História Só vejo você - A fuga da realidade

A tarde com Duda foi agradável. Duda era uma ótima amiga,  e apesar de ter um jeito depressivo em relação a si mesma, com as amigas ela era muito animada e até mesmo conselheira. Após Mel conseguir convencer que seria Duda quem enviaria a mensagem para Beka para convidá-la para ir a danceteria do pai de Bia, levou ela para casa para estrearem seu carro. No caminho ligaram o rádio no último volume e foram cantando em voz alta. Todo mundo por quem passavam olhava para elas, mas elas nem ligavam, estavam se divertindo muito com isso.

Após deixar Duda em sua casa, voltou para a sua e encontrou sua mãe na cozinha com cara de quem estava preocupada.

ㅡ Aconteceu alguma coisa, mãe?

ㅡ A sua tia Lu, precisou ser operada às pressas hoje a tarde. Seu pai acabou de me ligar, me contando. Iremos para lá amanhã.

ㅡ Meu Deus! Mas o que ela tem, mãe? ㅡ Mel se assustou com a notícia, mas não estava querendo ir para lá, amanhã era o dia de voltar ao normal e a essa altura, Duda já devia ter convidado Beka.

ㅡ Ela estava com pedra na vesícula, parece que agora ela está melhor.

ㅡ Que bom mamãe. ㅡ Mel sorriu e abraçou sua mãe, sentando em seu colo. ㅡ Mãe, se eu não quiser ir com vocês visitar a tia Lu, eu posso?

ㅡ Mas porque não quer ir, filha? ㅡ Nicole olhou para Mel, passando a mão no cabelo dela para tirar os fios que lhe cobriam os olhos.

ㅡ É que já faz tempo que não saio com minhas amigas e combinamos de nos ver amanhã a noite. Agora que não tem mais o colégio, estamos mais distantes. ㅡ Respondeu olhando para sua mãe e fez cara de triste.

ㅡ Own, meu amor. ㅡ Nicole beijou a testa de Mel e abraçou-a ㅡ Tudo bem, vou conversar com seu pai, acho que ele não vai se importar.

Mel sorriu, seus dramas sempre funcionavam. Ficou conversando com sua mãe até sentir sono e depois foi para a cama. Queria dormir bastante para ficar bem linda para o dia seguinte. Iria viver um dia de beleza, e vestir sua melhor roupa. Se Beka não reparasse nela amanhã é porque não sentia nada por ela. Fechou os olhos, abraçou o travesseiro imaginando que estava com um vestido lindo, desfilando para Beka, que ficava babando por ela. Sorriu com esse pensamento, que pena que a vida não era tão simples como nos pensamentos.

 

Sentada no parapeito da janela de seu quarto, estava Rebeca, que olhava para o céu todo estrelado. O céu estava limpo, não havia nem uma nuvem para esconder a beleza das estrelas naquela noite. A vida estava tão monótona ultimamente, estava com saudades de ir para o colégio, ver gente diferente, conversar com suas amigas e paquerar Mel em segredo. Já fazia mais de uma semana que não via elas, e talvez nem fosse ver mais com tanta frequência. Sua classe social era muito inferior à delas. E agora como não ia mais pra faculdade com elas, talvez não tivesse mais tanto contato com elas. Precisava arrumar um emprego, ficar em casa não era legal. O namorado chato de sua mãe estava indo com muita frequência lá e Beka quem tinha que arrumar toda a bagunça, já estava cansada disso.

Ouviu seu celular aptar e saiu da janela para ver o que era. Foi até o criado mudo, pegou seu celular e tinha uma mensagem de Duda, abriu-a e leu: “Olá, Beka, quanto tempo! Estou com saudades. Que tal nos encontrarmos amanhã na danceteria da Bia? Já falei com a Mel e ela aceitou. Aguardo sua resposta. Beijos!”

Sorrindo, Beka guardou o celular, mas não tinha como responder pois estava sem crédito e nenhum de seus vizinhos tinha wifi sem senha. Deitou-se na cama e ficou olhando as folhas da árvore balançando pela janela. Então amanhã iria ver Mel outra vez, queria ter coragem para se declarar, mas quando chegava perto amarelava. Tinha medo de ouvir um não e medo que ela se afastasse. Preferia deixar como estava, era melhor ser apenas amigas do que não ser nada. Suspirou e fechou os olhos, sabia que seu sonho nunca iria acontecer.

 

Com o toque da campainha, Duda correu para a sala pois sabia que era Mel. A empregada já tinha aberto a porta e Mel já estava sentada no sofá com uma mochila nas mãos. Sorrindo, Duda foi até ela e abraçou-a.

ㅡ Oi, Mel. Tudo bem?

ㅡ Tudo sim, meus pais me trouxeram, disseram que eu estava proibida de vir de carro sozinha.

ㅡ O importante é que eles deixaram você ficar. ㅡ Duda sorriu e pegou a mochila de Mel ㅡ Vem, vamos pro meu quarto, eu ia começar a me arrumar agora.

ㅡ Vamos, trouxe minhas coisas pra me arrumar aqui, meus pais estavam com pressa. Papai estava numa reunião e ela demorou pra acabar. Aí quando eu disse que ainda não estava pronta ele me fez guardar tudo e disse que era pra eu terminar aqui. ㅡ Mel fez uma careta enquanto subia a escada e Duda riu. ㅡ Na verdade eu só enrolei porque queria vir com meu carro, mas papai quer que eu seja responsável.

ㅡ Todo pai é assim, meu pai nunca vai me dar um carro, ele me acha sem juízo, vê se pode?

Mel ficou rindo, e quando chegaram no quarto, pegou a mochila da mão de Duda, abriu-a e tirou suas coisas, queria se arrumar logo e ir logo pra balada.

ㅡ Recebeu alguma mensagem da Beka?

ㅡ Nenhuma, será que ela não vai? ㅡ Duda respondeu olhando para a pressa de Mel.

ㅡ Acho que ela vai, mas deve estar sem crédito outra vez. Ela não responde mensagens minhas também. ㅡ Disse se lembrando do ultimo boa noite que mandou pra ela.

ㅡ Eu morreria se ficasse sem crédito, deve ser muito entediante viver sem tecnologia.

ㅡ Não fale isso, viciada! ㅡ Mel riu e pegou a paleta de sombras ㅡ Qual cor você acha que combina com meu vestido? ㅡ Mel perguntou e apontou para seu vestido que havia desdobrado sobre a cama.

ㅡ Acho que preto ou azul petróleo… Que vestido lindo, Mel. Vou pegar pra mim ㅡ Duda riu, pois sabia que ele não entraria nela nem em sonhos.

ㅡ Depois que eu usar ele eu te dou. ㅡ Mel piscou para Duda que sorriu para Mel.

Ambas ficaram conversando enquanto se maquiavam. Duda quis fazer a make em Mel e Mel fez em Duda. Com a maquiagem pronta foram colocar as roupas escolhidas e depois foi a vez do cabelo. Ao terminar, Mel se olhou no espelho e sorriu com a imagem que viu, passou a mão nos cabelos e mandou um beijo para si mesma, pois estava deslumbrante. Se sentou na cama e esperou Duda terminar de se arrumar. Só iria colocar seu salto alto quando chegasse na balada, não queria ficar cansada antes da hora. Quando Duda apareceu pronta, Mel bateu palmas, assoviou e sorriu, Duda estava realmente linda. Após pegarem os celulares e os sapatos, foram para a sala. James, o pai de Duda iria levá-las até a balada e depois iria buscá-las. Ele pediu à Duda que não demorasse muito, pois ele não gostava de ser acordado muito tarde. Duda riu escondida, pois pretendia ligar pra ele umas 5 horas da manhã. Ao chegarem na danceteria, Mel e Duda conversaram com o segurança que já as conhecia e o mesmo deixou que elas entrassem sem pagar. Ser amiga de Bia era ótimo, tudo na danceteria para elas era de graça, ela não precisavam nem pedir, todos os funcionários da casa conheciam elas e levavam as bebidas na mesa sem serem chamados.

Sentando à mesa que era exclusiva de Bia, na área vip, logo receberam o primeiro copo de bebida e começaram a beber e olhar para o pessoal.

ㅡ Já viu algum gatinho? ㅡ Mel perguntou olhando em volta, mas não estava procurando beleza em ninguém, estava ansiosa procurando por Beka.

ㅡ Já vi vários, quero todos. ㅡ Duda sorria, sem parar de movimentar os olhos. ㅡ E você?

ㅡ Eu vi alguns… ㅡ disse olhando para o celular para ver se não tinha nenhuma mensagem de Beka ㅡ Será que ela vem?

ㅡ Vem sim, Mel. Foco nos meninos, lembra? Olha aquele. ㅡ Duda apontou para um menino e Mel fez uma careta em desaprovação.

ㅡ Não, não gostei dele.

Rindo, Duda mostrou vários meninos para Mel, mas nenhum era tão interessante assim.

 

Rebeca tomou banho e esperou Vitória sair, mas justo naquela noite ela estava enrolando para ir ver seu namorado. Beka sabia que se pedisse permissão, ela iria negar, então iria escondido e como ela sempre demorava para voltar, nem iria ficar sabendo.

Colocou uma roupa simples e não fez nenhuma maquiagem, pois sua mãe poderia descobrir que ela pretendia sair. Já havia combinado com a vizinha que iria deixar Lisa com ela, para não ter problemas se demorasse pra voltar.

ㅡ Logo hoje, Vitória? Sai logo, mulher! ㅡ reclamou se jogando na cama. Suas amigas já deviam estar na boate faz tempo e com certeza imaginando que ela não iria mais. Cansada de esperar tanto, se levantou e se debruçou no parapeito da janela, a noite estava fresca e tranquila. Ouviu um barulho no portão e olhou para ele, era sua mãe quem estava saindo sem lhe dar pelo menos um tchau, mas Beka nem se importou com isso, já estava acostumada com essa frieza. Sorrindo, foi até a comoda e pegou um pouco de dinheiro que era destinado aos gastos com Lisa, enfiou no bolso e foi até o berço. Pegou Lisa no colo, enrolou um cobertor nela e foi para fora de sua casa, tancou a porta e foi até a casa da vizinha, que demorou, mas abriu a porta. Após entregar Lisa e pedir mil desculpas pela demora, correu para o ponto de ônibus, olhou no relógio e por sorte, ainda tinha o ultimo ônibus para passar.

Não soube ao certo quanto tempo esperou e nem quanto tempo levou para conseguir chegar na boate após pegar três ônibus, só sabia que isso era cansativo demais.

Assim como Mel e Duda, Beka também era muito conhecida por todos na casa, tendo passe livre para ir e vir com facilidade. Entrou na danceteria olhando em volta e procurou pelas meninas. O local estava escuro, iluminado apenas pelas luzes que piscavam direto no ritmo das músicas, deixando a visão confusa. O local estava lotado, muitas pessoas dançavam animadas.

Não encontrando elas na pista de dança, foi para a área vip.

Andou devagar perto das mesas e lá no final do corredor foi encontrá-las, todas as duas estavam muito chiques. Enquanto caminhava, analisou Melissa primeiro, ela estava linda com seus cabelos pretos soltos e com uma presilha brilhante pequena do lado apenas de enfeite. Mel usava um vestido leve, preto, com detalhes em paetê prata que brilhavam quando a luz batia, o vestido era muito bonito, nos pés estava com uma sandália preta de salto alto muito delicada. Ela era linda, mas hoje estava perfeita, sorriu olhando-a.

Duda também estava bonita, usava uma saia e uma blusa tomara que caia, nos cabelos castanhos uma trança e nos pés uma bota de couro que ia até o joelho. Mas não fazia muito seu estilo. Chegando até a mesa, agarrou Duda por trás e beijou-lhe o rosto.

ㅡ Demorei, mas cheguei ㅡ disse animada e dando a volta na mesa abraçou Mel que correspondeu e deu um beijo no rosto dela. Mel beijou seu rosto também, mas acertou o canto de sua boca.

Mel percebendo o ocorrido piscou repetidas vezes e abaixou a cabeça pegando um copo com uma bebida verde e bebeu.

ㅡ Até que enfim Beka, pensei que não iria vir.

Beka precisou chacoalhar a cabeça pra ouvir o que Duda lhe dizia, pois o beijo no canto da boca fez milhares de borboletas voarem em seu estômago.

ㅡ Quase não deu pra vir, mas dei um jeito e cá estou ㅡ Beka sorriu ao terminar de falar.

ㅡ Ainda bem que veio. Eu estava com saudades. ㅡ Duda disse com um sorriso.

Beka pegou a mão de Duda que estava sobre a mesa com carinho e sorriu.

ㅡ Que fofa você,  Duda.  Eu também estava com saudades de vocês.  ㅡ disse pegando a mão de Mel também e sentiu que ela ficou trêmula. Olhou para o rosto dela e viu um sorriso tímido surgir. Soltou as mãos então e pegou o copo de Duda ㅡ E então, o que estão bebendo?

ㅡ Nem sei, o garçom disse que era cortesia da casa ㅡ respondeu Duda.

ㅡ Posso provar? ㅡ Beka perguntou e bebeu aquele líquido que queimou sua garganta. Fez uma careta e devolveu o copo a Duda. ㅡ Que negócio ruim. Gostei não.

Mel riu, e mostrou seu copo vazio ㅡ Não achei ruim.  Já bebi tudo.

ㅡ A Mel ta virando uma pinguça, Beka. ㅡ Duda disse rindo alto.

Beka riu também e disse em tom de brincadeira: ㅡ Não pode ser pinguça, Mel, ou vai levar umas palmadas.

ㅡ Uma bebidazinha de vez em quando não faz mal a ninguém. ㅡ Mel riu ao terminar e falar e olhou para o lado pois alguém cutucou seu ombro. Viu um rapaz alto, com um corpo bem atlético sorrir para ela. Até que ele era bonitinho.

ㅡ Olá, posso me sentar aqui com vocês?

ㅡ Pode sim, fique à vontade. ㅡ Mel respondeu

O rapaz se sentou ao lado de Mel, e Beka olhou para ele, notando o quão perto de Mel ele estava e se sentiu incomodada.

ㅡ Quer um pouco? ㅡ o rapaz ofereceu sua bebida para Mel, que aceitou e bebeu um gole. ㅡ Como você se chama, morena?

ㅡ Melissa e você? ㅡ Mel sorria, bebendo outro gole daquela bebida.

ㅡ Que nome bonito, Melissa. Eu me chamo, Ryan. Estou cursando Educação Física, você estuda?

ㅡ Sim, começarei a cursar psicologia logo após as férias.

ㅡ Psicologia é bem interessante. ㅡRyan pegou a mão de Mel e levou até a boca dando um beijo. ㅡ Quer dançar comigo, donzela?

Mel riu baixinho e balançou a cabeça que sim, olhando para Beka que lhe olhava com um olhar triste, depois olhou para Duda que sorria aprovando seu gesto. Ficou em pé logo em seguida, e Ryan, segurou-a pela cintura, levando-a até a pista de dança.

Beka tentou disfarçar e ficou olhando os dois dançando, não estava gostando nada daquela cena. Mel estava rindo à toa e deixando ele passar a mão um pouco abaixo de sua cintura. Sentindo o mau humor tomar conta, parou de olhar para eles, pegou o copo vazio de Mel e ficou brincando com ele, mas seus pensamentos estavam voltados para mão boba do rapaz tocando em quem ela gostava.

ㅡ Abusado ㅡ resmungou Beka baixinho.

ㅡ O que você disse? ㅡ Duda perguntou, olhando para Beka.

Ao ouvir Duda, Beka se lembrou que ela estava ali e olhou para ela ㅡ O que você achou desse moleque, Duda?

ㅡ Eu achei ele lindo, que pena que não me escolheu ㅡ Duda fez um bico e bebeu um pouco da bebida.

ㅡ Eu achei ele muito abusado. Não gostei.

Duda riu do comentário de Beka e após beber outro gole disse: ㅡ Deixa a Mel se divertir, ela está precisando de um namorado.

ㅡ É… ela está, mas não o primeiro que aparecer. ㅡ Beka se se levantou rápido. ㅡ Vou pegar um refri, quer?

ㅡ Depois eu pego um, obrigada, Beka.

Beka assentiu com a cabeça e foi em direção ao bar. Mel não tinha nada que ter aceitado o convite sem ter conversado mais com ele. Ela nem sabia se ele era do bem, nem quais eram as suas intenções. Parou de andar quando chegou no bar e pediu uma coca cola. Estava distraída quando sentiu uma mão em sua cintura lhe abraçar e levou um susto, se virando rápido para ver quem era, acabou dando um selinho sem querer num rapaz loiro que estava muito perto dela.

ㅡ Uau! Eu imaginei que estava com saudades, mas esse selinho me disse muito mais.

ㅡ Para de ser besta, Ethan. ㅡBeka deu um tapa no ombro dele e se afastou. Pegando o refrigerante que o vendedor deixou sobre o balcão.  Ethan era primo de Bia e trabalhava na danceteria. Sempre mostrou interesse nela, mas Beka nunca fez mais que dar apenas uns beijinhos nele. ㅡ Não foi selinho, foi um acidente.

ㅡ Acidente? Assim você me deixa magoado, morango.

Beka revirou os olhos com o apelido que ele lhe deu há muito tempo e tirando as mãos dele de sua cintura começou a andar, dizendo: ㅡ você supera!

Ethan olhou-a de costas, admirando aquele bumbum perfeito. Apesar da roupa simples que ela usava, estava linda. Decidiu acompanhar ela e se sentou ao seu lado na mesa. Recebendo um olhar muito crucial da ruiva, mas nem deu bola e sorriu. Já conhecia  Beka há muito tempo e amava esse jeito durão que ela tinha. Sempre sonhou domar essa fera.

ㅡ Olá, Duda.

ㅡ Ethan! Oi, tudo bem? ㅡ Duda sorriu reconhecendo ele. Já tinha tomado dois copos daquela bebida e estava se sentindo tonta.

ㅡ Eu to bem, e você?

ㅡ To ótima ㅡ Duda sorriu de novo, mas na verdade queria chorar. Beka tinha acabado de chegar e já estava com um pretendente. Todo mundo ficava com alguém,  menos ela.

ㅡ Preciso de sua ajuda, pra conquistar a morango.

Duda riu e olhou para Beka que estava muito seria. ㅡ Eu te ajudo. ㅡ disse para provoca-la.

ㅡ Vão perder tempo,  só estou avisando. ㅡ Beka bebeu o refri e olhou para a pista, procurando por Mel.

ㅡ Não me importo em perder meu tempo contigo. ㅡ Ethan segurou o queixo de Beka todo galanteador e sorriu.

ㅡ Pois devia começar a se importar... ㅡ virou o rosto novamente, não estava conseguindo encontrar Mel.

ㅡ Deixa de ser marrenta, morango. Me dá uma chance.

Beka o olhou com o canto do olho, nem iria se dar ao trabalho de responder.

Ethan passou um braço em volta do pescoço de Beka e ficou abraçando-a de lado.

Quando ia xingar ele viu Mel com o tal de Ryan se aproximando. Ele abraçava-a, dando beijos no rosto. Mel estava segurando uma garrafa e estava bêbada. Quando chegaram à mesa, Mel se sentou pesadamente, como se não aguentasse mais o próprio peso. Ryan se sentou ao seu lado e não estava bêbado.  

ㅡ Onde vocês estavam?  ㅡ Beka perguntou incomodada.

ㅡ Dançando, Beka. ㅡ Mel respondeu bem devagar.

ㅡ E bebendo pelo jeito... ㅡ Disse e pegou a garrafa da mão de Mel e começou a ler as informações, sentindo um beijo em seu pescoço.  Tinha se esquecido de Ethan, mas estava preocupada com Mel no momento, então não reclamou.

ㅡ Só um pouq... ㅡ Mel foi interrompida por Ryan que virou o rosto dela e lhe beijou a boca.

Vendo essa cena, Beka queria voar em cima dele e arrancá-lo de lá, mas permaneceu onde estava.  

Ethan deu beijos no rosto de Beka e queria acertar a boca, mas ela sempre virava o rosto.

ㅡ Para, Ethan...

ㅡ Mas por quê? ㅡ Ethan passou o dedo em seu rosto com carinho.

ㅡ Não estou afim.

ㅡ Você nunca está, porque não me dá uma chance?

Beka queria dizer o porque, mas não podia. Ethan era interessante, fofo, mas não gostava dele. Olhou para o lado procurando respostas e viu Ryan passando a mão em Mel. Sentindo muito ciúmes, não queria continuar vendo isso, e se levantou.

ㅡ Onde você vai? ㅡ Ethan também se levantou e pegou as mãos de Beka.

ㅡ No banheiro. Cuida das meninas pra mim? Não deixa elas saírem daqui.

ㅡ Eu cuido, mas você volta?

ㅡ Volto.

Ethan sorriu e puxou Beka, deu um beijo rápido nela e piscou. Vai lá então, morango.

Virando as costas, revirou os olhos e foi ao banheiro, entrou em um sanitário e após trancar a porta, se encostou na parede, levou as mãos aos cabelos, levantando eles e fechou os olhos. Se soubesse que veria tudo isso nem teria vindo. Respirou fundo tentando controlar aquele sentimento ruim, que lhe fez tanto mal da ultima vez.

Abaixou a tampa do vaso e se sentou, colocou os pés no mesmo e se encolheu, abraçando as próprias pernas, numa posição fetal. Porque tinha que gostar de uma menina que gostava de meninos? Porque tinha que gostar de Mel?

Balançando a cabeça para tentar afastar todos esses pensamentos, decidiu sair de lá, ou iria acabar chorando, talvez se desse uma chance para Ethan, as coisas melhorassem e ela esqueceria Mel. Isso mesmo, era isso o que iria fazer, talvez essa fosse a melhor escolha. Respirou bem devagar e saiu do banheiro, indo em direção à mesa. Estava decidida, iria agarrar Ethan e dar a chance que ele sempre sonhou, mas conforme foi se aproximando do local não viu Mel nem Ryan sentados, onde é que eles haviam ido? Olhou em volta e não encontrou eles, foi até a mesa então e interrompeu a conversa de Duda e Ethan: ㅡ Ethan, o que eu pedi pra você? Cadê a Mel?

ㅡ Aqui… ㅡ Ethan olhou pro lado e quando não viu ela, fez cara de quem não entendeu nada e olhou para Beka. ㅡ Ela estava aqui agora mesmo.

ㅡ Não sabe fazer nada mesmo, nem ficar de olho nas minhas amigas ㅡ revirou os olhos e voltou a olhar pra ele ㅡ Cuida da Duda, que vou ver onde aquele idiota levou ela. E é pra cuidar mesmo.

Sem esperar respostas começou a procurar Mel, olhou na pista de dança, nos banheiros, nos cantos mais escuros e eles simplesmente haviam desaparecido. Isso estava muito estranho, não tinha mais por onde procurar, viu um segurança e como sabia que ele a conhecia foi até ele.

ㅡ Você viu a Mel passar por aqui?

ㅡ Ela foi para o terraço, acho que foram namorar, o rapaz estava muito “animado”, se é que me entende. ㅡ disse o segurança com ênfase na palavra animado.

Ouvir aquilo fez Beka enlouquecer, imaginar aquele abusado se aproveitando da sua Mel fez seu sangue ferver, subiu as escadas que levava ao terraço, uma área restrita, apenas poucos tinham acesso, abriu a porta e não viu nada. Continuou andando por mais alguns minutos e ouviu a voz de Mel. Seguiu a voz e viu sombras atrás da caixa d’água, se aproximou mais e viu aquele metido à besta passando a mão em Mel e beijando-a, mas Mel não queria, pelo jeito. Tentava empurrar ele e pedia para ele parar, mas ele estava sóbrio e queria se aproveitar. Levantou o vestido dela e começou a apertar a bunda dela.
Sentindo muita raiva, Beka foi até ele e puxou com muita força, conseguindo fazer ele se afastar e soltar Mel que só não caiu porque encostou na parede ㅡ Seu idiota, solta ela ou vou chamar o segurança.

ㅡ Sai daqui menina estranha, não estrague a minha jogada.

ㅡ Imbecil, cai fora, não vou deixar você abusar dela, ela está bêbada. ㅡ disse olhando para Mel que estava tentando abaixar seu vestido sem sucesso.

ㅡ Ela estava gostando, até agora… ㅡ Ele deu um sorriso malicioso e pegou Beka pelo braço para tirá-la de lá.

ㅡ Me solta ou você vai ver só ㅡ ordenou tentando se soltar, mas ele era muito forte.

ㅡ Ver o que? ㅡ deu uma gargalhada, você não deve matar nem uma barata.

Olhando pra ele com vontade de dar um soco em sua cara, Beka levou a mão ao bolso e pegou um spray de pimenta que seu pai lhe deu um pouco antes de falecer e pediu que ela sempre levasse consigo e usasse em casos extremos. “Agora era um caso extremo” pensou e levando a mão na altura dos olhos dele, apertou com força o spray e na mesma hora ouviu gritos de dor.

Ryan soltou-a e levou as mãos em seus olhos, quase chorando.

Beka se afastou com medo e olhou se estava tudo bem com Mel, ela continuava no mesmo lugar, mas estava perdidinha.

ㅡ Sua maluca, o que você jogou nos meus olhos?

Voltando sua atenção para ele, Beka respondeu: ㅡ É pimenta, idiota e se eu fosse você eu iria correndo lavar, porque já está vencida. Você pode ficar cego.

ㅡ Ai meu olho, maluca, se eu ficar cego sua vida vai virar um inferno. ㅡ disse isso e saiu correndo.

Beka riu e imaginou que se ele ficasse cego nunca iria conseguir reconhecer ela. Correu até Mel e arrumando a roupa dela disse: ㅡ Você está bem? Ele te machucou?

ㅡ Estou… cadê ele? ㅡ Mel estava falando muito mole e Beka teve vontade de rir, mas não o fez, passou a mão nos cabelos dela, ajeitando-os.

ㅡ Ele já foi embora, vem… ㅡ pegou o braço de Mel e colocou em seu ombro, tentando ampará-la, mas Mel abraçou-a e deu um beijo em seu rosto.

ㅡ Porque demorou para aparecer?

ㅡ Não sabia onde você estava, mas consegui chegar em tempo. ㅡ disse tentando manter ela em pé, pois Mel jogou todo seu peso sobre Beka.

ㅡ Você me salvou… ㅡ Mel sorria abraçando Beka ㅡ meu herói… ㅡ tentou beijá-la, mas acertou o nariz de Beka e começou a rir sem parar ㅡ você é menina, não é herói que diz.
ㅡ Não, é heroína, Mel. ㅡ Segurou o riso enquanto tentava andar com ela, mas estava muito difícil.

ㅡ Rebeca, finalmente encontrei vocês.

Beka olhou para trás e viu o segurança que falou com ela não fazia muito tempo. Ufa, finalmente apareceu alguém que poderia ajudar. Nem precisou pedir, ele logo segurou Mel e sem fazer muita força a ajudou a voltar para a danceteria.

ㅡ Vi o rapaz descer a escada gritando e segui ele, ele me disse que você tinha feito aquilo, imaginei que não tinha sido à toa e coloquei ele pra fora.

ㅡ Pois é, ele estava abusando da minha amiga, tive que usar o spray de pimenta. Acho que os clientes não deveriam ter acesso aquela área.

ㅡ Você fez muito bem, mas por favor, não diga nada à Bianca, ela me despedirá se souber.

Beka olhou para ele e assentiu com a cabeça, mas não disse mais nada, quando chegaram à mesa, deixou ele colocar Mel primeiro e se sentou ao seu lado. Mel deitou a cabeça no ombro de Beka e começou a chorar.

ㅡ O que aconteceu? ㅡ Ethan perguntou assustado.

ㅡ Se você tivesse tomado conta, nada disso teria acontecido.

ㅡ Não tem como cuidar de duas bêbadas sozinho.

Beka olhou para Duda e viu que ela estava dormindo no ombro de Ethan, sentiu vontade de rir, mas olhou para Mel que deu um beijo em seu pescoço e depois começou a rir.

ㅡ Essa mina está triloka, Beka. ㅡ Ethan começou a rir olhando para Mel.

ㅡ Está, vou pegar algum doce pra ela comer, acho que ela não vai conseguir se levantar sozinha. Já volto! ㅡ disse e se levantou rapidamente, foi até o bar e pegou uma barra de chocolate, voltou para a mesa e cadê a Mel? Tinha sumido de novo, olhou para Ethan e viu Duda pendurada em seu pescoço.

ㅡ A Mel disse que ia atrás de você e quando eu fui segurar ela a Duda me agarrou, não consegui segurá-la. Ela está ali. ㅡ Ethan apontou para onde ela estava.

ㅡ Tudo bem, seu banana. Fica aí. ㅡ Se virou e foi atrás de Mel. Quando chegou lá viu ela pegando uma garrafa da mão de um menino e já ia virar, mas Beka pegou a garrafa da mão dela e devolveu ao menino.
ㅡ Já chega de beber, Melissa. Come isso… ㅡ Beka abriu a embalagem do chocolate e colocou na mão de Mel.
ㅡ Mas eu quero beber. ㅡ Mel fez bico e mordeu o chocolate.
ㅡ Só se comer tudo o chocolate.
Mel comeu o chocolate animada após ouvir aquilo e segurou a mão de Beka para não cair. Sem saber se sentia pena ou se ria do estado de Mel, preferiu ficar séria. Nunca a tinha visto assim, ela nunca foi desmiolada, porque hoje fez isso. Só sabia de uma coisa, não queria nunca ficar bêbada e perder a noção das coisas.

Quando Mel terminou de comer, jogou o papel no chão e se pendurou em Beka, tentando dançar com ela.
ㅡ Dança comigo?

Beka riu não acreditando naquilo e segurou a cintura dela ㅡ Temos que ir embora, Mel.

ㅡ Não quero ir embora, você nem ficou comigo hoje. ㅡ Mel sabia fazer manha, terminava de falar e fazia bico com cara de choro.

ㅡ Culpa sua que se enroscou com um aproveitador.ㅡ Quase se rendendo às manhas de Mel, Beka tentou não olhar para ela.

ㅡ Não… ㅡ Mel fez bico outra vez e deitou a cabeça dando beijos no pescoço de Beka.

Sentindo arrepios por todo seu corpo, Beka tentou se afastar, mas Mel deu um beijo em seu queixo e outro em sua boca. Sentindo o coração acelerar e tentando mater a cabeça no lugar, Beka virou o rosto ㅡ Mel, todo mundo está olhando, se comporta.

ㅡ Não, para de ser chata. ㅡ Mel ainda tentava beija-la.
ㅡ Vamos, na sua casa eu te beijo. ㅡ Disse essa mentira pegando a mão dela, achando que isso não iria funcionar, mas Mel sorriu e soltou-a, começando a andar trançando as pernas.

Quando chegaram na mesa, Beka fez Mel se sentar e olhou para Ethan que a olhava curioso.

ㅡ Preciso da sua ajuda, banana.

ㅡ Hey, banana não.

ㅡ Você me chama de morango, então você é banana.

ㅡ Você é ruiva, combina com moranguinho.

ㅡ E você é loiro, combina com banana ㅡ Beka mostrou a língua para ele e Mel abraçou suas pernas, Beka olhou pra ela e ela estava fazendo manha de novo.
ㅡ Vamos pra casa. ㅡ Disse Mel, manhosa.

ㅡ Já vamos, Mel. ㅡ passou a mão no cabelo dela e olhou para Ethan. ㅡ Leva a gente, banana?

ㅡ E o que eu ganho com isso? ㅡ perguntou com segundas intenções.

ㅡ Nossa eterna gratidão, oras. ㅡ Ficou séria, mas na verdade queria rir.

Ethan gargalhou, e olhou para ela tentando ser sedutor: ㅡ Você sabe o que eu quero, vai me dar?

ㅡ Para de enrolar homem, estou com duas amigas bêbadas… ㅡ disse isso tentando escapar de prometer algo a ele ㅡvou ver se outra pessoa pode nos ajudar, vem Mel... ㅡ Disse ajudando Mel a ficar em pé, sabia que ele não ia deixar outra pessoa levá-las.

ㅡ Espera, eu levo vocês ㅡ Disse se levantando rápido e Duda caiu de cara no banco. ㅡ Oh! Meu Deus! ㅡ Ele se abaixou e sentou Duda novamente.

Beka riu e abraçou Mel que parecia estar sonolenta, ficou olhando Ethan levantar Duda e fazia carinho no braço de Mel sem perceber.

ㅡ Anda logo, você é muito mole, banana.

ㅡ Já chegamos? Quero meus beijos. ㅡ Mel disse, olhando para os olhos de Beka.

ㅡ Xiiiu! ㅡ Pediu Beka, e deu um beijo na testa dela ㅡ Ainda não, daqui a pouco. ㅡ Sabia que Mel estaria dormindo quando chegassem na casa dela, e por esse motivo não desmentiria o que disse a pouco tempo.

ㅡ Que menina pesada, essa! ㅡ Ethan reclamou, sofrendo para mantê-la em pé. ㅡ Depois te mostro o banana mole, Rebeca!

ㅡ Eca! Não quero ver nada disso não. ㅡ Riu Beka e seguiu ele com Mel em seus braços. Graças a Deus, Mel não era tão pesada assim, e mesmo estando bêbada, conseguia andar e se comunicar (não muito bem, mas perto de Duda que simplesmente desmaiou, ela estava melhor).

Após 10 minutos para saírem e colocarem as meninas no carro, o que normalmente eles não levavam nem 3 minutos, Ethan finalmente deu a partida. Duda ficou no banco da frente e Mel foi atrás com Beka. Mel não parava quieta, ora queria deitar, ora queria sentar, até que encostou no a cabeça no ombro de Mel e falava coisas sem sentido sobre o que iria fazer em sua casa. Beka riu muitas vezes das coisas que ela dizia e disfarçava toda vez que Ethan olhava para ela pelo retrovisor. Sabia que quando sobrasse apenas os dois no carro ele iria querer a sua recompensa e não ia ter como escapar. Talvez Lisa fosse a salvação, estava torcendo para que ela estivesse acordada. Pensando essas coisas nem viu o tempo passar e quando percebeu, Ethan já havia parado o carro, olhou pela janela e viu a casa de Mel, então abriu a porta do carro e pediu a chave da casa para Mel, que lhe entregou e abriu os braços pedindo ajuda para descer. Rindo, Beka ajudou-a a descer e após segurá-la, deixou a porta aberta e caminhou até a porta de entrada, abriu a mesma com dificuldade e ascendeu a luz entrando com ela, fez ela se sentar no sofá e disse:

ㅡ Vou chamar sua mãe pra vir te ajudar, tudo bem?

ㅡ Ela não está aqui ㅡ Mel pegou a mão de Beka e sorriu.

ㅡ Não? Nem seu pai?

ㅡ Eles foram visitar minha tia que tá doente, fica comigo?

ㅡ E agora, Mel. Você não vai ficar assim, aqui sozinha.

ㅡ Não, você fica, não fica? ㅡ falou com voz manhosa e deu beijos na mão de Beka.

ㅡ Morango, vamos, chama a mãe dela aí. ㅡ Ethan disse, parado na porta da sala.

ㅡ Esse é problema, banana, ela não esta aqui. ㅡ Beka se virou para olhar para ele.

ㅡ Como assim? Deve ter alguém aí. ㅡ Falou batendo palmas e tocando a campainha.

ㅡ Não tem ninguém aqui, não posso deixar ela sozinha, eu vou ficar ㅡ Essa era uma boa maneira para não precisar dar recompensa a ele. Notou que ele ficou chateado e olhou para o carro que ainda estava com a porta aberta. ㅡ Se lembra onde é a casa da Duda?

ㅡ Sim, eu sei onde é… mas poxa, Beka…

ㅡ Olha lá, a porta está aberta, você tem que cuidar da Duda, Ethan.

ㅡ Tudo bem… então tchau, morango. ㅡ se despediu, mas em vez de sair entrou e beijou Beka que não teve reação nenhuma pelo susto que levou. ㅡ ele olhou para ela deu um leve sorriso e saiu. Beka fechou a porta e olhou para Mel, pensou que ela dormiria no carro, mas se enganou, ela continuava acordada.

ㅡ Vem, Mel, vou te levar pro quarto. ㅡ Beka deu a mão para Mel, para que ela se levantasse.

ㅡ Mas não quero dormir.

ㅡ Mas precisa ir, vai se sentir melhor quando dormir. ㅡ puxou Mel, e em meio a reclamações, conseguiu levantá-la.

Mel abraçou-a, e soltando todo o peso de seu corpo sobre Beka, começou a beijar o pescoço. Quando Beka sentiu que ela passava a língua, perguntou: ㅡ O que está fazendo, Mel?