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História Sinfonias Dolorosas - Vinho do Porto e pêssegos amassados.


Escrita por: Thatavisk

Notas do Autor


Boa leitura.

Capítulo 4 - Vinho do Porto e pêssegos amassados.


Taehyung havia descido já fazia algum tempo e eu não quis perguntar sobre a breve discussão dele e Jimin, poderia ser algo muito delicado ou pessoal para ambos e eu não queria soar insensível ou intrometida. Por mais que aquilo houvesse sido incômodo para mim, não parecia ser problema meu.

Estava esfarelando entre os dedos as beiradas secas de uma folha caída de um tomateiro enquanto Jimin falava, um pouco distante, ao celular. Dava para notar algumas manias suas, era a terceira vez que oscilava o peso nos calcanhares e logo a seguir jogava os cabelos para trás.

— Aconteceu algo? — perguntei ao vê-lo voltar com uma feição não muito animada.

— Eu preciso resolver algumas coisas, mas volto outro dia — respondeu guardando o celular no bolso, suspirando fundo e olhando o horizonte por um segundo antes de se voltar para mim com um sorriso meigo.

— Tudo bem. — Esfreguei as mãos para me livrar dos restos da folha. — Poderíamos ver um filme na próxima vez — comentei indo em direção ao elevador.

— Ela me convidou para voltar, assim eu já me sinto importante — brincou me seguindo.

— E você não vai fugir assim tão fácil de novo. — Apertei o botão, aguardando que o elevador subisse.

— É uma fuga necessária, é algo realmente importante. Eu ficaria mais se pudesse — diz entrando comigo no elevador após as portas se abrirem.

— Grava o andar, é só pedir ao porteiro que eu libero sua entrada para subir quando vier — digo apertando o número de meu andar. — É o do final do corredor. — Saí após as portas se abrirem rapidamente, morava logo abaixo do terraço.

— Te ligo ainda hoje pra te fazer perder a hora de novo — disse segurando a porta para acenar antes de descer, fazendo-me rir fraco.

 

Me joguei preguiçosamente no sofá assim que entrei em meu apartamento. Estava cansada ainda e não tinha planos de sair, então apenas permaneci ali.

O som da campainha me acordou quando eu estava já quase cochilando, ponderei ignorar, queria dormir e geralmente eram apenas os filhos da senhora que era minha vizinha brincando ou o síndico checando o funcionamento de tudo em todos os apartamentos.

Mas após tocar pela sexta vez, me obriguei a levantar e atender.

— Olá! — disse animado. Eu iria fechar a porta, mas ele pôs rápido o pé no caminho. — Podemos conversar ou estou atrapalhando algo? — perguntou se inclinando levemente, olhando dentro do apartamento.

— Ele já saiu — digo ao notar que provavelmente estava procurando Jimin pelo cômodo. — Tenha uma boa tarde. — Forcei um sorriso, cutucando seu pé com o meu para que se retirasse.

— Eu fui muito rude hoje mais cedo, quero apenas me desculpar.

— Não tem problema algum, mas eu quero que saia. — Apontei seu pé.

— Não podemos conversar um pouco? — Sorriu mostrando uma garrafa de vinho.

— Eu estou cansada, hoje não é um bom dia para isso. — Entortei levemente a boca. Além de não beber, não queria muito conversar com ele após o ocorrido no terraço.

— Seremos vizinhos... Não quero deixar uma má primeira impressão — insistiu parecendo satisfeito após eu abrir a porta, dando-o espaço para entrar.

— Meio tarde para isso, não acha? — perguntei andando consigo pela sala, apontando o sofá para que se sentasse.

— Bom, ao menos nunca é tarde para consertar as coisas — diz olhando-me seguir para a cozinha.

— Depende de quais são as coisas. — Fitei-o quando me chamou, mostrando a rolha na boca da garrafa. — Eu não bebo, mas fique à vontade — digo pegando um pêssego na fruteira e segurando o saca-rolhas com o indicador da mesma mão, pegando uma taça apenas no armário antes de retornar.

— Não quer provar? Escolhi pensando sobre o que combinaria contigo — disse abrindo a garrafa, despejando o vinho na taça e me estendendo.

— Eu realmente não gosto. — Neguei fazendo uma leve careta. Vendo-o pôr a garrafa aberta sobre a mesinha de centro.

— Ah, não faça desfeita — reclamou manhoso.

— Desculpe, mas vou fazer — digo empurrando levemente a taça, sorrindo ao ouvi-lo resmungar. — Você já morou aqui antes? — perguntei lembrando sobre Jimin questioná-lo se não havia se mudado.

— Já, mas em outro apartamento. — Levou a taça aos próprios lábios, tomando um gole curto. — Faz algum tempo já, eu saí da cidade por um período.

— Aqui era melhor? — indaguei mordendo o pêssego, sentando-me na poltrona próxima do sofá.

— Não sei se é melhor, mas estou mais acostumado com as coisas daqui. Eu não me mudei, apenas tive de viajar a trabalho — explicou tomando um gole mais longo da bebida.

— Com o que você trabalha? — Ele balançou levemente a taça.

— Sou modelo, mas comecei a atuar faz pouco tempo — disse terminando a taça em apenas mais um gole, enchendo-a novamente. — Você parece nova, ainda estuda?

— Estou cursando direito. Você disse que era meio velho para mangás... Tem quantos anos? — perguntei vendo-o pousar a taça cheia na mesa. — Eu faço dezenove ainda esse ano.

— Vinte e quatro, completo vinte e cinco no próximo mês. — Se encostou no sofá, reparando apenas agora no apartamento, olhando ao seu redor de forma curiosa. — É igual ao meu, mas seu gosto decorativo é muito mais maduro — comentou ao ver os trios de quadros abstratos ordenados por tamanho na parede larga da sala, ao lado da estante escura onde guardava meus livros.

— Posso perguntar algo? — Ele afirmou com a cabeça, pegando novamente a taça. — O que aconteceu entre você e Jimin foi algo grave? — questionei curiosa. Jimin parecia alguém tão doce que me surpreendeu a postura hostil dele daquele momento.

— Depende do que você considera grave. Jimin e minha irmã ficaram juntos por um tempo, mas por bondade do universo, ele sequer chegou a ser meu cunhado de fato — disse forçando um sorriso, voltando o olhar para a taça.

— Foi um término conturbado? — indaguei notando seu incômodo ao tratar do assunto.

— Eles nunca tiveram um relacionamento concreto, apenas eram amigos íntimos. — Deu de ombros. — Mas minha irmã ficou bem chateada com como tudo terminou e, bem, ela sempre foi muito sensível, não lidou bem com o afastamento repentino de Jimin e nem com como ele agiu. — Tomou outro gole longo.

— Mesmo? Jimin parece tão gentil. — comentei confusa.

Parece. — Terminou outra taça, enchendo sua terceira. — Ele nem visitou minha irmã no hospital depois que ela tentou suicídio — disse soando irritadiço, fazendo-me arquear levemente as sobrancelhas. — Tratou ela feito uma cadela nos últimos dias juntos e minha irmã só nos contou o que ele fazia depois de termos encontrado ela desmaiada no banheira. — Engoli em seco.

— Mas Jimin não parece esse tipo de pessoa... — digo quase soando como um sussurro.

— Claro que não parece. Ele é engraçado, bonito e educado, não? — debochou erguendo levemente a taça. — Também é mentiroso, manipulador e egoísta — acrescentou findando a terceira taça numa golada, deixando-a vazia sobre a mesa dessa vez.

— E o seu passado nada bonito? — perguntei vendo-o sorrir largo em surpresa.

— Ninguém é perfeito. — Se defendeu erguendo baixo as mãos em rendição. — Mas o que fiz passa longe do que Jimin faz, nunca machuquei ninguém.

— Jimin machucou sua irmã? — Estava apertando levemente o pêssego mordido em minha mão, deixando transparecer parte de meu nervosismo. Não queria estar me envolvendo com alguém problemático.

— Ela nunca falou sobre alguma agressão física, mas ele acabou com o psicológico dela. Minha irmã achava realmente que merecia os insultos dele. — Suspirei fundo, Jimin simplesmente não parecia alguém tão repugnante.

— Isso faz muito tempo? — perguntei deixando a fruta sobre a mesa após um pouco do suco escorrer por minha mão, caindo no carpete.

— Uns três anos, eu realmente não esperava ver Jimin novamente depois disso e não foi agradável me reencontrar com ele — admitiu rindo desconfortável. — Mas eu estou falando sério, não é bom confiar em alguém como ele — disse soando sincero.

— Três anos, certo? Ele pode não ser mais dessa forma, as pessoas mudam. — Dei de ombros, limpando a palma úmida do suco do pêssego no moletom que usava.

— Pessoas não mudam. — Meneou a cabeça em negação. — Foi bom conversar contigo, que tal sairmos algum dia desses? — convidou se levantando, parecendo estar de despedida.

— Mas eu te conheci hoje — comentei um pouco surpresa com o convite um tanto quanto rápido.

— Nos veremos bastante, já que somos vizinhos e seria legal nos conhecermos melhor. Mas eu entendo se você não quiser.

— Não, tudo bem... Que dia mais ou menos?

— Hoje à noite — diz rindo baixo ao me ver franzir levemente o cenho com um sorriso desentendido nos lábios. — Eu sou direto.

— Não é muito em cima da hora? — perguntei apontando as portas de vidro ao fim da sala. O céu assumia uma coloração alaranjada enquanto o dia se findava.

— Por mim sairíamos agora mesmo, mas preciso fazer um ensaio daqui alguns minutos e... Pensando melhor agora, voltarei um pouco tarde hoje. — Pareceu desanimar levemente. — Quer vir ao meu apartamento mais tarde?

— Você é realmente bem direto. — afirmei rindo constrangida. — Eu vou te passar meu número e podemos marcar um dia para sairmos — digo fazendo menção de seguir para o quarto pegar caneta e papel, já que ele não parecia ter trazido o celular.

— Eu já peguei na portaria. Para o caso de você não abrir a porta... — Riu um pouco sem jeito. — Esse sábado vai estar livre? — perguntou sorrindo ao me ver assentir. — Ótimo. Eu te mando uma mensagem mais tarde — disse dando-me um abraço curto antes de se despedir e eu seguir consigo até a porta, vendo-o acenar antes de entrar no primeiro apartamento do corredor. Éramos realmente vizinhos.

Provavelmente seria algo extremamente desagradável se ele e Jimin se topassem no corredor.

Suspirei fundo, voltando ao sofá e me deitando, fitando o teto branco. Não sabia o que pensar sobre Jimin depois do que Taehyung havia dito e de como ele havia agido no terraço.

Jimin era tão meigo que as palavras de Taehyung me faziam duvidar mais de si que de Jimin de fato, mas aquilo não deixou de ser incômodo.

Afastei os pensamentos paranóicos sobre ambos os dois e me levantei a fim de seguir para o quarto descansar, precisaria pôr em dia a matéria que perdi e deixei o celular na cabeceira para caso Jimin me ligasse.


Notas Finais


Obrigada por ler até aqui.


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