanto, ao invés de lhe devolver a caixa quando Chaeyoung tentou alcançá-la pela última vez, Mina lhe deu algo melhor, e bem mais viciante do que leite de morango.

A desenhista achava que nunca se acostumaria com os beijos de Mina. Nenhuma caixa do mais aperfeiçoado leite de morango teria um gosto tão doce quanto os seus lábios.

Sentiu algo puxar em seu baixo ventre, e se segurou para não deixar escapar um gemido. Não era boba, sabia o que aquilo significava. Mas não significava que não queria esperar. O momento certo. O momento perfeito.

Se afastou primeiro, mas seus olhos ainda estavam nos de Mina, as testas quase coladas. Percebeu que estava segurando os braços da garota com força, e imediatamente diminuiu o aperto, pedindo desculpas.

Por algum motivo, sempre sentia como se precisasse se segurar quando estava perto dela, especialmente tão perto assim. Por que, se não se segurasse, talvez flutuasse para longe.

Mina balançou a cabeça, como se estivesse dizendo 'eu sei', e segurou-a firme em seus braços, um até logo que doía, mas que era necessário. Um até logo que parecia mais com um adeus.

"Te vejo em dois dias?" A bailarina perguntou, sem nenhuma intenção de soltá-la, mesmo depois que ela respondesse a sua pergunta.

Chaeyoung apenas assentiu contra o ombro de Mina, não conseguindo colocar seus pensamentos em palavras naquele exato momento. Mesmo em seu aperto, já sentia sua falta, e tinha certeza de que sentiria ainda mais a cada segundo que se passasse.

A beijou novamente, com mais leveza e calma, o último traço que teria dos lábios de Mina pelas próximas torturantes horas.

--

Andava se escondendo desde o fatídico dia em que havia terminado com ela. Seu coração doía a cada passo, errante e confusa mesmo pelo campus que deveria conhecer com a palma da mão. Por quê? Por quê doía tanto? Por quê apenas pensar em seu nome, imaginar seu rosto, a fragrância de sua pele quando ainda a tinha entre os braços…

Por quê tudo isso doía tanto?

E não era apenas no sentido emocional. Sana se sentia sufocada - no sentido literal da palavra - ao pensar em seus erros e o desastre que haviam causado. Deveria apenas ter sido sincera. Deveria apenas ter falado a verdade. Mas agora… agora era tarde demais; tarde demais para pensar nisso, e ainda mais para tentar corrigir tudo.

Não havia correção para aquele tipo de erro. E Sana tinha quase certeza de que Tzuyu agora a odiava. Para ser franca, Sana não a culpava por isso. Achava que merecia, de certo.

Mas isso não a impedia de sentir aquela dor pulsante dentro de si. As memórias boas - todas elas flutuavam distantes, e mesmo que Sana tentasse segurá-las, elas acabavam escapando. Não merecia tê-las dentro de seu pensamento? Talvez não. Talvez não merecia.

Fugia de tudo e todos agora. Nem mesmo suas amizades poderiam lhe ajudar agora, então Sana acabava se distanciando. Suas notas estavam caindo, não cuidava mais de si mesma como antigamente fazia… tudo parecia estar desmoronando como uma avalanche, imparável e impossível. E Sana não fazia ideia se era idiotice ou não, mas queria Tzuyu de volta. Era um desejo tolo, com certeza.

Virou os corredores, se encolhendo em seu capuz, quando a viu andando, distraída. Seu coração pulou uma batida e ela sentiu o ar sendo puxado de dentro de seus pulmões involuntariamente. A garota parecia estar bem, certamente muito melhor do que Sana depois do término.

Abaixou a cabeça, se escondendo mais ainda, evitando o olhar de Tzuyu assim que este veio a cair em si. Se odiava por não conseguir nem encará-la nos olhos, e sentiu o nariz arder, os olhos se enchendo de lágrimas. Apertou o passo, o único objetivo sendo sair dali o mais rápido possível.

--

Mina decidiu que o mais correto a fazer seria ajudar Sana a sair da fossa em que atualmente se encontrava. Ela aproveitaria bem o tempo assim, já que não haveria mais Chaeyoung para si pelos próximos dois dias. Até tinha se arrependido de não ter levado a garota ao aeroporto ela mesma, mas teria que superar essa indecisão, já que Chaeyoung provavelmente já havia embarcado a essa hora.

Depois das aulas, fez questão de fazer uma linha reta em direção à casa de Sana. Queria ter deixado os portões com ela, mas a garota parecia determinada em manter seus níveis de interação humana o mais baixos possível. Para a sorte de Mina, ela guardava uma chave do apartamento de Sana exatamente para esse propósito.

Se permitiu entrar sem aviso, infeliz com o estado do lugar. Tudo parecia ter sido jogado no chão de propósito, as almofadas do sofá não estavam em nenhum lugar visível, e Mina achava que o liquidificador na bancada deveria ter uma tampa escondida em algum armário.

Entrou no quarto da garota, batendo levemente na porta aberta.

“Ei.” Falou com um meio sorriso, se aproximando de Sana, que estava encolhida na cama, as costas coladas na parede.

“Ei..” Ela respondeu, sem entusiasmo, levantando os olhos apenas para reconhecer Mina.

“Não vou perguntar como está porque sei que seria idiotice.”

Mina sentou-se na beira da cama, esperando não precisar ficar ali por muito tempo.

“Inteligente.”

Esperou mais um pouco no silêncio, sabendo o que Sana logo perguntaria. E não demorou muito.

“Como… como a Tzuyu está?”

Mina deixou sair de sua boca uma risada fraca, e deu de ombros.

“Mantendo as aparências, eu acho. Ao menos ela tem a decência de fingir que está bem.”

“Bem, eu não sei como ela consegue.”

Percebeu o nível de amargura na voz de sua amiga, mas tinha certeza de que não era por mal.

“Sabe, ela está tão quebrada quanto você, Sana.” E era verdade. Mina tinha certeza disso. Gostava de Tzuyu, e sabia como ela era. E também, via o quanto ela amava Sana. Aquele tipo de afeição não desaparecia de repente.

“Está? Tem certeza disso?”

“Tenho.” Por mais que o sarcasmo amargo de Sana lhe irritasse, ela sabia que não adiantava nada se irritar. “Você sabe que nada separou vocês duas antes. Então por quê algo deveria separá-las agora?”

Percebeu que isso fez Sana pensar, talvez pela primeira vez. Esperava que fosse algo positivo.

“Eu sei.. mas agora não deve importar. Ela me odeia, com certeza, ou algo perto disso. Eu… eu só quero ela de v-volta, Mina..."

A garota começou a chorar, e não era a primeira vez que ela quebrava assim, de repente. Abraçou-a forte, a única coisa que poderia fazer para tentar confortá-la.

"Eu sei que quer. Eu sei."

Se perguntava, dentro de sua cabeça, o que mais poderia fazer.

--

Parecia impossível fugir daquela verdade. Era como se os fatos estivessem ameaçando a sua própria existência. Como era possível algo doer tanto, sendo que nem era sua culpa?

Mas Tzuyu se sentia culpada, do mesmo jeito. Tentava fingir que estava bem, que iria superar aquilo tudo facilmente… mas era tão difícil quando Sana ocupava todos os lugares em sua mente, mas se escondia de sua visão a todo custo.

Era verdade que Tzuyu queria odiá-la, porque qualquer pessoa que conseguisse machucá-la a ponto de fazer lágrimas despontarem de seus olhos, merecia todo e qualquer ódio vindo dela. Mas não conseguia odiar Sana, mesmo que tentasse. Não era lindo? Aquele constante sentimento de que algo estava errado, e ao olhar para seu lado, ele estava vazio. Nada de uma linda garota que fazia questão de acompanhá-la para qualquer lugar.

Sana havia escapado por seus dedos, e parecia que não havia nada a se fazer, porém aceitar que havia se perdido dela.

Abriu seu armário, suspirando. Quase chegou a colocar seus livros por cima daquele misterioso pedaço de papel, mas o apanhou, percebendo que era algum tipo de carta.

Encostou no armário, depois de fechá-lo, e abriu a carta, sem prestar muita atenção no selo que continha as letras C e T. Começou a ler, um breve facho de fascínio transpassando seus olhos.

Cara Tzuyu,

Antes de começar a explicar sobre o que é esta carta, vou me apresentar primeiro. Bem, não exatamente me apresentar, já que tudo que você saberá sobre mim no momento, é que me autodenomino CT. Ando lhe observando desde que você deu entrada nesta escola, e não é por mal. Pode me considerar uma fã, eu acho…

Enfim. Claro, já que ando te observando, percebi, infelizmente, que você não anda se sentindo a pessoa mais feliz do mundo. Imagino que seja por causa da sua namorada, ou ex-namorada? Sinto muito por isso, e sinto se mencioná-la nesta carta te machuca. Não foi a minha intenção. Gostaria de te oferecer uma maneira de curar o seu coração, mas não sei se é realmente possível.

Mas, mesmo que não seja, continuarei mandando essas cartas. Também devo incluir um pedido. Por favor, não tente descobrir quem sou. Talvez você já saiba, talvez não. Mas de qualquer forma, minha identidade não é importante. O importante é você ficar bem de novo, e espero que isso aconteça, mais cedo do que mais tarde.

Com todas as melhores intenções,

- CT.

Tzuyu suspirou novamente, cheia de curiosidade. Olhou ao redor, mas haviam tantos estudantes conversando e guardando materiais em seus armários, que não fazia ideia de quem poderia ser. Nem mesmo sabia se a pessoa era da mesma idade que ela. Poderia ser qualquer um dentro daquela escola.

Porém, como CT havia dito, sua identidade não importava muito.

Mas a proposta de curar seu coração era a parte mais tentadora de tudo aquilo, porque Tzuyu daria tudo de si para parar a dor que morava em seu peito, até mesmo aceitaria a ajuda de um estranho.

Tudo, para tirar Sana de dentro de sua cabeça.

--

Quando seu avião pousou na cidade de Lyon, já era tarde da noite e fazia um calor agradável junto com a brisa, que Chaeyoung apenas sentiu ao sair do aeroporto com sua professora de Artes e mais quatro alunos de salas diferentes. Ficariam todos em um hotel próximo ao museu que havia cedido a oportunidade para o colégio de expor as criações de cinco talentosos alunos, assim como dá-los também, um agradável tour pela cidade.

Por mais incrível que parecia, Chaeyoung não estava preocupada com a exposição. Na verdade, tudo em que sua mente conseguia pensar era Myoui Mina. Durante a viagem dentro da van, até chegarem ao hotel, e ao deitar naquela confortável cama no quarto reservado para Son Chaeyoung, o nome dela girava em sua mente.

Calculou, entediada, a diferença de fuso horário. Seis horas da manhã em Seul? Num sábado? Será que Mina atenderia? Será que ao menos responderia uma mensagem?

Mas não precisou pensar muito nisso, já que a saudade que sentia, ela provavelmente sentia em dobro. Seu celular vibrou, e um sorriso iluminou o rosto de Chaeyoung. Atendeu a ligação sem ao menos conseguir controlar a própria face sorridente.

"Não deveria estar dormindo?" Chaeyoung perguntou, em uma cândida ironia, já que ela mesma deveria estar descansando para a exposição que ocorreria no próximo dia.

"Eu não consegui dormir. Estou preocupada demais com a Sana. Visitei ela ontem e fiquei por aqui mesmo, tentando fazer ela descansar."

Havia se esquecido completamente daquela situação. Não era fácil admitir, mas se sentia uma péssima amiga por não ter tentado confortar Tzuyu depois do que havia acontecido, visto que Mina estava fazendo um trabalho muito melhor nesse quesito.

"Ela não está bem, não é?"

"Não..." O tom de Mina era cabisbaixo, o que fazia a própria Chaeyoung se sentir mal. "Nenhuma das duas está."

"Eu… eu vou conversar com a Tzuyu, depois que eu chegar. Droga, nem pensei em perguntar quando disse tchau pra ela..."

"Não tem problema, Chae, não foi culpa sua."

Chaeyoung suspirou, e tentou pensar que o que Mina dizia era verdade.

"E você? O voo foi bom? Ficou com medo na decolagem?" Ela perguntou em um riso, o que fez a garota mais nova balançar a cabeça, frustrada. A queda de pressão lhe pegara de surpresa, com certeza.

"Eu nunca tinha voado antes! O máximo que eu fiz pra viajar foi ir de trem pra Busan.."

Mina riu em resposta, e o coração de Chaeyoung deu saltos em seu peito. Até sua risada a fazia se sentir nas nuvens, como se estivesse voando…

Nem precisava de um avião para isso.

"Você se acostuma."

Permaneceram num silêncio agradável, até que a desenhista resolveu quebrá-lo, ainda um pouco tímida por causa da frase que rondava sua mente.

"Mina..."

"Hm?"

Não sabia exatamente como dizê-lo sem que soasse sentimental demais, mas no final, não se importou muito. Era o que sentia mesmo, então, fazer o quê se soasse sentimental?

"Eu sinto sua falta."

"Eu também sinto a sua, Chaeyoung. De verdade. Espero que tudo dê certo e você volte logo pra casa.”

Chaeyoung sorriu, assentindo com a cabeça.

“Eu também espero.”

Ótimo. Vou tentar pregar os olhos e ficar de olho na Sana e na Tzuyu. Boa noite, Chae.”

“Bom dia, Mina.” Ela disse com um sorriso pequeno, e Mina riu novamente. “Eu te amo.”

Eu também te amo.”

E com um bipe, Mina desligou, deixando Chaeyoung dentro de seu quarto de hotel sozinha com seus pensamentos. Mas tudo bem. Todos eram pensamentos bons, e quando finalmente conseguiu adormecer, era em Mina em que ainda pensava.

--

Tzuyu esperava, ansiosa, pela próxima carta de CT. Não sabia exatamente o porquê, mas as palavras dela lhe confortavam imensamente naqueles tempos caóticos em que tudo que conseguia fazer era rolar acordada, as frases confusas de Sana ecoando em sua mente. E quando adormecia, nunca sonhava. Eram apenas pesadelos desconexos que tornavam seu sono em uma experiência bem menos do que satisfatória.

Abriu seu armário, a ânsia fazendo suas mãos tremerem, e sorriu ao ver o papel ali, na borda de seu armário, descansando contra a porta do mesmo. Apanhou-o, abrindo o selo com curiosidade, as letras CT brilhando no vermelho.

Cara Tzuyu,

Espero que minhas cartas estejam ajudando. Eu tento escrevê-las aos montes para que você sempre tenha algum material que, com minha devida benção, lhe faça sorrir. Claro que nem sempre vem a inspiração, sabe, eu tenho uns bloqueios muito esquisitos, mas acho que é a vida.

A vida imita a arte. E a arte, a arte fotografa a vida e depois joga um pote de tinta em cima da foto. É uma metáfora pra dizer que a arte pega partes da vida, e faz arte com essas partes. Absurdamente poético, eu acho. Talvez seja um pouco excêntrico também… bem, o que seria a vida sem um pouco de excentricidade?

Vou lhe responder imediatamente, Tzuyu. Nada. Precisamos daquele balanço entre o doce e o salgado. Romeu e Julieta. E por Romeu e Julieta, quero dizer queijo e goiabada. Mas se quiser falar na tragédia de Shakespeare, eu também posso. O balanço entre o amor eterno e imensurável, e o impossível de escapar, destino chamado morte. Ah, como a vida é doce, e depois de te dar o doce, ela te envenena. Com o doce.

Mas talvez eu não esteja te ajudando muito falando de tragédias. Bem, então vamos falar dos momentos bons. Dos momentos em que você mesma não consegue parar de sorrir, e o sorriso daquela pessoa fica girando dentro da sua cabeça, e você fica agindo que nem uma boba apaixonada perto dela. Droga, acho que também não ajuda muito… provavelmente estou te fazendo lembrar daqueles momentos preciosos, não é?

Bem… acho que não tem problema você lembrar. Mesmo que tenha acabado, e por ter acabado, qual o sentido de ficar lembrando da briga? Bom, talvez seja esta que te cause a dor, mas pensando bem, sempre existem os bons momentos para te puxar te volta. E mesmo que tenha acabado, você sabe que teve uma coisa boa com aquele alguém.

Se você estiver chorando por agora, sinto muito. Se o papel manchar, tudo bem, é mais uma memória no seu cofrinho chamado cérebro.

Percebi que esta carta está ficando longa. Então aqui me despeço.

Com todas as melhores intenções,

- CT.

E o pior era, que Tzuyu apenas percebeu que havia realmente chorado, quando terminou de ler a carta. E como não choraria? CT havia acabado de fazê-la lembrar de um particular dia, o dia em que Tzuyu havia voltado da festa com Sana, e ido até o apartamento dela.

Tudo era simples, mas um simples bonito, com cara de Sana em todos os acentos, todos os pingos dos Is. A garota mais velha havia levado Tzuyu em um tour exagerado, fazendo piadas a cada dois segundos, roubando beijos de Tzuyu ainda com ainda mais frequência após girar até que estivesse atrás dela, e Tzuyu ficara mesmerizada por seu sorriso o tempo inteiro.

Sentira o colar em seu pescoço, e sorrira ao olhar a cópia exata em Sana. Aquele dia inteiro havia sido perfeito, para ser sincera, e mesmo que Tzuyu não usasse mais o colar em público, não possuía coragem de tirá-lo de cima de seu criado mudo, indo dormir apenas quando tinha a certeza de que havia olhado para a jóia e imaginado Sana sorrindo, usando a sua própria.

Esperava que Sana estivesse bem, mesmo que ela mesma não estivesse. E então, tentava escapar das memórias que insistiam em quebrá-la como ondas, impossíveis de prever.

--

Quando Mina desligou o telefone, seu coração ainda batia forte. Chaeyoung havia dito que a amava. Apenas pensar nos segundos atrás fazia a bailarina ter vontade de gritar alto; e quem conhecia Mina, sabia que ela raramente falava alto, muito menos gritava.

Estava realmente apaixonada. Mina achava engraçado pensar nisso, sendo que não sabia muito bem qual era a exata definição de estar apaixonado. Mas achava também, que havia descoberto por agora.

No entanto, não conseguia se impedir de imaginar o que haveria acontecido se seus sentimentos por Chaeyoung não fossem recíprocos. Doeria tanto quanto a dor que Sana estava sentindo agora? Seria diferente? Parecido? Mina não fazia ideia, e preferia assim.

Olhou para a sua amiga, que ainda dormia. Pensou em acordá-la, mas achou melhor deixar Sana dormindo. Afinal, talvez aquela fosse a única paz que conseguir sentir; quando não estava consciente.

Levantou-se da cama adicional, suspirando. Achava muito estranho não ter Chaeyoung por perto, principalmente quando as coisas estavam tão estranhas entre suas amizades próximas. E esperava que tudo pudesse ser resolvido logo.

Porque, erradas desse jeito, as coisas não faziam sentido.

--

Sana agradecia muito à Mina por ter cuidado dela pelos dias que se passavam. Não tinha certeza de que conseguiria cuidar de si mesma, afinal, ainda estava se sentindo uma bagunça de sentimentos da cabeça aos pés.

Sabia, muito bem, que não poderia continuar assim. Teria que fazer alguma coisa, ou morrer tentando, mesmo que não desse resultado. Precisava dizer para Tzuyu que estava errada, que ainda a amava tanto nas piores horas, precisava lhe contar a verdade. Mas não sabia como, e nem quando. Para ser honesta, nem tinha a certeza de que conseguiria olhá-la nos olhos por mais de dois segundos.

Mas não poderia ser covarde por mais tempo.

Levantou-se de sua cama, sendo cautelosa ao andar pelo apartamento para não acordar Mina, que ainda dormia. Tomou um banho rápido e se arrumou, uma camiseta branca e jeans azuis, da cor do céu quando o dia estava bonito e o sol brilhava. Não pegou nada além do celular e suas chaves, e deixou uma pequena nota em seu travesseiro que avisava Mina de seu paradeiro, exceto que Sana não especificava se o lugar onde iria era uma sorveteria perto da casa de Tzuyu, ou a casa dela em si.

No entanto, Mina com certeza ligaria os pontos.

Saiu do pequeno apartamento, andando pela rua, os nervos à flor da pele. O colar debaixo da sua camiseta só servia para deixar Sana ainda mais nervosa, principalmente com todas as memórias que carregava.

Considerou voltar o caminho inteiro ao chegar perto da casa, mas engoliu o nervosismo, ou ao menos tentou, e subiu as escadas, uma por uma. Bateu na porta esperando o pior.

A mãe de Tzuyu lhe cumprimentou com um sorriso.

“Sana! Querida! A Tzuyu não disse que você vinha visitar. Não quer entrar enquanto eu chamo ela?”

Ela considerou a oferta por um momento, mas depois balançou a cabeça.

“Não, não, senhora Chou. Eu só… só preciso falar com ela. Pode apenas… chamá-la pra mim?”

“Claro, claro! Só um momento.”

Sana esperou, o nervosismo apenas aumentando a cada segundo, enquanto observava pela porta entreaberta. E quando viu Tzuyu depois de todo esse tempo, não pôde deixar de sentir o ar sendo socado para fora de seus pulmões por alguma força inexplicável.

Tentou se recompor o máximo possível enquanto a garota se aproximava da porta, sua expressão confusa. Sana teve a sensação de que precisava fugir rápido, de preferência antes que ela a notasse, mas até conseguir agir, a mão de Tzuyu já estava na maçaneta e ela abria a porta.

Mas a sua expressão, do contrário, fechava.

“O que está fazendo aqui?” Ela perguntou, baixo mas certamente rude o suficiente para que Sana tomasse um passo para trás. Era como um tapa, apenas transferido em palavras.

“Eu- eu- eu-” Parecia ter perdido a capacidade de processar frases com sentido. O olhar de Tzuyu em cima dela também não ajudava.

Respirou fundo. “Eu preciso falar com você.”

“Falar.” Tzuyu ergueu as sobrancelhas em questionamento. “Você não falou o suficiente?”

“Tzuyu, por favor. Só… anda comigo por alguns minutos. Eu juro que não vou desperdiçar o seu tempo.”

A garota suspirou, mas assentiu.

Desceram as escadas, e Sana tremia apenas ao ver Tzuyu em sua visão periférica. Não fazia ideia de como começar. Mas não precisou.

“Você beijou a Eunha, ou ela te beijou?”

Parou na hora, congelando. Como ela sabia? Como ela…

“Me responde, Sana.”

Engoliu em seco. “E-ela. Ela me beijou, e eu.. eu nem sabia que era ela, mas não era você. Não era você, então eu empurrei ela e fui embora. Tzuyu, eu- eu estava apavorada. Não fazia ideia de como iria te contar, e isso me matou. Estava me matando, até agora. Por favor, acredita em mim.”

Tzuyu encarou-a pelo que pareceram ser mil anos, os braços cruzados. Não parecia nada convencida. Sana estava prestes a se ajoelhar quando ela suspirou, cobrindo o rosto com as mãos.

"Sana.. eu acredito em você. E eu- eu ainda me importo muito com você, mas preciso de um tempo… pra pensar.. e eu não posso.."

"Me desculpa."

Era a última coisa que poderia fazer. Pedir desculpas. Mas as palavras de Tzuyu ecoavam em sua mente. Tempo… pra pensar… pensar em quê?

"Adeus, Sana."

E a garota foi embora sem olhar para trás.

Mas tudo que Sana conseguia fazer era observar enquanto ela ia, e pensar que o tempo faria tanto mal a ela quanto já havia feito.

Certamente, era possível o seu coração quebrar duas vezes. Afinal, o dela havia o feito apenas segundos atrás.

--

A exposição fora a experiência mais confusa, porém refrescante de sua vida, Chaeyoung pensava. Era tão incrível estar cercada de arte, peças de tempos diferentes, com motivos diferentes. Peças abstratas, cubistas. Peças com amor, sofrimento, e as duas coisas juntas. Peças, em geral, que a faziam pensar.

Chaeyoung gostava de pensar. Afinal, você não poderia saber com certeza o que o artista estava pensando enquanto pintava, mas… você poderia imaginar. O que era tão divertido quanto saber de verdade.

Era engraçado estar no outro lado da moeda agora. Sua pintura, denominada Flores e uma Caixa de Mudança, fora observada e admirada por várias pessoas naquele museu, e eles nem faziam ideia de que era ela a pessoa quem havia pintado. O que será que estavam pensando ao ver as flores? A caixa?

Conteve um riso, e suspirou. Embora suas impressões de Lyon até agora fossem as melhores possíveis, estava morrendo de saudade de casa. Estava morrendo de saudade de Mina. Mal podia esperar pelo voo, mesmo que ainda estivesse um tanto traumatizada pelo modo com que o avião havia decolado.

Também precisava falar com Tzuyu. Não podia deixar de ter a sensação de que a garota precisava de sua ajuda, e muito. Deveria estar lá.

Mas estava em Lyon.

Olhou para cima, de sua cama, checando as horas. Logo logo estariam no aeroporto, e depois disso, no portão. Mais algumas horas, e Chaeyoung estaria segura e salva em Seul, perto das pessoas de quem mais gostava.

Logo, a professora bateu em sua porta, lhe avisando de que havia chegado a hora de partir. Com muito apreço pela cidade guardado em sua cabeça, assim como a promessa de que algum dia voltaria, Chaeyoung saiu arrastando sua mala. Não poderia estar mais feliz, no entanto. Os dois dias haviam passado mais rápido do que havia imaginado, e ela só queria se aconchegar no avião e pular a ansiedade de um voo de 11 horas.

Fizeram o check out do hotel, e se dirigiram ao aeroporto, mas durante todo esse tempo Mina continuava rondando dentro de sua cabeça.

--

Tzuyu não havia mentido quando disse a Sana que necessitava de tempo para pensar. Mas não era sobre isso que precisava pensar, mesmo que a situação não saísse de sua mente por um segundo. Na verdade, precisava pensar sobre a última carta de CT.

Lia e relia a carta tantas e tantas vezes que o papel creme já estava gasto nos cantos e com marcas onde ela havia o dobrado para encaixá-lo no bolso de sua calça. Tzuyu estava praticamente próxima de copiar, palavra por palavra, todos os parágrafos da carta dentro de sua cabeça.

Agarrou novamente o papel, e suspirou.

Cara Tzuyu,

Tenho o receio de que essa seja a minha última carta para você. Isso não quer dizer que eu não queira mais escrever, com certeza não - parar de escrever nunca entraria em minha mente, nem mesmo se eu tentasse forçá-lo a acontecer.

Mas também receio ter informações que você precisa ouvir. Ou ler, no lado mais literal da coisa. Pássaros - uma espécie deles que sempre me agradou ouvir nas redondezas desse campus, mas que nunca consegui entender de verdade - me contaram uma série de acontecimentos que tinha certeza, pertenceriam a você julgar. Claro que eu achei o mais lógico duvidar dos acontecimentos como verossímeis, mas uma coceira em minha nuca me fez querer acreditar.

No entanto, a escolha de acreditar, você mesma, é inteiramente sua. Apenas contarei como ouvi (mas retirarei os pios entre cada palavra, creio que assim fique mais fácil de ler).

"Estava voando pelos corredores, como normalmente faço, quando vi as duas. Não foi uma conversa direta, claro, já que os olhos de uma delas foi coberto por uma venda, e a outra não fez nenhuma questão de se revelar. Seus cabelos curtos quase pulavam com segredos, mas isso apenas é a minha opinião.

Como qualquer pássaro, sou curioso demais. Então segui as duas, discretamente, é claro, tive que segurar meus pios por alguns minutos se quisesse realmente saber o que estava acontecendo. Não demorou muito até que as duas entrassem numa porta, a qual eu tinha certeza, dava em um armário de zelador. A curiosidade realmente me venceu, então fiz o que pude para entrar lá também. Os tubos de ventilação nunca foram muito agradáveis, mas, fazer o quê. Detetives não possuem um trabalho fácil.

O clímax - o pico, o ponto mais marcante, o problema/final, como quiser chamar - também não demorou a chegar. Foi um drama intenso, mas definitivamente, a garota mais alta fora enganada, e ela não havia gostado muito disso. Até começou a chorar depois de sair do armário. Mas não sei se é verdade mesmo, já que o único amigo voador que observou do lado de fora foi KHCYH. Não sei se confio nele, é um pouco sentimental… imaginativo, sabe? Mas soa real. Ela estava realmente chateada.

Depois disso, não quis saber muito o que a Cabelo Curto iria fazer depois daquele tapa de realidade. Devo ser sincero ao dizer que nunca gostei muito dela… mas quem sabe, isso mude. Se ela mudar… espero que aconteça.

E assim, segui com meus voos. É tudo que sei, mas não me parece pouca coisa."

Sim, Tzuyu, é muita informação a digerir. Se você queria saber, eu não sei… mas fico aliviada em te contar, do mesmo jeito. Na minha opinião, tens com certeza o direito de saber.

Com essas informações, me despeço como CT. Mas se algum dia, quiser me conhecer de verdade, e não essa personalidade desesperadamente cômica, mande um email para [email protected]. Juro que respondo, apesar de não gostar muito de emails.

Com todas as melhores intenções do mundo inteiro,

- CT.

Havia levado um tempo para se acostumar àquelas informações.

"Era isso que ela queria me contar. Era isso." E continuava murmurando a mesma frase era isso, era isso, era isso pelos cantos, uma neura que até ela mesma achava irritante. Mas não conseguia se conformar. Era tão… idiota! Por que era tão idiota? Por que não poderia ser ao menos um pouquinho mais complicado?

Mas Tzuyu sabia o porquê. Sana… Sana era idiota. Por baixo daquele sorriso estúpido e daquela confiança de uma base mais forte do que aço, Sana era insegura (e idiota. Idiota, idiota, idiota…). Tzuyu sabia muito bem disso, também. Na verdade, começara a se odiar por saber tanto sobre ela, tanto que nenhuma palavra ia embora sem que seu cérebro associasse alguma conexão a Sana.

Amava-a demais para o seu próprio gosto, e mesmo após pedir um tempo naquele dia em que ela viera para lhe pedir desculpas e confirmar suas dúvidas, confiava que continuaria amando-a desesperadamente.

Sana era idiota. Mas talvez Tzuyu era uma idiota ainda maior, por se apaixonar por uma idiota.

--

Tudo estava bem. Tudo estava ótimo, Mina pensava. Chaeyoung estaria de volta a apenas algumas horas-

Mas aquele não era o caso. Por que a dois minutos atrás, a garota havia lhe ligado dizendo que perdera o voo. Alguma coisa sobre se perder no aeroporto, e acabar também perdendo qualquer pessoa que conhecia naquela estranha cidade.

Ao ouvir aquilo, Mina apenas fechara os olhos e suspirara fundo, tentando se acalmar. Sabia muito bem o que precisava fazer, só não sabia se conseguiria fazê-lo.

Mandou para seu pai um pedido, e cruzou os dedos.

[...]

A mensagem era clara, e fácil de entender, mas Mina ainda tremia depois de enviá-la. Esperava que não fosse muito difícil de fazer, e sentia-se uma inconveniência ao ter que pedir algo tão extremo, mas, no final das contas, não importava muito.

Recebeu uma ligação do seu pai logo em seguida.

"Seus desejos são bem específicos, Mina..."

"Desculpe, pai. Não é a minha intenção."

"Claro, claro… bem. Eu tenho meus contatos. Sua passagem para Paris está pronta, o jato é emprestado, então não pense que é para sempre. A outra passagem já foi despachada para Lyon."

"Como vou te agradecer, pai? Você é incrível."

"São seus olhos. Não precisa me agradecer. Apenas vá. Mas não se esqueça de voltar."

"Certo. Muito obrigada."

"Boa viagem, minha filha."

--

Sana tinha uma boa ideia de dor agora. Um bom conceito do que era a dor, como ela funcionava, como viajava seu corpo em ondas, ou vinha toda de uma vez te tirando o equilíbrio e jogando-te no chão, como se você fosse um boneco de pano.

Virou-se na cama, molhando o travesseiro de lágrimas. Tentou respirar fundo e de seus pulmões, saíram apenas algo entrecortado, como se houvesse algo faltando e Sana não conseguia funcionar direito.

Queria faltar hoje. Queria faltar todos os dias pelo resto de sua vida, sem precisar encarar a realidade. Tempo. Tempo. Tempo. O tempo estava contra ela, como sempre havia estado. E Sana não se importava nem um pouco.

Se importava sim, precisava parar de mentir. O jeito com que ela dissera precisar de tempo conseguira lhe machucar ainda mais, um feito que não acreditava ser possível. Sempre que tentava aceitar isso em sua mente, tudo parecia mais borrado, mais errado. Precisava respirar fundo de novo se não quisesse bater o punho na parede.

E já havia uma marca de sangue no creme da tinta.

Apoiou a testa nas mãos, fechando os olhos. Não sabia quanto tempo mais iria aguentar ficar sem Tzuyu. Ainda sentia os nós dos dedos latejando, a faixa suja de sangue lhe enojava, mas ao mesmo tempo, parecia reconfortante.

Mas mesmo em completa relutância, se levantou da cama e pôs o uniforme, tentando não sujá-lo também de lágrimas.

"Você deveria parar de sentir pena de si mesma." Uma voz disse, e Sana olhou para cima, confusa.

"Elk? Como entrou no meu apartamento?"

"Sua fechadura não é muito segura..." Elkie respondeu, guardando em sua bolsa o que parecia ser um tensionador.

"Por que está aqui?"

"Pra te explicar que eu tentei te ajudar, Sana. Mas você realmente não tem escolha senão tentar de novo."

"Tentar de novo… tentar o quê?"

"Fazer a Tzuyu te perdoar. Eu passei três semanas mandando cartas pra ela, esperando que ela finalmente andasse o primeiro passo, mas acho que agora, isso é com você. Não adianta mais se esconder aqui." Elkie balançou a cabeça, parecendo desapontada. "Você realmente precisa de uma fechadura melhor."

Sana tentou processar lentamente, o que estava acontecendo. Então, era por isso que Tzuyu parecia tão… bem. Tão melhor que ela. Mais no controle.

Controle era algo que Sana já havia perdido há tempos.

"Agora, você vai lavar essas mãos e seu rosto, pra parar de parecer uma condenada. Depois, você vai tomar vergonha nessa cara, e ir direto na sala dela como costumava fazer. Você não pediu a minha ajuda, mas vai ganhá-la mesmo assim. Agora vai. Eu vou esperar pacientemente."

Elkie cruzou os braços, e Sana sabia muito bem que ela não sairia dali sem ela. Então apenas assentiu, e obedeceu. Trocou as bandagens, lavou o rosto e tentou parecer menos acabada, uma coisa bem difícil em sua opinião, mas que talvez funcionaria.

--

Chaeyoung precisou esperar oito confusas horas no aeroporto de Paris, sem nenhum tipo de guia. Não era tão difícil se localizar, afinal, ainda haviam nomes em inglês que ela compreendia sem problema, mas, o que era entender inglês quando se estava esperando - com extrema ansiedade, diga-se de passagem - a sua namorada?

Estava quase na hora de Mina desembarcar, segundo o seu relógio, quando um homem lhe aproximou. Ele parecia jovem e estava sorrindo, o que Chaeyoung achou muito peculiar.

"Bonjour! Est perdu?" Ele aparentemente perguntou, devido ao tom de sua voz.

"Eu… é, eu.."

"C'est bon, je la connais."

Mina chegou no momento perfeito, e por sinal, falando um francês ainda mais perfeito. O homem sorriu ainda mais, algo que não parecia ser possível.

"Clair! La première fois à Paris?"

"Por elle, oui." Mina sorriu, assentindo e apontando para Chaeyoung.

"Très bien! Provitez de la ville!"

"Merci beaucoup. Amusez-vous aussi."

"Merci… eu acho..." Chaeyoung acenou junto com Mina enquanto o homem ia embora, ainda sorrindo. Paris é tão legal assim? Não fazia ideia. "Desde quando sabe francês?"

"Quando se faz balé, é uma habilidade boa de se ter." Mina tomou a sua mão. "Sabe o quanto eu senti a sua falta?"

"Quanto?" Chaeyoung sorriu, envergonhada. Mesmo depois de uma viagem de dez horas, Myoui Mina era tão elegante quanto sempre havia sido.

"Immensément." Ela lhe disparou uma piscadela, e Son Chaeyoung apenas não desmaiou ali mesmo porque não queria causar uma cena.

--

Tzuyu estava sentando-se em sua carteira quando a comoção começou. Parecia uma cena de filme, todos os alunos indo para as janelas, ou saindo da sala permanentemente. Como alguém naturalmente curioso, Tzuyu também acabou se levantando de sua carteira e seguindo a multidão entre os corredores.

Chegaram no que parecia ser o meio da cafeteria, e mesmo sendo uma pessoa alta, Tzuyu precisou empurrar e pedir licença várias vezes para conseguir ver direito. E quando conseguiu, seu corpo inteiro paralisou. Era Sana, em pé em cima de uma mesa que normalmente deveria ser usada como espaço para os lanches. Por algum motivo, ela havia conseguido um som e um microfone, e ao apenas ver o aparelho de som, Tzuyu já sabia o que iria acontecer.

"Pessoal, pessoal… eu sei que a maioria de vocês, senão todos, eu não duvido… bem, eu sei que a maioria de vocês estavam na festa da Tzuyu quando ela me pediu em namoro."

As pessoas começaram a gritar ao ouvir isso, apoiando Sana a continuar.

"É. Recentemente, tivemos alguns problemas, que eu sinceramente arrependo..." Sana engoliu em seco, segurando o microfone com mais força. Tzuyu percebeu logo as bandagens em seus punhos. "Problemas que foram totalmente minha culpa, e eu percebi isso agora."

Sana olhava para ela agora. Só para ela, e mais ninguém.

"Eu só preciso de uma chance. Pra provar que eu não vou deixar mais nada acontecer, pra provar que eu te amo demais, e que vou enlouquecer sem você, que você é a coisa mais linda que já me aconteceu."

Ela desceu da mesa, e se aproximou, os olhos brilhando com lágrimas. Foi quando Tzuyu realmente se lembrou de quantas estrelas conseguia enxergar nos olhos de Sana.

"Chou Tzuyu, por favor, volta comigo?"

E foi quando Tzuyu ficou realmente perdida, entre dizer sim, ou dizer não.

--

Se Lyon era linda, então Paris era de tirar o fôlego. Mas por que Chaeyoung precisaria prestar atenção em Paris quando possuía uma garota mais linda que a própria torre Eiffel em seu ombro?

Em sua humilde opinião, não precisava.

"Você precisava mesmo pegar o hotel mais caro de Paris?" Chaeyoung perguntou ao deixar sua bolsa no canto da cama. Sentia como se não pertencesse ali. Era tudo muito rico e fino para ela, mesmo que viesse de uma família relativamente bem nascida.

"Eu juro que não é o mais caro."

"Tá brincando? Olha as paredes! Olha essa vista!" Apontou para a varanda, que dava uma vista fantástica para a Torre. Parecia coisa de filme.

Mina apenas riu, balançando a cabeça. "Meu pai sempre foi um bom amigo do dono. É apenas um favor."

"Parece um favor caro."

Abraçou a garota mais alta, girando com ela pelo quarto.

"Bem, nós vamos voltar amanhã, então não se acostume."

Chaeyoung nunca se acostumaria, mas não era de Paris que estava falando. Pensou em sua pintura, que ficaria na exposição por alguns dias mais, e depois seria transferida de volta. Estava considerando dá-la de presente para Mina, apenas assim, sem razão.

Talvez a razão, era que estava pronta para subir o próximo degrau. Tornar público, o que poucas pessoas sabiam. Porque tudo havia mudado, dali para a frente. As coisas eram diferentes, e o diferente não parecia tão ruim assim.

Son Chaeyoung sorriu.

"Então o seu pai já sabe?"

Os olhos de Mina se arregalaram e ela respirou fundo.

"Como sabe que ele sabe?"

"Eu sei de tudo. Bem, quer dizer, não sei de tudo, mas vi na cara dele quando estávamos jantando."

Riu quando Mina lhe lançou um olhar que dizia "sua espertinha...", e a beijou, sem se importar se aquilo tecnicamente era uma maneira de evitar seus olhos penetrantes.

De alguma maneira, tudo havia mudado, mesmo.

Mas nem sempre mudanças doem. Algumas vezes, elas te fazem sorrir, e outras vezes, elas te surpreendem dos melhores jeitos possíveis.

E existe uma história diferente em cada canto de cada lugar. Você só precisar olhar para cima para encontrá-las.

 

 


Notas Finais


até.


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