História "Sorte" de Garota - Quarto 202

"ORFANATO ESPERANÇA"

Um orfanato! Este seria o último lugar em que Ellie pensaria. Até mesmo um cemitério faria mais sentido.

— Por que me trouxe a um orfanato? Não me diz que é adotado?!

— Não, isso explicaria muita coisa não acha?

— Então por que viria aqui?

— "PICHAÇÕES"…

— O que? Vai pichar o orfanato? Tá maluco?

— Não idiota! Há dois anos, eu pichei o muro de casa, meu pai me denunciou.

— Você tá cumprindo pena?!

— Não mais, foram apenas dois meses. Mas de alguma forma eu não consigo mais deixar esse lugar. Tá vendo aqueles muros? Foi eu quem gravitei, diferente dos meus pais, eles deixaram eu expressar o que sentia. E esse lugar se tornou um dos meus portos seguros. Vem vamos entrar!

Aquela história, aquilo tudo havia mexido com Ellie de um jeito estranho. Como o pai de Aaron conseguiu denunciar o próprio filho? Ele não fizera nada de tão errado, afinal, era o muro da sua casa também, poderia apenas tê-lo feito pintar novamente, mas denunciar? Estava nesse momento tentando decidir qual dos dois tinha os piores pais.

— Aaron você voltou! — uma senhora gritara na recepção, parecia feliz com a presença do garoto — Vejo que trouxe alguém com você… — concluiu, com um olhar direto pra Ellie.

— Senhora Dulce, essa é Ellie, minha…

— AMIGA! — gritou a garota cortando totalmente as palavras de Aaron — Prazer em conhecê-la senhora Dulce.

— Ó querido, como ela é gentil — falava olhando pra Aaron — teve muita sorte, também é muito linda…

— Senhora Dulce!

— Ah sim querido, podem entrar a vontade. Sejam bem vindos e voltem sempre — a senhora falava enquanto apontava para a entrada.

A mesma dava direto para um gigantesco corredor, haviam portas de ambos os lados, provavelmente os quartos das crianças que viviam aqui, pensou Ellie, ainda sem entender o por quê de terem entrado no orfanato.. Já sabia dos grafites, será que Aaron também grafitara dentro do edifício?

— Aqui está!

— Aqui está o que?

— O motivo da gente estar aqui.

Ouvindo aquilo Ellie ficara curiosa, estava a uma porta de descobrir todo o segredo envolvendo Aaron e aquele orfanato, as mãos começaram a soar, mal tivera forças para tentar abrir a porta. Então Aaron mesmo a abriu.

— Ele não está aqui! — olhou para o quarto vazio espantando, a cama estava arrumada, começara a ficar preoucupado, será que havia mudado de quarto? Só poderia ser, não tinha outra explicação!

— Quem Aaron? Quem não está aqui?

Aquele suspense estava deixando a garota completamente maluca, de quem Aaron estava falando? E por que parecia tão importante pra ele? Se questionara enquanto o seguia pelos corredores, voltando a recepção.

— Onde está ele? — Aaron perguntava, se dirigindo a Senhora Dulce.

— Não soube? Ele adoeceu…

Aquelas palavras eram choques nos ouvidos de Aaron, ele não queria ouvir o final da frase, estava com medo. Qualquer um temeria após encontrar o quarto "dele" arrumado, era como se não houvesse ninguém naquele quarto a muito tempo.

— … E por isso tivemos que mudá-lo de quarto, agora ele está no 202.. Mas espera!! — Senhora Dulce gritara interrompendo os passos de Aaron que já seguia ao quarto dito por ela — São 14 horas, lembra?

— Hora de parquinho! Vamos, eu sei onde ele tá. — Disse o garoto, puxando Ellie para fora do orfanato.

— Já vamos embora? Eu não entendi… Não vamos mais procurar por "ele"?

— Não, vamos esperá-lo!

O mistério sobre a pessoa que Aaron estava esperando tirara todo o pensamento da garota sobre seus pais, agora ela estava curiosa! Estava quase voltando a recepção, para questionar a senhora Dulce, queria saber quem era o ser por quem Aaron tanto esperava, ao menos sabia que era "ele", não que achasse que Aaron se apaixonaria por uma criança, mas era um orfanato, deveria também haver garotas de 17 anos, o que era terrível, imaginar alguém com 17 anos tendo que viver em um orfanato, sem pais, isso era ainda mais ruim do que ter pais ausentes. Ao menos ela podia gritar com os dela, e mesmo com eles viajando, poderia ligar quando tivesse problemas, não que quisesse, mas poderia.

Agora ela entendia o por quê de Aaron tê-la trazido, queria lhe mostrar que mesmo a vida estando difícil pra ela, existiam pessoas vivendo de uma forma ainda pior. Ela não tinha o direito de reclamar de coisa alguma, ao contrário de muitas ela tinha sorte, apesar de tudo, sua vida era incrível.

— Obrigado!

— Pelo o que garota, ficou louca?

— Por me mostrar o quanto a minha vida é incrível, agora eu sei!

— Pode me dizer como é que eu fiz isso?

— Me trouxe aqui, num lugar onde muitos não queriam estar, onde ninguém deveria estar. Me fez enxergar que meus pais são menos piores do que eu imaginava.

— De nada, mas essa não foi minha intenção. Eu não vejo por esse lado, talvez as nossas circunstâncias tenham permitido a gente de não vir parar aqui, mas a maioria não está aqui apenas por culpa de pais irresponsáveis, alguns tiveram seus pais mortos em acidentes trágicos, outros sofreram o acidente, estão aqui por milagre, pior seriam se os mesmos estivessem na rua, não dá nem pra imaginar.

— É incrivel, quando eu acho que te conheço você faz isso!

— Mas o que eu fiz?

— Acho que sua armadura está rachando… — a garota dizia sorrindo.

O garoto apenas a olhava, é verdade que ele estava se abrindo mais, principalmente quando se tratava dela, ele queria que ela visse, apesar dela já ter percebido antes mesmo de qualquer segredo, ela o via como ele realmente era, ela o via melhor do que ele era. Agora mesmo acabara de agradecer por ter a feito se sentir melhor, ele a contou o motivo dele ter conhecido o orfanato, mas não o tratou como deliquente, ela era diferente, ele estava apaixonado. E era por isso, que ela conheceria ele, que agora corria em sua direção.

— Allon, você veio!!