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História Sinfonias Dolorosas - Um guarda-chuva vinho e um livro pela metade.


Escrita por: Thatavisk

Notas do Autor


Capa maravilhosa feita pela @sxxtop.
Boa leitura.

Capítulo 1 - Um guarda-chuva vinho e um livro pela metade.


As gotas rastejavam lentamente até a base da janela, caindo de seu parapeito ao se acumularem enquanto eu as observava com o queixo apoiado em minha palma.

O guarda chuva vinho que eu traria havia ficado acima da mesa da cozinha e se nenhum professor conseguisse chegar, eu teria de voltar nadando.

Eu havia chego cedo demais a princípio, mas fazia já vinte minutos que deveria ter começado a aula e a sala estava vazia. Apenas o som das gotas caindo ao lado de fora juntas de vez ou outra algum trovão distante me faziam companhia.

Fechei os olhos e deixei que os baques surdos da chuva na janela me embalassem, enquanto eu reclamava internamente sobre minha decisão anterior de ir apenas por precaução.

Após acabar meu monólogo interior nada produtivo, me deixei reparar em como o clima estava úmido e agradável. Eu poderia voltar para casa após a chuva estar mais fraca e descansar um pouco. Mas o ranger da porta arrancou minha atenção da chuva no exterior e fiquei um pouco decepcionada ao ver que não era um professor.

— Com licença? — A voz confusa se propagou pelo local amplo. Seus olhos varreram a sala até me encontrar ao fundo dela. — Acho que cheguei meio cedo... — Coçou a nuca enquanto adentrava o lugar quase vazio.

— Na verdade, já devia estar tendo aula — murmurei mantendo a cabeça encostada no vidro.

— Mesmo? — Checou o horário no celular que tirou do bolso. — Senhor Min deve estar preso no trânsito ainda, o clima está péssimo hoje. — Fez uma careta leve.

— Eu gosto de dias assim — comentei olhando pela janela por um segundo. O estacionamento possuía poucas vagas ocupadas, a maioria dos professores vinha do centro e acabavam pegando as principais que, com esse tempo, deviam estar todas paradas.

— É bom 'pra relaxar, mas não para dirigir — disse com o sorriso gentil estampado no rosto, seguindo até mim e me estendendo a mão. — Park Jimin.

— Não lembro de já ter te visto, é novo aqui? — perguntei apertando sua mão, observando um pouco suas feições.

— Não muito novo... Estou aqui faz um tempo, mas você também é bem na sua — observou, fazendo-me sorrir minimamente.

— Não sou lá muito sociável. — Suspirei fundo ao ouvir outro trovejar, não parecia que eu conseguiria voltar seca para casa.

— Posso me sentar contigo? — Apontou minha bolsa na cadeira ao meu lado. Passei minha bolsa para a mesa, dando-o espaço, mesmo que houvessem muitos lugares vagos para ele escolher. Não queria ser mal educada. — Então, o que faz uma moça bonita ser antissocial? — questionou casualmente.

— Eu sou insuportável como pessoa — admiti ignorando o elogio.

— Não parece insuportável. — Deu de ombros. — Eu, particularmente, acho que você apenas seja tímida — supôs juntando as mãos sobre sua mesa.

— Eu não sou tímida — resmunguei brincando com a alça da bolsa.

— E por que não está me olhando enquanto conversamos? Muito suspeito, não acha? — diz com o sorriso presente na fala.

— Não é como se ser um pouco tímida fosse um crime. — Fitei-o, não conseguindo conter o riso. — Eu não consigo encarar as pessoas — reclamei voltando o olhar para a mesa.

— Crime é ser uma pessoa legal e não espalhar sua legalzice por entre os outros.

Legalzice? — questionei erguendo uma sobrancelha, rindo fraco.

— Criei especialmente nesse momento, não achou um termo legal? — perguntou sorrindo largo.

— Tem muita legalidade nele — comentei fazendo-o rir.

— Piadas sobre jurisdição são sempre legais — diz contendo o riso. — Por que decidiu cursar direito, moça legal?

— Quero ser juíza. E você? — perguntei o fitando.

— Meus pais são advogados, vou no mesmo rumo da família. — Deu um sorriso meio sem jeito. — O que seus pais fazem? — indagou pegando o celular.

— Minha mãe é corretora de imóveis e meu pai é empresário... Não me lembro em que firma, faz anos que não falo com ele — digo enchendo uma bochecha com ar e fitando as nuvens escuras pela janela.

— Meus pais também são separados, faz algum tempo que não vejo minha mãe. — Franziu levemente o cenho com algo que viu na tela, estalando a língua no céu da boca e voltando a guardar o celular no bolso do jeans.

— Preferiu ficar com seu pai? Geralmente todos ficam a mãe — comento lembrando de como eu não tive muita escolha na época, mas fiquei agradecida de ter ficado com minha mãe após descobrir um pouco sobre como meu pai realmente era.

— Na verdade, ela não quis ficar comigo e eu também não fiz muita questão, acabei sobrando pro meu pai. — Deu de ombros com um sorriso divertido nos lábios, apesar de o que disse ter parecido meio triste. — Não deixamos de nos ver por causa de distância, ela vive a menos de duas horas de onde moro, meio que não nos vemos muito por escolha própria — explicou passando a mão pelos cabelos.

— Vocês brigaram? — indaguei curiosa.

— Não bem isso... Mas nós nunca nos demos muito bem, sabe? É complicado. — Comprimiu levemente os lábios.

— Com licença. —Uma mulher abriu a porta, ficando levemente surpresa ao subir o olhar das folhas de papéis que carregava e ver a sala praticamente vazia. — Só tem vocês aqui? — perguntou nos fitando confusa ao fundo da sala. — De qualquer forma, senhor Min acabou preso no engarrafamento, o pobre coitado não vai conseguir chegar a tempo. Não haverá aula hoje — informou fazendo menção de deixar a sala. — Tenham uma boa tarde.

— Foi um prazer, Jimin. Até amanhã. — Me despedi, pegando a bolsa e pondo a alça sobre o ombro.

— Assim tão rápido? — resmungou pegando sua mochila e se levantando, me dando passagem. — Quer uma carona? — ofereceu descendo comigo os degraus até à frente da sala.

— Eu moro aqui perto, não precisa, mas obrigada mesmo assim. — Sorri acelerando o passo e acenando para ele.

Pelo som da chuva, ela ainda estava forte, mas eu poderia chegar rápido em casa se corresse, não morava tão longe da faculdade. Porém parei de calcular quantos minutos eu poderia cortar se corresse ao chegar à entrada e ver o que parecia um princípio de dilúvio.

— A carona ainda está de pé — disse vindo em passos calmos pelo corredor. — Nossa... Acho que vou acabar me juntando ao senhor Min — resmungou pegando um guarda-chuva na mochila, abrindo-o antes de descer um degrau, virando-se para me estender a mão.

— Apenas pois não sei nadar. — Segurei sua mão, seguindo-o.

— Você é sempre orgulhosa assim? — perguntou me puxando para mais próximo, para que eu não me molhasse.

— Não sou orgulhosa. — Suspirei fundo ao sentir minhas sapatilhas ensoparem.

— Aquele ali. — Apontou um carro preto estacionado numa vaga do meio. Parei os passos por um segundo, ponderando quais eram as chances de eu aparecer no noticiário nos próximos dias se entrasse naquele carro. — Algum problema? — perguntou confuso ao notar que eu havia parado.

— Nenhum. — Retornei os passos, entrando ao ele abrir a porta do carona para mim. — Por que um carro tão grande? — perguntei após ele dar a volta e entrar no carro.

— Gosto de viajar para lugares de interior às vezes. Esse carro dá conta das estradas de terra e lama. — disse girando a chave. — Onde você mora? — perguntou manobrando para sair do estacionamento.

— Aquele prédio ali. — Apontei o edifício em que morava.

— Tão perto... Até eu chegar em casa preciso dirigir uma hora — resmungou ao lembrar que provavelmente pegaria trânsito. — Você escolheu morar aqui por que é mais perto da faculdade?

— Minha mãe me deu esse apartamento, mas provavelmente ela levou em consideração a proximidade da faculdade — digo não demorando a ver a entrada de meu prédio, ele me estendeu o guarda chuva antes de eu descer. — Não precisa, não vou me molhar tanto.

— Tem certeza? — insistiu, jogando o guarda-chuva no banco de trás ao me ver assentir. — Pode me passar seu número? — pediu me segurando por um segundo, evitando que eu saísse.

— Obrigada pela carona — agradeço digitando meu contato em seu celular e saindo do carro finalmente, fechando a porta em seguida. Ele abaixou o vidro para acenar para mim antes de seguir.


Deixei meu celular na mesa e comecei a retirar as roupas úmidas pela pouca chuva que peguei, seguindo para o banheiro a fim de tomar um banho quente.

A água escorria por meu corpo enquanto eu pensava no que fazer nessa tarde livre. O clima não parecia muito bom para sair, mas poderia aproveitar a tarde relaxando um pouco. Havia alguns livros que ainda não tinha terminado de ler em minha estante e poderia começar a pôr a leitura em dia ou assistir algo.

Saí do banho vestindo um moletom qualquer e um short. Puxei uma poltrona até próxima a parede de vidro que dava para a sacada do apartamento e peguei um livro que larguei pela metade na estante, optando por ler após não encontrar algum filme que me interessasse no momento.

Minha mãe não poderia ter sido mais certa em escolher um apartamento cuja sala possuía portas de vidro, era apenas empurrá-las que a sala estaria junta da sacada, formando um ambiente maior. Além de que eu tinha a visão para aquele lado inteiro da cidade e à noite era uma vista simplesmente linda.

Estava indo para a cozinha fazer um pouco de chá quando ouvi meu celular tocar e já tinha uma certa ideia de quem era apesar do número ser desconhecido. Atendi a ligação voltando para a poltrona na sala.

— Já chegou? — perguntei me aconchegando no móvel macio.

O trânsito do retorno estava bem melhor que o de ida e eu estava com um pouco de pressa, por nenhum motivo especial, lógico... E eu nem fiquei cinco minutos olhando sua foto de contato...  — comentou rindo meio sem jeito.

— E por qual motivo não especial  me ligou? — questionei rindo fraco, balançando levemente os pés.

Estava curioso sobre o que a mocinha supostamente insuportável estava fazendo.

— Nada de interessante. — Soltei o livro na mesa. — Quer falar sobre algo? — perguntei sorrindo, mesmo que ele não pudesse ver. — Me conta um pouco sobre você.

Antes de eu começar minha autobiografia, o som de seu sorriso é maravilhoso — comentou me fazendo rir. — E esse é ainda mais gostoso, então... — Suspirou fundo e começou falando sobre sua infância. Algumas partes felizes e outras nem tanto.

 Jimin não aparentava ter sido um menino com um lar muito aconchegante.

Eu sempre gostei mais de ouvir do que falar, adorava histórias e ele me parecia um livro repleto das mais interessantes. Jimin tinha um jeito curioso, além de ter se aproximado com tanta naturalidade que me fazia sentir que nos conhecíamos fazia bem mais tempo que apenas algumas horas.

Sua voz calma ao celular e as gotas da chuva acabaram com qualquer outro pensamento em minha cabeça. Aquele pobre livro na mesinha de centro seria deixado novamente de lado, mas dessa vez por um motivo mais plausível que apenas meu desinteresse.


Notas Finais


Bem, eu não curto o uso do termo S/N(Seu nome), então ele não vai aparecer aqui.

Obrigada por ler até aqui.


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