Olha o que nós fazemos com as coisas
Cheios de tanto ódio
Um jogo tão cansativo
Chega, eu fiz tudo o que pude pensar
Persegui todos os meus demônios
E vi você fazer o mesmo
— Perfect
Seul, Capital da Coréia do Sul
Taehyung bagunçou os cabelos pela terceira vez seguida enquanto olhava tediosamente para frente, ouvindo o Técnico Goo Yejun gritar mais uma vez explicando o porquê de querer mudar as posições de cada membro do time no jogo que viria na próxima semana.
Jimin estava ao lado do Técnico, sendo assim, ouvia seus gritos duas vezes mais alto que os outros. Por Jimin ser o Capitão do time, o Técnico procurava explicar as coisas com mais convicção e bravura para ele.
Todos os meninos do time estavam com seus corpos jogados demonstrando o quanto estavam cansados de ouvir o falatório vindo do homem mais velho.
O horário escolar já havia acabado fazia quarenta minutos, mas antes que os meninos pudessem ir embora, o Técnico exigiu que todos comparecessem no ginásio para uma reunião de última hora.
Era mais um dia agitado no grande time de basquete do colégio. Após o colapso que os meninos sofreram graças à má partida que tiveram no último jogo, o Técnico passou a questionar cada decisão que Jimin fazia em relação ao time.
Bangpae era um time escolar conhecido por ser o melhor desde muitas gerações, tinha uma grande reputação por serem bons jogadores e ganharem quase todos os campeonatos sendo invicto em relação à qualquer outra escola que competia com ele. Era um pecado pelo menos pensar na hipótese de que a Sete Elite perdesse mais uma vez, colocando em risco toda a história do basquete no Atakura Seoul.
Em tantos anos, as pessoas se tornaram testemunhas de inúmeros jogos ganhos de lavada ou até mesmo com muito suor. O time era bom demais até para ser considerado apenas um time escolar, gritos estridentes eram ouvidos não só de alunos, mas também de muitas pessoas ao redor de Seoul que gritavam por "Bangpae." Muitos investidores tentaram tornar Bangpae em um time nacional pronto para competir com outros times importantes ou até mesmo times de fora da Coréia do Sul, mas os respresentantes do colégio sempre deixaram muito claro que Bangpae pertencia à Atakura Seoul e isso nunca mudaria.
Em um momento inesperado, o Técnico apontou para uma enorme imagem significativa que se encontrava no alto do ginásio. A imagem mostrava o memorial que havia no enorme espaço de memoriais da escola, o do time era o maior de todos e era coberto por coroas decoradas especialmente para cada membro do time, fotos de antigos alunos integrantes, esculturas desenhadas para cada um dos meninos, todos os troféus e medalhas de ouro e de prata.
O Memorial era tão bonito que assim que conseguiram a imagem do mesmo, o colocaram no ginásio para que o time sempre se lembrasse de como ele é forte.
— VOCÊS ANDAM OLHANDO PARA ESSE MEMÓRIAL QUANDO PASSAM PELOS CORREDORES DESTA ESCOLA? — gritou o Técnico. — VOCÊS OLHAM PRA ESTA IMAGEM ENQUANTO TREINAM?!
Os garotos nada falaram, apenas assentiram com suas cabeças.
— ENTÃO DEVERIAM LEMBRAR QUE VOCÊS NÃO DEVEM PERDER EM HIPÓTESE ALGUMA! EU QUERO QUE VOCÊS MAIS QUE SE ESFORCEM, GANHAR ESSE CAMPEONATO É MAIS QUE UMA OBRIGAÇÃO!
— Você pode gritar mais baixo? — Seokjin perguntou. Levou a mão até um dos ouvidos fazendo uma careta, em seguida, respirou fundo.
— Você está debochando da minha cara, garoto?! — o Técnico retrucou, dando dois passos em direção ao menino.
— A gente já entendeu a droga desse recado e a gente também já entendeu que temos que ganhar os próximos jogos. Mas você gritando perturba minha mente, então vê se para! — Jin, como era conhecido por seus amigos, tinha o pavio curto assim como seu primo Namjoon, a diferença era que ele descontava tudo em palavras, e Namjoon gostava de quebrar coisas e pessoas.
— Eu acho que essa mudança vai ferrar ainda mais o time, então eu me recuso em entrar na onda dessa nova formação. — Yoongi falou em um tom normal e debochado. Todos olharam para o garoto de pele pálida. Ele se encontrava de pernas esticadas e extremamente em estado de impaciência. — Mudar as posições não vai adiantar nada, só vai piorar as coisas. Se não ganhamos no jogo passado, foi por não termos tido bom desempenho. Nunca mudamos as posições antes e isso sempre nos manteve vitoriosos.
O Técnico travou o maxilar e acelerou os passos em direção à Yoongi. Parou em frente ao garoto.
— Algo aqui me faz pensar que você só está no time para manter suas calorias em ordem, Min Yoongi. — o Técnico riu ao falar.
— O que você está pensando é um problema seu, Técnico. Guarde as piadinhas idiotas para você, ninguém aqui é obrigado a ouvir você se achar inteligente quando tem uma ameba no lugar do cérebro. — Yoongi retrucou enquanto se levantava olhando o homem mais de perto.
O Técnico, que pareceu entrar em uma espécie de transe de dez segundos, teve uma reação repentina. Levou uma das mãos até um dos ombros de Yoongi e deu um aperto no mesmo.
— Não se esqueça que o Técnico aqui sou eu, meu garoto. Por mais que eu diga merdas, vocês devem seguir essas merdas!
— Desculpe, Técnico. Mas deve ser extremamente doloroso para você saber que minha opinião vale mais que a sua. — o garoto pálido debochou mais uma vez. — Nós sabemos o que fazer como um time. Quem manda em tudo aqui por enquanto somos nós, isso vale mais que esse conhecimento que você tem sobre esporte. Você deveria liberar logo a gente e ir descansar a voz, todo mundo já cansou.
Os garotos começaram a se levantar sem dizer nada, prontos para irem embora. A verdade era que nenhum deles estava mesmo se importando para o que o homem mais velho estava dizendo. O time era formado pelos Sete Elite, o que significava que mesmo que não oficialmente, quem mandava em tudo eram eles.
Além de serem os integrantes do Bangpae, os meninos se aproveitavam do fato de serem filhos de pessoas poderosas com imenso peso no bom desempenho da escola, o que significava que mesmo que as pessoas não quisessem, elas tinham que aceitar os caprichos dos sete meninos mimados caso não quisessem perder seus cargos no colégio.
O Técnico continuou segurando Yoongi enquanto fechava seu punho com força, mas o mais novo ainda olhava diretamente no rosto do homem alto à sua frente.
— Parem aí! Eu ainda não terminei de falar. — o homem falou alto antes que os meninos pudessem sair do ginásio. Bufou. — Eu ainda sou o Técnico e posso tomar a decisão direta de substituir alguns de vocês por outros alunos e então o Campeonato estaria ganho.
— Você sabe que não pode fazer isso. — Hoseok afirmou enquanto revirava os olhos. — Você ser nosso técnico só te dá o direito de sugerir coisas a quais a gente concorde no futuro e decidir as mudanças caso um de nós se machuque em jogo.
— Ser técnico é bem mais do que isso. Eu não vou ceder aos caprichos de sete garotos mimados que acham que mandam em todo mundo. Então, eu acho melhor que vocês voltem para as cadeiras e terminem de me ouvir!
— Em momento algum eu disse que você pode me tocar. — Yoongi disse em um tom de leve ameaça, enquanto tirava a mão do Técnico de seu ombro. — Você está perdendo o seu tempo tentando nos fazer prestar atenção no que você estava dizendo.
O homem mais velho percebeu que eles não estavam mesmo dispostos a considerar sua proposta, mesmo que ele os pressionasse. Ele sabia que lidar com sete garotos acostumados a terem pessoas que que obedeciam à eles não importando o que fosse graças à seus sobrenomes, era difícil; tudo era mais complicado ainda pelo homem não gostar de pessoas mimadas e arrogantes como eles eram.
— Você sabe também que mesmo que nos substituir fosse possível, ninguém nessa escola joga melhor que a gente. — o número 2, Yoongi, tornou à falar.
Alguns dos garotos como Namjoon e Jungkook já haviam saído do ginásio.
— Caso vocês percam mais algum jogo por conta dessa imaturidade toda, eu...
— Relaxe um pouco, Técnico. Não é saudável se estressar por causa de algo como isso. — Jimin avisou enquanto saía do local junto do restante dos meninos, incluindo Yoongi.
Os garotos saíam da escola falando em voz alta enquanto davam risadas. Estavam animados por estarem saindo do colégio. Yoongi apoiou o braço em Jungkook enquanto andavam e davam gargalhadas das coisas idiotas ditas por Hoseok.
— Acreditem, a garota não tinha nada que pudesse ser chamado de bonito! — Hoseok falava sobre a nova namorada de seu primo mais velho. — Eu sei que ele tem mania de se envolver com mulheres pouco bonitas, mas agora ele se superou!
— Ah, dá uma chance pra ele, Hoseok! Seu primo apenas gosta de testar gostos novos. — Namjoon se divertiu enquanto negava com a cabeça.
— Gostos novos e ruins, claro. — Jin brincou fazendo os meninos rirem mais uma vez.
— Está certo. Ele não é tão bonito mesmo para ter uma namorada bonita de verdade. — Jimin falou quando já estavam do lado de fora da escola.
— Nem todos tem a sorte de namorar uma garota tão bonita quanto a Linn, Jimin. — Hoseok comentou soltando um riso.
Hoseok sempre teve mania de se divertir muito quando os assuntos eram as relações amorosas de seu primo. Não que ele fosse um primo ruim, mas ele achava engraçado o fato de que seu parente só se envolvia com mulheres feias.
Hoseok era o filho único de pais não muito disponíveis, por isso acabou se apegando muito rapidamente à seu primo nas vezes em que sua tia cuidava dele ou quando ele ia visitar sua casa. As crianças brincavam o dia inteiro, então Hoseok se sentia em casa quando estava com seu primo. Ainda assim, gostava de o provocar por conta de sua vida amorosa conturbada e engraçada.
— Vocês acham que o Técnico vai ter coragem de tentar substituir a gente? — Jungkook questionou colocando as mãos nos bolsos do blazer azulado.
O céu estava bonito, mas o clima era frio. Eles andaram juntos ainda até se afastarem um pouco do colégio. Jin se afastou um pouco mais rápido que os outros para se largar em cima de um muro baixo da rua onde estavam. Uma curva depois da escola.
— Ele parece não ter medo do que a gente possa fazer com o cargo dele. Isso é engraçado, porque todo mundo tem medo... menos ele. — Jin deduziu olhando para frente.
— Vocês estão mesmo preocupados com isso? Isso nunca vai acontecer e vocês sabem bem que não. Quem manda na merda da escola mesmo que as pessoas ainda não reconheçam totalmente, são nossos pais. — Jimin começou a falar com uma pose profissional e irônica. — E eu sou o Capitão do time, ou seja, o Técnico não tem nenhuma chance contra a gente.
Namjoon remexeu a cabeça respirando fundo. Tirou um par de luvas dos bolsos e empurrou contra as mãos se protegendo do vento gélido que os rondava. Andava ao lado de Taehyung, mas parou assim que percebeu que todos também haviam parado perto de onde Seokjin estava.
— Talvez ele realmente seja do tipo de cara que não liga para o emprego quando o orgulho está ferido. — Namjoon afirmou.
— Eu realmente não estou preocupado com o fato dele poder tirar a gente do time. Eu só estou comentando porque eu tenho curiosidade em saber se ele teria coragem de tentar alguma coisa contra a gente. — Jungkook explicou cuidadosamente.
— Sobre isso... eu também estou curioso. Ele é bem durão e pode sim querer tentar alguma coisa contra a gente, mas ninguém aqui está preocupado com isso de verdade, não é? Todo mundo sabe que ele não vai conseguir nada. — disse Jimin.
Yoongi passou por Jin e se escorou em uma parede da rua, ainda sentia-se um pouco irritado pela forma como o Técnico tinha elevado o tom de voz consigo. O Técnico ainda não havia dominado a informação de que Min Yoongi ou qualquer um da Sete Elite odiava ser contrariado.
— Eu não sei... se ele chegar até a minha mãe dizendo coisas sobre a forma como a gente tratou ele hoje, pode ser que ela dê uma punição para cada um de nós e a gente fique afastado por um tempo do time. — exclamou Taehyung com desdém. — Nunca se sabe qual tipo de decisão a senhora Kim Ahra possa tomar, ainda mais quando o filho dela está envolvido.
— Ele não vai fazer merda nenhuma porque ele sabe que pode perder o emprego caso a gente abra a boca para nossos pais. Principalmente você, Jimin. Você é o Capitão do time e seu pai é um dos patrocinadores da escola. — disse Yoongi, mexendo a cabeça.
Estava frio, mas os meninos permaneciam na rua enquanto conversavam. Já estava um pouco escuro mas eles não estavam se importando, apesar de estarem com raiva pelo fato do Técnico ter os impedido de sair mais cedo da escola.
Pararam de conversar por um momento e ficaram em silêncio.
Taehyung colocou as mãos nos bolsos também por conta do frio e se virou em direção aos outros garotos.
— Bom, se for mais longe do que a gente imagina, nós podemos resolver isso amanhã, agora eu tenho mais o que fazer. — avisou Tae, que estivera observando o nada por um tempo.
— Você... Mais o que fazer... — Hoseok se apressou s dizer. — Até onde eu sei, a sua mãe pode arrancar sua cabeça caso você chegue tarde em casa de novo. Ela não está muito bem com você, não é?
Taehyung revirou os olhos e respirou fundo.
— Minha mãe nunca está bem comigo e eu também nunca estou bem com ela. É sério, cara, se eu ficar naquela casa ou nessa escola por muito tempo, é capaz da minha cabeça explodir. — exclamou com a voz fraca. — Por isso eu preciso sempre distrair um pouco minha mente ou então acabo matando alguém. Eu vivo sufocado dentro do olhar da minha mãe.
— O problema não é você distrair a mente, o problema é o que você faz para conseguir isso. — comentou Namjoon com seu tom arrastado. — Eu ainda quero descobrir aonde você quer chegar com sua loucura.
— O que eu faço pra distrair a cabeça...?
— Exatamente. Ou você quer mesmo que eu liste todas as loucuras que você já fez? — Namjoon tornou a dizer. — Cara, você já é quase um adulto, não deveria ficar fazendo essas coisas para chamar atenção dos mais velhos.
— Vocês ainda acham mesmo que o que eu faço é errado... minha mãe já me dá atenção suficiente e isso me deixa sem chance pra respirar. — resmungou Taehyung. — Eu só quero deixar ela tão irada a ponto de desistir de ficar no meu pé. Entenderam agora o meu plano de vida?
Jin largou o muro onde se encontrava sentado e se encostou em seu primo mais velho Taehyung, sentindo-se divertido. Não podia deixar de achar engraçado que o garoto demoraria a deixar de lado o prazer que sentia em fazer coisas erradas.
— Ok, vingador! — Jin brincou. - Agora eu vou para minha casa porque eu sim tenho mais o que fazer.
Ele, Seokjin, já tinha infrigido as leis que seus pais o forçavam a seguir. Mas viu que não era o suficiente para que eles o deixasse em paz com todas as responsabilidades que colocaram nas costas do mesmo. Ao todo, quase ninguém da família Kim escapava das palavras "responsabilidade", "dinheiro" e "arrogância". Sendo assim, os três netos herdeiros de Kim Kwan-Han — Seokjin, Namjoon e Taehyung —, eram pressionados para que alcançassem a perfeição.
— O que você pretende fazer hoje? — perguntou Jungkook, se virando para Taehyung.
— Namjoon, Jin! Nosso avô mandou um presente da Suécia para a Coréia do Sul, e eu... como um membro importante da família, o neto herdeiro mais velho dele, vou até lá deixar a minha homenagem! — Namjoon e Jin mudaram suas expressões na mesma hora.
O avô deles, Kim Kwan-han, passou a viver na Suécia desde que passou os negócios adiante, mas logo montou mais um negócio no outro país por não saber como ficar sem trabalhar. Por ser um homem extremamente rico, seu nome tinha um enorme peso nacional e internacional, e graças à ele, os negócios entre a Suécia e a Coréia do Sul se tornaram comuns e essenciais para a econômia de ambos os países, e então o mais velho se tornou um símbolo dos negócios. Era comum ele mandar presentes como esculturas e coisas históricas como presente da Suécia para a Coréia do Sul.
— Taehyung, que droga você pretende fazer? — Namjoon perguntou levando uma das mãos até a cabeça. — Você sabe que se alguma coisa acontecer com essas porcarias que o nosso avô manda pra Coréia, ele manda que procurem o culpado até no inferno!
— Vai ser ótimo que ele saiba que o neto mais velho dele acha ele um inútil. — respondeu Taehyung. — Aquele velho acha que manda no mundo. É graças à ele que tanto eu quanto vocês estamos preso nessa porcaria que se chama responsabilidade além do normal.
Quase todos os outros pareciam insatisfeitos com o garoto. Yoongi estalou a língua no céu da boca e negou com a cabeça. Jin revirou os olhos e Jimin deu risada vendo que Namjoon simplesmente virou as costas e saiu andando sem ao menos dizer tchau.
— Eu vou com você. — Jungkook falou após permanecer calado por um tempo. — Meus pais não estão em casa mesmo, não vai fazer diferença.
— Eu também vou. — exclamou Hoseok.
— Você realmente quer ir, Hoseok? Da última vez você caiu em um lago enquanto nós corríamos.
— Eu não pretendo cair em lagos hoje. — Hoseok levantou uma das mãos enquanto avisava. Jungkook e Taehyung assentiram.
~◈~
Seokjin tentou mais algumas vezes impedir seu primo de cometer algum erro em relação à seu avô, mas foi ignorado. Em seguida se fez de maldoso e calado, se limitou a dizer que não estava se importando com as consequências do que seu primo mais velho — e mais imaturo —, iria ter de aguentar caso descobrissem o que ele aprontaria.
Quando não estavam mais juntos do restante dos Sete Elite, Jungkook, Hoseok e Taehyung andaram vários metros se distanciando ainda mais do colégio e da rua a qual estavam anteriormente.
— Só precisamos chegar rápido. Eu tô louco pra gastar minha energia! — exclamou Taehyung, agitando os braços com impaciência.
— Isso é o mais rápido que nós três andamos. A não ser que você pretenda chegar lá correndo. — disse Jungkook, franzindo a testa.
— Não vamos correr. Nós vamos sob pneus! — riu-se Taehyung em resposta.
A não ser que os ouvidos de Jungkook e Hoseok estivessem os enganando, eles preferiam acreditar que Tae não havia dito tal frase.
— Claro que não... — interveio Jungkook.
— Bom, então, me desculpa por tentar acabar com toda a sua agitação, mas tenho que te lembrar que você está proibido de dirigir. — anunciou Hoseok. — E por tempo indeterminado.
— As circunstâncias mudam, caras... Temos que levar em consideração o fato de que eu sei me virar. — disse Taehyung lentamente, enquanto parava em frente à um portão de metal de uma rua sem saída e iluminada por dois postes de luzez fracas.
Levantou uma das mãos abertas e bateu três vezes com certa força no portão que estava em sua frente. Hoseok e Jungkook continuavam alguns passos mais afastados, observando o que o mais velho faria.
Um barulho abafado pôde ser ouvido do lado de dentro do local onde Tae pretendia entrar. Uma porta menor embutida no enorme portão de garagem, foi aberta e de lá foi visto um homem de aparência um pouco mais velha que a dos três garotos. O homem os analisou da cabeça aos pés e mudou sua expressão ao olhar para Taehyung.
Mostrou os dentes satisfeito.
— Entra aí! — anunciou, sumindo e deixando a porta aberta para que os garotos entrassem.
Taehyung olhos para seus amigos e acenou com a cabeça como se dissesse que eles deveriam entrar.
Assim eles fizeram.
O lugar onde estavam era enorme, e diferente do lado de fora, era bem iluminado. Os garotos olharam ao redor vendo que onde estavam era realmente um estacionamento gigante, e estava cheio de carros. Taehyung cumprimentou o homem mais velho com um aperto de mãos meio abraço, encostando um ombro no outro. Logo em seguida, deram rirada. O homem distribuiu leves batidas no braço esquerdo de Tae e respirou fundo.
— Você não demorou mesmo para voltar. — o cara era alto. O cabelo extremamente liso ia até o final do pescoço. Ele vestia roupas meio folgadas e escuras, ainda assim era possível ver a graxa espalhada pelas peças.
— Eu nunca demoro. — Taehyung respondeu enquanto se encostava em um veículo vermelho.
— Então, agora você decidiu trazer seus amigos mauricinhos com você... — o homem suspeito olhou para Jungkook e Hoseok que observavam o local com cuidado.
— Jungkook e Hoseok, esse é o J-EE — Taehyung explicou apontando para o homem mais velho. — É com ele que eu consigo os carros.
— Você é o responsável pelo bom desempenho do Tae nas loucuras dele, então? — Hoseok questionou, andando até J-EE e o cumprimentando.
— É... — J-EE murmurou. — Eu não procuro saber o que ele faz depois que sai daqui.
Deram risada.
— Você gostaria de saber... — Jungkook disse com um sorriso distraído.
— Está mesmo insinuando que eu pareço me familiarizar com coisas erradas? — J-EE questionou de forma constrangida.
— Sim. — Jungkook retrucou simples e o fitou com uma sobrancelha erguida.
Hoseok estendeu um dos braços e acertou o ombro de seu amigo com um soco demorado e nada dolorido. Logo riu negando com a cabeça.
— Você é incoveniente, Kook...
J-EE revirou os olhos.
— Esses caras são daquelas pessoas que falam qualquer bosta que vem à cabeça? — questionou se virando para Taehyung que deu uma risada anasalada.
— Vão falar o que pensam sem ligar pra o que você acha. Sinto muito, J-EE. — disse Taehyung com um sorriso, enquanto parava ao lado de seus amigos.
— Saquei. Pessoas que nascem em berço de ouro costumam falar o que pensam e os outros devem aguentar isso. — J-EE fez uma expressão pensativa e se aproximou um pouco mais de Jungkook o olhando de perto. — Eu tenho a impressão de já ter te visto alguma vez. Minha intuição diz que você gosta de coisas erradas.
Jungkook deu risada cruzando os braços.
— É mesmo?
— Você conhece o Syru, não é? Eu não estou enganado... — Jungkook respirou fundo ao ouvir a pergunta feita pelo homem. — Acho que realmente já nos vimos antes.
— E eu acho que o Taehyung não está aqui para ouvir você falar que já me viu algumas vezes. — J-EE fechou a cara se afastando de Jungkook e olhando para Taehyung.
— A grana primeiro e depois a chave. — J-EE falou se direcionando até Taehyung que pegou a mochila e abriu de uma vez, tirou de lá uma quantia grande de notas e entregou nas mãos do homem mais velho.
— O valor que você pediu e um pouco mais. Você sabe... um pequeno agradecimento por aquele dia...
— Obrigada por agradecer. — J-EE deu risada enquanto contava rapidamente o dinheiro que foi colocado em suas mãos. Levou uma das mãos no bolso traseiro e tirou de lá uma chave. Jogou a chave em direção à Taehyung. — O carro está lá atrás. Sai pelos fundos.
Os três jovens seguiram juntos para o fundo do lugar. Conforme andavam, percebiam que a claridade de antes foi ficando desfocada, até chegar no nível onde a luz se tornou média. Eles seguiram no mesmo rítmo até uma entrada um pouco desgastada com rodapé de madeira descascada. Passaram pela mesma e avistaram um espaço quadrado e ligeiramente grande, haviam ferramentas por toda parte e no meio um carro grande podia ser visto.
— Boa, Taehyung! — exclamou Jungkook.
O carro azul com branco parecia reluzir de tão bem limpo que estava. Era algo do estilo diferente ao qual Taehyung estava acostumado. Taehyung era piloto de carro de corrida, praticava isso desde que completara quinze anos. Era sempre bem recebido nas pistas de corrida alugadas e com dezessete anos de idade, pediu como presente de aniversário que seus pais mandassem transformar a área verde de sua casa em uma enorme pista.
A garagem de sua casa era recheada por carros e a maioria deles pertenciam somente ao herdeiro Kim. A paixão pela velocidade sob rodas começou quando Tae presenciou seu avô — por parte materna — assistir empolgado à uma corrida. Sendo sempre muito apegado à seu avô, o menino desenvolveu um enorme afeto por carros e desde então passou sua infância fazendo seus pais lhe comprarem carrinhos de brinquedo e peças caras de pequenos modelos de automóveis.
Dirigir era de longe umas das coisas que Taehyung mais amava fazer. Ele sempre costumava dizer que era o único momento onde conseguia se ver livre das coisas que o prendiam e o impediam de poder ser ele mesmo.
Taehyung abriu a porta da lataria e entrou se aconchegando, enquanto esperava que seus amigos entrassem em seguida. Hoseok se posicionou no assento da frente e Jungkook se aconchegou nos bancos de trás.
— Não esquece que isto não é um carro de corrida. — Hoseok avisou enquanto batia levemente no ombro de seu amigo.
Com um último sorriso, o moreno assentiu enquanto via o portão do fundo se abrir e acelerou o carro, dando partida.
Quando já estava afastado da rua anterior, afundou seu pé no acelerador rapidamente e abriu a janela com a intenção de sentir vento em seu rosto. O caminho já estava mais claro pois já se encontravam na via principal da cidade. Apesar de rápido, a velocidade ainda era aceitável. As luzes passavam depressa como se fossem um pisca-pisca. Os prédios pareciam esparramados e as cores passaram a se mesclar. O carro parecia deslizar nas curvas, as ruas não estavam cheias.
Ambos os garotos estavam em silêncio, assim como as ruas. Mas foi fácil permanecer assim quando não demoraram a chegar onde pretendiam.
O carro foi estacionado em frente à Sir-Hyun Hee, uma empresa de porte enorme e tradicional. Taehyung bufou ao descer do carro e parou em frente ao gramado que havia antes do principal portão de entrada do local.
— O que você realmente pretende fazer aqui, Taehyung? — Hoseok questionou se encostando no carro e analisando a construção em sua frente.
— Os mágicos começarão sua apresentação em poucos minutos! — o moreno respondeu pegando sua mochila e sorrindo para seus amigos. Jungkook revirou os olhos e deu risada. Taehyung abriu sua mochila e antes que Hoseok raciocinasse, jogou uma lata em sua direção.
— Spray? — Jung questionou. — Você quer mesmo se divertir hoje...
— Há muito tempo eu não me divirto desta forma, irmãos! — Tae respondeu jogando outra lata em direção à Jungkook e levou a mochila em direção aos ombros depois de pegar sua lata.
Chamou os garotos com um aceno e deram a volta pelo local. Pararam próximo à outra área verde e observaram uma enorme escultura cor de grafite em meio a grama. O mais velho suspirou e andou na frente indo em direção à escultura não tão alta.
Olhou em um ponto que reluzia e viu a pequena placa encravada que dizia:
"Em nome dos negócios feitos a partir de laços entre duas empresas construídas em nações distintas, o Grupo Kim Europeu envia com orgulho um de seus importantes tesouros para ser mantido como lembrança, com o intuito de lembrar às pessoas Sul Coreanas de que a força pertence à quem procura."
Clã Kim
Ouviu-se uma risada.
— Meu avô é realmente um velho patético. — Taehyung disse enquanto esticava o braço e tampava a mensagem com spray preto. Afastou-se dois passos e deu tapas nos ombros de seus amigos.
Jungkook e Hoseok se aproximaram da escultura e deram início à uma série de sujeiras, marcando-a com desenhos em tom de verde e azul. A escultura era uma obra bonita. Representava a imagem de um homem segurando dois pesos em seus braços enquanto estufava o peito orgulhoso. Taehyung sabia que era uma forma de seu avô insinuar que a família Kim carregava o peso dos negócios em seus braços.
Ele achava isso idiota, assim como qualquer outra coisa que envolvesse seu amado avô. E por esse motivo se juntou e começou a manchar qualquer parte descoberta que visse.
Os meninos davam risada enquanto pixavam algo tão importante. Para Jungkook e Hoseok era divertido. Para Taehyung era gratificante. Seus olhos pareciam brilhar enquanto ele sujava o local e dava risada. Se abaixou manchando a grama enquanto escrevia em letras grandes e bem visíveis:
"Diga não aos negócios. Diga não à Kim Kwan-Han!"
Em seguida, chutou um dos arranjos florais que se encontrava por perto. Abaixou-se por alguns segundos pegando a pedra pesada que havia caído do vaso. Mordeu um dos lábios enquanto brincava com o peso em sua mão direita.
— Você acredita mesmo que vai acertar daí? — Jungkook questionou risonho.
— Se preocupa em limpar esses dedos sujos de tinta, Jeon! — Taehyung rosnou revirando os olhos.
— Huh? — ouviram a voz de Hoseok e olharam em sua direção, vendo-o de pé em cima do pedestal que sustentava a obra completamente pixada. Estava de uma forma onde conseguiu ficar em frente à escultura. Abriu os braços. — O Taehyung é um grande jogador de basquete, Jungkook!
— Você vai mesmo ficar aí, Jung? Pensei que fosse mais medroso... — Taehyung questionou com um sorriso nos lábios. Hoseok apenas respirou fundo e franziu as sobrancelhas.
— Anda logo com isso. Acerta a cabeça! — Hoseok o acelerou ainda de braços abertos.
— A cabeça da estátua ou a sua, idiota? Eu não confiaria em Kim Taehyung! — Jungkook caçoou de braços cruzados.
Taehyung apenas fez uma careta e sem avisar, jogou a pedra em direção à cabeça da escultura. No mesmo instante, Hoseok se abaixou e pulou do pedestal. Por poucos centímetros a pedra pesada não se chocou contra o crânio de Jung. O estrondoso barulho soou e em seguida os jovens começaram a dar risada ao ver a cabeça da estátua totalmente rachada e a expressão do homem deformada.
Dez segundos.
Foram dez segundos até os garotos sentirem uma luz forte os cercar e uma voz grossa ecoar pelo espaço aberto.
— EI! VOCÊS AÍ! O QUE VOCÊS ESTÃO FAZENDO, SEUS DELINQUENTES?! — o homem era corpudo e não muito alto, trajava uma roupa preta anunciando que trabalhavam como guarda do local. Estava ao lado de outro homem mais alto, forte e de pele mais escura.
Os jovens mal se entreolharam e se puseram s correr feito loucos. Os homens acompanharam a corrida enquanto gritavam mandando-os parar.
Os guardas estavam perto. Perto até demais. Jung, Jeon e Kim corriam sem parar já sentindo suas respirações esgotadas e o suor escorrer como água. E eles haviam acabado de conseguir sair do gramado. Os homens ainda gritavam sem parar por eles.
— NÃO VAMOS PODER VOLTAR PELO MESMO CAMINHO DE ANTES! — Taehyung gritou. — VAMOS DAR A VOLTAR E PEGAR O CARRO PELO OUTRO LADO!
Seus amigos nada disseram, apenas continuaram correndo. Deram a volta enorme pelo local e pararam no mesmo instante antes de baterem seus rostos em uma grade acompanhada de um muro ao lado. Os homens estavam próximos novamente, constataram pelo som dos sapatos chocando-se no chão da rua.
Taehyung jogou a mochila de maneira certa nos ombros e colocou as mãos e os pés na grade, escalando-a com rapidez, Hoseok fez o mesmo, enquanto Jungkook se afastou de costas, correu rapidamente e deu um grande impulso com os pés no final do muro, agarrando-o com as mãos e pulando para o outro lado.
Os três voltaram a correr e viram a curva seguinte, dando a volta e vendo que estavam próximos à entrada do lugar. Correram um pouco menos rápido por não ouvirem os guardas, mas logo chegaram à entrada do local, vendo o carro parado no mesmo local. Aceleraram os passos novamente e entraram rapidamente no automóvel.
Taehyung deu largada sem dizer nada e sem ter tempo para colocar o cinto. Dirigia rapidamente, prestando atenção na rua, enquanto respirava fundo tentando controlar o fôlego.
— Vocês acham... que eles.... pelo menos... chegaram... perto? — Jungkook questionou em meio à pausas para recuperar o próprio ar.
— Isso não importa em relação ao quanto eu tô satisfeito! — Kim respondeu batucando os dedos no volante.
— Este imbecil realmente... recupera... o fôlego rápido! — Hoseok exclamou apoiando as costas no banco confortável.
— É fácil pra quem vive fugindo de guardas com latinhas de spray nas mãos! — Taehyung respondeu olhando para frente.
~◈~
Kim Taehyung fez uma última curva lentamente antes de avistar o portão de entrada para carros de sua casa.
Largou Jungkook e Hoseok na praça perto do colégio enquanto ouvia reclamações de ambos, mas apenas os xingou dizendo que não os deixaria em suas casas. Os dois tinham como se virar, afinal, bastava eles ligarem para seus próprios motoristas e eles estariam rapidamente em casa.
A noite estava muito escura. O bairro estava extremamente silencioso e o único barulho que se pôde ouvir, foi o da garagem sendo aberta. Os olhos do menino já estavam ardendo quando saiu do carro após o estacionar.
A casa de Taehyung era enorme e totalmente branca. A sala de estar era acolhida por paredes de vidro que davam a visão perfeita do enorme jardim e da pista de corrida a qual havia sido construída para Taehyung. A entrada era aconchegante e extremamente clara. Tudo havia sido escolhido à dedo. Taehyung nem era nascido quando a mansão havia sido comprada e reformada, mas nasceu e cresceu na mesma, sendo assim, conhecia cada canto do lugar.
Após o garoto passar pelo corredor de entrada, travou os pés ao chegar na sala e ser obrigado à fitar sua mãe de braços cruzados e seu pai sentado em uma poltrona enquanto lia algum livro de capa marrom.
— Onde você estava? — percebeu na expressão de sua mãe que ela queria simplesmente gritar ao fazer tal pergunta.
— Já passou das três horas da manhã, vocês não deviam estar dormindo? — retrucou irônico. Senhora Ahra fechou os olhos com força e os abriu em seguida.
— E você devia estar em casa muito antes disso. Onde você estava?! — se aproximou de seu filho em passos largos e o fitou de cima abaixo. — Você está todo sujo e suado, Taehyung! Onde você estava?!
Taehyung respirou fundo olhando para o próprio blazer e vendo um enorme rasgo no mesmo. Revirou os olhos.
— Por aí. Eu estava por aí! — respondeu simples e virou as costas se preparando para subir as escadas, mas seu ombro foi puxado por sua mãe.
— Eu te disse que eu não te quero tarde em casa! Você está zombando de mim?!
— Você não me quer tarde em casa? Então você prefere que eu não venha para casa? — ergueu uma sobrancelha e sorriu sarcástico. — Vou anotar essa.
— Eu prefiro é que você não saia!
— Ok, mãe. Você já terminou? — Taehyung perguntou impaciente. — Eu estou cansado e vou subir.
— Você sabe que está proibido de dirigir, então por que você chegou dirigindo? Onde você conseguiu aquele carro?!
— Com um amigo.
— O que você tem na cabeça? Eu tinha te proíbido de dirigir desde que você atropelou duas mulheres inocentes e não prestou socorro algum! Você é um irresponsável, inconsequênte e é por isso que você continua proibido de dirigir!
— Você vai mesmo repetir tudo o que você me disse àquele dia? — Taehyung questionou com tédio. — Deixa eu tirar um cochilo antes, pelo menos.
— Você está prestes à fazer vinte anos! Quando vai finalmente começar a crescer?! Quando você vai se consertar, Taehyung?!
Taehyung gruniu passando a mão pelos cabelos.
— Talvez quando você desistir de tentar me consertar, omma.
— Chei-Guk! — a mãe de Taehyung exclamou o nome do pai do garoto com fúria. — Você não pretende fazer nada quanto à isso?
— Você me fez ficar acordado até agora para esperá-lo chegar, Ahra. — senhor Chei-Guk respondeu sem tirar os olhos do livro. — Você é a única responsável por ter mimado esse garoto desde que ele nasceu. Não me envolva mais nesses seus problemas.
— Meus problemas? Nossos problemas! Taehyung é nosso filho e deveria aprender certas coisas a partir de hoje! — completamente descontrolada, senhora Ahra começou a falar mais alto sem tirar os olhos de seu filho. — Eu estou exausta de tanto chamar sua atenção!
— Por que você não vai encher os ouvidos dos seus alunos e me deixa em paz? — Taehyung perguntou revirando os olhos. Senhora Ahra engoliu saliva pousando as mão na testa.
Taehyung era acostumado com a forma como sua mãe vivia em seu pé. Sabia que ela tinha razão, pois ela era um garoto extremamente rebelde. Nunca pôde alguma vez chegar em casa sem ouvir sua mãe perguntar onde e o que estava fazendo, ela já era uma mulher desconfiada em relação à seu filho único. Mas Senhora Ahra também sabia que era extremamente difícil achar alguma forma de controlar Taehyung. Taehyung era um garoto de personalidade forte e por mais que ainda não tivesse desrespeitado as regras cem por cento, estava quase no limite.
— Taehyung, eu me preocupo com você! Eu me preocupo com o que você faz. Está cada vez mais difícil te entender e tentar acompanhar isso pra poder te tornar em um homem melhor!
— Já acabou? — perguntou com a voz grossa e rude. — Vou pro meu quarto. Ah, e não vou pra escola amanhã.
— Como é?! — perguntou Ahra sem rodeios. — Como assim não vai?
— Não. Eu não tô a...
— Você vai! — disse a mais velha indo até o garoto e lhe dando um tapa no braço com impaciência.
— Eu não vou — Tae disse depressa —, se eu for pra aquele inferno, só terei algumas míseras horas de sono e isso está fora de cogitação.
— Fora de cogitação está a probabilidade de você não ir. — uma expressão de imensa raiva espalhou-se pelo rosto do menino. — Esteja acordado na hora certa amanhã, ou...
— Ou o quê? Será que você não cansa de me obrigar à ir pra aquela merda de lugar? Eu não quero mais estudar! Pensei que tivesse entendido isso quando me reprovou!
— Eu não vou parar de te obrigar à ir! Você vai até se formar! É uma ordem! — Ahra retrucou em tom de desafio enquanto apontava o dedo em sua direção.
— Uma ordem... como sempre. Você só quer que eu me forme para assumir a porra dos negócios dessas famílias de bosta a quais eu nasci! — possesso, Taehyung gritou fortemente. — Você sabe que eu sei disso e você também sabe que eu não quero!
Senhora Ahra ficou em silêncio olhando para seu filho de olhos levemente arregalados. Ergueu a mão automaticamente passando os dedos em seus próprios fios de cabelo.
— Eu também quero que você aceite o fato de que conhecimento é tudo, e que...
— Foda-se o conhecimento. Me formando ou não, eu continuo sendo herdeiro de tudo. Estudando ou não, eu continuo tendo direito à tudo, então me erra! Eu não tô interessado em conhecimento.
— Conhecimento é a única coisa que nunca poderão roubar de você, meu querido. Do que adianta você ter tanto dinheiro e não saber como usá-lo com sabedoria? Você va....
— Você tá querendo lutar por uma batalha resolvida, omma. — cortou-a com rapidez. — Me tira daquele lugar de uma vez.
— Se você não for para o colégio, venderei todos os seus carros pelos menores preços que oferecerem nos ferros velhos. — Taehyung ouviu a voz de seu pai e o olhou. Ele ainda lia o livro tranquilamente, mas no momento seguinte, se virou para seu filho o fitando por trás dos óculos de grau.
Taehyung engoliu seco e praguejou baixou. Os carros não... tudo, menos seus carros! Seus progenitôres continuaram o olhando. Ele bufou. Deu uma última olhada para sua mãe pensando em como se safar, mas viu que não raciocinava com sabedoria.
— Incrível. — riu em desanimo. — Manda uma empregada me acordar. E eu quero tomar café no meu quarto, prefiro não ficar olhando pra vocês enquanto me alimento.
Virou de costas pronto para subir para seu quarto.
— Sabia que ia tomar a decisão certa. — Senhora Ahra comentou.
— É tudo pelos meus carros.
E sumiu diante da escada.
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