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História Shadow - Primeiro drama


Escrita por: VampCat

Capítulo 6 - Primeiro drama


Uma nova rotina tinha se estabelecido, mas era bem parecida com a rotina de quando eu ainda andava em quadro patas. Todos os dias eu acordava antes de Paulo, arrumava a mesa e depois o acordava. Passávamos cinco minutos conversando, depois começávamos o dia. Tomávamos café juntos, arrumávamos tudo, nos despedimos e ele saia. Eu passava a tarde sozinho, procurando algo interessante para fazer. Quando ele chegava nos cumprimentávamos e fazíamos o jantar juntos. Depois comíamos, víamos televisão e íamos dormir.

Eu estava gostando dessa vida, tão diferente e ao mesmo tempo tão parecida. Era realmente ótimo poder conversar com Paulo. Nos sempre nos divertimos juntos, mas agora era muito mais divertido.

Ele estava sempre implicando comigo, de brincadeira mesmo. Dizendo sobre como continuo falando num quase miado sempre que me empolgo, como vira e mexe acabo ronronando, e o como demoro me arrumando mesmo que eu nunca saísse de casa. Nos sempre acabávamos rindo depois.

Ele tem sorrido mais esses dias. Também sempre o pego me encarando, e nessas horas ele normalmente falava uma das implicâncias dele, ou só sorria e fazia algum elogio. Assim aprendi como é ficar vermelho de vergonha.

Quando ele não estava em casa, eu estranhava o silencio. Até tentei me acostumar com a televisão para passar as tardes, mas não tinha graça sem o Paulo, esse era o nosso passa tempo afinal, não tinha sentido fazer isso sem ele. Preferia muito mais ficar no jardim.

A árvore que eu tinha visto pela janela realmente me aguentava. Eu passava a maior parte da tarde nela, ou sentado vendo o mundo do outro lado do portão ou trocando incessantemente de galho só para me manter em movimento. Depois comecei a calcular se conseguia pular dela para a janela mais próxima ou o portão. Eu até consegui mas acabei com alguns arranhões e ralados das primeiras tentativas, e Paulo ficou louco com isso. Enquanto fazia meus curativos, ele me fez prometer tomar mais cuidado e não fazer mais aquilo. Então isso só aconteceu um dia, que foi uma quarta-feira. Na quinta-feira ele me trouxe um monte de coisas para ver se alguma me distraia, e me mantinha longe da árvore. Falhou.

Até achei algumas coisas legais no que ele trouxe, principalmente as bolinhas de diferente tamanhos que quicavam, eu só andava em casa quicando elas. No começo detestei o quebra-cabeça, mas depois acabei mudando de ideia quanto a ele, já o montei e desmontei várias vezes. Também tinha uma corda daquelas de pular, passava um bom tempo com ela no jardim. Porém mesmo assim a maior parte do tempo eu ficava em cima da árvore.

Agora já era sexta-feira, não tinha nem uma semana que eu era humano mas já estava bem acostumado, acho. E estava justamente em cima da árvore vendo uma criança passar andando com seus pais, quando a ouvi falar que queria um balanço igual o do parque. Disso tirei duas ideias. Primeiro: devia ter algum parque por perto, o jeito que ela e os pais estavam com sapatos sujos de areia só confirmava. Segundo (e muito mais relevante): parece que balanços são divertidos, e segundo a televisão, pode-se fazer balanços em árvores. Isso era algo a se falar com Paulo.

Eu podia muito bem esperar para falar disso com ele no jantar. Porém eu estava justamente em pleno momento de tédio, e eu nunca tinha ligado para ele, era algo novo e agora novidades me interessavam demais. Além disso, considerando a hora ele provavelmente estaria no almoço. Pulei da árvore e voltei para casa.

Apertava cada botão com cuidado e precisão. Em parte por não querer errar o número, em parte pra sentir bem o gostinho de coisa nova. O telefone tocou algumas poucas vezes e então desligou. Ele estava ocupado então, o jeito é esperar ele retornar a ligação, como disse que faria quando me ensinou sobre o telefone.

Deitei no sofá perto do telefone e fiquei brincando com uma bolinha. Perdi a  conta de quantas vezes ela bateu no chão, indo para a parede e voltando para mim. Eu já estava esperando a bastante tempo, ele realmente devia estar bem ocupado.

Decidi almoçar então. Terminei, lavei e enxuguei a louça, e nada do telefone tocar. Voltei para o sofá e para a bolinha, até que o som ritmado dela quicando começou a virar uma tortura. Eu já estava a horas esperando quando finalmente aceitei que ele não iria ligar. Cabisbaixo, voltei para a árvore.

~~~.~~~

Já estava de noite. Pela primeira vez eu não tinha entrado quando estava escurecendo, como Paulo mandava. Continuei na árvore desde o fracasso da lição (eu me sentia confortável lá, então não tinha lugar melhor para se estar quando triste).  E lá ainda estava quando meu dono chegou. Eu não disse nada, apenas observei enquanto ele abria o portão, entrava com o carro e trancava o portão novamente, para em seguida tocar a campainha e parar em frente a porta.

-Está aberta. – Disse dando um susto e tanto no Paulo.

-Shadow? – Olhou envolta me procurando no escuro. Depois se rendeu e entrou para acender a luz de fora. – Por que ainda está aqui fora, eu não te disse para entrar quando escurecesse?

-Também disse que retornaria minha ligação caso estivesse ocupado e não pudesse atender. – Disse com a voz indiferente. Só então ele me encontrou entre os galhos.

Primeiro seu olhar era confuso, como se não soube do que eu falava. Depois pareceu lembrar e abaixou o rosto.

-Droga, não acredito que eu esqueci... – Sussurrou, mas mesmo assim eu ouvi. Depois levantou o olhar até mim. – Shadow, me desculpa... eu tava almoçando com a Clara quando você ligou. Eu ia retornar a ligação no caminho de volta pro trabalho, mas acabei esquecendo... Desculpa.

Não pude evitar que meu rosto transparecesse minha irritação ao ouvir aquilo, o que o assustou um pouco. Como assim esqueceu de mim por causa daquela fofoqueira?

-Até agora eu pensava que você tivesse tido um dia longo e difícil, abarrotado de trabalho. Estava triste, mas se você me dissesse que teve muito trabalho hoje, eu entenderia e estaria tudo bem. Mas você me esqueceu por causa dela? – Disse dando ênfase na ultima palavra, que saiu junto com um quase sibilar, enquanto trincava os dentes.

Ele estava claramente assustado com a minha reação. Verdade seja dita, até eu não esperava tanto, mas realmente, entre tudo que ele podia estar fazendo para não me atender... Ela? Saltei da árvore e passei por Paulo sem nem olha-lo nos olhos. Fui direto para a cozinha e peguei um pacote de bolachas, dizendo da escada que não iria jantar hoje. Me fechei no quarto.

Não tinha palavras para dizer o tamanho da minha raiva. Porém ele também não merecia que eu despejasse tudo isso nele. Então era melhor eu ficar sozinho, até esfriar a cabeça.

Eu sei que Paulo tem amigos no trabalho e que ele almoçava com eles de vez em quando, mas aquela mulher... Eu posso ser novato nisso de humano, mas eu não sou burro. Sei muito bem quais as intenções dela com meu dono. Eu não iria permitir isso de jeito nenhum! Mas... e se era isso que ele queria?

Só a ideia já doía, mas pode ser verdade. Afinal ele que a convidou para vir aqui, e no mínimo ele aceitou almoçar com ela. Bom, ela se arrumou bastante para vir sábado, e Paulo nunca tinha ficado tão bravo comigo por não tratar bem um convidado.

Mas Paulo é meu! Ela não tem esse direito.

Bom... ele não está fazendo nada para afasta-la, e ele me esqueceu hoje para estar com ela. Parece que esse sentimento é unilateral... Aliás, Paulo é meu dono, mas o fato dele ser meu dono não impede que ela tenha o que quer.

Então se ela não vai roubar meu lugar, por que dói tanto imaginar eles juntos? Por que no fundo eu invejava tanto ela ter a atenção do Paulo?

Senti algo úmido escorrendo pelo meu rosto, então essa é a sensação de chorar.

~~~.~~~

Pouco mais de uma hora, um pacote de bolacha, e meio caminho para a desidratação depois. Ouvi a porta do quarto abrir. Eu estava deitado de costas para ela.

-Shadow? – Paulo perguntou baixo e hesitante.

-Oi. – Respondi sem vontade.  Já tinha parado de chorar mas minha voz continuava triste e embolada.

Ele se aproximou sentando perto de mim.

-Shadow, me desculpa... você sabe que não foi por querer. Eu sei, pisei na bola, e você tem todo direito de estar magoado... mas eu realmente odeio te magoar. Me desculpa...

Droga, com ele falando daquele jeito...

Me virei o abraçando pela cintura e escondendo meu rosto.

-Tudo bem, eu entendo... – Tive que segurar o choro. Até porque aquela frase tinha muito mais significado para mim do que para ele.  Eu tinha finalmente entendido o porque dói ver ele com ela, e que isso não mudava nada, e que eu podia até espernear mas não faria diferença. Isso machucava mais do que qualquer coisa.

Senti sua mão no meu cabelo, fazendo um carinho leve. Droga, em momentos como esse ele parece se importar tanto comigo... acabo me iludindo de novo. Será que espernear era assim tão ineficiente?

-Paulo?

-Diga.

-O que eu sou para você? – Perguntei, ainda com o rosto enterrado naquele abraço. Ele parou o carinho por um segundo, como se pensando na resposta.

-Você é, e sempre será o meu gatinho. Não importa quão grande você fique. E vou sempre cuidar de você. E sim, eu prometo te dar todo carinho que você quiser.

Não sabia se chorava ou sorria. Mas acabei ficando com a segunda opção. Pelo Paulo.



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