1. Spirit Fanfics >
  2. Sentimentos não são á prova de balas >
  3. Forgive

História Sentimentos não são á prova de balas - Forgive


Escrita por: MADP13

Capítulo 34 - Forgive


Fui para meu dormitório com um sorriso bobo no rosto. Eram 19h43, e eu estava exausta, mesmo sendo tão cedo. Mi-Cha também estava deitada, e Min-Jee ora mexia no celular, ora lia um livro ou anotava alguma coisa.

 .... 

Era sábado. Levantei cedo e fui direto para o banheiro tomar um banho. A cada respirar eu sentia meu peito apertar. Só pensava em como eu iria dizer à minha mãe por que eu usava um colar de morango no pescoço, que eu tinha uma foto das filhas e da mulher do homem que a abandonou. Que me abandonou. E Sook? O que eu diria para ele? "Ei, Sook, eu acho que prefiro o meu pai de sangue mesmo, porque temos o mesmo DNA. Dane-se as vezes em que você me ajudou com a matéria da escola, foi a minha reunião, minha formatura ou me levou ao hospital!". Sentia que não importa que palavras eu usasse, seria isso o que ele ouviria.

Tomei meu banho e juntei minhas coisas. Min-Jee me acompanhou até o pátio já que passaria o final de semana com seus pais também, mas Mi-Cha ficou no dormitório. 

Quando vi o carro de Sook, meu coração parou, e depois bateu desesperadamente. Senti minhas pernas ficarem bambas e quis sair correndo para qualquer lugar longe dali. Mas eu não podia. Eu tinha 18 anos, queria ser tratada como tal. Precisava encarar o problema de frente.

 - Oi.. - falei entrando no carro.

- Oi! - ele respondeu com um sorriso, como quem não soubesse de nada, enquanto mexia no rádio. 

E eu só conseguia pensar "socorro". 

Seguimos o caminho inteiro ouvindo qualquer música aleatória que tocasse, e enquanto eu ficava olhando pela janela, sentindo minha respiração fria, ele falava alguma coisa, na qual eu mal escutava. 

Avistei nosso portão e aquela vontade de correr voltou sem avisar. Estava quase chorando de raiva, de tristeza, de ódio, mas eu tinha que me controlar. Tinha que parar com essa mania de ligar a torneirinha dos olhos sempre que algo desse errado. Mas eu não conseguia evitar.

Ele abriu o portão e tudo ficou em câmera lenta. Eu ouvia cada batida do meu coração, que nunca fora tão desesperado. Tentava repetir para mim mesma que tudo daria certo e que sairíamos mais unidos e fortes daquilo, como em filmes da televisão. E embora essa ideia me confortasse por alguns minutos, era questão de segundos até que eu sentisse um tapa na cara e lembrasse que eu não estava em filme. 

A realidade é uma merda. 

Abri a porta da sala e vi a televisão desligada. As almofadas estavam em ordem, e o relógio preto da parede, que já tinha mais anos do que eu, me avisava que faltava 5 para as 8. Isso explicava o cheiro de café naquele cômodo, e dizia também que minha omma devia estar na cozinha. Joguei minha mochila no sofá e vi a silhueta dela. Na mesma hora coloquei o meu pingente por dentro da blusa, e pedi desculpas para a minha irmã mentalmente por causa disso. 

Sook foi até a cozinha e falou algo baixo, enquanto minha mãe deu uma leve suspirada e me chamou, com o mesmo tom que ela me recebia toda manhã, como se não esperasse uma bomba. Será que ela esqueceu? Quem se esquece quando avista um sinal de perigo? 

 - Oi... - falei entrando na cozinha.

 - Bom dia! - ela sorriu - vou só terminar de passar o café.

 - Não estou com fome... 

 - Isso é assustador vindo de você.

 - Onde está o Kwan? - perguntei. 

 - Dormindo.

- Entendi... - sentei na cadeira e suspirei. 

 - O que foi? - ela perguntou - está pálida. Comeu algo antes de vim?

 - Não. 

 - E antes de dormir?

 - Também não.

 - Quando foi a última vez que comeu?

 - Foi ontem no almoço..  

 - Não pode ficar tanto tempo sem comer. - Sook falou - Isso não faz bem. A futura médica devia saber disso. - ele riu. 

 Não ria. Não se preocupe. Eu vou cravar uma faca no seu coração daqui a pouco. Não me faça sentir culpada. 

 - Eu estou bem... 

 - Não aparenta. 

 - Lembra que te falei que precisávamos conversar? E que tinha que ser pessoalmente? 

 - Sei... - ela colocou o caneco de lado - É algo tão ruim?

 - Depende do ponto de vista...

 - É algo com a escola?

- Claro que não. - Meu padrasto interferiu - Já estaríamos sabendo. 

 - Então o que é? 

- Antes fosse algo com minhas notas, meus colegas... Mas não é... 

 - Com o que tem a ver então? 

 - Com...

 O que eu deveria responder? Pai não era apropriado, mas Willian... Não me sentia a vontade falando assim dele.

 - Tem a ver com aquela invasão daquele dia. - falei - sobre sua irmã... E em fim.

 - Isso é um assunto extremamente desagradável. E desnecessário. 

 - É aí que você se engana, omma! Temos que falar sobre isso! Não só temos como precisamos!

 - Me dê um motivo para querer levar essa conversa a diante. 

 - Talvez o fato daquilo ter virado nossas vidas de cabeça para baixo?

 - Não me afetou em nada. - ela disse seca - e você?

 Como pode não ter colocado sua vida de cabeça para baixo? E se me afetou? Não, claro que não! Por que a vinda do meu pai biológico e da minha tia me afetariam?  

 - Sim, eu senti como seu uma bomba caísse m cima da minha cabeça e explodisse tudo o que eu conhecia! 

 - O que você quer que eu diga? - ela puxou uma cadeira e se sentou - você falou com ele, e daí? Sabe a minha historia, o que mais eu devo fazer?! O que espera com essa conversa?

 - Eu só... - batuquei o dedo na mesa - achei que iria querer ouvir o que ele me disse..

 - Não quero ouvir nada que venha daquele homem. Não quero saber da história dele. 

 - Tá, mas e da tia Júlia? 

 - Dela muito menos! Foi outra que me abandonou quando eu mais precisei!

 - Todos te abandonaram, foi isso? Já pensou em ouvir o lado deles da história? 

 - Não há nada que justifique o que fizeram.

 - Então por que perdoou a vovó? - bati a mão na mesa - Ela te deixou sozinha com o seu pai, foi para o outro lado do país tendo a escolha de ficar e depois voltou como se nada tivesse acontecido! Mas você deu uma segunda chance para ela! E seu pai foi tão compreensivo! E ele estava no mesmo lugar que você agora... 

 - Como assim no mesmo lugar que eu? Ta pensando em desculpar aquele homem? Depois de tudo o que eu te contei? 

 - Sim! Eu acho que estou... Só seguindo os seus passos...

 - E olha onde eu vim parar! Tenho uma filha ingrata que não sabe reconhecer nem um milésimo do que fiz para ela! 

 - Eu jamais te deixaria de lado, você sabe! 

 - Podem se acalmar?! As duas? - Sook gritou - Como você pode, Milla? 

 - Ah não, Sook! Você também? 

- É! Eu também! Não entendo como pode cogitar a ideia de chamá-lo de pai. 

 - Eu nunca disse isso! Só não vejo por que não dar uma segunda chance! Você deu, mamãe, e a sua vida é maravilhosa! Tem a droga da oportunidade de se reconciliar com sua irmã, dois filhos e uma marido que te ama!

 - Isso é extremamente diferente! 

 - Qual a diferença? Me diz que eu não estou vendo! 

 - A diferença é que minha mãe não foi abandonada grávida por um cafajeste! 

- Não! Ela engravidou de um homem decente, abandonou ele e as crianças! 

- Ele tinha a opção de ficar! 

 - Ela também! 

 - Mas... 

 - Não adianta! No final das contas você não tem argumentos! A história está se repetindo, é só isso!

 - Tem uma diferença, sim, Milla... - Sook falou me olhando de cima para baixo deixando evidente sua decepção - Você tinha uma família, um irmão, uma pai, uma mãe... Tinha tudo isso completo.. o que você não tinha era a necessidade de procurar outro alguém para estragar isso. 

 - O que vocês estão falando não tem coerência. - sussurei. 

- Se você quer perdoa-lo, vá em frente, acabe com sua vida, com nossa família. Quem sou eu para te impedir? Pois pelo visto, meu papel de mãe não valeu de nada para você. 

Não consegui pensar em fazer mais nada senão atrevessar aporta da sala e da cozinha e bater o portão com mais força do que eu achei que tinha. 

 Andei sem rumo por um tempo, com o peito apertado e uma vontade enorme de gritar. Percebi que estava na rua da Sun Hee, que ficava a uns 10 minutos da minha casa. Andei até encontrar sua moradia e rezei para que ela estivesse em casa. Toquei a campainha tão desesperada que quase quebrei-a também. Para a minha pouca sorte, logo ela e Hope abriram o portão.

- Milla? - pela cara dela eu estava um caco 

- Garota, o que aconteceu com você? Entra aqui, vamos tomar um pouco de água! 

Ela só me puxou para dentro e me conduziu até a cozinha. Eu não disse uma palavra até colocar para dentro de uma vez só, sem respirar, meio litro de água com açúcar.

 - Você não parece nada ok. - Hope observou.

 - E nem estou... - falei passando a mão pelos cabelos. - Desculpe chegar assim, é que...

 - Não tem do que se desculpar! Mas precisa me contar o que aconteceu. Parece que foi atrpelada por uma manada de elefantes. 

 - Antes fosse! Eu estaria me sentindo muito melhor do que agora! 

 - Aish! Assim me deixa preocupada. 

 - Eu não tenho muito o que falar... São problemas pessoais. Problemas pessoais que estão acabando comigo. 

 - É algo com os meninos? 

 - Não! Essa já é outra história, na qual eu ainda tenho conseguido manter nos eixos, mas... Tem muita outras coisas. 

Elas não me fizeram mais perguntas. Sun Hee só me puxou para seu ombro, e Hope me deu um pequeno abraço. Perceberam que eu não precisava dizer, e elas não precisavam saber. Quando eu estivesse pronta para usar minhas palavras para descrever essa história, publicava até no jornal, mas até lá... Eu só precisava que me tratasse normalmente, ou com um pouco mais de carência que o normal.

 - Ok... - falei depois de um tempo - chega de blá blá blá.... Não posso ficar chorando a vida toda. 

 - Você está mesmo bem?

 - Estar bem, eu não estou. Mas vou ficar. - me levantei, fui até o banheiro e lavei o rosto. Eu já era de casa - Hope, o que você estava fazendo aqui tão cedo? 

 - Eu vim devolver umas coisas para a Sun Hee, e planejamos ver um filme. 

 - E não me convidaram?

- Você não ia querers ultimamente você tem estudo muito focada nos estudos. 

- Idai? Se não me chamarem da próxima vez, eu juro que mato vocês duas! 

 - Vou anotar sua ameaça... - Sun Hee levantou - mas deixa para a próxima. Vamos ver o filme?

 - Está me convidando? 

 - Não. - Hope esclareceu - estamos avisando que nós três vamos assistir.

 - Não atrapalho?

 - Não! 

Fomos até a sala, e as meninas ligaram a televisão. O filme era um pouco antigo, e sinceramente, não me lembro o nome, mas incluía todos os fatores nescessários para deixar alguém morto de medo: bonecas com olhos escuros, crianças deficientes e idosos carrancudos. Esses três itens eram a chave para me deixar assustada o quanto antes.  

Paramos o filme para comer, mas eu não estava com fome. Apenas observei. 

Admito que durante alguns sustos eu esqueci o por que de estar tris

Fiquei muito surpresa pela mãe de Sun Hee não ter acordada com nossos cochichos e gritos. Seu pai, não estava em casa. 

Quando o filme acabou, passava um pouco das 11h, e eu rezava para receber uma mensagem do meu pai ou da minha mãe me dizendo que estavam preocupados. Mas eu não recebi nada, e só conseguia imaginar que eles estavam me deserdar do naquele exato momento, e minha omma, provavelmente estaria se odiando por ter me dado a luz. 

 - Tenho que ir... - falei. 

 - Fica mais um pouco - Hope disse - eu vou embora daqui a pouco....

- Eu adoraria contar com sua companhia, mas eu realmente tenho que ir. 

 - Ok... Vê se manda mensagem depois - elas me abraçaram - e não surta. - Vou tentar.  

Me acompanharam até o portão e eu me dirigi sem rumo novamente. Meu plano inicial era ir para casa, mas o que eu ganharia lá? E o que eu ganharia importunando as meninas? Não, eu só precisava me afastar... Respirar.

 Acabei indo parar perto de uma padaria que eu nunca tinha visto. Eu estava tonta, talvez pelo calor, ou pelas coisas que vêem acontecendo, então me sentei em uma das mesas do lado de fora. Tentei apenas expirar fundo para me recuperar o mais rápido possível.

 - Moça, quer alguma coisa? - uma voz perguntou. Olhei para cima, e um homem de mais ou menos 20 anos estava me olhando com um bloco na mão. 

 - Não.. - falei balançando a cabeça.

 - A senhora está bem?  

Se eu ganhasse um real para cada vez que me perguntassem isso... 

 - Parece tonta - ele disse - vou pegar algo para você beber. 

Ele voltou em dois minutos com uma garrafinha com suco de laranja. 

 - Não tenho dinheiro aqui. - esclareci.

 - Fica por conta da casa.  

Eu só encarei a garrafa, e nem eu sei o que se passou na minha cabeça. O homem se sentou ao meu lado. 

 - Quer ligar para alguém?  

 - Estou tão ruim assim? 

- Não, mas tá branca demais até para quem nunca viu o sol na vida.

 - Agradeço a sinceridade. - tomei um gole do suco - e pela gentileza. 

 - Nunca te vi por aqui. 

- Moro a uns 10 ou 15 minutos dessa área. Você é daqui?

 - Sim. Moro bem perto. - ele estendeu a mão - Sam, prazer. 

 - Milla. - cumprimentei-a - Igualmente. 

 - Pode ficar despreocupada, o suco não vai fazer falta. E pode se recuperar um pouco. Hoje o movimento está fraco. 

 - Obrigada, de novo. 

Els sorriu e se levantou para ir atender uma moça no balcão. Não demorou muito para que eu tomasse o suco e meu rumo. Decidi voltar para casa.

Perto da minha moradia tem um parque. Ele fica perto de uma loja de sapatos, é perto da Big Hit, também. Era inevitável passar por ali, o que eu queria ter feito. Andando com a cabeça latejando, doendo é uma vertigem forte, acabei esbarrando alguém. 

- Sinto mui... - parei ao ver quem era. 

 - Quando eu acho que o dia está bom, me vem uma dessa!

  - Tá fazendo o que aqui, filhote de capeta? 

 - Passeando, ou a rua é sua agora? É por isso que não olha para onde anda? 

 - Não enche, Hei!

- Sabe... - ela riu - fiquei surpresa quando vi você e o Kook. Bem piranha você, né? 

 - A única piranha que tô vendo está na minha frente. 

- Se eu fosse espelho você veria outra! Não adianta ficar magiadinha com a verdade, tava toda engraçada com o Jimin, nem disfarçava, e depois partiu para o meu priminho? Bem mal caráter, não acha? 

- Você não sabe de nada! 

 - Se o que eu sei é pouco, não quero nem ver a história toda! - ela riu, de novo -mas desde que não fique no meu caminho, faça bom que quiser! Estou pouco me importando!  

- Não liga mesmo para os sentimentos do seu primo?

- Não te devo explicações. Agora, com licença que eu tenho mais o que fazer do que gastar meu tempo com esse parangolé! 

E ela saiu, rebolando aquela bunda que ela só achava que tinha. Odiava quando ela fazia isso! Odiava o cheiro dela! Odiava o carinho que ela tinha com o Jimin! 

Voltei para casa, e só de ver o portão, já senti meu coração ir a mil novamente. Kwan estava na sala vendo televisão quando entrei.  

- Oi, pirralho! - falei dando um beijo em sua testa.

 - Finalmente você voltou, a casa já estava ficando normal - ele sorriu, mostrando uma janelinha.

 - Alguém vai receber a fada do dente?

- Recebi ontem! Ganhei muitas moedas!

- Pelo visto tem mais que eu...

 A cozinha estava vazia, e eu morria de medo de subir as escadas e dar de cara com o olhar avassalador de um dos meus pais. Mas não tinha jeito. Pisei degrau por degrau tentando convencer a mim mesma que nada de ruim estaria me esperando lá em cima, mas tudo dentro de mim dizia que aquilo não era verdade. E não era. Minha mãe estava no banheiro, penteando os cabelos, e Sook estava encostado na porta falando alguma coisa. Assim que me viram, simplesmente me encararam, até decidirem falar algo.

- É quase 12h.. - ele esclareceu - onde estava?

- Andando.

- Não estava com seu paizinho? - minha mãe perguntou, sarcástica.

- Vocês são um saco!

Entrei no meu quarto, talvez para me esconder um pouco, mas minha omma entrou logi atrás, com o rosto vermelho, batendo a porta com ainda mais força. Quando estávamos com raiva, pelo visto, éramos extremamente fortes.

- Se você está tão insatisfeita, eu realmente não sei o que está fazendo aqui!

- Tentando conversar, mas quando se trata de vocês, isso parece ser impossível!

- Oh, coitadinha dela! Pobrezinha da vítima incompreendida!

- Para de fazer cena! - falei batendo o pé - eu não sou mais uma criança, então pare de me tratar como uma! A única que está sendo infantil aqui é você!

- Eu? Eu estou sendo infantil? Você me respeita!

- Eu te respeito, mas a senhora não está facilitando em nada!

- E você está?! 

- Muito mais que você! Só está apontando o dedo na cara das pessoas é dizendo "você me abandonou"," você me abandonou também", ora, poupe-me!

-  O que você quer que eu faça? Heim? Aceite tudo isso em uma boa? Quer que eu aja como se essa facada que você me deu nas costas fosse um presente de aniversário?

Ela caminhou até meu guarda roupa e jogou algumas das peças de roupas que estavam lá na cama.

- Se está se sentindo infeliz é só colocar tudo isso em uma mala! Ninguém está te prendendo!

Não, pelo, contrário, estão me expulsando.

Sabendo que aquilo não teria bons resultados, sai novamente do meu quarto e desci as escadas o mais depressa possível. Realmente não teria condições de ficar ali.

- Aonde você vai? - Kwan perguntou, aparentemente assustado com os gritos.

- Para qualquer lugar longe daqui... De novo..

Eu pude ouvir passos antes de fechar a porta. Provavelmente, um deles estava vindo atrás de mim para dar um discurso de moral e me fazer sentir culpada. Mas hoje não! Não seria hoje que eu me culparia por estar certa!

Perambulei pelas rua de Seul por quase uma hora. Quase me perdi em bairros que eu nem sabia que existiam. Quando dei por mim, estava sentando em um banco de uma praça, em baixo de uma árvore. Eu só observava as árvores balançando, sentindo o coração bater devagar, e depois disparar, a cabeça rodando e o corpo mole.

Mexi no celular na espera de um torpedo ou uma ligação, mas não havia nada. Nem dos meninos... E mesmo que previssem que eu estava magoada, eles já estavam em um avião, e só voltariam em três meses.

Acreditem ou não, fiquei quase 2 horas sentada naquele mesmo banco. 

O céu começou a escurecer, devido a uma possível chuva e tudo o que me veio a cabeça foi "onde eu vou dormir?". 

Sem outra saída, me levantei e fui novamente até à casa de Sun Hee.

- Oi?... - Falei assim que ela abriu o portão.

- Isso não pode ser bom...

- A Hope ainda está aí?

- Não, ela foi embora uns 20 minutos depois de você. Tá procurando ela?

- Não... - passei a mão no rosto - Hee, tem a possibilidade de eu dormir aqui?

- Dormir?

- É uma longa história...

- Então entra e conta tudo.

Falei a ela o que me aconteceu, cortando algumas partes que eu não queria comentar. Se possível não queria nem lembrar. No final das contas, Sun Hee sua mãe deixaram eu  passar a noite ali.

.....

No dia seguinte acordei às 9h. Abri a janela e pude sentir aquele cheiro de terra molhada, resultado da forte chuva que deu ontem, como eu havia previsto. Ainda caiam gotas d'água da calha, e a grama estava bem molhada, mas o dia estava limpo e claro.

Fui até o banheiro e lavei meu rosto.

Meus pai me ligaram 2 vezes, e eu não atendi nenhuma delas. Me perguntava se eles estavam ligando por preocupação, ou por culpa.

Foi até a cozinha e vi minha amiga, e a mãe dela que eu considerava uma tia, comendo o café da manhã.

- Não esperava que te esperasse nos, né? - Sun falou - só fazemos isso com visitas.

- E eu sou o que?

- De casa. - minha "tia" falou.

- Não se preocupem, estou sem fome.

Ou sem vontade de comer.

- Coma nem que seja um pouco! Café da manhã é importante!

Belisquei uma coisa ou outra para não fazer desfeita, ajudei a retirar a mesa e lavar a louça. 

Por volta das 11h eu já havia ignorado 5 ligações dos meus pais. Decidi voltar para casa. E eu estava com muita coragem, isso até passar do portão. Cada passo que eu dava me faziam sentir como uma garota de vidro, que se pisasse em um prego sequer, racharia em mil pedaços.

Parei no meio do caminho e encostei em um poste. Percebi que além de ligar, haviam mandado mensagem. E embora eu tivesse a curiosidade da ler cada uma delas, o que eu não tinha era a coragem.

- Milla? - uma voz chamou.

- Eu? - olhei e vi o mesmo homem de ontem, da padaria - Lembra meu nome?

- Sim, eu acabei de fala-lo, não?

- O que está fazendo aqui... Sam?

- Estou entregando alguém folhetos. - lê mostrou os papéis em suas mãos - E você?

- Eu... - nem eu sabia o que estava fazendo - só passeando.

- Não parece tão mal quanto antes, mas também não parece bem.

- E alguém consegue estar?.. - suspirei - A vida só fode com todo mundo..

- Vou adotar esse lema! - ele riu - para onde está indo? - apontei meu caminho - eu também.. quer companhia? E se quiser desabafar também, eu sou um ótimo ouvinte.

- Não precisa.

- Ora, o que é que há? Se for para falar algo constrangedor para alguém, que seja para um desconhecido.

Ele sorriu e começou a andar, fazendo sinal para que eu o seguisse. 

Sam me acompanhou até um certo ponto perto de casa, mas depois nossos caminhos se desncontraram. Ele realmente era um bom ouvinte, e eu não pude acreditar que havia contado tudo para ele. Eu não tinha feito isso nem com a minha melhor amiga!

De novo aquela imagem. De novo aquele portão. Eu só esperava entrar para não sair tão cedo, gritando e xingando como nas vezes anteriores. Estava aberto, talvez porquê esperavam que eu voltasse.

E eu entrei, travando, com raiva, mas entrei. A porta estava aberta também, e eu não sei de onde tirei forças para empurra-la.

- Quem é? - minha mãe apareceu assim que ouviu o barulho, e ficou paralisada me olhando, como se não soubesse de me abraçava ou me expulsava. - Onde passou a noite?

- Estou bem, obrigada por perguntar.

- Tomou chuva?

- Pareço molhada? - suspirei - a Sun Hee me ajudou. Não fique brava com ela.

- Por que não atendeu as ligações?

- Para quê? O que você diria?

- Poderiam ao menos ter me dito onde estava! 

- E por que eu faria isso? 24 horas atrás a senhora praticamente me expulsou de casa!

Passei praticamente correndo por ela, a fim de fazer qualquer coisa que não fosse continuar aquela conversa.

- Mi! - ouvi alguém chamar. Era Kwan, que estava desenhando em seu quarto - Você voltou!

- Achou que ia se livra de mim? - falei entrando e me sentando ao lado dele - vai ter que ralar muito para isso.

- Você brigou com a mamãe.

- É... - suspirei - e com o papai também.

- Por quê? 

- O que é isso? - falei apontando para seu desenho e mudando de assunto.

- Não estão tão bons quanto os seus, mas acho que está bom.

- Sim, estão!

- É para uma colega.

- Colega?

Haviam dois bonecos de palito no desenho, e um deles estava entregando um balão de coração para o outro, que usava vestido rosa. 

- Só colega? - perguntei. - Tá proibido de namorar antes de mim!

- Não sei, acho que ela gosta de mim.

- E você gosta dela?

- Ah, sim, claro, eu amo ela.

Opa!opa! opa! Kwan, meu querido, amor é uma palavra forte para se usar em vão.

- Se você diz... - respondi.

- A mamãe disse que isso é bobo. Que sou muito novo.

- Amor não tem idade - sorri, sem graça - é só saber quando é de verdade.

- Dizem que ele vence tudo, até mesmo o ódio e a mágoa. Isso acontece mesmo?

Espero que sim... Caso contrário, o que eu fiz não tem mais concerto.






Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...