2 ANOS DEPOIS
EMBORA EU NÃO TIVESSE COMO SABER disso na hora, a maior mudança da minha vida chegaria entre 16h00 e 16h30. Minha aula de Cardiologia com a turma dos quase formados acabou. Eu estava saindo da universidade. O dia de aulas chegara ao fim, logo me tornarei um grande cirurgião.
O sol estava fraco em Busan e a tarde fresca. Uns jogos rolavam na quadra. Os alunos estavam espalhados por todos os cantos. Ouvia-se música em alto volume. Era como se estivesse todos se preparando para turnos e plantões na nova carreira daqui para frente. Todos saibam que seria difícil ter um dia de diversão novamente, então eles aproveitavam.
Amo dias assim.
– Ei Jung Kook. – virei-me ao ouvir o chamado. Alguns dos meus amigos e outras eu nem conhecia, estavam sentados na grama, num semicírculo. O garoto que falou estava no meio.
– Gostaria de se juntar a nós? – perguntou.
– Obrigado, mas tenho que ir, um compromisso – respondi, com um sorriso.
Continuei andando. Eu não podia ficar. Tinha que encontrar um amigo, na biblioteca.
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– E aí, Jeon, como vão as coisas? – perguntou Kim Taehyung, um amigo antigo.
Um quadro me chamava a atenção. Uma foto em preto e branco, um rosto familiar.
– Oi, tae – falei, com os olhos ainda no quadro – Sente-se.
— Ei, Kook. O que foi ? – após se sentar, ele também começou a fitar o quadro a menos de 10 metros de distância. — O que tem o quadro de desaparecidos ?
— Desaparecidos ?. – era um rosto familiar, já tinha visto. — Kim olha, você lembra do casamento ?
— Qual casamento Jeon ? – ele perguntou ainda olhando a quadro, tentando provavelmente se recordar.
— Jimin ! o casamento dele.
— Jeon ! eu sou o seu melhor amigo, te devo um concelho.– disse ele olhando agora para mim. – Cara ! esquece ele.
— Não é isso Tae. E-eu já esqueci. – me levantei indo em direção ao quadro, Tae me seguia. Olhei a pequena foto. Quando me aproximava , aí ficando maior, consegui conter um arquejo.
— É ele, é o marido do Jimin.
— Yoongi.– completou ele. — Ele não está desaparecido.
Logo em seguida comecei a ler.
Tinha um texto sobre o homem, havia mais, muito mais... Porém fui para a última linha:
O enterro será domingo , na capela Sul, Sr. Min Yoongi deixa seu marido e dois filhos.
— Dois filhos?
– Professor ? – Tae tinha uma mania de me chamar de professor, só pelo fato de eu sempre querer ensinar. Havia algo estranho na voz dele.
– Eu só estava... desculpe.
– Não, cara, não tem problema. Você está bem?
– Sim, estou.
– Tem certeza? Seu rosto Jeon, está branco.
— Tenho.
– Você se lembra do Jimin ? Do jeito dele.
– Não ouço você falar no nome dele desde... E não quero te ver sofrendo novamente Jeon.
– Eu sei, eu sei. Enfim, esse é... ou era... o marido dele.
– O cara por quem ele trocou você? Se lembra ? Ou vai se fazer de louco.
– Sim. Trocou !
– E agora ele está morto? Foi apenas um verão Jeon JungKook.
– Parece que sim. – ignorei o comentário sobre apenas um verão.
– Então – disse Tae, arqueando uma sobrancelha –, ele está solteiro de novo? Não pense nisso Jeon, eu mato você.
– Como você é sensível.
– Estou preocupado. Você é o meu melhor amigo, desde sempre. Não quero te ver perto daquele cara que só te faz sofrer.
– Que sensível – repeti.
– Você vai ligar pra ele ? Eu tô sentindo.
– Para quem? – perguntei.
– Minha vovozinha. De quem você acha que estou falando? Jimin.
– Sim, claro. E dizer algo como: “Ei, o cara por quem você me trocou morreu. Vamos pegar um cinema?”
Tae estava lendo o obituário.
– Espera.
– O quê?
– Aqui diz que ele tem dois filhos.
– E daí?
– Isso complica um pouco as coisas.
– Quer parar?
– Estamos falando de dois filhos. Crianças chatas, talvez mimadas.
— Sai dessa.– falei – Prometi a ele.
– Prometeu o quê?
– Que os deixaria em paz. Que nunca os procuraria nem os incomodaria.
Kim ficou pensando naquilo.
– Parece que você cumpriu a promessa, Jeon.
— Ok, Tae ! agora preciso ir. Ir para casa e descansar.
— Sim doutor. Amanhã você veste sua roupinha, não é mesmo ? Doutor.
— Claro ! gastei anos da minha vida para isso.
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