História Só vejo você - Pedido

POV REBECA

Eu andava apressada pelas ruas, não via a hora de chegar em casa para poder tirar logo meu sapato de salto alto. Mesmo já fazendo três meses que eu estava trabalhando como recepcionista, ainda não tinha conseguido me acostumar com eles. Uma das exigências da empresa era se vestir bem e estar sempre maquiada, e isso foi um problema para mim, pois como eu sempre fui muito moleca na maneira de me vestir e só sabia fazer maquiagens básicas (e só as fazia quando ia para alguma festa), foi difícil no começo. Mas como Mel estava sempre disposta a me ajudar, me ensinou a fazer lindas maquiagens e no final eu até ficava admirada por ter conseguido me sair tão bem, era tudo uma questão de prática. Já com as roupas não tive tanto problema, pois como Bia havia me dado várias roupas, era só eu abrir o guarda-roupa e escolher uma. O que eu achava ruim era saber o que combinava com o que, mas Mel me ajudava nisso também, ela era ótima com modas e tinha muita paciência para me ensinar.

Entretanto, eu estava amando ser recepcionista, pois apesar da necessidade de responsabilidade que era exigida, eu achava muito fácil. No final do expediente não havia o cansaço corporal que eu já estava acostumada no dia-a-dia do supermercado, era mais um cansaço mental, mas nada que alguns minutos de paz ao chegar em casa não resolvesse. E era disso que eu estava a fim, chegar em casa, tirar o salto e sentar no sofá por dez minutos antes de começar as tarefas domésticas.

Dobrei a esquina da rua da minha casa toda sonhadora, só me imaginando gozando dessa paz, quando vi Victoria parada em frente a minha porta. Sabe quando toda a felicidade do dia escapa de suas mãos e sai voando, como se fosse um balão? Foi isso o que senti ao ver minha mãe ali parada. Minha vontade foi de dar meia volta, sem que ela percebesse, só para não precisar falar com ela, mas eu continuei caminhando em frente com preguiça do que me esperava.

Quando ela me viu, me olhou da cabeça aos pés, deixando nítida sua admiração por eu estar bem arrumada.

Parei em frente a ela, mas não consegui dar nem mesmo um “oi”. Minhas feridas já haviam cicatrizado, mas eu ainda sentia meu corpo arder em chamas, como se eu tivesse acabado de apanhar, ao lembrar daquele dia.

ㅡ Passei no mercado, mas me disseram que você não trabalhava mais lá, por isso estou aqui. ㅡ Se explicou ao perceber que eu não ia dizer nada.

ㅡ Saí de lá há uns três meses. ㅡ Falei sem entusiasmo, não queria prolongar a conversa. ㅡ O que a senhora deseja?

ㅡ O advogado me ligou hoje, ele falou que não conseguiu conversar com você.

ㅡ Que estranho. ㅡ Abri a bolsa para pegar meu celular e conferir se ele não havia me ligado e só então percebi que a bateria havia descarregado. ㅡ E o que ele queria?

ㅡ Ele conseguiu reduzir 10 anos da pena de Ricardo. ㅡ Ela contou animada e eu sorri. Por um segundo esqueci dos nossos problemas, meu irmão não era a melhor pessoa do mundo, mas fiquei feliz, eu só desejava o bem para ele.

ㅡ Que notícia boa, vou ligar para o advogado mais tarde para agradecê-lo.

ㅡ Sábado eu irei visitar Ricardo, mas não tenho com quem deixar a Lisa, então pensei se você não poderia ficar com ela até eu voltar.

ㅡ Ficar com a Lisa no sábado? ㅡ Não deixei ela perceber, mas ouvir esse pedido me deixou muito animada. Eu sentia tanta saudade da minha irmãzinha, tudo o que eu mais queria no momento era poder vê-la. Perder o contato com ela foi a única coisa que me deixou triste desde que saí da casa da minha mãe.

ㅡ Sim, mas só se você puder. O que você acha?

ㅡ Tudo bem, que horas posso ir buscá-la? ㅡ Tentei não expressar a alegria que eu sentia.

ㅡ Pode ser na sexta-feira, depois da creche?

ㅡ Na sexta-feira? ㅡ Fiquei pensativa, não sei o que Mel iria dizer, pois ela amava fazer programas de casal nas noites de sexta e com Lisa em casa isso seria impossível.

ㅡ É que vou ter que pegar o ônibus bem cedo para poder chegar na penitenciária no horário de visitas e não vai ter como eu trazê-la até aqui antes.

ㅡ Sendo assim, eu pego Lisa sexta-feira na creche.

Victoria deu um sorriso que pareceu sincero e essa era uma cena muito rara, pois fazia anos que eu não a via sorrir de verdade.

Sem termos mais coisas para falar, acabamos ficando sem assunto e ela decidiu ir embora. Entrei em casa e a primeira coisa que fiz foi tirar meu salto. Como era bom ficar descalça. Sorri e me sentei no sofá, pensando em minha mãe, ela estava diferente, parecia mais leve, sem aquele mau humor de sempre, será que ela estava mudando?

ㅡ SURPRESAAAA ㅡ Mel me abraçou por trás e beijou meu rosto, me dando o maior susto.

ㅡ Ai que susto, Mel! Tá querendo testar meu coração, é? ㅡ Falei sorrindo e virei meu rosto para olhá-la.

ㅡ Desculpa, não resisti. ㅡ Ela sorriu e me deu um beijo rápido e então deu a volta no sofá e se sentou ao meu lado. ㅡ Hoje eu tenho que estudar para uma prova e como eu não ia conseguir ficar muito longe de você, resolvi dar um pulinho aqui.

ㅡ Confesso que foi a melhor surpresa que já me fizeram até hoje. ㅡ Sorri e abracei a morena linda que estava ao meu lado e a beijei longamente. ㅡ Adivinha quem estava me esperando lá fora?

ㅡ Quem?

ㅡ Minha mãe. ㅡ Revelei e Mel parecia não acreditar.

ㅡ E o que ela queria? Não me diga que ela discutiu com você.

ㅡ Não, pelo contrário, ela estava mais amigável, queria me contar que o advogado conseguiu reduzir o tempo que Ricardo ficará na prisão. Dez anos, é uma ótima notícia.

ㅡ Ele conseguiu? ㅡ Mel não pareceu muito animada com a notícia, mas devia ser coisa da minha cabeça.

ㅡ Sim, segundo Victoria, ele tentou me ligar e não conseguiu. Meu celular está com a bateria descarregada. ㅡ Sorri e mostrei meu celular à ela. ㅡ Daqui a pouco vou ligar para ele e agradecer.

ㅡ Fico feliz por você estar feliz ㅡ Mel sorriu e segurou minha mão, acariciando-a com seu dedo polegar.

ㅡ Tem mais uma coisa que quero te contar… ㅡ Mel voltou seus olhos para os meus e prossegui ㅡ Sexta-feira eu vou pegar a Lisa na creche, ela vai passar o fim de semana comigo, tudo bem? Minha mãe vai visitar Ricardo na penitenciária e não tem com quem deixar Lisa.

ㅡ Por mim está tudo ótimo, sei o quanto você ama ela e que está morrendo de saudades da pequena. Só essa alegria nos teus olhos ao me contar já diz tudo. ㅡ Mel riu e bateu o dedo na ponta do meu nariz ㅡ Sem contar que eu também adoro ela.

ㅡ Impossível existir uma pessoa melhor que você na face da terra ㅡ Sorri enchendo ela de beijos por todo o rosto.

ㅡ Claro que é possível, Beka, e essa pessoa é você! ㅡ Disse entre os beijos, me fazendo derreter de amores. Parei com os beijos só para poder olhar em seus olhos lindos ㅡ Maravilhosa!!!

Sem conseguir me conter, sorri e a beijei novamente cheia de amor. Se tivesse uma maneira de viver grudada nela, eu viveria assim por toda a minha vida. Levei minhas mãos até a cintura dela, e sem perceber, já estava subindo sua blusa para acariciar a pele macia dela, mas Mel conseguiu se controlar e ronronando me pediu para esperar.

ㅡ Eu tenho que ir pra casa, só vim te dar um beijo mesmo, tenho um livro inteiro para ler e se eu não for logo não vai dar tempo. ㅡ Ela fez um bico triste e eu passei a mão em seu rosto.

ㅡ Porque você não vem morar aqui comigo, assim não teríamos mais esse problema.

ㅡ É tudo o que eu mais quero, mas meus pais não iriam deixar.

ㅡ Será? Seus pais são muito legais, eu acho que eles não iriam te impedir.

ㅡ Assim sem mais nem menos eu acho que eles iriam sim, e tem a faculdade que eles pagam, eu não conseguiria sozinha.

ㅡ Nada precisa mudar, eles podem continuar pagando. E como moro pertinho da sua casa, tudo iria continuar como sempre.

ㅡ Não sei, vou falar com minha mãe como quem não quer nada pra ver o que ela pensa.

ㅡ Conhecendo a Nicole, eu já até sei a resposta, mas se ela precisa de um motivo, podemos dar um motivo…

ㅡ Qual? ㅡ Mel ficou curiosa e eu sorri, peguei a mão dela com carinho, levei até a altura dos meus lábios e depositei um beijo suave.

ㅡ Mel, você quer casar comigo?

Mel piscou várias vezes, me fazendo sorrir ainda mais e dos seus olhos brotou uma lágrima.

ㅡ Quero, mais que tudo na minha vida. Quero viver todos os dias do seu lado.

Agora quem estava com os olhos marejados era eu, sorri toda boba para ela, sem nunca ter imaginado que esse simples pedido poderia ter uma força tão grande.

ㅡ Linda, te amo tanto. ㅡ A abracei novamente, um abraço apertado, eu não queria mais soltá-la. Fechei meus olhos e assim ficamos por alguns minutos, apenas uma sentindo o coração da outra.

ㅡ Te amo, Rebeca… ㅡ Mel deslizou os dedos por minhas costas algumas vezes e após se separar do abraço, me deu um beijo e fez um bico triste outra vez ㅡ Agora eu preciso ir.

ㅡ Não tem como eu te fazer desistir?

ㅡ Tem, mas é melhor você não tentar, ouviu?

ㅡ Tudo bem! ㅡ Rindo me levantei e fui até a porta esperar por ela.

ㅡ Mas também não precisa me expulsar assim, quanta pressa. ㅡ Falou se levantando e vindo em minha direção.

Acabei dando uma gargalhada e Mel também riu, eu amava essa mulher demais.

ㅡ Prometo te recompensar amanhã por ser uma boa menina. ㅡ Mel disse dando uma piscadinha e me deu um beijo provocante antes de sair.

Sorrindo boba por tudo, me sentei no sofá toda sonhadora e coloquei meu celular para recarregar. Só de imaginar Mel e eu nos casando eu já sentia um frio na barriga. Viver com a morena todos os dias parecia o mais lindo sonho.