Acordei disposto e fiz as malas com a ajuda do Sehun, juntando tudo de importante que havia naquele apartamento minúsculo e deixando as coisas inúteis da vida pra trás, não precisaria delas. Na verdade nunca precisei, mas só fui perceber naquela hora.
Entreguei dois atestados dizendo que a gente tava com catapora prum amigo levar até a direção da faculdade. Eles eram daquele tipo que tinha de matar e mostrar o pau, sabe? Então era melhor inventar uma desculpa satisfatória do que simplesmente sumir.
De mochila nas costas, eu andei até a conveniência, pensando a todo momento se tava fazendo a coisa certa e logo depois suspirando aliviado.
Não tinha como dar errado.
Era só uma semana. Uma semaninha de férias, longe daquela cidade barulhenta e da faculdade que eu só frequentava porque era o que se esperava de um jovem de 22 anos.
Seria bom.
– Você tá longe – Sehun falou enquanto andávamos, até então eu havia esquecido da presença dele – Tá tudo bem?
– Tá tudo ótimo – suspirei, sorrindo enquanto andávamos lado a lado – Mais que ótimo. Supimpa.
Baek não exigiu um valor muito alto pela velha Kombi, mas toda minha economia e um pouco da de Sehun se foi na compra. E eu não me importei nem um pouco.
– Convida ele – Sehun sussurrou no meu ouvido antes de sairmos da conveniência.
– Mas o seu Joca vai ficar sozinho e…
– Vai com eles – Seu Joca se pronunciou, desviando os olhos do idílio que lia e falando pro filho com um sorriso amarelado estampado na cara – Eu chamo outra pessoa pra me ajudar.
– Tem certeza, pai?
– Mas claro.
– Já que você insiste, então…
…
– Vamos acampar – Sehun falou, olhando o mato baixo que nos seguia pela janela.
Já faziam umas quatro horas que andávamos sem rumo pela estrada. A noite já havia caído quase por completo e eu dirigia devagar enquanto Sehun e Baek conversavam animados.
– Onde? – perguntei.
– Em qualquer lugar – Sehun riu – Eu trouxe uma barraca e podemos fazer uma fogueira também. Tem bebida e marshmallows.
– Sendo assim…
Estacionei em um velho campo vazio, terroso e sem nenhum resquício de que fosse usado pra plantação ou qualquer outra coisa a algum tempo. Fiz a fogueira enquanto Baek e Sehun armavam a barraca.
Não tava tão frio, mas o clima não era exatamente quente. A noite era bonita e o barulho dos grilos, nossa trilha sonora.
...
Conversávamos alto e bebiamos bastante, afinal não havia ninguém por perto. Os marshmallows estavam esquecidos em um canto, não eram tão necessários.
Eu já tava meio alto quando Sehun chamou o Baek pra sentar no seu colo e nem me importei muito. Na verdade eu nunca me importava, afinal só éramos colegas de quarto. Com alguns benefícios, é claro. Brotheragem, alguns nomeiam.
– Relaxa – Sehun falou antes de beijar o pescoço e também os lábios bem vermelhos do Baek.
Ele devolveu com vontade e foi uma cena muito boa de ver.
Me aproximei assim que terminei a terceira garrafa.
Puxei o rosto de Baekhyun e o beijei com força, um beijo molhado, sem me importar muito com qualquer coisa. Ele sorriu e eu também, as bochechas estavam bem vermelhas, muito fofo.
– Você beija bem, Seu Jongin.
Sehun levantou uma sobrancelha pra mim e eu sorri de canto.
– Que foi? Quer também?
– E você ainda pergunta, seu bisbórria.
Ri soprado e o puxei pela camisa havaiana - aquela comprada na loja de dez reais perto da conveniência -, beijando-o com mais calma, aproveitando o momento.
A troca de beijos perdurou até irmos parar na barraca aos tropeços, sabe-se lá como fizemos a proeza de chegar lá sem cair no caminho. Dali em diante só continuou, na verdade, mas muito mais intensamente. O tempo parou.
– Sabe que alguém pode se arrepender do que aconteceu aqui quando o efeito do álcool passar – Sehun falou com a voz lenta, embargada, a cabeça pousada no meu peitoral. Ele acariciava os cabelos do Baek enquanto eu os dele.
– Ainda bem que trouxemos bastante bebida.
...
– A bebida acabou – foi a primeira coisa que Sehun falou quando acordei pela manhã.
Ele tava do lado de fora da barraca, já vestido.
– Você é um alcoólatra mesmo – esfreguei os olhos, sentando no colchão já murcho – Compramos mais no caminho, não te preocupa.
Me vesti e virei para o lado, observando Baek que ainda dormia em um sono profundo, as orelhas se movendo involuntariamente vez ou outra.
– Ei – chamei, dando uns tapas gentis no ombro nu dele – Acorda.
Ele emitiu um som manhoso, como um bebê acordando. Se espreguiçou, abriu os olhos langorento e sorriu.
– Bom dia.
– Bom dia – me inclinei e dei um beijo na bochecha dele, carinhoso – Levanta e se veste. Vamos tomar café da manhã antes de sair.
– Café da manhã? Que horas são?
– Quatro da tarde.
...
– Pra onde vamos? – Baek perguntou, pausando a leitura de seu livro - Diário de um jornalista bêbado, o nome do exemplar - e olhando pro Sehun, que desta vez dirigia.
Sehun olhou pra mim no banco de trás, perguntando com os olhos a mesma coisa.
– Não sei – falei com sinceridade, tomando o livro do Baek e deitando em seu colo – Pra onde vocês querem ir?
– Eu queria visitar a pizzaria de Houston – Baek se pronunciou – Fica na próxima cidade. Eles fazem a maior pizza do país lá.
– Sério? – perguntei animado. Pizza era minha coisa favorita depois de Kombis. E do Sehun. E do Baek também.
– Muito sério.
– Então vamos pra pizzaria de Houston.
– Let's go – Sehun mancomunou e meteu o pé no acelerador.
...
A pizza era realmente grande, mas não era grande coisa. Com isso eu quero dizer que não era tão diferente de comer uma pizza de tamanho normal. Só era mais cara e massuda. Uma daquelas coisas que você compra só por parecer legal e depois não sabe se se arrepende ou não. Eu não me senti arrependido, ao contrário de Sehun, minha barriga tava bem cheia.
Estacionamos a Kombi na praia, bastante perto da pizzaria. Íamos ficar lá naquela noite já que a pequena barraca deu conta de nós três na noite passada. Ô se deu.
Sentamos confortavelmente depois de fazer a fogueira. Baek havia conseguido algumas garrafas de cerveja e eu bebericava enquanto assistia as ondas se formarem, não muito altas. A maré tava baixa e a lua alta, brilhante no céu.
– Eu queria fazer isso pra sempre – falei, rodeando a cintura do Sehun que estava sentado no meu colo e deixando um beijo molhado no pescoço dele antes de tomar mais alguns goles da cerveja morna.
– Fazer o que? – Baek perguntou. Ele arrumou a brasa da fogueira e voltou a sentar.
– Viajar na Kombi com vocês. Descobrir novas coisas, lugares, pessoas, pizzas... É incrível. Queria fazer isso pra sempre.
– Será que podemos? – Baek questionou.
– Vamos só aproveitar o agora – Sehun se manifestou, colocando um beck entre os lábios e acendendo – A vida acontece. Vamos deixar ela acontecer. Certo?
– Certo.
– Certo.
Naquela noite dormimos juntos na areia. Foi bom, apesar dos borrachudos.
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