História Silence - A001

 Aqui estava eu, NO ÚLTIMO BANCO da cerimônia, assistindo o homem, O ÚNICO que amaria na vida se casar com outro.

Jimin estava de terno, claro, e bonito, maravilhoso de morrer. Sua beleza sempre a mesma ao mesmo tempo frágil e levemente forte, sempre forte. Ele mordia o lábio inferior. Fazia isso quando algo lhe incomoda .

Lembrei-me de uma manhã quando, depois de fazermos amor, Jimin vestia meu blusão apesar do verão, estava frio naquele momento. camisa azul e então descíamos. Nós nos sentávamos à mesa do café, até que ela pegava um bloco e começava a desenhar. Enquanto fazia seus desenhos mordia o lábio daquele jeito. Era o som da TV, do jornal da manhã..as notícias estavam atrapalhando seu desempenho.

Pra que fui aparecer ?

Você acredita em amor à primeira vista? 

Nem eu. 

Mas acredito numa grande atração à primeira vista. Acredito que de vez em quando em uma ou duas ocasiões na vida  nos sentimos fascinados por uma pessoa, de forma muito profunda, imediata, um encanto. Foi assim com Jimin. Muitas das vezes não passa disso. Em outras cresce e se transforma numa sensação boa, borboletas no estômago, já ouviu ? , que sabemos ser verdadeira e escrita para durar por muito tempo.

 Muitas vezes nos enganamos, sabe o eterno PAPEL DE TROUXA ?  criamos expectativas, pensando que o fascínio inicial vai durar eternamente. 

Eu ? Eu.. cai ; cai na ilusão, pensei, como criança, que ficaríamos juntos para sempre, eu criei expectativas, eu sonhava em acordar ao lado dele todos os dias da minha vida ! até a morte, juntar nossas escovas no copo do banheiro, levar e buscar as crianças na escola , falar sobre o dia chato e cansativo de trabalho. E agora não sou eu que estou naquela cerimônia, não sou eu que irei casar.

Eu também sei, sei que isso pareceu meloso, aquela vontade de vomitar.

Jimin me olhou, mas vi sua boca se enrijecer. Ele sabia que eu estava lá. Mantinha os olhos no futuro marido. Seu nome, era Yoongi. Odeio esse nome. Yoongi. Era provável que as pessoas o chamassem de Yoon. Eu acreditava mesmo que ele seria mais feliz sem mim, eu deixaria que partisse, por mais doloroso que fosse.

A dama de honra " DAMA " era o irmão dele, Jin. O mais velho. Estava de pé no altar, segurando um buquê com as duas mãos e, nos lábios, um sorriso sem vida, um robô.

 Nunca nos conhecemos, mas eu tinha visto algumas fotos suas e ouvi os dois conversando ao telefone. Ele também parecia perplexo com aquilo. Tentei fitar seus olhos, mas eles pareciam estar em outro mundo.

Quando um dos padrinhos entregou as alianças, meus pulmões começaram a falhar. 

Chega !! Chega !!

 Mais eu tinha que ver isso com meus próprios olhos, acho.  Meu pai tinha morrido de um infarto fulminante fazia cinco meses. Parecia minha vez, meus coração parando, um corpo quente. O que estava pensando ? ver o homem de minha vida se casar com outro. Um infarto agora parecia leve.

Tentei ir embora o mais discretamente possível, o que foi bem  fácil apesar de ser um pouco alto e ter mãos grandes e desastradas. Ele as adorava. Segurava-as nas suas e percorria as linhas da minha palma com a ponta do dedo.  Também as desenhava porque dizia que contavam minha sobre mim e minha vida, sobre o meu esforço para pagar os estudos, trabalhando como caixa  numa lojinha de conveniência. Também por estar quase a alcançar meu sonho e objetivo de me tornar um médico. Dar orgulho a minha mãe.

Contínua...