História Sobre coisas que você sabe que eu sei - Par ou ímpar? Par.

Minha alma está sendo despida na sua frente agora mesmo, como se esse fosse o último espetáculo (não o deixe ser). Com toda sinceridade deixo escorrer entre meus dedos o máximo da pouca dignidade que ainda me resta.

O nome dele é Lee Hyukjae e ele é bonito.

Hyukjae tem o cheiro limpo de sabonete e sorri como uma criança.

Hyukjae tem boca bonita e mãos macias. Hyukjae ri muito e mesmo assim consegue ser maduro.

Hyukjae gosta da família e se dá bem especialmente com a irmã mais velha.

Hyukjae tem tudo o que eu não tenho. Hyukjae tem seu amor.

E sempre fomos nós três, mesmo que os números pares fossem os meus favoritos.

Oi, eu sou Donghae, posso sentar aqui? Você me perguntou quando eu ainda era uma criança aprendendo a crescer. Pode sentar e pode ficar, para sempre. Por favor, fica. Eu quase te disse e talvez até tenha dito, porque de um jeito ou de outro você ficou, Donghae, e foi para mim como pá e vassoura recolhendo cada um dos caquinhos meus, refazendo-me com uma cola mágica. Mas de que adianta se está tudo quebrado de novo?

E eu sei até que altura seus sentimentos por mim foram sinceros, nos dois primeiros minutos, talvez?

Não são muitos os meus charmes. Eu nunca soube enfeitiçar um homem com minha maneira de jogar o cabelo para trás do ombro ou com um sorriso tímido. Aliás, meu único homem nessa vida toda foi você. Já Hyukjae, Hyukjae é como um ladrão, ele nos rouba tudo, desde os olhos até o coração. Foi o que eu te disse um dia, certo? E você riu e concordou com essa rima estúpida que saiu de mim ardida, concordou do jeito mais inocente possível, com os olhos em fendas e tudo o mais. Hyukjae tem seus charmes. Ele tem e você também, já eu... 

Bonito, Donghae. Você sempre foi bonito. O nariz, os olhos e os lábios, tudo no lugar certinho e muito bem arquitetado. Quantas vezes eu já não me virei para o lado esquerdo da cama só para ver seu rosto adormecido? É uma pena, uma pena que esteja comigo. Tão pobre e feia. Tão miserável e dependente. É Hyukjae que você ama. E mesmo que seus sorrisos para mim sejam sinceros e doces seus sorrisos mais bonitos são para ele.

Esse é Hyukjae, meu novo colega de quarto.

Prazer em conhecê-la. Ele me disse, quando ainda era um menininho franzino e um pouco arrogante. Poderia ter dito prazer em conhecê-la sua pobre miserável, prazer em conhecê-la, és aquela de quem vou tirar tudo? (Mas Hyukjae tem um coração miseravelmente bom para ser tão direto. Já chorou muitas vezes na minha frente se contorcendo de remorso sem nem imaginar que eu sabia o motivo.)

Sou sim, eu responderia. Tire-me tudo. A família que nunca fui capaz de dar e o lar agradável que eu construí na minha mente, e somente nela. As primaveras que passei com Donghae, quando ainda éramos dois adolescentes conhecendo a si mesmos (Eu conhecia o amor que sentia por ele e ele conhecia o amor que sentia por você). A satisfação que eu não pude dar para o homem da minha vida e a vontade de fazê-lo feliz. O filho que perdi no quinto mês de gestação e a fidelidade de Donghae naquela época. As bodas de prata, ouro, diamante e rubi, tanto faz. Leva tudo Hyukjae, já é tudo seu mesmo. Mas não me leva ele, por favor, tudo menos ele.

O engraçado mesmo é que eu quis poder/conseguir te entregar para ele quando te vi chorando em uma manhã dessas, escondido no banheiro da nossa casa vendo fotos da nossa adolescência, as três crianças incapazes de se machucarem. E eu sei que você sabe que eu sei, pois age como um pirralho pronto para receber uma reprimenda dos pais. Mas olha para mim, eu pareço alguém que vai te repreender, Donghae? Que vai implorar para que você fique? Pois sim, vou. E mesmo que eu te desmereça, sem o mínimo de sutileza eu te peço, o desame e ame a mim.

Peço que seus olhos brilhem sobre mim.

Peço que seus risos roucos sejam mais sinceros para mim.

Peço que sua boca fique avermelhada com os beijos meus.

Peço que segure minha mão como segura as dele debaixo da mesa.

Peço que me ame, a mim, muito, intensamente, enlouquecidamente.

Por fim eu te peço, Donghae, larga essa mala e não sai por essa porta.

Por fim eu te peço, Donghae, não deixe-me como me encontrou. Cacos.