Los Angeles –– Califórnia.
07 de janeiro de 2016.
Point of View – Emily Miller.
Abri meus olhos lentamente ao sentir alguém me sacudindo, pude começar a enxergar com mais clareza e era a aeromoça, tirei meus fones e comecei a entender o que ela falava. O avião já havia pousado. Não acredito que dormi por 14 horas.
Desci do avião e fui direto para sala de desembarque pegar as minhas malas, eu não trouxe muitas coisas, afinal, não quero demorar mais que um mês aqui. Continuei seguindo o caminho ate a saída do aeroporto onde minha mãe disse que o meu irmão estaria me esperando, só que mais uma vez ela estava errada. Revirei os olhos ao avistar um homem alto e loiro com uma placa na mão onde meu nome estava escrito. Comecei a caminhar em sua direção.
–– Emily? –– assenti como se fosse óbvio –– O senhor Miller pediu desculpas por não ter vindo, ficou cheio de compromissos.
–– Claro que ficou. –– disse irônica.
–– Meu nome é Paul e estarei as suas ordens. –– ele começou a me ajudar com as malas.
–– Obrigada Paul. –– por mais irritada que eu estivesse, não poderia descontar nesse pobre homem, minha mãe me deu educação.
Fizemos todo o caminho ate o carro em silêncio, ele abriu a porta traseira para mim, só que neguei, não havia necessidade disso. Entrei no banco do passageiro e pude ouvir o barulho do porta-malas sendo fechado, dentro de alguns segundos Paul entrou no banco do motorista dando partida no carro.
Coloquei meus óculos e comecei a acompanhar o nascer do sol em Los Angeles, tinha me esquecido o quanto era bonito.
–– A senhorita... –– o interrompi.
–– Nada de senhorita, senhora e qualquer coisa dessa. –– revirei os olhos –– Emily, só Emily. –– percebi o sorriso de canto que Paul havia dado.
–– Tudo bem Emily. A senh... –– ele parou –– Você gostaria de passar em algum lugar antes de ir para o apartamento do seu irmão?
–– Eu estou com fome, que tal irmos tomar café? –– assentiu –– Sabe se o Jake irá demorar a voltar?
–– Ele saiu antes do sol nascer e pediu para que eu viesse buscá-la. –– apenas encostei minha cabeça no vidro –– Você esta chateada?
–– Não, eu não me importo. –– dei de ombros.
O que eu podia fazer? Sempre soube que seria assim e cada ano tive mais certeza; eu havia perdido meu irmão para o seu sonho.
Senti o carro parar e logo Paul dando a volta para abrir a porta, fui mais rápida. Por favor, sou uma pessoa normal, ele tem que entender isso. Comecei a caminhar em direção a cafeteria e vi que ele continuou parado do lado do carro.
–– O que você esta fazendo?
–– Estarei te esperando. –– no momento em que ele disse isso, comecei a puxá-lo pelo braço.
Imaginei o que as pessoas poderiam estar achando, uma menina implorando que seu pai –– sim, era isso que estava aparecendo –– entrasse com ela na cafeteria.
–– Agora sim. –– disse quando o coloquei sentado na cadeira e me sentei também –– Primeiro: eu não sou famosa. Segundo: não gosto que me tratem diferente. Terceiro: eu sou uma pessoa normal como você.
–– Bem que seu irmão disse que você tem um gênio difícil.
–– Não tem nada a ver com gênio difícil e sim com o fato de que sou realista, entendeu? –– ele assentiu e comecei a folhear o cardápio, logo voltei meu olhar para Paul –– O que vai querer?
Depois de insistir mais de meia hora para que ele escolhesse algo, fiz o pedido e não demorou muito para chegar. Descobri que Paul tinha 40 anos –– a idade do meu pai ––, também descobri que ele tinha uma filha de 15 anos, seu nome era Alice, ele me mostrou uma foto dela, parecia muito ser um pai babão. Paul me contou o quanto era grato ao meu irmão, porque desde o inicio Jake, apesar de ter seu carro, fez questão de que apenas Paul seria seu motorista particular e o levaria para eventos. Conversamos por mais de uma hora, só que infelizmente tivemos que seguir o nosso destino: apartamento do meu irmão.
Paul garantiu que não demoraria mais que uns vinte minutos e ele estava certo. O carro entrou na garagem de um prédio enorme –– já achava o outro grande, imagina esse.
–– Se quiser, pode ir subindo, é na cobertura. –– ele disse assim que parou o carro.
–– Tudo bem, eu te espero. –– Sai do carro e peguei a minha bagagem de mão, esperei Paul por cinco minutos.
–– Vamos. –– comecei a segui-lo, mas logo paramos para esperar o elevador, que não demorou muito. Paul apertou o numero 54 e eu arregalei os olhos –– Não demora tanto assim.
–– Jake é doente. –– foi a única coisa que saiu da minha boca.
Ele retirou algumas chaves de seu bolso e abriu a porta, deu um espaço permitindo que eu entrasse primeiro, dessa vez não recusei. Pude ver aquela sala enorme, com janelas do teto ao chão, dando uma perfeita vista de Los Angeles.
–– Meu Deus. –– deixei escapar, isso arrancou uma risada de Paul.
–– Vou te mostrar o seu quarto. –– comecei a subir aquelas degraus de vidro atrás dele, havia umas quatro portas ali, até que Paul parou na penúltima –– O quarto do seu irmão é o ultimo.
–– E aquelas outras duas?
–– Hospedes. –– deu de ombros e abriu a porta mais uma vez para mim, adentrei o quarto e fiquei em choque, era branco, mas com vários detalhes em azul, já tinha fotos minha pelo quarto e uma em cima da cômoda ao lado cama, era eu, meu pai, Jake e a minha mãe, sorri automaticamente ao ver isso –– Ele pensou em cada detalhe.
–– Percebi. –– sorri sem graça.
–– As malas já estão em seu closet e aquela porta ali –– apontou –– é o banheiro. –– seguiu caminho ate a porta de entrada –– Se precisar de mim, é só ligar, vou ao mercado fazer as compras que seu irmão pediu.
–– Obrigada Paul. –– sorri e logo fui retribuída, adentrei o closet e fiquei olhando para as minhas malas. Ah, como eu queria que elas se arrumassem sozinhas.
[...]
Olhei para o visor do meu celular e só assim me dei conta de que horas eram, duas horas da tarde, como assim? Levantei e voltei o olhar pelo closet, finalmente eu tinha acabado. Decidi que iria tomar um banho e descer para comer algo, já estava com fome.
Coloquei um short preto frouxo e uma blusa azul lisa, não iria sair mesmo. Desci as escadas do apartamento e fui direto a cozinha, deparei-me com Paul sentado no banco em frente à bancada comendo algo, provavelmente seu almoço, e outra moça que eu ainda não conhecia.
–– Acordou bela adormecida? –– Paul perguntou ao sentir a presença e a moça se virou –– Essa é Anne, ela trabalha aqui. Faz comida, arruma as coisas e cuida do seu irmão.
–– É um prazer senhori... –– a cortei.
–– Nada de senhorita, só Emily. –– estiquei a mão para ela que logo apertou. –– E eu não estava dormindo, querido Paul.
–– Vai querer almoçar agora? –– apenas assenti –– Irei arrumar a mesa para você.
–– Nada disso, eu vou comer aqui. –– ela me olhou confusa ao ver que sentei ao lado de Paul.
–– Ela é assim, melhor se acostumar. –– tive que rir do que Paul disse.
Conversamos mais um pouco, Anne se juntou a mim e a Paul, era legal conversar com eles. Anne também trabalha com meu irmão há muito tempo, disse que cuida dele como se fosse um filho, ou neto, já que ela tem idade suficiente para isso. Os dois “moram” aqui no apartamento –– pelo menos de segunda a sexta––, nos quartos que ficam um pouco atrás da cozinha. Confesso que fiquei feliz em saber disso, já que pelo que disseram, meu irmão é muito ocupado.
–– Já avisou aos seus pais que chegou? –– Anne perguntou enquanto retirava os pratos da bancada.
–– Sim, enquanto arrumava as minhas coisas. –– sorri –– Minha mãe não ficou muito feliz em saber que ainda não vi o Jake.
–– Ele já deve estar chegando. –– no mesmo instante meu celular tremeu.
“Como foi a viagem? O que achou do quarto?”
Tremeu novamente.
“Eu irei chegar tarde hoje, desculpe. XxJake”
–– Não, não esta. –– Levantei-me em um pulo –– Paul será que poderia me levar a uma boate mais tarde?
–– A mocinha não pode entrar. –– revirei os olhos –– E você iria sozinha?
–– Não, tenho amigos aqui. –– pisquei para o mesmo e voltei para o meu quarto.
Comecei a procurar o número de dois amigos meus que moram aqui, mesmo com essa mudança, nunca deixamos de nos comunicar, isso era bom. Cliquei no contato de Liam e começou a chamar.
–– Emily?
–– Eu mesma. Tem algo para fazer hoje à noite?
–– Nada, eu... –– ele parou –– Agora eu tenho, acertei?
–– Sim, passarei ai às 21h. –– ele riu –– Avise a sua irmã.
–– Estaremos esperando. –– desliguei a chamada.
Era isso, já que o meu querido irmão não quis me dar atenção, eu vou sair, ninguém merece ficar sem fazer nada. Comecei a mexer em meu celular e procurar algumas boates legais para hoje, alem de avisar alguns amigos brasileiros de que cheguei bem.
[...]
Eu estava parada em frente ao enorme espelho do closet terminando de passar o batom. Parei mais uma vez e comecei a me analisar, eu estava com uma saia alta preta, que estava um pouco à cima da metade das minhas coxas –– certeza de que meu pai reclamaria ––, um cropped branco, um salto da mesma cor da saia, minha maquiagem estava escura e para completar, o batom vermelho. Deixei meus cabelos soltos mesmo.
Paul me aguardava já no carro, isso foi o que Anne disse, pedi para que ela avisasse a Jake que eu fui dormir na casa de alguém. Assim ele não encheria meu saco quando voltasse.
–– Qual é o endereço? –– Paul perguntou assim que entrei no carro, virei o celular para ele, que começou a andar com o carro –– Não é muito longe daqui.
–– Festa! –– eu estava animada, isso era bom.
–– Seu irmão vai me matar, sabe disso não é?
–– Relaxa, ele não vai saber. Será o meu segredo com você e a Anne. –– pisquei. Aumentei o volume do radio, que tocava “Lean on”, Paul estava se acabando de rir com a minha animação.
Comecei a mandar mensagens para Liam dizendo que já estava perto de sua casa.
–– Eles são certos, não é? –– não entendi a pergunta –– Digo, não usam drogas, não vão te levar para o mau caminho, certo?
–– Eu que sou o mau caminho. –– ele arregalou os olhos, não contive o riso –– Eu estou brincando. Eles têm a minha idade, são tranqüilos. Os conheço desde os 12.
–– Sendo assim. –– ele estacionou o carro em frente à casa dos gêmeos.
–– Já volto. –– sai do carro e me dirigi à porta de entrada da casa, mas alguém foi mais rápido.
–– GAROTA. –– Eleanor começou a correr e antes que eu pudesse raciocinar, a morena já estava em meu colo –– Eu estava morrendo de saudades, pensei que nunca mais fosse voltar.
–– Aqui estou eu. –– a apertei mais forte.
–– Será que eu posso falar agora? –– Liam empurrou Eleanor e colou nossos corpos, logo me envolveu com seus braços, seu perfume estava maravilhoso, como sempre –– Também pensei que nunca mais fosse voltar.
–– Ficarei por um tempo, quem sabe eternidade. –– sai do abraço e comecei a analisar os dois, eles haviam mudado bastante.
Eleanor estava linda, vestia um vestido preto, que mostrava bem as suas curvas, seus cabelos pretos estavam ondulados, com um lindo volume, sua maquiagem estava parecida com a minha, destacou seus olhos verdes, só seu batom que era rosa.
Enquanto ao Liam, ele havia mudado bastante, seu corpo então... Seu cabelo loiro estava um pouco bagunçado, seus olhos azuis continuavam brilhantes, Liam vestia uma camisa branca social e uma calça jeans.
–– Você vai ficar nos olhando assim mesmo? –– Eleanor perguntou.
–– Não, só fico abismada com vocês. –– comecei a andar em direção ao carro –– Vocês têm certeza de que são gêmeos?
–– Você sempre pergunta isso. –– foi à vez de Liam responder. Entramos no carro e os gêmeos cumprimentaram Paul.
–– Para onde vocês querem ir? –– perguntei, afinal tinha que dar o endereço a ele.
–– Playhouse. –– eles responderam, no mesmo instante o meu querido motorista começou a rir.
–– Vocês não vão entrar lá, não são maiores de idade.
–– Não seja por isso. –– tirei minha identidade falsa da bolsa, que conseguia ser idêntica a original, os gêmeos fizeram o mesmo –– Podemos ir agora?
–– Tenho certeza de que perderei o meu emprego depois disso. –– o ouvi resmungar.
[...]
As luzes e a música alta da boate só me faziam sorrir. Eu amava estar em lugares assim, eu amava estar em festas, esse foi um dos motivos da minha mãe ter me mandando morar com meu irmão; evitar boates.
Primeiro passo da noite; bar.
–– Três doses para começar? –– Liam perguntou em meu ouvido, assenti sorrindo, voltei-me para Eleanor que observava o lugar.
–– Alguma presa? –– perguntei e ela só apontou para um cara que aparentava ter uns 30 anos, é, ela adora mais velhos.
–– Preparadas? –– nos viramos para o balcão novamente, havia três doses de tequila na minha frente e na deles também.
No mesmo estante lambi a parte da minha mão e depositei o sal ali, que ficou grudado, peguei um pedaço do limão e segurei. Olhei para os gêmeos que faziam o mesmo, “1” “2” “3” foi o que saiu de nossas bocas antes de lamber o sal, virar a primeira dose e morder o limão. Ah o gosto da tequila, posso beber doses em todas as festas, sempre irá arder à garganta, mas é bom. Fizemos o mesmo com a segunda dose.
–– Vamos tornar isso mais interessante. –– Liam me puxou para perto –– Pode ser?
–– Achei que não fosse perguntar nunca. –– ele soltou uma risada que foi abafada pela musica, se aproximou de meu pescoço e deu uma lambida ali, logo jogou o sal, que se grudou no molhado, pegou o limão e colocou entre os meus dentes.
Liam me colocou encostada no balcão, enquanto sua mão pressionava minha cintura, ele aproximou seus lábios mais uma vez do meu pescoço e lambeu o sal, deixando-me um pouco arrepiada, virou a ultima dose de tequila, e mordeu o limão que estava preso em meus lábios. Soltamos um sorriso ao sentir nossos lábios se chocarem. E acabei com a última dose da minha tequila do mesmo jeito.
Eu acho que nunca tinha bebido tanto na minha vida, eu e Liam ficamos algumas vezes, mas isso não nos impediu de ficar com outras pessoas, já que provavelmente não iríamos lembrar de mais nada. Eleanor e eu não cansávamos de dançar e provocar qualquer cara que tentasse chegar em nós, era até engraçado.
Não parávamos de beber em nenhum segundo, isso era o que mais divertia, eu agia de uma forma mais louca que o normal e a culpa era do álcool, a vontade de beber mais e mais só aumentava...
Eleanor e eu estávamos cada vez mais próximas, Liam havia sumido mais uma vez. Eu podia sentir cada batida da musica movendo meu corpo, até que meus olhos pararam em um moreno, seu maxilar estava bem marcado, seus olhos acompanhavam cada movimento que meu corpo fazia, quando ele sorriu...
[...]
Acordei com gritos que invadiram o ambiente. O susto foi tão grande que fui parar no chão, sentei e comecei a olhar em volta, eu estava no meu quarto.
Mas como eu consegui chegar aqui?
Tentei voltar para a minha cama, mas percebi que havia outro corpo embaixo do lençol... nesse momento eu gelei. Puxei o lençol com receio e me deparei com Liam dormindo.
Puta que pariu.
Toda a noite havia sido apagada da minha mente e minha cabeça estava girando, uma dor insuportável estava tomando conta da mesma. Parei em frente ao espelho e eu estava com a blusa que Liam vestia na noite anterior, meu cabelo loiro estava totalmente bagunçado, sem contar das marcas em meu pescoço, também estava com uma pulseira amarrada em meu pulso, uma pulseira que eu nunca vi na vida.
–– Eu tenho que beber menos. –– resmunguei e novamente outro grito. Abri a porta do meu quarto, completamente irritada, e parei no topo da escada ao ver alguns garotos jogados no sofá discutindo, ou rindo, de algo –– SERÁ QUE VOCÊS PODERIAM FALAR UM POUCO MAIS BAIXO? TEM PESSOAS QUERENDO DORMIR.
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