História "Sorte" de Garota - Olá, maninho!

— Você… você ficou maluco!?

Nem ela mesma entendia tamanha reação, não era a primeira vez que o mesmo a falava isso, nem com certeza seria a última. Mas por que dessa vez ela se importara tanto? Expectativa! Acreditar muito em algo. Decepção, quando esse algo não acontece. Havia esperado uma pergunta diferente, e essa não viera da forma que ela gostaria, mas o que esperava?

— O que esperava? - perguntava Aaron, ainda sem entender.

Era impressionante, cada vez mais o garoto parecia invadir seus pensamentos, como se soubesse tudo o que a mesma pensava.

— Esperava não ouvir mais dessas suas piadinhas!

— Ai! - gritara o garoto que acabara de levar um soco no ombro.

Sabia exatamente a pergunta que a garota queria ouvir, mas não tinha certeza de que a resposta dela era a mesma que ele gostaria. Preferiu não arriscar, ao menos não agora, ela estava frágil, precisava de alguém para ouvi-la, sem segundas intenções, ele queria cuidar dela, de uma maneira pura, como um amigo de verdade. Algo que ele nunca houvera sido à ninguém.

— Precisa de um banho!

— O que?

— Sinto seu cheiro daqui, e confesso que já foi melhor.

— Preciso voltar pra casa, esqueceu que me arrastou de lá apenas com a roupa do corpo?

— Confia em mim. Para o chuveiro, agora!

Aquela ordem direta fora como um ultimato para Ellie que agora seguia pelos cômodos tentando achar o banheiro.

— Já pensou que eu possa precisar de uma toalha? - gritou Ellie, esperando resposta de Aaron, que havia entrado em seu quarto.

— Use a minha!

— Óbvio que nunca! Não quero engravidar.

— E por que engravidaria? Não uso ela como lenço, fica tranquila.

— Aaron seu nojento!

— Não disse nada demais, é você que andou pensando besteira. - disse o garoto, enquanto entregava a toalha a Ellie, que já se encontrava de frente ao banheiro. — Não quer uma ajuda para se ensaboar?

— Some daqui garoto! - a garota concluiu, fechando a porta na cara de Aaron.

— Mal educada.

Agora Aaron precisava correr, havia garantido a Ellie que ela teria roupas, precisava sair, a única peça feminina em seu guarda-roupa era uma echarpe que havia roubado de sua mãe, e mesmo achando que Ellie ficaria linda vestindo apenas isso, sabia que ela não concordaria.

Atravessou a rua, enquanto pensava, Ellie era uma garota estranha, podia notar isso na forma em que se vestia, e isso era o que ele mais gostava, ela não se importava com o fato das pessoas a acharem estranha, não tinha vontade alguma de parecer normal, como aqueles robozinhos que seguem padrão.

Havia rodado todo o quarteirão procurando uma única loja aberta, era algo difícil, principalmente aos domingos, tanta coisa em sua mente, esquecera desse pequeno detalhe, sorte sua encontrar uma minúscula lojinha aberta, resolveu entrar, já havia perdido muito tempo.

— Oi, posso ajudar?

Uma moça viera lhe atender, em situações normais essa pergunta o irritava, mas hoje ele realmente precisava de ajuda.

— Preciso de roupas femininas!

— De que tamanho seria?

— Acredito que P.

Não entendia muito dessa coisa de P, M e G, mas entendia que quanto menor as peças, melhor para Ellie, e para ele, claro.

— É pra sua namorada?

Por que as pessoas precisavam fazer perguntas como essas? Aaron odiava pessoas intrometidas.

— Não, é pra mim. — falou, enquanto observava a cara de choque da atendente, parecia decepcionada com o que ele dissera.

Comprou tudo o que precisava, talvez até mais, e enquanto saia da loja ouviu a voz da atendente pedindo-o que esperasse.

— Qual o problema? - perguntou Aaron secamente, já não aguentava mais aquela voz.

— Esqueceu disso. - disse a atendente, enquanto colocava um papel dentro de uma das sacolas.

— Obrigado. - disse, virando agora saindo da loja finalmente.

— Me liga!

Agora sabia exatamente o que havia no papel, era o número dela, aquilo o deixou ainda mais irritado, já não bastasse a mulher ser um porre, agora mais essa.

— Com certeza não. - disse, e seguiu para casa.

                             ♡

Aaron tinha razão, ela realmente precisava de um banho, nada melhor do que um pouco de água quente para fazê-la relaxar, era no chuveiro que ela mais pensava sobre todas as coisas, mas de uma maneira leve.

— Quem é você?? - disse uma figura que acabara de invadir o banheiro.

— O que?? SAI DAQUI!! - gritou a garota assustada, o vidro do box embaçado não a deixara reconhecer a pessoa, o que era sorte, já que ela também não conseguira vê-la no banho, assim ela esperava.

Esperou que a pessoa saísse, verificou se não era algum tipo de brincadeira, e então trancou a porta. Não sabia o que fazer, iria ficar ali, até que Aaron desse sinal de vida, afinal, ela não tinha roupas! Aquilo era constrangedor.

— Oi, desculpa entrar assim… - dizia a voz, que vinha do outro lado da porta - achei que fosse meu irmão.

Esse dia com certeza era mais um sonho, e Ellie acordaria como se ele fosse real. Acabara de conhecer Tonny, era uma criança quando o vira, agora ele estava ali, do outro lado da porta, numa versão mais adulta, resolveu entrar no jogo.

— E quem seria, o seu irmão?

— Aaron, o dono dessa casa.

— Então você invade o banheiro quando ele está no banho?

— Por que não entraria? Ele é meu irmão, se fosse irmã seria mais complicado.

— Não deixa de ser estranho, ainda mais pra você.

— Não entendi o que quis dizer com isso.

— Não importa, onde está o idiota do Aaron?

— Não sei, já o procurei pela casa inteira, mas ele não está, achei que deveria saber, já que estranhamente se encontra no banheiro dele.

— Com certeza não procurou direito, ele não me deixaria aqui.

— Por que não sai, e nós dois procuramos?

— Não posso.

— Por que não? Tem medo de mim?

Óbvio que não era essa situação, como teria medo de algo que ela estava apenas sonhando? Mas mesmo no sonho, nunca sairia de toalha. Não acreditava que o garoto saíra e a deixara ali sem roupas, pediu pra confiar nele, e agora estava ali, do lado de dentro do banheiro, conversando com o "irmão" de Aaron.

— Apenas não posso.

— Acho que não precisaremos mais procurar. - disse a voz, que seguia para porta da frente.

— O que está fazendo aqui?

— Não vai dizer um oi, maninho?