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História Síndrome de Estocolmo - Sobre como os meios de transporte, ainda que desprovidos...


Escrita por: Franiquito

Notas do Autor


Voltei! q
Boatos de que essa fic será atualizada a cada 3 dias. Ou algo do gênero. Mas não fui eu que falei. 👀
Boa leitura! ^^

Capítulo 2 - Sobre como os meios de transporte, ainda que desprovidos...


Fanfic / Fanfiction Síndrome de Estocolmo - Sobre como os meios de transporte, ainda que desprovidos...

Capítulo Dois – Sobre como os meios de transporte, ainda que desprovidos de orgulho ou vaidade, são os mais prejudicados

Quando você finalmente chegou no seu apartamento, só teve forças para recostar a bicicleta na parede e se jogar no sofá. E então as lágrimas começaram. Pareciam dois rios incessantes, caudalosos, que simplesmente seguiam seu curso natural dos olhos até o queixo. Você abraçou os próprios joelhos, sentindo-os levemente inchados no ponto onde os batera no chão. Você tentou segurá-los com as mãos, mas os arranhões ardiam em contato direto com o jeans. Seu corpo estava cansado. Sua cabeça estava pesada. Você apenas se deixou chorar por vários minutos – tristeza, raiva, frustração, humilhação fluindo de dentro para fora. Fazia bem.

Após um tempo, as lágrimas diminuíram consideravelmente e a sensação de angústia passou. Bom, sua bicicleta estava toda torta e ferrada, a ponto de você ter tido que empurrá-la até seu apartamento, mas e daí? Pelo menos você ainda podia consertá-la. Poderia fazer isso amanhã, em menos de uma semana as coisas talvez voltassem ao normal. Não sairia barato desentortar rodas e raios, trocar a cesta (pois a sua estava agora imprestável) e repintá-la. Você esperava que o resto tivesse sobrevivido bem. Se o preço ficasse muito alto, talvez não houvesse necessidade de pintar, afinal, era pura estética...

Você esfregou os olhos, limpando da melhor maneira que podia os traços de lágrimas. Fungou alto e decidiu que tomar um banho era o que melhor poderia fazer no momento. Enquanto se despia e lavava o seu corpo, você foi observando-o atentamente, localizando arranhões e pontos vermelhos que em breve estariam roxos, alguns com inchaço. Pelo menos você estava viva, né? Não tinha sofrido nenhuma contusão grave, nenhuma fratura, nada que precisasse de pontos. Uma ou duas semanas e você provavelmente estaria nova em folha, assim como a sua bicicleta.

A tristeza deu lugar à conformação que deu lugar à raiva. Deitada em sua cama mais tarde, você repassava o ocorrido em loop na sua mente, o que foi lhe deixando cada vez mais irritada. Que cara escroto! Quem ele pensava que era para tratar uma pessoa daquele jeito? Só por que ele era claramente riquinho achava-se melhor do que os outros?? Ele nem sequer estava preocupado com você ou com o que lhe fizera; certamente só estava com medo de processo e má reputação. Jogou dinheiro na sua cara, sem a menor educação, só para dizer que estava reparando os danos que causara! Nojento!

Você se revirou na cama, começando a sentir o lado da coxa esquerda dolorido conforme o fez. Como é que uma pessoa pode ver que vai atropelar alguém e não fazer grandes coisas sobre isso? Ele nem devia estar a uma velocidade muito alta, não tinha como naquele local – e, se estivesse, você provavelmente estaria numa cama de hospital agora, não na sua. Mas por que diabos aquele maldito não desviou??? E ele ainda queria colocar toda a culpa nas suas costas! Ele não sabia que no trânsito os maiores devem cuidar dos menores? Até você sabia disso e nem tinha feito autoescola nem nada do tipo.

Após muito se revirar e resmungar (de raiva e de dor), você finalmente adormeceu, mas seus sonhos não foram dos mais tranquilos. Sempre havia uma figura engomadinha ou lhe perseguindo, ou lhe xingando, ou lhe batendo. Aquele cara merecia uns bons tapas para quem sabe mudar de atitude.

A primeira coisa que fez ao acordar de manhã foi franzir o cenho e resmungar com todas as novas dores que descobria em seu corpo. Você não tinha na memória um registro exato do que acontecera, mas agora seus músculos pareciam querer contar-lhe da pior maneira possível. As palmas das mãos estavam quentes e sensíveis; os joelhos, roxos e inchados, assim como boa parte da sua coxa esquerda. Os músculos do seu abdômen e pescoço estava doloridos como se você tivesse frequentado a academia – provavelmente devido à força que você fizera ao cair para não se estatelar de cara no chão.

Você teria que ir para o trabalho de transporte público, algo que você odiava fazer e recorria apenas nos dias de chuva. Àquela hora, a oficina mais próxima não estava aberta ainda, portanto, você teria que deixar para levar sua bicicleta para o conserto quando voltasse.

Seu dia seguiu entediante, arrastado e dolorido. Enquanto designer, segurar uma caneta (esferográfica ou digital) para trabalhar tornara-se quase impossível. Seu humor estava péssimo e qualquer pequena coisa que acontecesse parecia apenas contribuir para que piorasse. Você não via a hora de começar a colocar as coisas de volta nos eixos e isso dependia em boa parte de ter seu meio de transporte favorito de volta.

- Saiu sem a bicicleta hoje?

O tom casual do porteiro do seu prédio quase lhe trouxera de volta as lágrimas ao relembrar da situação. Droga, ficar sensibilizada era uma merda.

- Sim... Estou subindo para pegá-la agora. Ah – você não conseguiria escapar de um explicação de qualquer modo – Eu e ela sofremos um pequeno acidente ontem...

- Nossa – seu porteiro era um senhorzinho legal. Ele parecia genuinamente surpreso e preocupado – E você está bem, menina?

Você fez que sim com a cabeça, um leve sorriso – Quem levou a pior foi ela mesmo.

- Mas o que aconteceu? Você caiu?

Aquilo lhe fez bufar e revirar os olhos. Como assim cair? Você era uma ciclista de mão cheia fazia anos já, não era simples assim para cair no meio da rua. O que ele estava pensando?

- Não, foi um cara idiota que meio que bateu em mim – você resmungou com muito mais raiva do que esperava – E ele ainda ficou todo irritadinho, o senhor acredita? Como se eu tivesse feito de propósito para estragar a pintura do carro maravilhoso dele! – você desatou a falar sem disfarçar sua fúria. O porteiro apenas balançava a cabeça em solidariedade – Que cara mais ridículo! Vontade de bater na cara dele.

Ele riu e você deu de ombros, seguindo seu caminho até sua bicicleta acidentada. No caminho de volta, com a vítima em cena, a conversa com o porteiro recomeçou, mas você logo argumentou que precisava se apressar até a oficina e assim o fez.

De fato, o conserto seria caro e lento. Ao menos você teria sua fiel companheira como nova dali a um tempo. E, ao menos não precisaria gastar suas suadas economias naquilo, já que o prêmio de consolação daquele imbecil serviria.

- Babaca – você se ouviu resmungando no meio da rua enquanto voltava para casa a pé. Já anoitecera, mas não era um caminho muito longo, questão de 20 ou 30 minutos. Você já estivera em dois ônibus naquele dia, já era mais do que suficiente.

Eis que a mágica aconteceu. Sem saber muito bem como ou por quê, estava ali, materializado na sua frente – o maldito carro esportivo carésimo. Mesmo modelo. Mesma cor. Mesma placa. Não havia dúvidas: era mesmo o carro do almofadinha besta que lhe atropelara no dia anterior. Você procurou pela lasca de tinta no local onde ele lhe atingira e não estava mais lá. O carro parecia novo em folha. Como ele conseguia consertar aquela droga tão rápido???

Você olhou em volta. Ele estava numa espécie de estacionamento aberto. Vazio. O carro estava vazio e o estacionamento parecia vazio, a não ser pelos outros carros, claro. Não se via uma alma viva por perto.

A raiva subiu pelo seu corpo com uma velocidade fenomenal, deixando seu rosto quente e vermelho. Aquele idiota. Devia estar muito bem, aproveitando sua vida de rico, de reuniões, de ternos, de lagostas e essas outras porcarias. O que era aquela lasquinha no carro afinal? Apenas uma má impressão para o seu chef ou cliente ou sabe-se lá que merda aquele merda fazia da sua vida de merda!

Você apertou com força a chave do seu apartamento no bolso do casaco. E então surgiu na sua mente uma ideia terrível... terrivelmente tentadora.

Você olhou novamente para os lados. Olhou para o carro. Para a chave em sua mão, agora fora do bolso. Olhou mais uma vez para os lados para se certificar de que não havia ninguém. Você deu de ombros e, com um sorriso maligno, pôs-se a criar marcas no capô até então lustroso e impecável. Você primeiro cogitou escrever “eu atropelo ciclistas”, mas achou que seria muito óbvio e perigoso. Então você apenas caprichou na arte abstrata, tentando otimizar seu tempo ao máximo e marcar não apenas a parte da frente do carro, mas também as laterais.

Quando terminou, estava ofegante graças à adrenalina. Você admirou sua obra de arte por alguns segundos, bastante satisfeita. Precisou levar a mão à boca para abafar a gargalhada. Você queria muito ficar para ver a cara daquele babaca, mas seria suicídio.

Com o humor 100% melhorado, você voltou correndo para casa, em meio a pulos e gargalhadas.



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