História Só vejo você - Dia Difícil

POV REBECA

Que dia horrível eu estava tendo, não conseguia distinguir se era meu corpo ou meu coração que doía mais. Eu tentava prestar atenção no que eu estava fazendo, mas sem que eu pudesse controlar, só conseguia lembrar de Victória me batendo e de suas palavras cheias de rancor, e isso me fez levar várias broncas dos clientes. Eu estava me sentindo como uma louca. Só queria sair correndo daquele mercado e ficar quieta sem ter contato com ninguém, até essa dor passar, mas eu não podia, tinha que ser forte e aguentar tudo, eu precisava desse emprego. Eu não podia ficar morando na casa da Mel por muito tempo, apesar deles serem fofos, lindos e gente boa, eu não me sentia à vontade, eu tinha que encontrar um canto pra ficar.

Quando Lilian soube por alguém que eu não estava bem, veio conversar comigo para saber o que estava acontecendo. Como eu já tinha dito que não vim no dia anterior por estar com febre, falei que eu ainda estava meio febril e isso estava me deixando meio aérea por causa do remédio. Ela acreditou e pediu que só por hoje, eu tomasse conta do estoque, pois lá eu iria estar sozinha e os clientes não iriam ficar reclamando.

Agradeci e fui para o estoque, lá havia um sofá onde me sentei e pude fechar os olhos tentando relaxar, mas eu sabia que isso era impossível. Abri os olhos, olhei para o lado e um jornal na página de classificados me chamou a atenção. Peguei-o e comecei a ver as casas que estavam para alugar, ficando decepcionada logo no começo, pois tudo era muito caro, o salário que eu iria receber mal dava para pagar um aluguel, o dinheiro seria usado todo para isso, como eu iria sobreviver?

Meus olhos começaram a marejar, eu estava literalmente perdida. Passei a mão nos cabelos, levantei o rosto e então prestei atenção no local, ele estava uma verdadeira bagunça, caixas e mais caixas jogadas de qualquer jeito, todas empoeiradas. Esse local precisava de uma boa faxina.

Me levantei e ignorando as dores no meu corpo, comecei a organizar as coisas. Separei tudo, colocando as coisas iguais juntas, separando os alimentos dos produtos de limpeza. As caixas eram pesadas, mas consegui me distrair e acabei nem vendo a hora passar, ficando surpresa quando vieram me avisar que já estavam fechando o mercado.

Fui para a casa de Mel, como o mercado ficava há algumas quadras da casa dela, não precisei pegar nenhum ônibus. Fui andando devagar, sentindo o vento gelado castigar meu rosto, o frio estava dando as caras mais cedo este ano. Me encolhi, cruzando os braços e conforme eu andava, pude notar que havia algumas casas por ali com placa de aluga-se pendurada nos portões, eu nunca tinha prestado atenção nisso antes, talvez porque eu não me interessava, só vemos o que queremos ver, mas elas deviam ser tão caras como as que vi no jornal. Parei de pensar nisso, porque era muito triste não ser ninguém na vida.

Toquei a campainha de Mel assim que eu cheguei e ela logo abriu a porta, me recebendo com um beijo, sorri de leve.

ㅡ Meu amor, não precisa mais tocar a campainha, foi por isso que eu te dei a chave. ㅡ Disse e tocou meu rosto. ㅡ Você está gelada, vem, precisa se aquecer. ㅡ Me puxou pela mão, me conduzindo pela casa.

Os pais dela ainda não tinham chego e essa seria uma ótima deixa se eu não estivesse tão sem vida. Fomos até o quarto dela e me sentei na cama, Mel se sentou atrás de mim e me abraçou com cuidado, ela era sempre tão cuidadosa e perfumada. Deitei a cabeça na curva de seu pescoço e ali fiquei de olhos fechados, inspirando seu perfume suave.

ㅡ Você está bem? ㅡ Ela perguntou afagando meus cabelos com carinho.

ㅡ Não consegui prestar atenção nas coisas hoje, Mel, eu só lembro da Victória, será que estou ficando louca?

ㅡ Não, meu amor, é que foi tudo muito forte pra você, vai levar uns dias até que essas lembranças parem de te perturbar.

ㅡ Precisa passar logo, eu não conseguia passar as compras hoje sem colocar produtos a mais, ou cobrar preços errados nos cartões de crédito, todo mundo me xingava, eu já estava entrando em desespero.

ㅡ Eu falei que não era bom você ir trabalhar hoje, mas você é a teimosa mais linda que existe. ㅡ Mel falou risonha e me deu um beijo no topo de minha cabeça.

ㅡ Eu não posso ficar faltando, pelo menos, eles puderam ver que eu realmente não estava bem. Me deduraram pra encarregada e ela me deixou no estoque. Lá não tinha ninguém e foi bem melhor.

ㅡ Se ela viu que você não estava bem, ela devia ter te mandado de volta para casa.

ㅡ Mas eles não fazem isso. ㅡ Eu estava ficando cada vez mais sonolenta, levantar aquelas caixas acabou com minhas energias.

ㅡ As pessoas só pensam em dinheiro, onde fica o bem estar dos funcionários? ㅡ Enquanto Mel falava, fiquei bem quieta, pois eu também só estava pensando em dinheiro, na situação em que eu estava, só ele poderia me ajudar. ㅡ Beka, você está quase dormindo.

Abri meus olhos e encontrei os dela, tão lindos me olhando, dei um leve sorriso, eu estava esgotada e ficar aninhada nos braços de Mel era muito bom.

ㅡ Seus braços são tão confortáveis e está tão gostosinho aqui, que quero ficar assim para sempre.

ㅡ Bobona! ㅡ Mel sorriu meio embaraçada e beijou meu rosto ㅡ Não vou te deixar dormir antes do banho e do jantar.

ㅡ Não seja má, minha morena linda, só uma sonequinha. ㅡ Deixei minha voz muito preguiçosa e mudei de posição escondendo meu rosto no peito dela.

ㅡ Nada disso, Rebeca, vamos lá tomar um banho…

Eu já sabia que ela não iria mesmo me deixar dormir um pouquinho, quando ela dizia uma coisa, tinha que ser do jeito dela. Então me levantei sem vontade e esperei ela se levantar.

ㅡ Vou tomar banho com você. ㅡ Ela falou dando um sorriso safado tão lindo que eu quase me animei.

ㅡ E se seus pais chegarem?

ㅡ Eles disseram para você se sentir à vontade, lembra?

ㅡ Acho que não era assim tão à vontade, Mel. ㅡ Nós rimos e Mel voltou a me abraçar.

ㅡ Qualquer coisa eu digo que entendi errado e a culpa será minha. ㅡ Terminou me dando um beijo e me arrastou para o banheiro.

Mesmo eu só querendo dormir, aquele banho quente e delicioso com Mel renovou minhas energias, ela tinha muito fogo e sabia como me animar facilmente, mesmo tomando o máximo de cuidado com meus machucados. Ela me conhecia tão bem, sabia de coisas que eu nem desconfiava gostar e isso era ótimo.

Assim que terminamos o banho, voltamos para o quarto e mais uma vez tive que emprestar as roupas de Mel, eu não tive tempo nem de pegar minhas roupas quando fui expulsa de casa e eu precisava muito delas, é muito chato ter que emprestar tudo, e apesar de eu não gostar nada disso, tinha que deixar a timidez de lado sempre que eu precisava de algo. Mas Mel e sua mãe eram ótimas pessoas, sabiam que eu estava passando por maus lençóis e não se importavam em me ajudar o tempo todo.

Fomos para a cozinha após nos vestirmos e Nicole já havia chego e já tinha posto a mesa, o local tinha um aroma maravilhoso de comida pronta e confesso que fiquei admirada com tanta praticidade, como ela conseguiu fazer tudo assim tão rápido.

ㅡ Comprei a comida pronta, hoje. ㅡ Ela disse, como se lesse meus pensamentos ㅡ Acabei saindo mais tarde, e a janta ia demorar para ficar pronta.

ㅡ Não se preocupe com isso, mamãe, a comida está muito cheirosa. ㅡ Mel sorriu e apertou minha mão com carinho.

ㅡ Pelo aroma, deve estar maravilhosa, doutora. ㅡ Falei e pude ver Nicole sorrir em agradecimento.

ㅡ Sentem-se, está quase pronto. O Tom foi tomar banho e já desce, chegamos juntos.

Me sentei com Mel à mesa e enquanto esperávamos Thomas, ficamos conversando. Fui questionada sobre como eu estava tanto fisicamente como no trabalho e omiti praticamente tudo, Mel me olhava de canto, mas em nenhum momento me fez contar a verdade. Eu não queria deixar minha sogra ainda mais preocupada com coisas bobas.

Logo Thomas entrou na cozinha e iniciamos nosso jantar. Ele agora estava bem mais simpático, parecia ter realmente deixado o preconceito de lado e nos aceitado como realmente somos. A conversa fluía de maneira natural até que o soar da campainha nos interrompeu.

ㅡ Vou ver quem é. ㅡ Nicole falou apressada, já se levantando.

ㅡ Se for alguém me cobrando, mande colocar na conta da Rebeca. ㅡ Thomas brincou, já começando a rir.

ㅡ Pobre homem, ficarei devendo para sempre. ㅡ Falei brincado, mas era verdade, de fato.

ㅡ Olhem quem encontrei… ㅡ Nicole entrou na cozinha e logo atrás vieram Duda e Bia. Sorri para elas e me levantei para abraçá-las, me arrependendo em seguida. Elas não sabiam da gravidade dos meus machucados e doeu muito.

ㅡ Vão com calma, ela está machucada. ㅡ Mel as adivertiu logo e eu a agradeci mentalmente por isso.

ㅡ A Mel nos contou hoje o que aconteceu, e viemos te ver. ㅡ Bia disse assim que me soltou, me olhava séria, bem diferente de como ela sempre era. ㅡ Como você está?

ㅡ Eu estou bem melhor agora, o pior já passou. ㅡ Dei um sorriso na tentativa de não deixá-las preocupada.

ㅡ Pode contar com a gente para o que precisar, Beka. ㅡ Duda falou e sorriu, mas me olhava com tristeza.

ㅡ Sentem-se, jantem conosco. ㅡ Nicole falou, e foi até o armário pegar mais dois pratos.

ㅡ Eu já jantei, mas esse cheirinho está tão bom… ㅡ Duda falou e todos nós rimos.

ㅡ Mesmo que você já tivesse comido um caminhão, você iria querer jantar, Duda. ㅡ Mel falou e Duda fez uma careta mostrando a língua.

Rimos outra vez e me sentei para terminar de jantar.

ㅡ Deixem ela jantar se ela quiser. ㅡ Nicole defendeu Duda, colocando o prato em frente à ela.

ㅡ Beka, o que sua mãe fez é um crime, você precisa registrar uma queixa contra ela. ㅡ Bia disse séria outra vez.

ㅡ Eu não posso, tem a Liza, ela precisa ter uma mãe.

ㅡ Eu sei, mas você pode ficar com a Lisa, meu pai está disposto a pagar um bom advogado.

ㅡ Eu adoraria ficar com a Lisa, mas eu não posso, não tenho casa, não recebo tão bem onde eu trabalho para dar tudo o que ela precisa.

ㅡ Não adianta, Bia, nada do que você falar vai fazer a Beka mudar de ideia, ela não quer que a mãe vá presa. ㅡ Mel entrou na conversa ㅡ Já tentamos convencer ela, mas não funcionou.

ㅡ Beka, é isso? Apesar de tudo o que aquela mulher fez, você não quer que ela vá para a cadeia? ㅡ Bia parecia estar chocada com o Mel acabara de dizer.

Balancei a cabeça concordando, Victória, apesar de tudo, ainda era minha mãe, e eu não queria que nada de ruim acontecesse com ela, nem com Ricardo e muito menos com a Lisa, eu amava todos eles e pensar em coisas ruins para eles partia meu coração.

ㅡ Está bem, não vou falar mais sobre isso, mas você está precisando de alguma coisa?

Eu pensei e pensei, mas sinceramente eu não sabia como Bia poderia me ajudar. A não ser com roupas, todas tínhamos quase o mesmo corpo, Bia era um pouco mais encorpada que eu, mas sempre serviam em mim. Fiquei com vergonha de pedir isso, eu sabia que era bobeira minha, afinal, Bia devia ter várias roupas que não usava mais, mas pedir coisas nunca foi o meu forte, eu preferia conquistar elas, ou ganhar de presente. Mas Bia estava me oferecendo ajuda e eu não podia perder essa oportunidade, então criei coragem.

ㅡ Eu não pude pegar nada quando eu fui expulsa, e estou precisando muito de roupas, se tiver umas duas que você não usa mais e quiser me dar… ㅡ Meu rosto queimava enquanto eu falava, pedir roupas foi muito constrangedor.

ㅡ Eu já estava pensando sobre isso Beka. ㅡ Foi Thomas quem falou ㅡ Eu ia falar com você hoje, para irmos até a casa da sua mãe, para você pegar suas coisas. Ela não vai poder impedir.

Abri um sorriso ao ouvir essas palavras, eu queria muito pegar minhas coisas, não eram muitas, mas faziam parte de mim.

ㅡ Que ótima ideia, Tom, assim podemos ver como a Lisa está, se Victória está cuidando bem, e botar medo nela caso não esteja. ㅡ Nicole, que até então estava nos observando, se animou.

ㅡ Eu achei essa ideia muito boa, mãe. ㅡ Mel sorriu ao terminar de falar, me abraçou e me deu um beijo no rosto. ㅡ Vamos ver a Lisa, meu amor.

Meus olhos se encheram de lágrimas, ver minha loirinha, abraçá-la e beijá-la era tudo o que eu queria. Já estava morrendo de saudades.

ㅡ Mas mesmo assim vou trazer umas coisas que eu não uso mais, sempre usamos os mesmos números. ㅡ Bia completou e me deu uma piscadinha e sorri em resposta.

ㅡ Eu também vou trazer algumas coisas que não uso mais, vai ficar um pouco grande, mas…

ㅡ Obrigada, Duda, você tem um coração de ouro. ㅡ Falei enquanto todos riam do que ela tinha dito.

Com a notícia que iríamos ver Lisa, e pegar minhas coisas, fiquei mais animada. Terminamos o jantar, e depois fomos para o quarto de Mel, pois Duda queria nos contar algo e estava cheia de frescura para dizer perto dos pais de Mel, tinha que ser em particular.

ㅡ Pronto, Duda, estamos a sós, já pode falar. ㅡ Bia começou, se sentando na cama.

ㅡ Lembra que eu fiquei de conversar com o Enzo? ㅡ Duda fez a pergunta e parou, esperando que disséssemos algo, mas como eu estava por fora desse assunto, fiquei quieta.

ㅡ Para tudo!!! ㅡ Mel deu um gritinho de emoção e eu ri ㅡ Mentira que você falou com ele.

Duda balançou a cabeça concordando, levando Mel e Bia à loucura, me fazendo rir muito.

ㅡ Anda, conta logo como foi, sua bandida. ㅡ Bia disse animada, me fazendo recordar da época do colégio.

ㅡ Bom, na verdade quem veio falar comigo foi ele. Eu já tinha desistido, porque ele não saia nunca da sala. Ele perguntou se eu queria uma carona e mesmo eu não querendo muito, porque estava chateada, acabei aceitando. Mas em vez de me levar embora, ela veio com um papo de que tinha conversado com a mãe, e que queria ser amigo, me pediu desculpas.

ㅡ Ain que bonitinho, Duda, então agora são amigos de novo? ㅡ Mel perguntou e parecia emocionada.

ㅡ Somos mais que isso… ㅡ Duda deu um sorriso safado e eu já sabia onde ela iria chegar.

ㅡ O que, como assim, Duda? ㅡ Bia se levantou e puxou duda pelo braço, a levou até a cama, se sentou outra vez puxando Duda. ㅡ Senta aqui e nos conte tudo.

ㅡ Sem rodeios! ㅡ Pedi, eu estava me sentindo feliz por Duda, ela finalmente tinha encontrado um amor.

ㅡ Eu beijei ele. ㅡ Ela disse risonha.

ㅡ Só um beijo? ㅡ Bia estava chocada.

ㅡ Não, vários ㅡ Duda sorria ㅡ Nós ficamos juntos a tarde toda, ele é um fofo…

ㅡ Meu Deus!!! Agora é oficial, Duda está apaixonada. ㅡ Mel falou jogando um travesseiro em Duda.

ㅡ Mas fica linda assim, apaixonadinha. ㅡ Falei sorrindo, e era verdade, Duda estava lindo com cara de boba alegre, e eu entendia muito bem o porque ficávamos assim.

ㅡ Ela está apaixonadona, Beka, não consegue nem disfarçar. ㅡ Bia deu uma gargalhada ㅡ Isso vai dar casório.

ㅡ Me deixa ser feliz, Bia. ㅡ Duda mostrou a língua para ela.

ㅡ E você Bia, está namorando, aquela menina? ㅡ Perguntei sem pensar que Mel poderia ficar chateada, achando que eu tivesse algum interesse.

ㅡ Não somos namoradas, só ficamos, mas gosto dela, ela é diferente.

ㅡ Milagres existem mesmo, a Bia acabou de confessar de gosta de alguém. ㅡ Duda comentou e nós rimos.

ㅡ Só nunca fiz antes, porque nunca gostei de ninguém. ㅡ Bia terminou a frase e me lançou um olhar que entendi muito bem, mas como Mel estava presente, fingi não ter notado e deitei a cabeça no ombro de Mel. ㅡ Vamos aproveitar e sair juntas, um encontro de casais? ㅡ Bia mudou logo o assunto.

ㅡ Vai ser divertido, nosso grupo está aumentando. ㅡ Duda sorriu.

ㅡ Se a Beka quiser ir, eu topo. ㅡ Mel sorriu também, e ficou me olhando.

ㅡ Eu não estou em clima de diversão, me desculpem, prefiro ficar aqui.

ㅡ Ah não, não aceito essa resposta, Beka. ㅡ Bia falou logo ㅡ Vai ser bom pra você se distrair.

ㅡ É, meu amor, se distrair faz bem, vamos?

Olhei para Mel com preguiça, eu realmente não queria fazer nada, as dores incomodavam, e as lembranças ruins não queriam me deixar em paz. Mel fez um bico lindo, sabendo o que eu pensava e revirei os olhos, esse tipo manhã era irresistível.

ㅡ Tudo bem, quando iremos? ㅡ falei sorrindo e Bia se jogou em cima de mim, e Duda a imitou, para o meu desespero.

ㅡ Meu Deus, ela está machucada, se esqueceram? ㅡ Mel falou bem alto, fazendo as duas me largar.

ㅡ Mas está muito machucada assim, Beka? ㅡ Bia perguntou assustada.

ㅡ Estou, vocês quase me mataram agora, olha... ㅡ Tirei devagar o casaquinho, descobrindo meus braços e Duda soltou um ai meu Deus, como se estivesse sentindo as dores. ㅡ Nas costas é onde dói mais, olha… ㅡ Me virei de costas e levantei minha blusa. O som que elas produziram só me mostravam que o espelho não estava mentindo. Abaixei a blusa e me virei de frente novamente, elas me olhavam entristecidas e tive que me segurar para não chorar.

ㅡ Me desculpe, Beka… ㅡ Duda estava com a voz embargada.

ㅡ Eu queria bater nessa mulher, ela é uma vaca, desculpa, mas… ㅡ Bia fechou os olhos e se calou.

ㅡ Tudo bem Bia, o pior já passou.

Bia me olhou, ela sabia que não estava nada bem, sabia que o pior ainda continuava em mim, e que essa dor iria demorar para passar, mas ela sorriu e disse:

ㅡ Podemos ir no sábado, se estiver tudo bem pra vocês.

Como Duda e Mel disseram que sim, iríamos nos ver no sábado, mas dessa vez, Bia queria ir num bar diferente. Disse já estar cansada das casas noturnas do pai e queria ares novos.

Ficamos mais um pouco conversando e depois elas se foram, nos deixando a sós. Eu estava me sentindo tão cansada, que fui logo escovar os dentes, pois se eu me deitasse, eu saberia que iria dormir. Quando terminei, voltei para o quarto e me deitei, Mel se deitou ao meu lado, mas ela não estava com sono.

ㅡ Estou tão cansada, Mel… ㅡ Falei com preguiça, e me virei escondendo o rosto nos cabelos perfumados dela.

ㅡ Descansa então, meu amor, amanhã iremos ver a Lisa. ㅡ Ela pegou em meus cabelos, me fazendo um cafuné gostoso, e fechei meus olhos quase ronronando como um gato.

Sorri, eu iria poder matar as saudades da minha loirinha, eu não estava acreditando que isso poderia ser verdade, e pela primeira vez naquela semana, meu coração não estava apertado e eu poderia dormir em paz, nos braços do meu amor.