História Sonho em Madri - Decisão

Não entendo todo esse ódio que sentem de mim. Fiz coisas erradas, sei que fiz, mas, e quanto a Luna? Ela apareceu do nada, passou a morar na minha casa, estudar no meu colégio, patinar no Jam e Roller e, principalmente, atraiu a atenção do Matteo. Como tudo isso pode ser justo? Como posso ser a única má se apenas perdi tudo que tinha? Por que ninguém se coloca um pouco no meu lugar?

—Âmbar, podemos ensaiar? —Jazmin pergunta, me tirando de meus devaneios.

—Am? —pergunto confusa, atraindo seus olhares mais confusos ainda. —É claro, desculpem a minha desatenção. —digo sem pensar, percebendo na hora a besteira que havia dito. Droga, eu não sou boazinha assim! Devo manter minha imagem.

—Amiga, você tá bem? —perguntam preocupadas. Ainda bem que elas não falaram nada sobre o pedido de desculpa.

—Estou, só acho que tá tarde para ensaiarmos, minha madrinha pode se incomodar com o som da música. —mudo de assunto. Não estou com cabeça para ensaiar.

—Realmente está tarde. Âmbar, se importa se dormirmos aqui? —dizem, olhando pela janela a escuridão lá de fora.

—Honestamente meninas, eu preferia ficar sozinha, sabe? O dia foi longo e queria descansar um pouco, uma festa do pijama não seria muito boa hoje.

—Hm, a gente entende, né Delfi? —Jazmin pergunta.

—É claro. —Delfi concorda. —A gente já vai indo então, preciso pesquisar novas ideias pro novo vídeo do Fab&Chic, estamos perdendo seguidores.

—Sei que vão ter alguma ideia, meninas. Estou pensando em fazer uma viagem para Madri no feriado, podem usar isso como assunto, né? —sorrio. Que droga, o que tá acontecendo comigo? Minha personalidade tá uma bagunça.

—Isso é uma ótima ideia amiga, mas, por que só tá falando isso pra gente agora? Não mencionou nada sobre Madri antes. —fazem cara triste. Mereço, não dá para ter muita paciência desse jeito.

—Eu pensei nisso hoje cedo, aqui não tá muito legal esses dias, tá meio parado, então, pensei que um tempinho longe me faria bem. —forço um sorriso. Não é nada disso, mas o verdadeiro motivo é muito patético.

Matteo, custa sair só um pouquinho dos meus pensamentos? Não é justo, por que tudo ficou dessa forma? Éramos tão unidos, éramos o par perfeito, em tudo; na pista, no open music, no romance. Até a Luna aparecer e tudo mudar.

Me pergunto se você ainda lembra de todos nossos momentos; nossos beijos, abraços, treinos divertidos, nossas canções, nossas patinações, nossas conversas. Ah Matteo, você lembra de que um dia me amou? Na verdade, será que algum dia me amou de verdade? Só sei que eu o amei, sei que é amor verdadeira, pois, até hoje ainda te amo.

—Âmbar! Âmbar! Acorda, você tá aí? —Delfi grita, estalando os dedos no meu rosto.

—Oi? Que foi? —pergunto irritada.

—Estamos te perguntando se essa sua viagem tem algo a ver com o Matteo. —dizem, me fazendo bufar de raiva. Que droga! Essa não sou eu, não sou tão óbvia.

—Ai, que besteira! Quem se importa com o Matteo? Parem de falar bobagens. Mudando de assunto, é melhor vocês irem embora. —abro a porta do quarto.

—Tá, tá, estamos indo, não precisa se chatear. —dizem, saindo do quarto.

Ah, finalmente. Preciso mesmo ficar sozinha. Preciso pensar em uma maneira da madrinha me deixar ir pra Madri,

Pela manhã, arrumo minha mala com os utensílios necessários para um bom feriado em Madri, com certeza vou me sentir muito melhor depois de respirar um pouco de ar diferente. Longe do Matteo, da Luna, de Buenos Aires, de tudo que tem me feito mal.

—Você queria falar comigo? Seja rápida. —Madrinha diz ao sentarmos na mesa do café da manhã.

—Sim madrinha. Quero lhe pedir para me deixar passar um tempo em Madri. —peço diretamente, com a madrinha é bom não enrolar.

—Não, de jeito nenhum. Não tenho tempo para atender seus caprichos bobos. —rejeita imediatamente, sem sequer olhar pra mim. Me pergunto porque sempre é assim, eu faço tudo pela madrinha, minha vida se trata de orgulhá-la, mas não funciona, não entendo o que eu faço de errado.

—Mas madrinha, não pedi que vá comigo, apenas que me dê dinheiro para ir. Posso ir sozinha, sem empregados, por favor. Logo começa o feriado, é o momento perfeito.

—Está bem, está bem, desde que não continue me perturbando com isso. Já estou com enxaqueca. —diz por fim, fazendo com que eu abrisse um grande sorriso.

—Obrigada madrinha. —agradeço sorridente.

—Coma seu café da manhã, não preciso receber ligações do seu colégio por atraso.

—Sim madrinha.

Correndo para meu quarto depois de tomar café, avalio minhas malas com cuidado, um sorriso sempre presente em minha face.

Não acredito que vou ficar longe daqui por 2 semanas, isso é bom demais para acreditar. Longe de todos eles! Agora posso pensar, tirar o que não necessito daqui de dentro. Suspiro, tocando meu coração.

Chegando na escola, Jazmine e Delfi correm em minha direção. Já havia contado sobre a viagem pra Madri, então imagino que estejam animadas por isso. Foi o que pensei.

—Amiga! Você não vai acreditar no que tá acontecendo. —Jaz diz rapidamente, sem fôlego.

—Ai Jazmin, fala de uma vez, sabe que não gosto que fique enrolando. —bufo irritada. Nada pode acabar com meu ânimo, não vou permitir.

—Matteo acabou de se declarar para a Luna, ele vai pedi-la em namoro, amiga. Você tem que fazer alguma coisa. —Delfi diz. Fazer alguma coisa? Eu? Matteo não tem mais nada a ver comigo. Isso é o que eu gostaria de dizer.

—Matteo e eu terminamos, não há nada para fazer. Se ele quer namorar a Luna, não posso fazer nada, afinal, existe gosto pra tudo nesse mundo. —digo, jogando minhas coisas dentro do armário com raiva. Que ódio, por que não chega logo o feriado?! Preciso correr daqui.

Antes que eu pudesse saber o local do “evento” para evitá-los, vejo ambos vindo em minha direção, todos os dois com grandes sorrisos no rosto. Parece que realmente rolou um pedido de namoro.

Não quero que me vejam, não preciso lidar com isso em plena manhã, não é justo que eu tenha que dá uma de forte. Precisa manter sua imagem Âmbar Smith, você é melhor do que eles, sabe disso.

—Parece que o casalzinho está muito contente em plena manhã, que admirável. —digo com ironia, ficando frente a frente com eles.

—Por que não estaríamos contentes? Acabo de pedir a garota dos meus sonhos em namoro, é motivo para pular de alegria, Âmbar. —Matteo se manifesta, olhando para Luna. Conheço esse olhar, o olhar de quem se importa. Ele não está nem aí para minha presença.

—Desejo felicidades para o casal. Não entendo porque demoraram tanto tempo, seus fãs já estavam cansando de esperar. —forço um sorriso. Não pretendo passar por fraca, me recuso.

—Obrigado Âmbar, é muita generosidade sua nos dar os parabéns. —Luna diz sorrindo, abraçando a cintura do Matteo. Não, eu não aguento isso. Desgruda dele!

—Disponha. Se não for pedir muito, deem uma entrevista para o Fab&Chic, isso levantaria muito a popularidade e as meninas estão precisando, fariam isso não é? —pergunto, me forçando a soar o mais natural possível.

—Com prazer. —Matteo diz de modo arrogante. Ele não está caindo nessa, está me analisando para saber minhas intenções. Realmente, não há quem me conheça melhor.

Depois de convencer a Jazmine de que não me “importo” mesmo com a entrevista, corro para o banheiro, deixando toda a máscara cair.

Por que? O que eu fiz de tão errado? Tentar defender o que era meu, é um crime tão grave? Ela me tirou tudo e ainda assim, eu sou a vilã da história.

Não posso continuar assim, pretendo dar a volta por cima, voltarei totalmente diferente de Madri, nada disso vai me atingir mais.