– O que eu mandei você fazer? – Ele perguntou com raiva nos olhos.
– Tirar fotos similares à suas. – Respondi com a cabeça baixa.
– E você vem falar que tirou foto do céu? – Ele jogou o envelope na mesa com força.
– Pelo menos veja as fotos... – Respondi entregando-lhe novamente.
– Mia. Eu sou o professor aqui e te passei uma atividade que deveria ser feita do jeito que eu mandei. – Ele respirou fundo – Vá. Não quero gastar minha paciência com a senhorita.
Eu assenti e deixei o envelope na mesa enquanto ele estava esfregando os olhos.
– Que cara é essa? – Mark me encontrou colocando as coisas no armário – Deixa-me adivinhar, o professor de fotografia?
– É tão óbvio assim? – Perguntei .
– Você só fica com essa cara quando sai da aula dele. – Nós começamos a andar até a saída.
– Ele nem sequer abriu o envelope com as fotos. – Suspirei.
– Relaxa Mia, é só você falar que tem nude seu ali dentro e pronto, ele vai ver. – Ele mostrou um sorriso de fechar os olhos.
– Fica quieto. – Bati em seu ombro rindo.
– Pelo menos animei você um pouquinho.
– Obrigada... Aliás, você viu a Anne hoje? Não encontrei com ela a manhã inteira. – Falei descendo as escadas até o pátio.
– Provavelmente ela foi para o ensaio fotográfico da irmã...
– Ela tem uma irmã modelo? – Perguntei surpresa – Ela não tinha me contado.
– Sim... Infelizmente.
– Por quê?
– Você não conhece Emma Moore ainda?
– Não.
– Sorte sua, ela é um demônio em pessoa. Não vai demorar para ela vir até você... Ela vai voltar próxima semana para a escola.
– Ela já não parece mais tão legal pelo jeito que você está falando.
– Não mesmo. Ela já ficou se jogando para o Thomas tantas vezes, coitado.
– Oh... sério? – Certo incomodo me invadiu.
– Pode ficar tranquila Mia, o Thomas não dá a mínima. – Ele piscou.
– Não é como se eu estivesse incomodada com isso – Revirei os olhos.
– Você não gosta do Thomas?
– É claro que eu gosto do Thomas! – Falei e ele começou a rir.
– Bom saber... – O Thomas apareceu atrás de mim um pouco corado.
– Eu vou me vingar Mark. – Falei no ouvido dele.
– Olha Thomas, vai deixar sua garota falar assim comigo? – Mark mostrou um biquinho.
– Não faz isso Mia, assim eu fico com ciúmes. – Thomas falou com os braços cruzados.
– Vocês combinaram de tirar sarro da minha cara hoje, não é? – Sai de perto deles.
– Ownnn Mia... Você sabe que a gente te adora. – Os dois me abraçaram quase me fazendo cair.
...
– Como está a escola e o trabalho? – Meu pai falou enquanto tomávamos nosso café na cerca que dividia a praia para a nossa casa.
– Não me acostumei ainda... Mas não está tão complicado. – Sentei na cerca enquanto ele ficou do meu lado em pé.
– Você cresceu tanto... – Ele ficou me olhando.
– Pai... Nem começa com aqueles clichês de pai e filha.
– É sério Mia. Você pode achar que não, mas eu me arrependo de muita coisa. – Ele falou deixando a caneca de café do lado e pegando minha mão – Eu perdi tanta coisa da sua vida...
– Não fala assim pai. – Olhei para ele que estava já triste.
– Quanto mais eu olho, você está crescendo mais rapidamente. Se eu pudesse voltar no tempo e ter visto você crescer cada centímetro, eu voltaria mesmo custando minha vida. Eu sei que pra você não foi nada fácil, e eu não ligava para isso. Eu ainda não entendo como você aceitou morar aqui comigo.
– Hey, eu já falei. Eu não fui obrigada a nada, eu te amo e mesmo não ter morado comigo a minha infância e parte da adolescência comigo eu não ligo. Eu estou aqui agora e você pode me ver crescer cada centímetro a partir de agora.
– Ah Mia... Você acha mesmo que vai crescer mais? – Ele riu.
– Vai tomar seu café vai. – Resmunguei.
– Você sabe que eu também te amo – Ele beijou minha mão e pegou seu café logo em seguida.
– Aliás, você que fez esse símbolo aqui? – Eu apontei para dois infinitos juntos desenhado na cerca.
– Ah, digamos que sim. – Ele passou o dedo por cima do desenho sorrindo.
Depois de conversamos um pouco, meu pai foi para o novo emprego que não me surpreendeu... O jornal da cidade. Ele escreve livros e era jornalista na antiga moradia. Eu me arrumei para o trabalho e peguei a câmera que o professor tinha me deixado ficar por enquanto, o Daniel tinha me prometido ensinar sobre as configurações dela. No intervalo do expediente ficamos no quintal como de costume.
– Ajustar o foco é tipo você colocar óculos de grau. – Ele apontou - Será fundamental para que você enxergue melhor as imagens e foque com mais precisão.
– E como eu faço isso?
– O ajuste de foco é só olhar pelo visor, pressionar levemente o obturador e observar as configurações de abertura, velocidade e exposição que aparecerão. – Ele pegou minha mão e colocou a dele por cima da minha, assim me guiando.
– Tá, então o que eu faço se ela estiver desfocada?
– Se estiverem desfocadas, é só ajustar a regulagem do foco através do botão ao lado do visor... Aqui, tá vendo? Você mexe até parecer melhor para você. – Ele se afastou.
– Entendi... – Ajustei e dei um disparo – DEU CERTO. A foto ficou ótima.
– Eu sei... Inclusive, o que o professor achou das fotos? – Eu tirei o sorriso do meu rosto.
– Ah... Ele não aceitou nem olhar. Disse que eu não podia ter tirado foto de outra coisa, etc...
– Os professores de lá são uns idiotas mesmo. – Ele sentou.
– Daniel. Onde você estuda?
– Não estudo mais, já terminei a escola.
– Por isso que você sempre parece livre. E não faz faculdade?
– Nem. Acho desperdiço de tempo, eu quero continuar nesse restaurante pelo resto da minha vida ou até encontrar algo que quero fazer. Mas faculdade eu nem chego perto, não preciso. – Eu fiquei o olhando e depois mudamos o assunto.
Nós continuamos com algumas configurações como qualidade de imagem, espaço de cor, disparo e velocidade do obturador. Eu já estava pegando o jeito disso tudo e não era tão difícil como pensava ou como parece quando o professor mostra.
Uma semana se passou e eu fui chamada pelo professor no final da aula.
– O senhor queria falar comigo? – Aproximei da mesa dele.
– Uhum. – Ele parou de mexer em papeis e me olhou – Eu achei seu envelope esses dias e acabei abrindo.
– Ah... – Olhei para baixo.
– Olhe para mim Mia. – Eu levantei o olhar – Não estavam tão ruins...
– Oi?
– O que eu quero dizer é que eu não devia ter dado um sermão muito grande da última vez. Você está errada por ter mudado a atividade? Sim. Mas o ponto aqui é que eu gostei da sua coragem e liberdade. As fotos são leves e agradáveis de um final de tarde. – Ele respirou fundo – Eu só queria falar que as fotos são boas.
– Professor... eu... – Eu não deixei de dar um super sorriso.
– Não fique tão animada, ainda não achei sua atitude certa. E você tem muito o que aprender. Pode ir agora.
– Obrigada professor! – Sai apressadamente da sala para procurar eles, acabei correndo demais no corredor e fazendo uma pessoa derrubar todas as coisas no chão – Ah meu Deus, eu lamento.
– Caralho garota, qual o seu problema? – Eu estava no chão juntando as coisas e quando levantei vi uma garota linda com ódio nos olhos.
– Desculpa, eu só...
– Ah, é você. Só podia ter sido alguém de fora... – Ela revirou os olhos, irritada – Tá esperando o que? Eu não quero continuar olhando para sua cara enjoada o dia todo, me dê logo as minhas coisas.
Entreguei seus cadernos e ela me empurrou para sair de sua frente.
– Mia... – Thomas apareceu do meu lado.
– Agora entendo o que Mark estava querendo dizer. – Suspirei – Já vejo que os dias serão complicados aqui...
– Só tenta evitar ela o máximo possível. – Ele começou a andar comigo.
– Nossa, passei pela Emma agora pouco e ela parecia bem irritada. Quer dizer, mais que o normal. – Mark se aproximou.
– A Mia derrubou as coisas dela...
– Porra Mia, que apresentação hein.
– Não foi por querer, eu estava correndo para encontrar vocês logo. – Resmunguei.
– Por quê?
– Eu queria falar que o professor gostou e elogiou minhas fotos... – Eu abri aquele sorriso novamente.
– SÉRIO? – Os dois falaram
– SIM! – Eles me abraçaram imediatamente e logo em seguida senti outra pessoa no abraço.
– Eu ouvi tudinho de longe, parabéns Mia! – Anne falou.
Sentamos na escada como de costume e eles me contaram um pouco sobre Emma.
– Você não tinha me contado que tinha uma irmã. – Falei.
– Não é algo que eu sinta orgulho de falar. – Ela estendeu a língua e fez uma cara de enjoada – Ela é o oposto de mim... Às vezes fica um mês longe da escola para seus ensaios de modelo, e ainda me faz acompanha-la. Eu realmente não a suporto.
– Ela é uma garota clichê de escola, despreza os outros e faz com que sua beleza seja sua maior qualidade fazendo os outros de idiotas atrás dela. – Mark falou comendo um sanduiche – Mas ela é fodamente gostosa, isso ninguém pode ignorar.
– Cala boca idiota. – Anne bateu na cabeça dele.
– Ela não cria tantos problemas, é só não dar atenção para ela... – Thomas disse.
– Eu não vou...
– Não precisa tentar proteger ela, Thomas querido... Prometo me comportar. – A própria Emma em pessoa apareceu atrás da gente, descendo as escadas – Ah, obrigada Mark pelo elogio.
– Vai pra merda garota. – Mark rebateu.
– Anda logo Emma, sem confusão, por favor. – Thomas falou respirando fundo.
– Não entendo quanto ódio por mim... Mas tudo bem. – Ela jogou seus cabelos negros e lisos para o alto e voltou a descer as escadas com uma garota ao lado – Ah, prazer Amélia. Vamos nos divertir bastante...
– Err, prazer Emma... – Falei e depois ela deu uma risadinha com uma piscada antes de ir.
...
– Daniel!!! – O procurei por todo restaurante até achar ele na varanda do andar de cima.
– Já está com saudades? – Ele deu um sorriso de lado quando me viu correndo até ele – O que...
Sem pensar duas vezes acabei abraçando ele, eu estava tão ansiosa para contar pra ele o que o professor tinha me dito que nem me importei.
– O professor gostou das fotos! Ele me elogiou... – Olhei para ele – Quer dizer, eu considerei o “Não estavam tão ruins” como um elogio.
– Eu estava esperando você me dar essa noticia uma hora ou outra. – Ele me tirou de seus braços.
– Ah me desculpa... – Afastei-me dele – Foi a empolgação. Eu só queria agradecer de verdade por você estar me ajudando.
– Só estou fazendo isso porque você vai me pagar depois.
– Por que você não fala logo o que quer?
– Eu ainda estou pensando em algo – Ele bagunçou meu cabelo passando por mim – Agora vai limpar as mesas... e parabéns.
Eu não vi se ele estava sorrindo ou não, mas eu sei que ele estava satisfeito com o resultado.
Algumas semanas se passaram já havia passado dois meses que eu estava naquela cidade, estava acostumada com a escola e o trabalho. Eu até que estava me divertindo um pouco ali...
A aula de fotografia estava me fazendo ficar mais focada nela e o Daniel ainda me ajudava bastante na prática. As minhas notas nas disciplinas estavam bem razoáveis e nada da Emma me incomodar até agora. Em casa meu pai se concentrava demais no jornal da cidade, adorava fazer uma coluna naqueles papéis que só velhos gostavam de ler, mas também começou a escrever seu novo livro que não me deixava nem ver os rascunhos dele. Tudo estava parecendo dar certo e eu nem lembrava da minha antiga vida.
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