História Sonho em Madri - Má Sorte!

"—Pra quem viaja tanto, você está muito perdida. —essa voz. Não pode ser!”

~~SEM~~

Forçando-me ao máximo. Viro, encarando o ser na minha frente. Ele está exatamente como antes. Aish, mas é claro que tá, você o viu ontem, Âmbar. Penso.

—Gastón? O que você tá fazendo aqui? —pergunto, confusa.

—Eu que te pergunto. Não sabia que ia viajar, Âmbar. —ele diz, com um sorriso simpático nos lábios.

Isso não é nada bom. Eu não queria que soubessem da minha viagem. Isso não é bom. Onde tem Gastón, tem Matteo.

—Eu não vejo motivos para ter que te dá satisfações do que faço. Vai me dizer o que você tá fazendo aqui ou não? —pergunto, de modo grosso e direto. Gastón é o melhor amigo do Matteo, não devo demonstrar fraqueza na frente dele.

—Bom, eu também não vejo porque tenho que te dá satisfações. —diz, devolvendo na mesma moeda. Então ele aprendeu a responder, Matteo o ensinou direitinho. —Estou brincando, Âmbar. —diz, ao notar minha expressão indignada. —Eu só vim me despedir de um amigo, já estou indo embora.

—Um amigo? —pergunto, nervosa. Por favor, me diga que não é o Matteo.

—Sim, um amigo. Mas, voltando ao assunto anterior, você está perdida? —pergunta, com um leve semblante preocupado.

—É claro que não, sei muito bem pra onde estou indo. —minto. Não quero receber ajuda do melhor amigo do Matteo.

—Não é o que parece, você me parecia bem perdida quando apareci. Eu posso te ajudar a fazer o check-in e o embarque, não tem problema nenhum. —sorri. Por que ele tem que ser tão bonzinho?! Fica difícil ser grossa com ele.

Se eu não aceitar a ajuda dele e tentar procurar tudo sozinha, vou acabar perdendo o meu voo e isso é a última coisa que quero. Quanto mais rápido eu sair da Argentina, melhor será.

—Está bem. —digo, me rendendo. —Me leva até o check-in e o portão de embarque. —falo baixinho. Maldito orgulho!

—É pra já. —diz, sorrindo. Ele sempre tá com esse sorriso na cara? Eu hein.

Com a ajuda do Gastón, o aeroporto parou de ser um grande labirinto e acabei percebendo que ele era mais fácil de se localizar do que eu esperava. Culpa daquele empregado, eu não teria que passar por tudo isso se não fosse por ele.

Não acredito que a madrinha armou todo um plano para me testar. Quando ela vai confiar em mim? Já não fiz o suficiente para orgulhá-la? Até nas minhas viagens ela tem que intervir.

Depois de dá algumas voltas e encarar uma fila enorme, consegui fazer meu check-in. Como prometido, Gastón me levou até o portão de embarque.

—Chegamos, acho que agora já está segura. Fique atenta para quando chamarem, seus documentos estão em um lugar fácil? —ele pergunta, me analisando para ver se encontrava algum documento.

Gastón está parecendo um irmão mais velho super protetor. Agora vejo porque o Matteo se dá tão bem com ele. Que droga! Esse moleque não sai da minha cabeça.

—Sim, estou. Você já vai? —pergunto, receosa. Algo em mim queria que o Gastón ficasse, por algum motivo, eu não queria ficar aqui sozinha. Me recuso a pensar que tem algo a ver com Matteo. Por dentro, sinto uma vontade enorme de perguntar se o tal amigo é o Matteo, mas, temo muito a resposta.

—Já. Não se preocupe, não tem como nada dá errado a partir daqui. Eu prometi ajudar a Roller Band com algumas coisas, por isso preciso ir. —diz, coçando a nuca, envergonhado.

—Você se surpreenderia com a minha sorte para as coisas darem errado. —riu baixinho. —Obrigada, Gastón. —digo, sincera.

—Uau! Âmbar Smith me agradecendo e rindo? Estou em um sonho ou algo do tipo? —ele pergunta, colocando a mão no peito para dá “efeito” para sua dramatização.

Agora que ele disse isso, acho que eu e o Gastón nunca passamos um tempo juntos. Na verdade, eu sempre achei que ele não gostava nadinha de mim. Difícil acreditar que o maior apoiador do relacionamento da Luna com o Matteo está me ajudando, quanta ironia tudo isso.

—Haha, engraçadinho. É melhor você ir embora. —respondo de mau gosto. Não quero dever a ele nada, isso só complicaria as coisas.

—Já vou indo. Tenha uma boa viagem Âmbar. —ele diz.

Com um breve abraço, Gastón se despediu de mim no aeroporto. Mais uma vez, estou completamente sozinha. Me pergunto se era isso mesmo que eu queria.

Esperar nunca foi o meu forte, ainda mais por um avião. Continuavam a anunciar voos, mas, nada de chegar o meu.

Olhando para o painel que estava na parede, vejo que meu voo estava meia hora atrasado por conta do mau tempo. Eu disse que tenho um grande relacionamento com a má sorte.

—Não se preocupe, querida. Tenho certeza de que ele virá. —uma idosa que estava ao meu lado diz.

—As vezes eles são cancelados. —digo, séria.

—Nunca pense negativo, isso não lhe ajudará com nada, querida. —ela diz, sorrindo.

—Eu não gosto de aviões, então, não tem como pensar positivo sobre eles. —respondo, trêmula. Aviões são meu maior pesadelo.

—Eu entendo. —ela diz. —Acho que tenho algo que pode animá-la.

—É? O que seria? —pergunto, intrigada.

—Você acredita em leitura de sorte, querida? —ela pergunta de modo simpático.

—Não. Eu não acredito nesse tipo de coisa. —respondo honestamente.

Leituras de sorte. Cartas de tarô. Tudo isso não passa de um grande desperdício de tempo, grandes charlatões enganam as pessoas todos os dias com esse tipo de coisa.

—Bom, não precisa realmente acreditar para que eu faça a leitura. Você irá querer? —pergunta.

—Hmm, por que não? Não tenho nada para fazer. —digo por fim, me rendendo.

Se aproximando de mim, ela segura minha mão com a palma virada pra cima. Isso é tão estranho.

—Tenho boas e más notícias para você, minha querida. —ela diz, parecendo imensamente concentrada no que fazia.

—Quais são as boas?

—Uma grande surpresa virá para você nessa viagem, surpresa muito grande. Isso irá lhe dá uma grande mudança de vida. —responde, séria.

—Que tipo de surpresa? —pergunto, curiosa. Não acredito que estou mesmo pensando em cair nessa.

—Isso não posso lhe dizer, mas é algo realmente inesperado.

—E a má noticia? —pergunto, receosa.

—A má notícia não é tão má, dependendo do modo que você pensar e interpretar ela.

—Só diga de uma vez. —repito nervosa. Isso vai me deixar doida.

—Os seus planos não saíram do modo que você deseja. A surpresa fará uma diferença nos seus planos, você irá se surpreender com a mudança. —ela diz. Do que diabos ela está falando?

—Meus planos nunca falham. —digo confiante.

—E o destino nunca erra. —ela diz, piscando para mim. —Mas enfim, não precisa acreditar em tudo isso, não é?

Depois dessa leitura de sorte louca, fiquei conversando com a Sra. Margaret –que descobri ser seu nome- por mais um tempo, até que o voo dela foi chamado, nos despedindo. Antes de ir ela me desejou boa sorte e disse que eu devia me manter aberta as mudanças, porque nem sempre elas eram ruins.

Onde é que eu estava com a cabeça para ouvir uma velha que acabei de conhecer?! É óbvio que tudo que ela disse não passava de baboseira.

~1 hora depois~

Não acredito nisso! Como posso ainda está aqui?! Eu vou processar essa linha aérea maldita! Nunca imaginei que fosse tão demorado. Como as pessoas aguentam isso?! Eu não entendo mesmo.

Temos jatos particulares em casa, mas, como a madrinha me odeia, eu tenho que viajar nessas malditas linhas aéreas. Cada dia que passa eu me pergunto mais se a madrinha tem algum sentimento por mim. Sou tratada como uma qualquer por ela, nem mesmo acho que ela me considere da família.

Como será que estão indo as coisas? Delfi e Jazmin provavelmente não irão conseguir se virar sem mim e farão um monte de besteiras.

—Senhoras e senhores. O voo 0197 já está pronto, agradeço os passageiros pela paciência e peço que se dirijam ao portão. —a voz no interfone diz. Finalmente!

Como uma bala, corro para a fila. Não quero ficar lá atrás de novo, estou cansada disso. Filas, linhas aéreas lentas, aeroportos grandes demais. Meu feriado está ficando cada vez pior! Ainda pode ficar pior que isso?

Preocupada com minhas malas, acabo esbarrando em alguém ao não olhar para a frente. Eu tinha que perguntar né?

—Sinto muito, eu estava distraída. —digo, rapidamente. Só o que me falta é arranjar confusão com alguém. Já vejo as manchetes. “Âmbar Smith, afilhada de Sharon Benson entra em um confronto no aeroporto”, a madrinha teria um ataque com algo assim.

—Âmbar? —não, não pode ser. Qual é, má sorte?! Eu já disse que não te quero.

Me forço a olhar para cima. Não pode ser, realmente é ele. Matteo. Eu não posso acreditar nisso, só pode ser brincadeira.

—O que você tá fazendo aqui? —perguntamos juntos, ambos apontando um pro outro.

—Eu vou viajar. —dizemos juntos novamente.

—Por favor, me diga que o seu voo não é o 0197. —digo baixinho, sem querer que ele escute, mas até isso não consigo.

—Como sabe? —ele pergunta, impressionado. As coisas acabaram de piorar! E muito!

Como eu pude ser tão burra?! Era tudo muito óbvio. Gastón estava aqui por causa de um amigo, que amigo mais próximo ele tem do que o Matteo? Mas, por quê? Por que ele está indo justo para Madri, e no mesmo voo que o meu?!

—Porque esse também é o meu voo. Matteo, é sério isso? O que você vai fazer em Madri?! —pergunto, curiosa.

—Isso não é da sua conta, é? — ‘responde’, irritado. Ah é, esqueci que eu não sou a pessoa favorita dele no momento.

—Imagino que não. —pigarreio, tentando voltar a minha “verdadeira” personalidade. —Pode sair da minha frente com suas malas agora? Eu quero ir pra fila. —digo, seguindo em frente e esbarrando nele.

—Sutil como sempre, não é? Esqueci a peça que você é, Âmbar. —diz, sarcástico.

—Se já sabe, então, não tem porque eu falar, não é? Espero que fique longe de mim, ninguém precisa saber que nos conhecemos. —digo baixo.

—É claro que não. Mancharia minha reputação ser visto com você novamente. —sorri de lado, passando por mim.

Ah, então ele está com medo de que a Luninha saiba disso. Interessante, então foi só uma coincidência. Uma péssima coincidência.

—Matteo! —grito, fazendo ele virar.

—O que você quer? —ele pergunta, desconfortável. Eu o incomodo tanto assim, Matteo?

—A Luna não irá saber por mim, não se preocupe. —digo, desviando o olhar.

—Faça o que quiser, não faz diferença nenhuma pra mim. —dá de ombros, me dando as costas novamente.

Após ficar um tempinho na fila, finalmente foi conferido meus documentos e passagem. Um ônibus nos levou até o avião.

Tentei encontrar o Matteo em meio aos passageiros, mas, parecia que ele tinha sumido totalmente. Será que ele se enganou de voo?

—Aqui tá os seus fones de ouvido, senhorita. —a aeromoça diz quando entro no avião.

—Obrigada. —agradeço e ela dá um sorriso. —Ah, eu esqueci de olhar minha poltrona na passagem, o que eu faço?! —pergunto pra mim mesma.

—Não se preocupe, daremos um jeito nisso. Qual o seu nome? —a aeromoça me pergunta.

—Âmbar Smith. —respondo com confiança.

—Muito bem, deixe-me olhar na lista. —ela diz, olhando para uma prancheta em sua mão. —Aqui está, Srta. Smith, assento 15A. —ela diz, me mostrando o número na prancheta.

—Muito obrigada. —agradeço.

Me dirijo até minha poltrona, colocando minha bagagem de mão na parte de cima. Hm, já tem uma bolsa aqui, terei que dividir a poltrona?! Sério isso?!

—Droga, peguei o lugar na janela. —resmungo pra mim mesmo. Não tenho escolha. Sento na minha poltrona de má vontade, me recusando a olhar pela janela.

—Com licença, pode desocupar um pouco a parte de cima? —ah não.

—Você só pode tá brincando comigo! —Matteo e eu falamos juntos novamente. Ele era o meu “parceiro” de poltrona. Quanta má sorte!