— Mas só pode ter sido ela! — reclamei indignada.
— Não pode dizer isso assim, você não tem como saber da verdade — disse tranquilo, olhando-me cortar a ponta da fatia do bolo de chocolate com o garfinho, um tanto irritada.
— Taehyung, o ângulo do disparo bate com a altura dela, o disparo foi muito preciso, a arma era dela e só havia digitais dela! Ela não estava lá quando a polícia chegou também — digo frustrada com a quantidade absurda de provas contra a inocentada. — E se ela for culpada e se safou por uma falha?
— Você apenas não tem os detalhes da defesa para entender, eles podem ter descoberto algo crucial — diz abrindo um sachê de açúcar para adoçar seu chá.
— Mais crucial do que isso tudo? — perguntei erguendo uma sobrancelha ao ouvi-lo assentir.
— Não é certo tirar conclusões sem saber exatamente a verdade — disse fazendo-me suspirar fundo. — Ela deve ter sofrido muito até provar sua inocência, pense em como ela se sentiu. Todos devem ter pensado o mesmo que você, está sendo insensível. — O tom suave de Taehyung apenas me deixava mais frustrada. Ele pegou a colherinha ao lado da xícara para misturar a bebida.
— Não existe sensibilidade contra provas. — Enfiei o pedaço que cortei na boca.
— Vai ser uma juíza bem durona... — comentou rindo fraco. — Espero nunca acabar no seu tribunal.
— Pretende cometer um crime, é? — Estreitei os olhos para si, sorrindo ao vê-lo ponderar.
— Furto de coração é muito grave? — indagou sorrindo-me sugestivo.
— Depende do quanto eles valem no mercado negro. — Desci o olhar para o bolo, tentando conter o sorriso constrangido.
— Por quanto pretende vender o meu? — perguntou fazendo-me rir. — Você vai representar essa mulher do caso, não? — Voltou ao assunto anterior rapidamente, ainda sorrindo meio sem jeito.
— Sim e acho que vou ser condenada — respondi arqueando brevemente as sobrancelhas. — O professor não quis me dizer como agiu a defesa, ele não quer que eu interfira na estratégia que a defesa possa bolar. — Respirei fundo, pegando outra garfada do bolo. — Isso é uma delícia — comentei vendo-o provar seu chá, fazendo uma careta leve antes de pegar outro sachê de açúcar.
— Sempre peço isso, é a minha combinação favorita — comentou alegre por eu ter gostado. — O que acha de cinema hoje? — perguntou olhando-me provar o chá, era mesmo bem ácido.
— Tenho que estudar mais o caso, ainda tenho algumas notícias ‘pra ler — digo apesar de parecer tentador. Era já a quarta vez que saíamos juntos em sequer uma semana que havíamos nos conhecido. Taehyung era o tipo de pessoa com qual se sentir confortável era quase natural, era engraçado e tinha o sorriso solto. A presença dele era agradável e seu bom humor melhorava o meu também.
Taehyung não insistiu muito pelo cinema, mas perguntou se eu gostaria de jantar em sua casa novamente, prometendo que dessa vez não tentaria disparar o alarme de incêndio esquecendo outra panela no fogo.
Apesar de o intuito ser não me distrair até ter certeza de como agiria segunda, acabei aceitando o convite para jantar de Taehyung, ainda mais após ele se oferecer para me ajudar com a atuação.
Após me acompanhar na volta até nosso prédio, Taehyung seguiu para sua agência, resmungando que estava nervoso ao receber uma mensagem de seu agente avisando que o jogador já havia chegado.
Deixei a bolsa no sofá enquanto ia para o quarto, tomaria uma ducha rápida antes de deixar tudo adiantado para a noite e voltaria a estudar após. Yoongi já havia deixado bem claro, nas mensagens que trocamos sobre o caso e o tribunal simulado, que representar a ré não era privilégio algum, era na verdade trabalho em dobro. Eu não apenas assistiria a turma agir enquanto precisa fingir não saber muito além do que estava no papel, como também teria de reconhecer os erros cometidos durante a simulação, então seria bem mais complicado do que pensei de começo.
Jimin perguntou se eu estaria livre à noite, ficando chateado quando eu disse que não pretendia sair. Pensei na hipótese de convidá-lo para jantar também, mas não parecia ser boa ideia juntar ele e Taehyung no mesmo ambiente.
Segundo algumas notícias, após o encerramento do caso, Samantha não teria conseguido voltar para sua vida antiga e havia se mudado para outro país, alguns sites diziam Canadá e outros Espanha, com um novo nome, o qual não havia sido divulgado.
Jimin me enviou um anexo enquanto eu anotava as informações mais importantes no bloco de notas, deixando-me boba ao abrir o chat e ver a foto de um esquilo tentando pegar furtivamente um biscoito deixado no gramado. Perguntei se estava em algum parque, mas ele estava em casa e explicou que morava um pouco distante da cidade, então alguns animais apareciam de vez em quando em seu jardim, deixando-me curiosa sobre o local.
Fazia já dois dias desde a atitude de Jimin no restaurante e ele andava me dando mais espaço ultimamente. Havia se sentado com seus amigos nas duas últimas aulas e eu entendi o motivo de nunca ter visto Jimin antes. Ele se sentava nas primeiras carteiras, eu sempre nas últimas e as aulas eram sempre bem lotadas.
Jimin me cumprimentou de longe ao chegar e no intervalo me convidou para comer consigo, mas não insistiu tanto quando neguei por estar adiantando a matéria perdida. Chegou a se oferecer para me acompanhar até o prédio na saída, mas não havia necessidade, era bem pertinho.
— Você prefere defesa ou acusação? — perguntou enquanto eu lavava a pouca louça que havia sujado no dia.
— Acho que defesa — respondi arqueando as sobrancelhas. Se algum dia eu pegasse a defesa de um caso como o de Samantha, provavelmente surtaria.
— Também prefiro defesa, é muito mais divertido — disse soando animado, ele estava de fato ansioso para segunda. — Tomara que fiquemos na mesma equipe, podemos trabalhar juntos. — Yoongi havia me pedido para não contar que eu representaria a ré.
— Se ficarmos em equipes contrárias, não vou pegar leve contigo — digo ouvindo-o rir.
— Nem um desvio básico de informações? — perguntou manhoso.
— Jimin! Isso é ilegal! — Ri enquanto secava as mãos. — Nem isso, vai precisar descobrir tudo sozinho — digo seguindo para o quarto. Já havia estudado tudo o possível do caso e praticamente gravado o resumo que Yoongi havia dado para a turma.
— Não vou deixar Yoongi saber que somos amigos então, senão não vai nos deixar juntos. Ele adorava causar discórdia.
— Ele parece bem tranquilo — comentei deitando-me de bruços.
— Yoongi tranquilo? Ele me dava medo. — Riu fraco.
— Já conhecia ele? — perguntei confusa, Jimin havia faltado o dia em que fomos apresentados ao filho do senhor Min.
— Ele trabalha na firma do meu pai e é meio que amigo dos meus amigos, então, sim. — Suspirou fundo. — E ele tem alguma implicância comigo desde… Bom, desde sempre. — Soou chateado.
— Sem motivo? — perguntei rolando um pouco na cama, me esticando para pegar a ficha do caso, que havia deixado na cabeceira.
— Yoongi tem uma personalidade muito forte e eu também... — respondeu soando meio desconcertado. — Já tivemos discussões bem feias.
— Você era bem complicado, hein — comentei ouvindo-o rir constrangido.
— Bastante, mas estou me esforçando ‘pra ser uma pessoa melhor… — Respirou arrastado. — Vai estar livre amanhã? ‘Tava pensando em fazermos algo juntos… — disse soando embaraçado.
— Acho que sim, já estou preparada para segunda e não tem mais matéria atrasada — digo folheando os arquivos novamente, já estava cansada de ler o nome de Samantha.
— Conhece o aquário no centro? — Neguei num murmúrio. — Já visitei algumas vezes quando era criança, é muito bonito, você iria adorar — disse fazendo-me sorrir.
— Eu gosto de animais marinhos… — comentei balançando levemente os pés.
— Eu passo aí ‘pra te buscar amanhã, então? — perguntou soando contente.
— Claro, só um minuto — pedi ao ouvir a campainha tocar. — A gente pode se falar mais tarde? Eu preciso desligar — digo ao ver Taehyung pelo olho mágico. Ele ergueu animado as sacolas de um restaurante de comida japonesa ao entrar.
— Tudo bem, eu te mando uma mensagem. Até.
— Até. — Desliguei a ligação enquanto Taehyung seguia até o sofá, colocando as sacolas sobre a mesinha de centro. — Como foi lá? — perguntei sentando-me ao meu lado.
— Eu falei errado o nome dele todas as vezes, mas o cara é muito gente boa — disse parecendo satisfeito. — Ele me convidou ‘pra assistir o jogo amanhã, ele vai estar competindo, se você quiser ir… — Fitou-me sorrindo.
— Amanhã eu vou ao aquário no centro… — digo sentando-me na outra ponta do sofá.
— Sério? — Pareceu animado. — A última vez que fui lá, minha irmã ainda deixava eu pentear o cabelo dela — disse rindo, notando-me comprimir levemente os lábios. — Ah… Você vai sozinha? — perguntou vendo-me negar.
— Jimin me convidou ‘pra sair. — Sorri desajeitada, dirigindo a mão até a nuca, vendo-o franzir levemente o cenho.
— Então vocês se resolveram — supôs parecendo confuso.
— Ele se desculpou. — Peguei a bandejinha de hot rolls que me estendeu.
— Seu braço já parou de doer? — perguntou apontando o braço por qual Jimin havia me segurado.
— Ele ‘tá tentando se redimir. — Suspirei fundo, enfiando um de salmão na boca.
— Não dou dois dias ‘pra você se decepcionar com ele de novo. — Desfez o sorriso. — Não quero ficar me intrometendo nos seus assuntos, mas eu já te falei como Jimin é, você sabe no que está se metendo — disse me estendendo um hashi.
— Já tentou conversar com ele depois do que aconteceu? — perguntei ajeitando a postura para fitá-lo.
— Você ouviu como ele falou comigo no terraço — respondeu mordendo um rolinho primavera.
— Você também não foi tão amigável… — resmunguei ouvindo-o suspirar fundo.
— Se soubesse o tanto que Jimin é repulsivo, também não seria. Aliás, eu estava sendo gentil até ele começar de arrogância — disse parecendo começar a se irritar. — Você não tem ideia do que Jimin é capaz.
— Vai assistir o jogo amanhã? — Tentei mudar de assunto.
— Ele é perigoso.
— Vamos parar de falar sobre Jimin, por favor — pedi deixando a bandejinha na mesa, vendo-o permanecer calado alguns instantes.
— Não quero ir sozinho — diz apoiando-se no braço do sofá. — Então acho que não vou.
— E Seokjin? — indaguei observando-o menear a cabeça em negação.
— Ele odeia esportes.
— Nenhum outro amigo pode ir contigo? — perguntei vendo-o torcer o nariz.
— Vão estar ocupados. Deixa ‘pra lá… — Forçou um sorriso. — Como vai o caso da Samantha? — indagou oferecendo-me um camarão.
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