Eu sempre odiei quintas-feiras, talvez por geralmente ser o dia do qual há as piores matérias, em períodos consecutivos, ou talvez apenas por ser uma quinta-feira. Ou talvez por eu odiar todos os dias da semana.
Até ontem, as matérias estavam passando um “resumão” do que estudaríamos na mesma matéria, no ano seguinte, para aqueles que gostam de estudar, para se preparar, pois o terceiro ano é um pouco mais puxado, é o último ano da vida escolar, depois formatura e adeus escola, olá faculdade e vida adulta.
Porém, hoje, eu precisei sair da minha cama quentinha, me arrumar e ter que olhar meu reflexo pela manhã, com a minha típica expressão de zumbi, e ir para a droga da escola, para só então saber, que a aula toda era livre. A maioria das pessoas gosta dessas aulas livres. Ah, se for em um dia normal, ter um desses períodos vagos realmente é bom. Mas, ir para a escola cedo para ficar sem fazer nada? Desculpe-me, mas eu não acho legal.
E lá estava a turma toda conversando e sendo feliz, ver tanta felicidade fez minha pressão baixar, hoje eu não estava em um bom dia, longe disso, acordei com o pé esquerdo e estava totalmente de mau humor. Minha autoestima resolveu dar uma queda livre e esquecer-se de subir de volta para o topo. Hoje, todas as coisas estavam me afetando, até a respiração das pessoas ao meu redor estava me deixando aborrecida.
O primeiro período pareceu durar uma eternidade, agora teríamos aula de química, então fomos até o laboratório. Eu tenho uma grande dificuldade em matemática, tudo que envolva a mesma, eu já não entendo. Mas hoje, eu torcia para que estudássemos cálculos de densidade na aula, qualquer coisa, só não queria ficar parada.
Ao entrarmos no laboratório e tomarmos nossos lugares, o professor avisou que teríamos aula livre de novo. Senti minhas costas curvarem-se de forma corcunda ao soltar um suspiro arrastado carregado de desgosto. Curvei-me mais e deitei a cabeça sobre a classe, ficando com a mesma de lado, observando toda a turma.
Geralmente, quem senta comigo nas aulas de química, é a Isabelle, mas hoje, ela sentava com Shawn, do qual também não parava de conversar desde que chegara. Não quis chama-la, então fiquei sozinha mesmo.
Olhei de relance para Isabelle, que estava do outro lado da sala, sentada em posição lateral, tendo eu, visão de seu rosto. Shawn sentava de frente para ela, de costas para mim.
Isabelle viu que eu a olhava e cutucou Shawn. Que virou ao mesmo instante.
Não sei qual o nível de demência que passou por mim na hora, mas eu não virei, continuei olhando, até ele abrir um sorriso largo, e descer seu olhar sobre mim, de um jeito estranho. Fiquei então envergonhada, não exatamente por ser ele, e sim por estar me olhando daquela forma.
Ainda teríamos outro período de química depois do atual, tinha bastante tempo. Virei-me para o outro lado e acho que adormeci.
Despertei num salto com o sinal que tocava insanamente, todo mundo já saía da sala, restando apenas eu sentada.
Levantei-me depressa, e ao sair da porta, Shawn apareceu do nada, saindo de trás da porta, parando-me no caminho, apoiando seu braço esticado no batente da porta, criando uma barreira. Levei um susto, mas não expressei tal, acho que apenas fiquei ruborizada.
- Desculpa te assustar... – Disse ele, abrindo um meio sorriso.
- De boa, estou bem. – Comprimi os lábios, tentando mostrar um leve sorriso.
- Então...
- Então...
- Então... – Ele deu uma risada pelo nariz, então desceu rapidamente seus olhos, desenhando com eles, a silhueta do meu corpo magro.
- Acho que temos que ir para a próxima aula. – Argumentei, olhando em seus olhos, até ele olhar também, desviei para suas bochechas.
- Ah, você estava mesmo dormindo na aula então... Fomos liberados da sala de aula, para o ginásio, assistir a quem quiser jogar alguma coisa. – Explicou, tirando sua mão do batente da porta e colocando-a no bolso da jaqueta de couro que usava.
- Oh... Bom, então vamos, né... – Disse, um pouco sem jeito.
- Vamos sim.
Fomos andando lado a lado até a quadra, sentando no alto da arquibancada, no degrau mais vazio que tinha, ele sentava em posição “perna de índio”, enquanto eu mantinha minhas pernas dobradas, com os joelhos rentes à altura dos olhos, circulando os braços ao redor das mesmas.
Por incrível que pareça, conversamos pra caramba no restante de tempo até a aula acabar, sobre variados assuntos, desde música, estilo e roupas, à filosofias da vida, teoria do mundo invertido e outras dimensões. Acho que foi umas das conversas mais longas e desenroladas que eu já tive. Em momento algum o assunto acabou ou sequer deu pausa, seguimos conversando como se fôssemos velhos amigos, soltando às vezes risadas altas.
Grande parte do nosso diálogo, junto com seus modos e formas de agir, mudou muito minha imagem sobre ele, e eu comecei a pensar que ele realmente quisesse ser meu amigo, entretanto, ao fim da aula, ele soltou alguns papos que me deixaram confusa.
- Então, tá a fim de ir lá em casa? A gente pode estrear meu computador novo jogando a nova expansão de The Sims, ou você pode me mostrar alguns episódios de Lost e me convencer que é melhor que Breaking Bad... – Disse ele, ajeitando sua mochila nas costas.
- Hm... Agora? – Perguntei.
- Sim, se quiser, pode almoçar lá.
Pensei por cinco segundos e lembrei-me de que hoje eu teria que almoçar com meu pai de novo, e eu definitivamente não estava afim de vê-lo me ignorar como se eu não o conhecesse. Então resolvi aceitar o convite.
- Ok, só vou ligar para minha irmã, avisando que não vou com ela.
- Beleza, tenho que pegar umas coisas no armário, te encontro aqui mesmo, não sai daqui, pode ser? – Indagou Shawn. Apenas concordei com a cabeça enquanto pegava meu celular.
Mensagem de urgência, tenho que terminar um relatório que ficou incompleto da feira de ciências, almoçarei na casa de uma colega, estou em casa das 17h.
~Elle
Estava tão distraída digitando a mensagem que levei um susto quando Isabelle chegou pulando em mim.
- E aí? Como foi? Conversaram sobre muitas coisas? Ele é legal? Gostou dele? Chegou a tocar nele? Ele tocou em você? Ele te elogiou? – Bombardeou-me de perguntas.
- Calma Isa, sempre fomos amigos, conheço ele há tempos. Só nunca fomos tão próximos. – Argumentei. – Acredito que ele não queria anda além de amizade, conversamos como dois garotos fanáticos pelo universo geek.
- Ele quer.
- Acho que não.
- Não Elle, ele quer, eu estou falando! Conversei com ele durante os primeiros períodos sobre você, e ele me disse que te acha bonita, legal e inteligente. Também disse que não queria nada empurrado, pois você não parece ser o tipo de menina que gosta de uma ficada e depois vaza, e que ele não quer ser esse tipo de cara pra você. – Explicou ela.
- Nossa. – Arregalei meus olhos.
- Eu falei sobre você, mas nada estranho ou exagerado, disse que você é realmente tímida e que se envolveu com poucos garotos.
- Nossa. – Repeti, ainda surpresa.
- É... Também, não se sinta pressionada, fiz isso em mente de seu consentimento, mas se você não quer nada com ele, não força a barra, só deixa isso claro. – Isabelle estava se mostrando ser muito além do que eu achava que ela era, estava sendo muito verdadeira e legal comigo.
Ia abrir a boca para falar, mas vi Isabelle desviando seu olhar de mim para algo atrás de mim, então ouvi a voz de Shawn.
- Vamos? – Indagou ele, cutucando-me com o cotovelo, Isabelle me olhou e deu uma piscadinha discreta. Nos despedimos e desci as arquibancadas junto com Shawn.
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