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História Sonhos Para a Destruidora de Sonhos - Um


Escrita por: beeturine

Notas do Autor


Olá! Espero que gostem dessa história, e se gostarem fiquem a vontade para comentar, favoritar, compartilhar! Beijinhos!

Capítulo 1 - Um


 

Tão brilhante quanto à cauda de um cometa.

Não lembro quem falou isso para mim. Sei apenas que jamais esqueci. Alisei o vestido desbotado e suspirei cansada.

A voz da Rainha rufou em minha como um tambor e me arrepiei.

"Mantenha-se longe de todos."

"Você não é uma Bolmer!"

"Nunca olhe para ninguém!"

Seus berros pareciam infinitos em minha mente que pulei para o lado quando senti um toque forte em meu ombro.

-Respire Dez. Está muito nervosa. -Tina sorri ao meu lado no espelho. Não lhe devolvo um.

Tina iria se casar em dois dias e se mudaria para Vale dos Céus e nunca mais a veria. Eu preciso que Tina fique comigo, proteja-me da Rainha e de seus filhos.

-Ora. Qual o problema? -ela virou os olhos azuis para minha direção e encarou os meus. Apenas  ela fazia isso sem desvia-los rapidamente. -Dez, sabe que pode conversar comigo.

A porta se escancarou de repente e ambas pulamos nervosas. As gêmeas Emma e Ella me olharam com nojo e empinaram o nariz.

-Mamãe a aguarda no salão do trono. -Emma soltou sua voz terrivelmente aguda e estridente. Vi Tina revirar os olhos.

-Não fale comigo desse jeito Floremma. Eu sou a filha mais velha. Deve respeito a mim. E por acaso, não escutei bater a porta. -ela falou com a graça de uma rainha. Uma rainha boa.

Ella abaixa a cabeça e solta um risinho. Sei que adora quando a irmã leva bronca.

Demoradamente, Tina beija minha testa e sai junto das gêmeas e tendem a começar a reclamar da influência que posso proporcionar para a futura rainha de prédios que tocam os céus e são banhados por nuvens.

Saí de meu quarto e passei por diversos criados que faziam careta para minha presença ou simplesmente ignoravam. Eu sou mais baixa que criados. Durmo o mais longe da família real, logo no segundo andar ao invés do quinto. Claro que não ser notada me proporcionou decorar toda a planta do Castelo de Ouro no País das Areias.

Subi até a sala de treino dos príncipes, onde, obviamente, treinavam. Cavaleiros guerreiros de seu pai, o rei.

Como sempre, me ignoraram, exceto Kebek. Ah, o doce e maldito Kebek.

Vi a faca centímetros do meu nariz, fincada na parede de madeira. Puxei a faca com calma e encarei o filho mais novo do rei. Dezesseis anos de pura sede por guerra.

-Então, o que vai fazer? Não sei por que meu pai, o Rei, lhe deixa conosco. Você é uma desgraça. Escutou? Desgraça! -ele gritou e soltou uma gargalhada que logo foi silenciada quando lancei a faca em sua direção, onde parou logo acima de sua cabeça, cravada no saco de areia. Ele encarou a faca e seu delicado rosto de bebê ganhou um tom muito vermelho. Ah, ele estava com muita raiva.

Mal respirei quando ele parou em minha frente, ridiculamente baixo, fuzilando-me com os característicos olhos azuis da família Bolmer. Ele estapeou meu rosto e senti arder, contudo, não era algo que eu nunca havia sentido. Seus lábios começaram a se mover, talvez estivesse me xingando de todos os nomes podres que sua limitada mente conhece, só que eu estava distante, como sempre fazia, pensando em tantas coisas e tantas outras coisas.

Quando mais nova, eu não era tratada com tanto desgosto. Ah, não. Até me convidavam para os  piqueniques nos quintais dos fundos, ou então para as cavalgadas de domingo pelas ruínas de Halvally, a aldeia perdida. Emma e Ella eram gentis, Kebek não tentava me matar sempre que era possível... Quando foi que esses dias acabaram? O que eu fiz para eles me abominarem tanto?

Fui isolada da realeza, de meu pai, de meu antigo quarto.

-Pequena Dez. Ei. Deus, pare com isso.

Pisquei algumas vezes e focalizei Tommy na minha frente. Ele já era um homem robusto e forte, na beira dos quarenta anos, tinha a pele permanentemente bronzeada e os cabelos em um castanho quase dourado, o nariz era muito largo e os dentes eram tortos e eram um dos únicos que ainda acredita em Deus. Ele me abraçou com força e enterrei meu rosto na sua blusa com cheiro de sol e couro.

-O que faz sozinha aqui? -ele perguntou e não respondi. Kebek deveria ter ido embora, claro. -Venha, Gina preparou algo que você vai gostar muito.

 Sorri feliz e enquanto ele me direcionava para fora da sala, espiei-a atrás de mim e vi um boneco de treino no chão, o enchimento estava para fora, a cabeça jazia em outro lugar. As paredes também tinham sinais de destruição e de garras.

Engoli em seco e Tommy fechou a porta.

Descemos até o primeiro andar, onde apenas funcionários importantes poderiam morar.

Gmina e Tommy são toda a família que tenho, porque nem morta considerarei a realeza minha família. O Rei, talvez, mas Rainha e suas crias monstruosas? Nunca.

Claro, Tina. Doce Tina. Minha eterna amiga e irmã que dava-me as costas e seguiria com um príncipe regente pomposo.

Tommy seguia em passos rápidos e olhava constantemente para os lados, suas mãos apertavam meus braços com força e me contive para não berrar de dor. Ele não desceu as escadas, ao contrário, subiu-as. E ele seguia pelo segundo andar, até o final do corredor vazio onde a única porta que havia, era, meu quarto.

-Tommy! -Gina apareceu de dentro do cômodo e pulou nos braços dele. Percebi que saíam lágrimas de seus olhos e nos do dele também. O que estava acontecendo?

-Dez.

Alguém pôs a mão na minha cintura e fiz questão de virar o dedo desse ser humano.

-Ai. Ai. -Frankie gemeu e tentou puxar a mão de volta.

-Não me toque. -sibilei e ele arregalou os olhos. Tapei a boca imediatamente. Ficamos nos encarando e poderiam ter se passado a eternidade ou alguns segundos, mas Gina me puxou para um abraço apertado.

-Entre querida, entre. Seu jantar está aqui. Oh, Dez! Quer nos matar do coração! -ela soluçou enquanto entrávamos no meu quarto.

Gina tinha quarenta anos e cabelos castanhos cacheados, a pele era quase alva e os olhos de cobre tinham pequenas rugas nos cantos.

-Dez, sabe que horas são? -Frankie perguntou e notei seus olhos atentos.  Balancei a cabeça, negando. -A festa do noivado de Clementina acabou há duas horas.

Eu sabia o que aquilo significava.

Festas no Castelo de Ouro, são festas que viram a noite e acabam na tarde do outro dia. A mais curta acabou no alvorecer. A mais longa durou três semanas.

A festa significava outra coisa também. Eu sumi por quase um dia.

Clementina se casaria amanhã.

-Só Deus sabe... -Gina balançou a cabeça e me deu um abraço apertado. -Vamos deixar isso para lá. Você está bem, certo? Agora coma, deve estar com fome.

Sentei no chão empoeirado de meu quarto e Frankie ocupou meu lado esquerdo e me deu um abraço de lado.

-Você é minha irmã mais velha Dez. Nunca faça isso comigo. -ele sussurrou para mim e tascou um beijo molhado na minha testa.

Devorei o pernil mal passado com uma voracidade perturbadora para Frankie. Eu gostava daquele sangue cozido, escorrendo pela garganta seca, acendendo cada ponto de minha alma. Nunca contei para ninguém que aquele líquido vermelho me atraía, e nem farei tal baboseira.

Frankie encostou a cabeça no meu ombro e Tommy começou a cantar. Era um música lenta, com tons de ódio e dor, escutei ela durante dez anos e permiti-me afundar naquele tom. Naquela voz rouca e antiga que me seduzia a chorar e gritar tudo o que sinto. Entretanto, jamais poderia. Nunca.

Gina apertou minha mão e pisquei para ela para dizer que estava tudo bem apesar de eu querer muito a morte.

A voz de Tommy ganhou  uma intensidade assombrosa, que remexia algo em meu estômago e sacudia meus ossos.

Um cheiro diferente preenche minhas narinas e me viro para Frankie, sua veia no pescoço parecia que iria estourar a qualquer segundo, e seu sangue vermelho escorreria... Quente e escuro... Sedutor...

Ele apertou minha mão e notei que Tommy tinha parado de cantar. Fechei os olhos e respirei.

-Você está bem?

Sacudi a cabeça com um sim apressado. Era apenas um detalhe: eu nunca estou bem. Deixei de saber o que é isso há muitos anos.

Tommy suspirou aliviado e tornou a cantarolar algo mais alegre e me vi fechando os olhos com cautela, até que, escuridão eterna.

 

 

Acordei com um sacolejo no meu braço e Tina tinha um sorriso enorme, grande demais para ficar no rosto de bebê.

-Dez. Ande, levante! Eu me casarei hoje! Não é o máximo? -ela soltou um grito entredentes e sorri. Gosto de vê-la feliz. -Tenho algo melhor a te contar!

Fiquei ereta e aguardei ela dizer que finalmente me mudaria para o terceiro andar. Isso sim, era algo melhor.

-Quero que seja minha única dama. -ela falou com seriedade e apertou minhas mãos. -Pode fazer isso? Por mim?

Eu não conseguia piscar ou fechar a boca. Única dama de Lady Clementina. Era um honra tão acima do meu nível que me fazia querer chorar. E realmente estava, chorando aos soluços enquanto confirmava com a cabeça sem parar. Tina me deu um abraço apertado e chorei em seu ombro sardento.

-Obrigada. -sussurrei.

Tina me soltou e seus olhos estavam cheios de lágrimas.

-Dez... -estamos chorando sem parar quando a porta foi aberta pela Rainha. Minha postura mudou de repente e senti o clima mudando.

-Clementina. O que faz com essa... -ela não chegou a terminar. Seu belo rosto claro tomado pela cor rosa. Estava nervosa.

-Essa é minha dama. Respeite-a. -Tina pôs-se de pé e encarou a mãe.

-Sua... -a Rainha desviou o olhar da filha e avançou contra mim. Sua mão foi de encontro ao meu rosto e aceitei a dor. Não era nada que eu nunca tivesse sentido. Vadia.

-Eu me recuso. Que minha filha mais velha, seja acompanhada por essa... Coisa! -ela berrou e deu-me outro tapa. -Você não vai! Não! Vai! Escutou?

Ela cuspia em mim e eu quis muito quebrar seu nariz bonitinho.

Ela se afastou lentamente, fios escapuliam de seu coque bem armado e puxou Tina com força.

-Escolha Floremma ou Mirella. Não... Ela! Trará desgraça para a família! -a Rainha gritou com Tina que não ligava.

-O casamento é meu. E ela é minha dama. -foi sua palavra final e soube que querendo ou não, Tina puxou muito da Rainha além dos cabelos loiros. As duas sabiam como encerrar uma discussão.

-Pois bem. Se é o que deseja. -ela me encarou com um sorriso maléfico e saiu batendo a porta e gritando com algum criado do lado de fora.

-Dez.

Virei-me para Tina e respirei fundo. Eu sabia que ela teria de vir trocar sua dama de um jeito ou de outro.

-Não importa o que ela diga. Será minha dama. E... Que tal um vestido vermelho? -seus olhos brilharam e eu balancei a cabeça. A Rainha detesta que eu use vestido da cor vermelha, realmente um mistério para mim. -Pare com isso! Usará vermelho!

Arregalei os olhos para ela e Tina fechou os seus. Sabia que tinha surtos assim, onde seu tom de voz aumenta drasticamente e seu rosto fica vermelho como uma pimenta. A própria Rainha.

-Desculpe. Gostaria que usasse o vermelho Dez. Sabe que fica linda com a cor do pecado. -Tina abriu um sorriso cintilante que derreteria almas. Menos a minha. Já tinham a tirado de mim há muito tempo.

Concordei com ela apenas para deixá-la contente o suficiente para sair logo do meu quarto.

Dito e feito. Tina agradeceu e disse que mandaria brevemente o meu vestido de dama. Acenei com a mão e ao bater da porta, joguei-me na cama e fechei os olhos.

 

Névoa vermelha se enroscava em meus pés descalços, eu corria pela imensidão de vidro quebrado, deixando os cacos cheios de sangue. Tropecei e fui engolida pela escuridão. Algo se esgueirava por ali, grande e assustador, intimidando, estudando a presa. Abri a boca para gritar e nada saía.

"Dez"

Olhei para trás e uma mão estava estendida em minha frente. Peguei-a com força e bati contra um vidro. Uma janela tão grande que conseguia ver três dos Quatro Reinos. O Vale dos Céus se estendia brilhante, os prédios altos que ultrapassavam as nuvens e diziam que as suas ruínas estavam lá desde um século atrás. Ao seu lado, Império do Cipó, única área onde havia verde em abundante e animais exóticos, segundo lendas. O barulho de ondas me chamou a atenção e na direita, consegui ver o mar. A Terra dos Mares deveria estar lá. Submersa, para que ninguém encontre-a, mas ela está lá.

E onde está o País das Areias?

"Levado pela desgraça"

Olhei para trás e Tina me abria um sorriso. Ela parecia ter caído em desgraça, com o vestido sujo de terra e sangue, os olhos esbugalhados e o cabelo, um emaranhado decorado com uma coroa.

Recuei e seus braços se abriram, como se me chamasse para um abraço.

“Minha Dez, como pode? Como?”

Caí para trás e uma moça passou por mim, tinha os cabelos curtos e negros, seu rosto tinha sangue por todo lado e nos braços, segurava um ovo e um coração. Quando me viu, sorriu e chutou-me na face, levando-me a cair em um buraco fundo e escuro.

“Estou te esperando meu amor. Sim, esperar-te-ei.”

Uma voz masculina cantarolou e girei procurando o dono da bela voz, contudo não via nada e só sentia meu cabelo cair nas costas e meu vestido engolir-me. O suor escorreu pelo minha testa e limpei com o dorso da mão.

Calor. Calor.

Livrai-me do calor.

Estava tudo escuro e abafado. Aos poucos, vi uma cortina vermelha incendiando, uma mulher gritando, um choro de criança e comecei a correr. Não sabia onde estava, e nenhum dos caminhos se parecia com o Castelo de Ouro.

"O dom da família", alguém sussurrou no meu pescoço e tropecei numa pilastra caída. Uma voz soltou um urro tão agudo e foi silenciado muito rápido.

Barulhos de passos se aproximando, passos grandes e ameaçadores , de algo que pode me comer...

 

Acordei suada e com o travesseiro na boca. O enchimento de penas saindo e manchado com um pouco de sangue. Toquei meus lábios e eles vieram manchados de vermelho escuro.

Pulei da cama e corri até o espelho. Meus dentes haviam os cortado novamente. Cambaleei para fora do quarto e desci as escadas rapidamente até o primeiro andar, esmurrei a última porta do corredor. Meu coração estava acelerado, o monstro ainda se esgueirava na minha cabeça, paciente, como se fosse sair a qualquer momento e me atacar. Por favor, Frankie. Abra a merda da porta!

Sem paciência, arrombei-a com um chute. Arregalei os olhos quando vi que a porra tinha mesmo quebrado. Haviam duas pessoas no quarto. E eu parecia estar interrompendo um belo beijo.

-Pela Quarta Estrela! -alguém gritou.

Entrei no quarto timidamente e tentei encostar a porta.

Encarei o garoto loiro e magrela de mãos dadas com meu melhor amigo.

-Dez? Dez. O que foi? -Frankie correu em minha direção e as lágrimas escorreram lentamente. Balancei a cabeça em negativa e eu já estava em seus braços.

-Perdão. -sussurrei. -Eu... Eu...

-Frankie? -o garoto loiro chamou e o vi batendo na cama pequena. Frankie me carregou e deitou-me com calma. Ele e o loiro deitaram ao meu lado e abri um sorriso. Eles retribuíram e deram as mãos.

-Desculpe pela porta. -murmurei. -E por interrompê-los.

-Pen, ela nunca disse frases tão longas! -Frankie abriu um sorriso e Pen pareceu me apertar mais.

-Prazer Dez. Pen. -ele comentou e só concordei com a cabeça.

-Pode dormir se quiser.

Frankie gostava de garotos como ele. E eu era muito feliz por Frankie, pois teria alguém para amá-lo como realmente é.

Os dois me abraçaram firmemente e dormi. Desta vez, sem sonhos com monstros ou sangue.

 



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