História Sherlock por Ela - A volta do fogo

   Resumo do “diálogo” entre eu e Sherlock:

   ─ Porra, Cláudia, o que é que você está fazendo aqui?

   ─ Vim ver um show, parece óbvio. Daria para parar de me seguir?!

   ─ Tá maluca? Eu estou trabalhando! E você me atrapalhando. Por favor, não diga que não percebeu os tiros?!

   ─ Para de me ofender – sussurrei , só então percebendo a velocidade com que meu coração pulava dentro do peito.

   A sala continuava completamente às escuras e já era possível ouvir alguns gritos, choros. Femininos. Um burburinho agitado se elevou e se espalhou rapidamente, mostrando que a maioria já tinha recuperado a coragem. Algumas luzes de iluminação de emergência acenderam, uns poucos espectadores se moviam em direção à saída, indecisos, querendo ir embora. Minutos depois, alguém da organização subiu ao palco, pediu desculpas, disse que o incidente já havia sido contido e que o show continuaria.

   A coisa toda tinha a ver com o professor Lawrence Vittao, e é certo que The Rolling Stones considerava Londres sua casa, e por isso a segurança era mais voltada a coibir manifestações de fãs do que prever o que tinha acabado de acontecer. Com certeza o show não foi o mesmo do que teria sido, era possível sentir o desconforto e a apreensão geral pairando no ar. O Dr. Vittao foi retirado por escolta policial antes do fim do espetáculo.

   ─ Você está bem? – John continuava gentil.

   ─ Ah, sim, o que seria da vida sem emoções como essa?

   Dei um beijo rápido na bochecha dele e subi as escadas da entrada do meu prédio praticamente correndo. As chaves haviam sumido dentro da minha bolsa bagunçada, e quando finalmente encontrei o chaveiro, pela segunda vez na mesma noite, quase enfartei.

                                                                        ***

   Sherlock estava parado perto da porta dentro de seu terno impecável, a face emoldurada por seu cabelo revolto. Boa combinação.

   ─ Quer me matar?! Definitivamente deve ser sua intenção! – bati o pé no chão de raiva.

   ─ Ao contrário, meu bem, pretendo manter você sempre viva, mas anda um pouco difícil ficar tranquilo em relação a isso – ele parecia descontraído, ironicamente. Como se tentasse se conformar com o suposto trabalho que eu estava dando a ele – sério, Claudia, você vai começar a sair com aquele babaca?

   ─ Pela primeira vez, depois daquele evento, saímos; como amigos, hoje.

   ─ Eu não me lembrava de toda essa sua ingenuidade, garota – algo indeciso moveu o braço direito de Sherlock e parou no meio do caminho – quer saber, foda-se!

   Sherlock Holmes apoiou a mão direita na porta fechada do apartamento e passou o outro braço na minha cintura. Aproximou a boca da minha,que já estava entregue, de antemão, e fez uns dez segundos de suspense. Não tomei iniciativa. Joguei com ele. Por fim sua boca encontrou a minha e foi incrível como pareceu de novo a primeira vez. O primeiro beijo. O retorno do fogo. Como uma adolescente, depois de minutos que pareceram horas, parei para respirar e pedi que ele me deixasse entrar e dispensar a babá.

   Ele não queria se soltar de mim.

   Respirei fundo e entrei na sala ainda ajeitando a roupa, e a garota que eu havia contratado para ficar com Annabel nos olhou curiosa, do alto dos seus dezoito anos, avaliando Sherlock e parecendo aprovar minha escolha. Paguei a menina e dispensei-a o mais rápido que pude.

   Scherlock estava de volta. Nós estávamos de volta. Passamos uma noite inteira matando a saudade. Não me importei com a falta de sono acumulada, com a possibilidade da nossa filha chorar ( o que não aconteceu!), nem com todas as minhas recentes decisões muito bem pensadas de nunca mais fazer amor com ele.

   Naquela noite, eu era só sensações.